Todos os dias, milhares de católicos entram na Basílica de São Pedro, no Vaticano, e beijam os pés de Júpiter, um deus romano. Pelo menos é isso que garante uma das teorias mais conhecidas sobre os mistérios e segredos do Vaticano.
Se esse boato não chegou aos seus ouvidos, faço um resumão: assim que as pessoas entram na Basílica de São Pedro – o maior templo católico do mundo, capaz de receber até 20 mil pessoas ao mesmo tempo – elas se deparam com uma estátua de bronze de pés desgastados. Segundo a tradição católica, é um estátua do Apóstolo Pedro, que teria sido construída entre os séculos 5 e 8 d.C. Mas há quem diga que a estátua é bem mais antiga: seria uma obra de Roma Antiga que representava o deus romano.
Segundo essa teoria, quando os papas cristianizaram o Panteão, a estátua de Júpiter teria sido surrupiada do antigo templo, como de fato aconteceu com outras obras, e transformada numa imagem de Pedro. Com o passar dos séculos, os fiéis desenvolveram o costume tocar os pés da estátua, que fica logo na entrada da Basílica, a ponto de desgastar os pés de São Pedro/Júpiter.
Essa não é a única curiosidade envolvendo o coração da Igreja Católica. Visitar o menor Estado do mundo é um dos passeios tradicionais de quem está em Roma. Além da Praça e da Basílica de São Pedro, as Catacumbas e os Museus do Vaticano são outros passeios interessantes. Se você quiser ver tudo isso, serão necessários ao menos dois dias para conhecer a casa do Papa Francisco com a calma que ela merece. Mas vamos voltar ao assunto do texto? É hora de falar da Basílica de São Pedro.
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História da Basílica de São Pedro
O Vaticano é um país independente cercado pela Itália por todos os lados. Essa nação, cujo governante é o Papa, em termos territoriais não passa de um quarteirão de Roma. Mas não foi sempre assim. Há dois mil anos, quando pessoas que tinham visto Jesus ser morto ainda andavam pelas esquinas do Império, a região onde hoje fica Vaticano era sinônimo de diversão romana. E por diversão romana entenda sangue.
É que ali, ao redor do monte vaticano, ficava uma arena. O esporte praticado? Lutas de gladiadores, execuções e torturas. Segundo a tradição católica, milhares de cristãos foram martirizados naquele lugar, entre eles o apóstolo Pedro, que teria sido crucifixado de cabeça para baixo. Com tantas mortes ocorrendo na arena, a região logo se tornou um cemitério. E foi lá que Pedro foi enterrado.
Então foi construído o Coliseu, mais moderna arena do império, e as lutas deixaram de ocorrer na região da colina vaticana. Três séculos mais tarde, o Imperador Constantino tornou o cristianismo uma religião oficial. Como nessa época a tumba de Pedro já era um ponto de peregrinação cristã, Constantino mandou que fosse erguida ali uma Igreja, exatamente acima de onde o apóstolo estava enterrado.
Esse templo, o primeiro do Vaticano, durou mais que o Império – permaneceu em Roma por 12 séculos, a ponto de receber a coroação de Carlos Magno como Imperador do Sacro Império Romano Germânico. Foi só em 1502 d.C., quando a antiga Igreja, já milenar, ameaçava cair aos pedaços, que o Papa Júlio II ordenou a construção de um novo templo, também no mesmo lugar: a atual Basílica de São Pedro.
Basílica de São Pedro: Curiosidades
Não era um projeto simples. Com uma cúpula que alcançaria 136 metros e uma grandiosidade nunca antes vista, a nova Basílica de São Pedro demorou mais de cem anos para ser construída. Nesse meio tempo, a Igreja Católica teve cerca de 20 pontífices.
Alguns dos artistas mais importantes da humanidade trabalharam no novo templo, como Rafael, Bernini e Michelangelo. O resultado, claro, não decepcionou. A fachada da Basílica e o restante da Praça de São Pedro receberam centenas de obras de arte, incluindo estátuas que mostram santos e importantes figuras cristãs. Por dentro e por fora, a Basílica de São Pedro ficou lindona.
Lindona e cara. Tão cara que a Igreja se viu forçada a aumentar esforços na cobrança de indulgências, fato que ironicamente fez com que Martinho Lutero batesse de frente contra as ideias do Papa, inciando a Reforma Protestante. Em todo caso, em 1626, 120 anos depois que a antiga basílica foi demolida, o novo templo foi finalmente concluído.
Embora a Basílica de São Pedro seja muito usada nas missas papais, tanto por seu tamanho quanto pela proximidade com os aposentos do Papa, o prédio não é uma catedral, nome dado apenas aos templos católicos que servem como a sede de um bispo. A casa oficial do Papa é a Basílica de São João de Latrão, também em Roma, embora essa igreja fique longe do Vaticano.
Ahhh, sabe o Coliseu? Por pouco não deixou de existir. É que no meio daquela confusão toda – a região do Vaticano foi um canteiro de obras por quase dois séculos – um papa ordenou a demolição do Coliseu, tudo para que as pedras do antigo símbolo romano, que naquela época já estava aos pedaços, fossem usadas na nova basílica. Quase três mil pedras enormes já tinham sido retiradas do Coliseu quando aquele Papa (felizmente) morreu.
Como é a visita
Assim que você controlar a emoção que é ver de perto alguns dos maiores símbolos do cristianismo, você dará de cara com uma fila. Uma fila que pode ser enorme, causada (em parte) pelos procedimentos de segurança, como detectores de metal, que obviamente são necessários. Mas a parte burocrática é só essa – a entrada na basílica é de graça.
Ao passar pela fila, nova emoção, dessa vez ao testemunhar a grandiosidade da basílica por dentro. “Gradualmente, a basílica alvorece sobre nós – enquanto observamos as pessoas aproximarem-se para este ou aquele monumento, estranhamente elas parecem encolher, pois elas são, evidentemente, ofuscadas pelo tamanho de toda a construção. Esta (basílica) por sua vez, esmaga-nos”, relatou a escritora alemã Georgina Masson. É impossível não concordar com ela.
Veja também: Museu do Vaticano: como é a visita
Dentro da basílica, outra estátua, além daquela citada no começo do texto, merece uma pausa atenta: Pietá, feita por Michelangelo. Se você não reconheceu a obra por nome, talvez reconheça a fotografia dela – Maria carregando o corpo de Jesus.
Toque os pés de Pedro (ou Júpiter) e siga ainda mais para o interior da Basílica. A decoração da cúpula, as luzes que entram pelas janelas e vitrais, as capelas adjacentes e, claro, o Baldaquino – tudo impressiona.
E, antes que você me pergunte, o Baldaquino nada mais é que a estrutura no fundo da foto abaixo, que cobre o altar e fica diretamente abaixo do duomo (e acima do túmulo de São Pedro). Com quase 30 metros de altura, esse trabalho de Bernini é feito em bronze, o que motivou outra polêmica: o material foi tirado do Panteão.
Abaixo do altar, a basílica guarda cerca de 100 tumbas. Foi ali que o Papa João Paulo II foi enterrado, antes que o local de descanso do papa polonês fosse alterado para uma das naves laterais da basílica. É possível visitar esses túmulos, basta descer a escada que leva até lá. O túmulo de Pedro, no entanto, está mais abaixo, no nível da antiga necrópole, e não pode ser visitado durante uma passagem normal pela basílica: para isso é preciso fazer o tour pelas Catacumbas do Vaticano.
Basílica de São Pedro: informações práticas
Como eu disse antes, não é preciso pagar nada para visitar a Basílica de São Pedro. Mas, se por falta de tempo ou pavor de filas, você quiser evitar a espera na entrada, há algumas formas.
Mais um passeio interessante é subir até a cúpula da basílica. Eu não fiz isso por falta de tempo, mas prometi que farei na minha próxima passagem pelo Vaticano, afinal a vista de lá parece ser linda. Você pode comprar seu ingresso para subir ao topo da basílica quando chegar ao Vaticano.
O preço varia – é possível subir tudo de escada, encarando 511 degraus ao custo de 5 euros; ou pagar um pouco mais (7 euros) para subir um trecho de elevador, o que diminui o desafio: apenas 320 degraus. Entretanto, nos dois casos será preciso enfrentar outra fila, a da bilheteria. A visita ao topo do mundo católico ocorre entre 8h e 17h.
Atenção com o vestuário para visitar a basílica: ombros devem estar cobertos e nada de usar roupas acima do joelho. A basílica fica aberta entre 7h e 18h30.
De segunda a sábado, há missas nos seguintes horários: 9h, 10h, 11h, 12h, 17h. Já aos domingos e dias santos os horários são: 9h, 10h30, 11h30, 12h15, 13h, 16h, 17h30.
Desça na estação Otaviano do metrô. A partir desse ponto, basta caminhar por alguns minutos, seguindo o fluxo de fiéis e turistas.
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*Fotos: 360meridianos e Pixabay (em domínio público)
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Oi Rafael!
Estou programando uma viagem pra Itália em abril e Roma está no nosso roteiro. Meu filho de 3,5 anos que é especial irá conosco (meu marido e eu). Meu filho anda com dificuldade e se cansa logo. Você sabe me dizer se nos lugares do Vaticano (Museu, capela sistina, basílica) eles permitem o uso de carrinho de bebê? Será que existe alguma autorização especial por causa de suas dificuldades? Obrigada!
Oi, Aline. Infelizmente não sei dizer. Imagino que exista essa possibilidade sim, mas realmente não consigo garantir.
Boa viagem para vocês. 🙂
Excelente post, como sempre!
Uma dúvida meio off-topic: estarei em Roma em um domingo no meio de janeiro, no inverno. Nessa época como funciona a audiência papal (ou seria ângelo?), é só chegar na praça e aguardar? Qual o horário geralmente? E as visitas no museu e na basilica nesse dia? Funcionam normalmente?
Obrigado
A visita à Basílica é de fato imperdível! Quando fui cheguei cedo, umas 8h, 8h30, então praticamente não peguei fila pra entrar, lá dentro não estava lotado e também não peguei muita fila pra subir até a Cúpula que sim, vale muito a pena! Sobre pegar um trecho de elevador: Sinceramente, o trecho que o elevador cobre é a parte mais fácil da subida, encarei escadarias muito piores (tipo o da Torre del Mangia de Siena e do Campanário do Duomo de Firenze) e pegar o elevador significa enfrentar mais fila, então, pra quem, assim como eu, não tem taaaanto dinheiro sobrando, não vale a pena pegar elevador. Além disso, ao longo da subida tem lugares onde podemos parar e descansar um pouco…
Ainda sobre filas: domingo é o dia da Missa do Papa, então a Praça e a Igreja ficam lotadas! Pra quem tiver tempo e quiser ver a missa vale a pena reservar um dia pra missa e outro pra visitar a Basílica.
Gafe do dia: a Basílica tem tanta coisa pra ver, tantos quadros e esculturas que esqueci completamente que a Pietà fica por lá. Quando fui escrever sobre esse dia, lembrei desse detalhe e me dei conta de que ela passou despercebida. Olhando minhas fotos tinha uma foto embaçada com ela em segundo plano! Haha! Acho que preciso voltar….
Eu também evitaria o elevador, Paula. Se é pra subir, melhor subir tudo de uma vez. E sabe qual foi a minha gafe lá? Reservamos um dia inteiro pro Vaticano, mas esquecemos de guardar tempo para a Capela Sistina e os Museus. Resultado: no dia seguinte corremos pra lá de novo, cedinho, antes de encarar um passeio pelo Fórum Romano.
Foi cansativo, viu.
Abraço.
Rafael, esse post me convenceu a incluir essa igreja no meu roteiro hahah, adorei!
haha! Vale a pena sim, Thalita. O tour pelas catacumbas do Vaticano é outro passeio bem interessante.
Abraço.