Intercâmbio na República Tcheca

Já imaginou passar sozinho 5 semanas no inverno, sem ninguém que fale português? A Beth Viana teve essa experiência de intercâmbio na República Tcheca, numa cidade chamada Brno. Assim como a equipe do 360meridianos, o intercâmbio dela foi pela AIESEC, uma organização apartidária, independente, educacional, sem fins lucrativos e totalmente formada e gerenciada por estudantes universitários. Veja abaixo o relato da Beth.

Eu morei durante 6 semanas na cidade de Brno, na Republica Tcheca, e achei o custo da cidade muito baixo (1 euro=25,00CZK) e a qualidade de vida 10. É tudo muito seguro, os transportes funcionam bem e costumam durar a noite toda. Eu fui em um período que era pra ser a “primavera”, mas passei quase 5 semanas de frio intenso, haha, e neve (foi o inverno mais demorado da Europa).

A cidade em si não é muito turística, na verdade, não tem quase nada de turismo, mas é muito bonita. Basicamente é uma cidade universitária, o que é muito bom pra quem gosta de pubs e festas (o melhor dia pra sair é a quarta-feira, porque durante o final de semana os universitários voltam para suas cidades ou vão viajar).

A primeira vez que eu vi neve

Brno é  bem localizada e a segunda maior cidade da República Tcheca. Ela fica a poucas horas de Viena, na Áustria, e cerca de 9 horas de distância de Berlim. É muito fácil se locomover por meio de ônibus. Aliás, eu recomendo a agência “Studant agency” para viajar de busão (Se tiveres ISIC card consegues desconto nos tickets).

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Há um castelo muito bonito no centro da cidade. Para chegar é preciso subir um parque que também é imensamente bonito. Eles têm um relógio na praça central que parece um ovo, haha, mas que é famoso entre os moradores de cidade. Nos arredores existem bonitos parques também, porém, só é possível ir até lá no verão.

Prague Castle

Não conheci nenhum brasileiro na cidade, então esqueçam a possibilidade de falar português a não ser que vocês conheçam alguns estudantes portugueses que vivem lá. No meu caso eu só falei português por causa deles, e ainda foi um português estranho pra mim.

Eles não têm uma imigração muito forte. Os imigrantes que compõem a cidade são basicamente vietnamitas e egípcios. Existe um preconceito muito grande em relação a eles e os tchecos não costumam se “misturar”. Os egípcios costumam ser vistos com maus olhos, já que eles têm uma evasão escolar muito grande, costumam viver em guetos e em grandes famílias.

A dica dada pelos tchecos é sempre: “Cuidado com os egípcios, eles costumam furtar”. Eu não tive problema nenhum e acho que eles sofrem do mal que a maioria dos imigrantes costumam sofrer na Europa: preconceito e descaso.

Sobre os tchecos: Bom, eles são pessoas que te recebem muito bem na casa deles, mas no geral eles são bem fechados. Alguns tchecos não gostam de tchecos porque às vezes eles são bem rudes, mas nada demais. Geralmente são os mais velhos, que ainda tem um pé no comunismo, que agem assim. Na região da Morávia, onde fica Brno, eles são bem receptivos, e se preparem porque lá eles adoram te embebedar, haha. Muitos vinhos e os tchecos adoram cerveja.

Pub em Brno

Eu acho que se você quer ter um grande choque cultural, não diria que esse é o melhor lugar. Existem pequenas diferenças culturais sim, claro. Por exemplo, eu considero os tchecos muito mais “afobados” que a gente, eles estão sempre correndo. Eu aprendi muito a correr atrás de ônibus lá, não aguentava mais. Ou então, faltava uma hora para eu sair e a minha host dizia que não tínhamos tempo (mas faltava uma hora!). Ou o fato deles andarem com os cachorros pra cima e pra baixo, de madrugada, no pub e dentro do ônibus.

Sobre o projeto e a AIESEC de Brno

Eu trabalhei num projeto do Cidadão Global, na área de cultura e educação. Durante 6 semanas, sendo a 1ª semana de workshop e preparação, eu trabalhei em 5 escolas diferentes, algumas na cidade, outras em cidades ao redor. Eu ensinava sobre cultura brasileira e estimulava os alunos a compartilharem suas concepções sobre a vida na Republica Tcheca. Eu trabalhava bastante com música e vídeos, mas também com brincadeiras e outras atividades. O que parecia encantá-los mais eram as músicas. Eu levei todo tipo de musica brasileira: afoxé, carimbó, sertanejo, etc.

Os alunos, tirando uma escola, eram muito receptivos, eles adoravam falar sobre o Brasil, conhecer o Brasil e também ficavam muito felizes quando a gente demonstrava interesse em conhecer sobre eles e o país deles. Eu trabalhava com alunos mais velhos, entre 16 a 20 anos, logo os métodos eram diferentes, não precisavam ser tão lúdicos, afinal, eles costumavam falar bem inglês.

Os alunos demonstravam pouco interesse sobre a cultura tcheca, eles não tinham boas ideias sobre o próprio país. Na verdade, o que parecia rolar era uma certa falta de esperança. Eles também tinham um problema com os compatriotas, sobre acharem eles rudes. Isso foram impressões coletadas em cinco escolas, não abrange toda a realidade.

A AIESEC Brno é certamente uma das melhores, acho que no leste europeu, eles são muito responsáveis e tem uma boa infraestrutura, eu recomendo. Nós estávamos em dois times diferentes a minha Team Leader foi uma das pessoas mais incríveis que eu conheci, pra mim ela é um exemplo de líder. O nome dela é Denisa Nguyen, não sei se ela ainda trabalha com esse projeto, mas eu posso dizer que tudo que precisávamos ela ajudava e sempre se preocupava muito com a gente.

No geral eu recomendo o time de lá, apesar de não se integrarem muito com os trainees, mas eu acho que isso é uma questão cultural mesmo.

Minha experiência

Acho que não existe experiência melhor do que poder viver em outro lugar, mesmo que seja por 6 semanas, acordar e dormir em um lugar totalmente diferente, convivendo com pessoas do mundo inteiro tão diferentes, mas tão semelhantes nas fragilidades e sonhos.

Brno a noite

Eu definitivamente não trocaria essas minhas férias por nenhuma outra. Isso me fez querer ir para mais longe e viver em outros lugares mais diferentes, com choques culturais maiores. Apesar de qualquer dificuldade, é uma experiência que eu não trocaria por nenhuma outra.

A Republica Tcheca foi certamente uma escola para mim, eu aprendi a ser mais tolerante, a ter mais paciência, ser mais independente e a controlar certos sentimentos ruins, daqueles que batem quando a gente se sente só a milhares de quilômetros de casa.

Os alunos e as pessoas que eu conheci ao longo da minha viagem sempre me perguntavam coisas como “Por que a República Tcheca?” ou “Por que você viaja sozinha?”. Então eu comecei a fazer uma reflexão profunda sobre isso:

1- Eu escolhi a Republica Tcheca porque eu nunca tinha estado na Europa antes e eu não queria começar por onde todo mundo começa. Eu queria descobrir um lado da Europa que para mim era desconhecido. Eu sempre me interessei pelo comunismo e então eu queria saber como é viver em um país que há pouco tempo vivia em outro regime.

2- Viajar só é a maior provação que eu como pessoa, mulher, etc, poderia ter. Estar só e ter que aprender a lidar com isso sozinha foi um grande desafio. Eu tive que aprender a ter autocontrole, tive que aprender a confiar em outros que eu não conhecia, mas sempre dentro de um certo limite. Eu realmente não acho que isso seja para qualquer um, na verdade, eu percebi que isso é para poucos que se dispõem a atravessar um oceano sozinhos para entender melhor o outro lado do mundo.

Sinceramente, não me arrependo de ter ido para onde eu fui e de ter feito um intercâmbio voluntário, ao invés de viajar para a Disney ou Nova York. Eu fiz, não me arrependo e faria de novo. Fica esse meu sentimento pra todo mundo que ler esse relato.

Confira mais fotos da República Tcheca, pela Beth Viana, no Flickr dela.

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*Imagem Destacada: Wikimedia Commons

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AIESEC

Uma organização apartidária, independente, educacional, sem fins lucrativos e totalmente formada e gerenciada por estudantes universitários.

Ver Comentários

  • Olá, fiquei tão feliz em ler esse relato e outros que vi pelo site.
    To pesquisando meu intercâmbio pelo AIESEC também, e tem vaga para Argentina e para Rep. Checa, o que vocês acham melhor? hahaha e seria no mês de janeiro!
    Quem mais já participou de intercâmbio pela Aiesec e quer trocar experiências, me mande email ou pode me chamar no face .
    Muito grata, e aguardo vocês :D
    Abraços

  • Olá! Sou brasileira e moro em Brno há quase um ano e meio. Conheço outros brasileiros aqui no país e na cidade, o que é bem bacana.
    Tenho apenas um comentário sobre o texto - o preconceito dos tchecos é em relação aos "gypsies" ou "ciganos", de ascendência "Roma" (como eles se referem aqui)e não "egípcios", como você comentou no texto. =)
    Abraços!

    • Pergunta p/ HELEN. Quero muito ir estudar o idioma ai mas começando com inglês que já sei bastante mas mais pela minha esposa depois o tcheco. Gostaria muito de saber o quanto preciso levar em dinheiro p/ começar a uma vida ai . tirando meu curso e gastos com ele.

  • A República Tcheca é a capital da cerveja Pilsen no mundo, não é a toa que eles tentam te embebedar sempre, já que a cerveja deles é um motivo de orgulho. Além do mais, esse é o pais com maior consumo de cerveja por habitante do do mundo, quase 3 vezes mais que no Brasil, portanto, para quem gosta de uma boa cerveja, esse é um destino perfeito. Parabéns pelo relato e sucesso.

  • Olá Beth, curti muito seu relato, meu nome é Jefferson sou de Salvador Bahia mas no momento estou em um intercâmbio, também pela AIESEC, aqui na Alemanha. Como você, vim pra cá só e sem ter ninguém que falasse português, meu inglês não é um dos melhores e meu alemão, pra se ter uma ideia, cheguei sem nem saber dizer um simples "oi". Estou aqui há dois meses e ficarei por mais quatro. Concordo com tudo que você falou sobre atravessar o oceano só, viver num país com cultura diferente da sua e sem ter ninguém conhecido perto de você. Estou certo que esta é a maior experiência de vida que já tive. Conviver com pessoas que nunca vi antes, ter de confiar, ainda que só as conheça a algumas semanas, é uma coisa complicada mas necessária e assim você passa aprender muito, a se conhecer melhor, entende seus medos, descobre seus limites, dar valor a coisas mais simples. Acredito que esse auto descobrimento seja a maior vantagem e o maior ganho que um intercâmbio pode lhe oferecer.

    • Jefferson,

      Não é fácil mesmo estar em outro país,outro idioma sem contar com pessoas de língua semelhante ou cultura, mas é sempre um grande aprendizado os amigos que eu fiz certamente são os melhores, apesar das diferenças =)

      Espero que você tenha experiências incríveis na Alemanha, eu visitei Berlin e me apaixonei apesar do alemão ser uma língua absurdamente dificil.

      Beijos e boa sorte

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