Campo de Concentração de Dachau, em Munique

Poucas coisas fizeram eu me sentir tão mal na vida quanto a visita ao Campo de Concentração de Dachau, nos arredores de Munique, na Alemanha. Claro, eu já sabia que a visita seria pesada, mas não imaginava que ver de perto e refletir profundamente sobre tudo o que aconteceu ali teria um efeito tão perturbador.

Ainda assim, acredito que essa é uma visita que precisa ser feita. Foi por isso que os antigos prisioneiros de Dachau insistiram na construção desse memorial. Para que tudo o que aconteceu não fosse esquecido – ou diminuído – com o tempo. Para que as pessoas que fizerem a visita pudessem refletir sobre o que o ser humano é capaz de fazer. E, mais importante, para tentar evitar que esse tipo de história se repita.

Dachau é uma cidade que fica a 5 quilômetros de Munique. O campo de concentração que leva o nome da cidade foi construído em 1933 e foi o primeiro campo do regime nazista. Planejado por Heinrich Himmler, um dos comandantes de Hitler e seu braço direito, o Campo de Concentração de Dachau serviu de modelo para todas as outras prisões que surgiram durante a Segunda Guerra Mundial.

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De 1933 a 1938, Dachau serviu principalmente como um campo de trabalho forçado para prisioneiros políticos. Ao mesmo tempo, também funcionava como “escola de violência” para os soldados alemães, sob a inspeção de Theodore Eicke. A partir de 1935, com a institucionalização da descriminação racial, o campo passou a receber também Testemunhas de Jeová, homossexuais e imigrantes. No ano seguinte, Himmler começou a construir o sistema de campos de concentração por toda a Alemanha.

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A partir de 1938, Dachau começou a receber judeus. Cerca de 11 mil foram deportados para o campo nesse ano. Ao mesmo tempo, prisioneiros dos territórios anexados, como poloneses e austríacos, começaram a chegar. Em 1941, o campo de concentração passou a funcionar também como campo de extermínio. Até a libertação pelo exército dos Estados Unidos, em abril de 1945, mais de 200 mil pessoas, de 30 nacionalidades diferentes, foram aprisionadas em Dachau. O número de mortos oficial chega a 30 mil, mas provavelmente foi maior.

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Durante a visita, que é gratuita, é recomendável alugar um audioguide, que custa 3,50 euros. Na entrada, seguimos o caminho que os prisioneiros faziam quando chegavam lá, e passamos pelo portão com os dizeres: “O trabalho liberta” (Arbeit macht frei), frase que virou slogan do regime e está na entrada de muitos campos de concentração.

Uma vez dentro, uma obra de arte, construída em 2003, serve como memorial a todos aqueles que sofreram no local. Num grande galpão, uma exposição conta toda a história de Dachau, de alguns de seus prisioneiros e de como funcionou todo o sistema ao longo dos anos. Também é possível assistir a um documentário e ver fotos e relatos da época.

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Saindo desse galpão, a visita segue para a área onde ficavam os barracões dos prisioneiros. São 32 ao todo, mas somente dois deles foram reconstruídos. Os demais, são marcas de concreto no chão. Ao final desse longo caminho, memoriais representando diferentes religiões foram construídos. Depois, você segue para a área onde ficavam os fornos em que os nazistas queimavam os corpos dos prisioneiros – nessa hora eu já estava chorando sem parar. O bosque onde ficava o paredão de fuzilamento e a câmara de gás, que foi pouco usada em Dachau, também fica ali.

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Com audioguide é possível ouvir relatos de ex-prisioneiros e dos soldados americanos libertaram o campo. Dachau foi o segundo campo a ser libertado pelos Aliados e foi a partir dali que o resto do mundo ficou sabendo dos horrores do Holocausto. Um dos relatos dos soldados conta como foi chocante para eles entenderem que toda a população da cidade de Dachau sabia o que acontecia atrás daqueles muros, mas ainda assim apoiavam o regime nazista.

O Campo de Concentração de Dachau só virou memorial em 1965. Antes, serviu de prisão para Soldados da SS até 1948, e depois como área para refugiados, até 1960. Eu saí da visita emudecida com tudo o que vi e ouvi. E refletindo sobre como a humanidade é capaz de cometer e aceitar tantas atrocidades. Não é como se Hittler fosse o primeiro ou o último ditador do mundo. Ele chegou ao poder porque muitas pessoas concordavam com o que ele pensava.

Preconceito e intolerância ainda são motivos de guerras, torturas e grandes atrocidades neste mundo. Cada vez que não aceitamos as diferenças, estamos colaborando para que a nossa sociedade se pareça mais com aquela que vi em Dachau. Não dá para mudar o mundo sozinho, mas acho que se todo mundo refletir um pouco sobre os próprios preconceitos e intolerâncias – e passar a questionar mais – , maiores são as chances de, como esperam as vítimas do Holocausto, a história não se repetir.

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Quem tiver interesse em visitar o campo de Dachau pode checar os horários de visitação no site oficial do memorial. Para chegar lá, partindo de Munique, é necessário pegar o trem S2, com destino a Dachau/Petershausen, e descer na estação Dachau. Se você estiver em um grupo de 2 a 5 pessoas, então vale a pena comprar o ticket de grupo, que sai mais barato. Chegando na cidade de Dachau, ainda é necessário pegar o ônibus 726, em direção a “Saubachsiedlung”, para ir ao campo. O ponto fica em frente à saída da estação de trem.

 

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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24 comentários sobre o texto “Campo de Concentração de Dachau, em Munique

  1. Luiza, você acha que será muito dificil visitar Berlim sem saber inglês nem alemão? 🙁 E pegar os trens para os campos de concentração de Berlim ou de Munique é dificil?

    1. Oi Ana Carolina,

      Acho difícil sim. Porque nem todas as informações são obvias e fáceis. E até o processo de comprar o trem só fica disponível nessas línguas.
      Não é impossível, mas vai te dar bastante trabalho.

      1. Que tristeza 🙁 Eu sei o básico do básico do Inglês e to fazendo umas aulinhas mas vou em Novembro, vamos para Paris e Londres, queria visitar Berlim também mas estou com medo não sei se vou ou não.

        1. Oi Ana Carolina,

          Assim, se você já vai a Paris e Londres e já vai ter que enfrentar ali o problema de não falar inglês, então não vejo porque você não ir a Berlim.

          1. Pode vir que é sucesso. Tô na mesma situação, mas deu super certo aqui. Não gostei de Paris que o povo é chato pra caramba

      2. Peço desculpa mas a informação não está totalmente correcta; o site oficial da Deutsche Bahn que explora os caminhos de ferro na Alemanha e em concreto na Baviera, onde se localizam Dachau e München, para além da língua nativa (alemão) e inglês tem também a particularidade de -pelo menos para aquisição de bilhetes e informações de horários dos combóios- poder ser consultado em espanhol, checo, dinamarquês, francês, italiano, holandês e polaco. É extremamente fácil adquirir bilhete de combóio pelo aludido site e recomendaria o Bayern Ticket que permite viajar dentro da Baviera por um preço mais acessível dentro de determinados horários. Não conheço Dachau (onde tenho adiado a deslocação) mas desloco-me frequentemente à Baviera, via München ou Memmingen. Mesmo sem domínio do alemão e inglês desde que se obtenha informação prévia qb, acaba por se tornar fácil a deslocação no País em geral e na Baviera em particular.

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