Categorias: Fotografia de Viagem

Fotos em museus e a necessidade de registrar tudo

Lá estava eu caminhando pelos corredores do D’Orsay, entre Monets e Renoirs, e a frase que eu mais ouvi, além do zumbido de várias pessoas falando ao mesmo tempo, era: – “No Photo!”, gritada por algum dos membros da equipe do museu. Eles tentavam atentamente impedir os visitantes de usarem seus celulares e câmeras para fotografar sem parar as obras de artes.

Então eu me peguei refletindo, entre uma pintura e outra, por que as pessoas (muitas vezes eu também) têm tanta necessidade de tirar fotos de tudo, o tempo inteiro. Claro, essa é a pergunta do século. Porque assim, aqueles quadros são lindos e é incrível poder observá-los tão de perto. Mas o que você vai fazer com uma foto do quadro? E outra, provavelmente já existe uma foto profissional na internet, muito melhor que a tirada escondida com o seu smartphone, se a sua intenção for se lembrar de como era a pintura.

Existem os motivos tradicionais para proibir fotos: o fato do flash destruir obras de arte – e de que muitas pessoas não conseguem entender que sim, podem tirar as fotos, mas sim, precisam desligar o flash. Ou a questão de copyright, porque nem sempre o museu exibindo a peça é o “dono” dela, ou seja, sua foto pode infringir leis internacionais de autoria. Mas não são essas as questões que me afligem quando penso no assunto.

Veja também: Mulheres devem viajar sozinhas pelo mundo?

Desafio: Ache o pau de selfie na foto. Museu D’Orsay, Paris

Eu não acho que todo lugar deveria proibir fotografias, mas em alguns lugares essa proibição começa a fazer sentido na minha cabeça. Por exemplo, o Museu D’Orsay não proibia fotografias  de suas áreas abertas (ou pelo menos ninguém reclamava), no caso, do salão principal ou da linda janela/relógio no último andar. Mas era extremamente rigoroso contra as fotos tiradas dentro das galerias. Assim, eu consegui ver tudo o que queria tranquilamente, até mesmo ficar alguns minutos em frente a um quadro famoso, sem que a multidão me empurrasse.

Já no Museu Britânico, as fotos eram permitidas. Resultado: impossível ver algumas das obras mais famosas daquele museu, como a Pedra Roseta, por exemplo, dada a quantidade de gente se esmagando para tirar fotos dela. A mesma coisa acontece no Louvre, com a Mona Lisa. Fica lá aquela famosa multidão lutando por uma selfie com o quadro de Da Vinci, que acaba sendo considerado até “nada de mais” (eu até o incluí na minha lista de pegadinhas para turista), tamanha a briga por uma foto da La Gioconda.

A Monalisa no Louvre. Foto: sergeymk (CC BY 2.0)

Cria-se então um paradoxo: as fotos e compartilhamentos em redes sociais acabam sendo uma propaganda que atrai outros visitantes para o museu, o que é algo positivo. Ao mesmo tempo, um monte de gente indo ao museu para conseguir tirar aquela foto torna a visita algo que beira o insuportável.

Sim, nós vivemos em uma época que tirar selfies e compartilhar momentos na internet são parte importante de todas as experiências. E só ver os aspectos negativos disso não contribui em nada com a discussão. Aliás, se você pensar na quantidade de autoretratos de artistas famosos pintados em museus do mundo inteiro, vai perceber que o narcisismo não é característica exclusiva dos tempos modernos. Mas, me incomoda muito que chegue a ser impossível ver uma obra de arte ou participar de uma exposição só porque todo mundo tem que tirar foto daquilo. Tem até um estudo que diz as pessoas tendem a se lembrar melhor dos objetos que pararam para observar do que os que fotografaram.

Foto com obra de arte, também sou culpada desse “crime”. Vênus de Milo, no Louvre.

Boa parte do meu trabalho é tirar fotos que inspirem as pessoas a visitar um lugar ou que sejam um bom retrato da minha experiência ali. Além de ser meu trabalho, eu particularmente gosto da arte da fotografia, de procurar ângulos e luzes diferentes para capturar momentos. E eu mesma já reclamei aqui no blog de lugares que pareciam não entender como o mundo funciona ao proibir fotografias. Mas acho que precisamos encontrar um equilíbrio nessa história. Às vezes vale a pena deixar a câmera e o celular de lado e observar o mundo sem lentes. Juro que desde então estou tentando fazer esse exercício.

Quero saber qual a opinião de vocês a respeito. Os lugares devem investir mais em proibições? Ou as pessoas conseguem encontrar esse tal equilíbrio sozinhas?

 

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

Ver Comentários

  • Muito interessante o texto.
    Também gosto de fotografias, mas tem que exagere!
    Fora as questões legais de sair tirando foto de obras com direitos autorais, etc, fato e que atrapalha.
    Quanto estive na Capela Sistina e quase fiquei com torcicolo para tentar apreciar aquela obra (porque acho que o conjunto que torna a capela quase inacreditável) fantástica toda hora era interrompido pelos guardas gritando no photos e por alguns tentado tirar fotos com as câmeras escondidas.
    Se eu gostaria de ter uma foto dentro da Capela Sistina? Claro.
    Mas como essa atitude me incomodou tanto, nem passou pela minha cabeça em também tentar uma fotinha escondida.
    Mas por outro lado, já conheci pessoas fantásticas pelo mundo pelo simples fato de me pedirem para tirar uma foto delas!
    Abraço

    • Obrigada Leonardo,

      Concordo com você, seria ótimo poder ter uma foto lá, mas se é proibido e vai incomodar a visita dos outros, melhor só apreciar a vista e esquecer a câmera!

  • Ótimo texto!

    Também já me peguei pensando a respeito desse assunto no dia que resolvi olhar as fotos que tirei dos santos dentro de uma igreja em Salvador!rs

    Não fiz nada com as fotos e ainda ocupava um bom espaço na memória do meu computador.

    Equilíbrio é a palavra de ordem para tudo na vida.

    Já diz o ditado "tudo demais é veneno".

    Abraço,

  • Olá! Adorei o texto e super compartilho da tua opinião, gente tem fotos maravilhosas na internet e você não precisa provar que esteve em tal lugar (apesar que tenho que confssar que tenho uma 'linda' selfie do tipo: eu + minha mãe + uns vinte turistas aleatórios + Monalisa hahahahhaha), mas eu acho que faz parte dessa coisa de ser turista sabe, muitas vezes uma super viagem é um sonho de muitos anos ai quando você está lá você simplismente esquece os seus principios e vira um fotografo louco querendo 'guardar' uma lembrança de tudo, mas no final as melhores lembranças são as da memória mesmo não tem jeito.
    Outro momento que não entendo as pessoas batendo foto/filmando (mas que as vezes não aguento eu faço tb naquela musica que meche com meu coração) é em shows, foto de celular em show fica simplismente uma bosta, mas muita gente não curte o bendito para ter meia duzia de videos escuros, barulhentos e perdendo a incrivel sensação de um bom show ao vivo.
    Um beijo, Pauline

    • Você disse tudo Pauline, a gente reflete, reflete, mas chega lá no destino e vira aloka da foto simplesmente porque o lugar é incrível.

      É um exercício mesmo de parar

  • Luisa, concordo com voce. Esses tempos li um livro muito legal que falava que o fato de proibir fotografias e gravações em concertos/museus dentre outros fatores, sugeriria que as pessoas aproveitassem aquele momento de forma plena, e que por mais que fotografassem e registrassem, não conseguiriam captar a essencia daquele momento especial! As pessoas muitas vezes estao mais preocupadas em fotografar para "mostrar que foram" do que aproveitar de verdade um passeio! antigamente a gente viajava e quando chegava montava um album com fotos. hoje em dia o pessoal fica tão conectado no celular que não compreendo como conseguem aproveitar o passeio fotografando e postando cada detalhe...

    • Eu acho que tem vezes que as pessoas tem a necessidade de fotografar só por fotografar, nem é para compartilhar, mas porque virou uma compulsão tb. Sei lá, to refletindo aqui, rs

  • Eu concordo, acho que já virou um loucura esse negócio de tirar foto/filmar. É engraçado ver nos shows as pessoas peredendo de apreciar o show para ficar filmando o negócio.

  • A questão importante, eu creio, não é o fato de tirar ou não as fotos: é o exagero.
    Fotografar é mais um ritual do que uma busca da imagem perfeita (como bem dito no texto, na internet tem muitas fotos melhores e profissionais).
    Agora, fotografar tudo é o mesmo que fotografar nada. A obsessão tira o foco do que deveria ser o principal: a experiência e reflexão de viver o lugar.
    Outra coisa importante a ser mencionada é que, em outros contextos, fotografar (com bom senso) é algo que pode dar uma bela visão de conjunto: arquiteturas diferentes, paisagens naturais, etc, no final, formam um bom resumo do lugar visitado.
    Infelizmente, ao que parece, hoje em dia fotografar virou um fim em si mesmo.

  • Uma vez li uma descrição de uma cena típica em Foz do Iguaçu: uma família para de costas pras cataratas, tira uma selfie, confere a selfie, tira outra, vira, dá uma olhadinha e sai andando.

    Triste né? Fica mais barato fazer uma montagem com as cataratas ao fundo. rs

    Eu diminuí significativamente a quantidade de fotos que tirava dentro de museus qd reparei que eu mesma achava chato ficar vendo objetos destorcidos por vidros, má iluminação, falta de flash etc. Até fico feliz ao entrar em museus onde fotos são proibidas, confesso. Pq guardo a câmera e aproveito tudo com calma, sem tirar foto e passar direto.

    • Ei Bia, eu resolvi escrever esse post depois que senti essa mesma sensação de alívio ao entrar num museu que eu podia relaxar e não ter que tirar fotos.

      Essa história das cataratas é triste mesmo

  • Já fui mais adepta às fotografias em viagens. Então, comecei a perceber que àquelas fotos só tinham muito interesse pra mim, que havia viajado e vivido tudo aquilo. Para os "de fora", os lugares, monumentos, comidas e passeios, não faziam muito sentido. Na 8ª ou 10ª foto, a pessoa já estava desinteressada de ver "minha viagem". Hoje em dia aproveito mais e tiro menos fotos. Já não revelo praticamente nenhuma! Meus amigos e família só veem as que eu publico nas redes sociais. As outras guardo pra mim.
    Um dos prazeres de viajar, pelo menos pra mim, é poder observar o lugar e as pessoas que ali vivem, além de ter um tempinho de olhar pra dentro de mim também. Essa experiência não há foto que consiga transmitir!

  • Adorei o texto, finalmente alguém colocou em palavras aquilo que eu penso faz tempo. As pessoas que andam comigo ate estranham qdo se oferecem p tirar uma foto de tal lugar p mim ou comigo e eu digo que não precisa. Pq de fato, nenhuma foto que eu tirar sera melhor do que eu encontraria na internet. O fato é que estamos viajando e indo a lugares para fotografar a experiência e não vivencia-la de fato. Cospindo a carne e engolindo os ossos! rs

    • Eu gosto de tirar fotos dos lugares, mas não faço questão nenhuma de tirar fotos minhas. Em Amsterdam, eu, Rafa e Naty não temos nenhuma foto de nós mesmos. Ultimamente eu até tenho me esforçado um pouco mais para ter fotos minhas em lugares que gostei muito, para guardar como recordação, mas confesso que tenho um pouco de preguiça, rs

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Publicado por
Luiza Antunes
Tags: Reflexões

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