Na Índia, o ponto de táxi vai até você, numa espécie de reversal hindu que faz qualquer um perder a paciência. E como é a Índia, vale dizer que o tal ponto de táxi é na realidade um ponto de tuk-tuk, aquele triciclo usado no transporte de passageiros em parte da Ásia. Sim, eles vão até você, não importa onde você esteja. E lembre-se: isso é uma coisa ruim.
Aconteceu em Hyderabad, metrópole indiana que tem sete milhões de habitantes. Chegamos de trem, vindos de Bangalore, outra grande cidade da Índia. Como era costume, não sabíamos em que hotel ficar – na Índia é mais fácil (e mais barato) negociar os preços dos hotéis de porta em porta, da mesma forma que o Homo neanderthalensis fazia quando ia viajar até a caverna da sogra e o 3G das operadoras de celular não permitia que ele fizesse a reserva via smartphone.
Saímos da estação de trem, escolhemos uma região que nosso guia de viagem mostrava ter muitos hotéis e seguimos até lá. Aí começou o problema – e foi assim que criamos, como que por geração espontânea, o nosso primeiro ponto de tuk-tuk. O problema começou quando escolhemos a região em que queríamos ficar: era a 5 minutos de caminhada da estação de trem, ou seja, dava para ir andando, com mochilão nas costas e tudo mais. Faltou combinar com os motoristas de tuk-tuk, que ficaram revoltados com isso.
– “Como assim aqueles dólares, quer dizer, aqueles turistas, não vão pegar um tuk-tuk?”
E nos cercaram.
– “Onde vocês vão”?
– “Vamos até aquele hotel ali (apontando para o outro lado da rua). Vamos a pé mesmo.” – respondemos.
Não, isso não podia ficar assim. Os 33 motoristas de tuk-tuk nos seguiram enquanto atravessávamos a rua. Disseram que nos levariam até um hotel bom e barato. Falaram que aquele estava caindo aos pedaços/fechado/velho/amaldiçoado/etc. Comemoraram – e insistiram ainda mais – quando saímos do primeiro hotel e começamos a caminhar rumo ao segundo.
Imagine você: três turistas com mochilões nas costas andando pelas ruas irregulares de Hyderabad, desviando de motos, carros e vacas. E uma carreata com dezenas de tuk-tuks nos seguindo. Gritando. Oferecendo hotéis melhores.
Nós seguimos, inabaláveis. Até que um motorista parou o tuk-tuk e resolveu seguir a pé também, ainda mais inabalável, mesmo com recusa sem sentido de clientes em potencial.
– “Olha esse hotel” – ele disse, me entregando um cartão. “Olha esse hotel” – disseram os outros 32 motoristas que tiveram a mesma ideia, cada um deles me entregando um cartão.
Juro que falei “não” centenas de vezes. Juro que fui educado. Juro que agradeci. Juro que tentei rir da situação. Mas todo mundo chega a um limite. E foi assim ouvi um xingamento inesquecível.
– “Seu bastardo estúpido” – disse um motorista, logo depois que eu fiz em pedaços o cartão de visita que ele esfregava pela quinta vez na minha cara. Ele parou de nos seguir, profundamente ofendido com meu ato. Os outros 32 continuaram esfregando cartões de visita na minha cara.
Rasguei outro cartão – “Não gostou desse hotel? Tenho outro”. – disse o motorista, e me entregou outro cartão. Não tinha jeito: eles não iam desistir. Entramos no hotel mas próximo. O quarto era sujo e feio. O ventilador não funcionava. O banheiro era um buraco no chão. E era caro, pelo menos para nós.
Descemos, prontos para procurar outro lugar, só para encontramos um ponto de tuk-tuk em frente ao hotel. Trinta e dois veículos parados, com os motoristas aguardando pacientemente até o momento em que cederíamos ao inevitável, entraríamos em um deles e deixaríamos os outros 32 sem clientes. Cedemos, mas de outra forma. Voltamos para dentro daquele hotel. Afinal de contas, ele podia ser sujo e feio, podia ser caro e o banheiro ser um buraco no chão, mas tinha até um ponto de tuk-tuk na porta. Quer conveniência maior do que essa? Aposto que o gerente incluiu essa nova informação nos cartões de visita do hotel.
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Fala Rafael!!
Sou capixaba, e vou muito a Sabará, na terra de vcs!
Vi em um site uma pessoa que reclamou muito dessas abordagens dos motoristas do tuk-tuk. Inclusive dizendo que nem sempre os hotéis que eles indicam realmente valem a pena e que eles recebem uma grana dos donos, que em geral tentam te empurrar (intimidando e colocando os funcionários mal encarados pra olhar com cara feia) várias passagens e pacotes que são o olho da cara e são pura furada.
Me responda uma coisa... vc já ouviu algo do tipo? Acontece mesmo???
Um grande abraço e parabéns pelo site!
Joao.
Oi, João Paulo.
Sim, vi isso tudo por lá. Menos esses funcionários com cara fechada. Eles costumam ser simpáticos, apesar de tudo.
Mas pode ter sido eu que tenha dado sorte. Se tivesse um cara mais brigão, acho que eu tinha apanhado. hahahaha
Socorro desses indianos malucos! E eu que achava que o vendedor de rede é que era chato... Post incrível, mano!
Obrigado, Gleiber! Eles são insistentes mesmo! hehehe
Hahaha Também já passamos por isso. Os taxistas só entendem o que você fala quando lhes é conveniente. Na hora estressa, mas depois damos risada.
Pois é, Douglas. Na hora pode até ser chato, mas depois ficam boas histórias!
Que loucura! Fiz um comentário neste post e ele foi parar no do rafting no Ganges. Fantasma!hahaha
Estamos tentando localizar esse fantasma que coloca os comentários no lugar errado. Pode deixar que já movemos o seus para o post certo! =)
Será possível estar preparado para a Índia? A cada leitura eu fico pensando como serão meus dias e meu comportamente diante dessas situações. E me dá um frio na barriga junto com uma vontade enorme de chegar logo. O problema é que meu marido é o rei da simpatia. E ele diz que prefere dizer não 4000 x mais do que uma pessoa fechada do que não ser simpático. Já sofri muito com ele nesses lugares mas o mais perto que chegamos dos reis da insistência indianos foram os egípcios e marroquinos. Enfim, aguardarei para ver como será. Agora falta pouco!
Acho que você vai adorar a Índia, Liliana. E devo dizer que nosso caso foi diferente: como a gente morou lá é lógico que esse tipo de situação incomodou mais. Acho que quem vai só viajar e ficar pouco tempo deve mesmo levar tudo com bom humor e simpatia, sempre que possível. Pra gente, ficou a lição da paciência.