São apenas 12 quilômetros, mas você demorará horas para percorrer os Caminhos de Pedra e terminará o percurso com a sensação que pegou uma longa rodovia para a Itália. Culpa dos milhares de imigrantes italianos que desembarcaram nessa parte do Rio Grande do Sul, no final do século 19. Numa época em que a pobreza alcançava a Europa, os italianos resolveram largar tudo e tentar alcançar o Brasil, que estava cheio de promessas de terras e vida farta.
Quando chegaram a Bento Gonçalves, município que na época tinha o nome Colônia Dona Isabel, os italianos usaram o que havia ao redor para construir suas casas e continuar a vida: pedras. E o que hoje dá charme e atrai turistas para a região antes era motivo de vergonha, já que as famílias de imigrantes encaravam as casas de pedra como uma lembrança do passado complicado, quase um atestado de pobreza.
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Com o passar das décadas, muitas casas de pedra foram abaixo, substituídas por construções de madeira. Outras tantas tiveram parte da estrutura escondida, seja por anexos de madeira acrescentados às casas ou pelo reboco. Some a tudo isso uma mudança estratégica, que ajudou a esconder por décadas os tais Caminhos de Pedra. É que a Linha Palmeiro, estrada que concentrava cerca de 200 lotes doados a imigrantes, sumiu do mapa quando a rodovia que passava por ali mudou de traçado.
Na época em que era rota de passagem para caminhões e mercadorias, a região abraçou a vocação para receber viajantes. Quando a rodovia fugiu dali, os viajantes fizeram o mesmo e esse cantinho da Toscana brasileira caiu no esquecimento. Até que, já nas últimas décadas do século 20, pesquisadores perceberam que a antiga Linha Palmeiro guardava uma quantidade enorme de casas coloniais, número alto até mesmo para os padrões da Serra Gaúcha.
O potencial turístico, embora evidente, exigiu trabalho. As casas de pedra foram restauradas e convertidas em restaurantes, espaços temáticos, pequenos museus e alguns bistrôs. Rebocos foram removidos e as pedras – por décadas símbolos de pobreza e vergonha – agora são orgulhosamente exibidas.
O primeiro grupo de visitantes chegou em 1992, quando uma agência de turismo resolveu vender a rota de casas coloniais como mais um atrativo da Serra Gaúcha, que já contava com vinícolas, natureza e verdadeiras cidades temáticas, como Gramado. Logo surgiu o nome do novo roteiro turístico – Caminhos de Pedra -, foi criada uma associação e o Sebrae passou a ajudar no desenvolvimento do turismo regional. Duas décadas mais tarde, os Caminhos de Pedra recebem 60 mil turistas por ano.
Numa boa? Ainda é pouco. Não só para os Caminhos de Pedra, mas em toda a região do Vale dos Vinhedos, nos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul. Se Gramado e Canela são famosas em todo o Brasil e se converteram em importantes destinos turísticos nacionais, a descoberta não aconteceu na mesma proporção nessa parte da Serra Gaúcha, que é ainda mais interessante.
Os 12 quilômetros dos Caminhos de Pedra guardam 18 endereços que merecem ser visitados e em geral funcionam entre 9h e 18h, diariamente, além de quase 50 lugares em que vale a pena parar o carro, sacar a câmera e fotografar, não importa a hora do dia. Por isso, o ideal é reservar pelo menos uns três dias de viagem para conhecer o Vale dos Vinhedos – dois deles para os vinhos, um inteiro para os Caminhos de Pedra.
Comece cedo e vá de carro – os Caminhos de Pedra ficam perto do centro de Bento Gonçalves, mas não a ponto de ir caminhando. Se você resolver alugar um carro em Poa – eu fiz isso – nesse texto aqui explicamos como garantir a diária do veículo com melhor custo/benefício.
Caso alugar um veículo não esteja previsto no orçamento, é possível fazer o trajeto em tours organizados pelas agências de Bento. E, vamos concordar, não é tão difícil assim percorrer 12 quilômetros de bicicleta, entre uma parada e outra, embora falte uma ciclovia e eu não tenha visto lojas para aluguel de bikes ao longo da rota, só mesmo na cidade.
Não importa o que você escolher, vá no meio da manhã, faça algumas visitas e em seguida pare e almoce num dos restaurantes dos Caminhos de Pedra. Depois, é só continuar por outras atrações da antiga estrada.
Roteiro pelos Caminhos de Pedra
Colocou “Caminhos de Pedra” no GPS? Sua primeira parada será ao lado de um posto de combustíveis, no Centro de Atendimento ao Turista, que imita uma casa de pedra e marca o começo da rota. Compre um mapa da região (R$ 2,80; você pode baixar o PDF aqui) e siga em frente. Você passará pelas Casas Lucchese e Ferrari e pela Capela de Imaculada Conceição, primeiros pontos para fotografar.
A Casa dos Doces Predebon é uma vendinha no porão de uma antiga residência colonial e costuma ser a primeira parada de muita gente. Perto dali há um local para tirar Fotos à Moda Antiga, com roupas da época da imigração disponíveis para os interessados.
Em seguida começam os restaurantes, como o Casa Ângelo e Nona Ludia, os dois em casarões de pedra de basalto. A próxima atração é a Casa do Tomate, enquanto a Pousada Cantelli é uma opção para quem resolver se hospedar dentro dos Caminhos de Pedra – o casarão onde fica a pousada é fantástico!
A rota inclui também três vinícolas (Fontanari, Lovari e Salvati e Sirena), a Salumeria e Casa Righesso, outros restaurantes (del Pomodoro, Casa das Massas e Casa Fracalossi, etc) e espaços temáticos como a Casa da Tecelagem, a Casa da Erva-Mate, a Casa da Confecção e a Casa da Ovelha. Destaque para a última, onde é possível comprar queijos de ovelha, dar mamadeira para alguns animais e acompanhar o pastoreio do rebanho, feito por cães da raça Border Collie. Tá aí uma coisa que não vi – e um motivo para voltar.
Tudo é cênico, no melhor sentido da palavra, a ponto da região já ter sido locação para filmes. A Cantina Strapazzon, por exemplo, apareceu em “O Quatrilho”. E não duvido nada que os Caminhos de Pedra e o Vale dos Vinhedos sejam cada vez mais presentes em produções semelhantes. As casas de pedra garantem isso.
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Adorei as informações, Rafael. Sinto-me muito motivada a retornar a esta região tão bela do nosso país, e mostrar ao meu marido o Sul do Brasil, tão especial, que ele, como dinamarquês, ainda não conhece, mas, muito deseja fazê-lo. Obrigada!
É uma região linda mesmo, Clara. Espero que gostem da viagem.
Abraço.
amei. quero me programar para ir em agosto/17. muito frio será?
obs. irei sozinha 🙂
Frio, Fernanda. Mas nada que agasalhos não resolvam. 🙂
Abraço.
Uma delicia! Já foi para minha longa lista. parabéns pelo post!
Obrigado, Virginia.
Abraço.
Muito bom o blog de vcs.Pretendo fazer o Caminhos de Pedra assim que puder.Obrigado pelas informações.
Lindo e aconchegante! Muuuito frio?
Eu fui em março e a temperatura estava bem agradável, Luiza.
Abraço.
Como sempre em Rafa, Artigos fantásticos e legais, Estou adorando visitar e ler os artigos deste blog maravilho, Realmente um dos melhores blog que visito.
Parabéns ! Rafa
Obrigado pelos elogios, Ronaldo! E vale muito conhecer essa região.
Abraço.