Há praticidade em entrar em um hipermercado e pegar tudo o que você precisa de uma só vez. Há conforto em se sentar em uma cadeira de um fastfood e saber exatamente o que esperar. Há tranquilidade em não precisar se preocupar com a qualidade do quarto do hotel que você reservou, já que eles são padronizados no mundo inteiro. Ir na via contrária dessa tendência, no entanto, também pode trazer inúmeros benefícios para a sua viagem, para o lugar que você visita e para o planeta como um todo.
Se você deseja deixar um impacto positivo na comunidade visitada e se preocupa com as consequências do turismo de massa, há duas palavras que ajudam pra caramba: consumir localmente. Optar por produtos e serviços locais na hora de planejar suas férias traz diversos benefícios sociais e econômicos, além de te ajudar a mergulhar profundamente na cultura que você visita.
Já ouviu falar na expressão “win-win situation”? Essa é uma delas: não há contra-indicações e todo mundo sai ganhando. E, se a ideia te agrada, saiba que consumir localmente é uma decisão que pode ser tomada não apenas quando estamos viajando, mas também na nossa rotina diária, ajudando a fortalecer também as comunidades em que vivemos. Veja agora o porquê:
Ao escolher gastar seu dinheiro em negócios independentes, criados por moradores locais, maiores são as chances desse dinheiro permanecer naquele país. É claro que a cadeia produtiva é muito complexa hoje em dia, mas há uma diversidade de estudos que comprovam que uma parcela significativa do dinheiro gasto em pequenas e médias empresas vai para produtores e fornecedores locais.
A conta exata do benefício pode variar de país para país. De acordo com essa matéria do The Guardian, para cada libra gasta em um negócio pequeno ou médio no Reino Unido, 63 centavos permanecem no local. Quando a compra é feita em grandes cadeias nacionais ou internacionais, no entanto, esse valor cai para 40 centavos. E estamos falando de um país desenvolvido, com uma estrutura de serviços robusta.
A situação se agrava em países em desenvolvimento. No Caribe, região muitas vezes dominada por grandes hotéis de rede e resorts, estima-se que 80% do dinheiro que entra no destino por meio da indústria turística não permanece ali. Na Tailândia, esse percentual é de 70%.
Esse efeito, conhecido como leakage, pode até mesmo neutralizar toda a riqueza gerada pela indústria turística em um determinado país. Há várias razões para essa saída de dinheiro, mas uma das formas de amenizar a situação é optando por produtos e serviços locais em suas viagens. Quem tiver interesse no assunto pode dar uma olhada nesses estudos aqui.
Donos de pequenos e médios negócios são mais propensos a contratarem fornecedores locais, o que reduz o impacto ambiental gerado pelo transporte de produtos importados. Esses produtos também costumam ter menos (ou nenhuma) embalagem, o que reduz a produção de lixo. Além disso, essa é uma forma de consumir refeições, frutas e legumes típicos daquela localidade e estação.
Escolher lembranças e artigos de decoração produzidos por artistas locais é uma forma de valorizar e manter vivas tradições e técnicas milenares e encorajar que as novas gerações aprendam esse tipo de ofício e até inovem em cima dele. Ao mesmo tempo, você ainda leva para casa peças únicas, cheias de história para contar.
Da mesma forma, ao consumir em mercados, restaurantes e pousadas de membros daquela comunidade, você ajuda a financiar e a impulsionar o empreendedorismo local. E empreendedorismo é importantíssimo para uma economia forte.
Esse tipo de negócio é criado por gente que vive naquela comunidade, muitas vezes por anos e anos. Seus clientes são, muitas vezes, seus vizinhos e conhecidos. Por ter uma forte relação com aquela região, eles são menos propensos a sair dali por alguma questão mercadológica e estão mais interessados em investir no futuro da área.
Além disso, mercados locais, livrarias ou cafés, por exemplo, também são importantes na construção de uma vida social e no fortalecimento de laços entre os membros daquela comunidade, uma vez que são ponto de encontro e oferecem atividades comunitárias e eventos.
Consumir localmente é também uma experiência. É a sua oportunidade de deixar de lado os produtos de massa, padronizados, reconhecíveis em qualquer lugar do mundo, para entrar em contato com o que é local e único. E a gente não cruza oceanos para comer, comprar e ver exatamente aquilo que a gente vê em casa, certo?
Um Ibis Budget é um Ibis Budget em qualquer lugar do mundo. Um Big Mac tem exatamente o mesmo molho especial em qualquer país onde ele é vendido. Já a comida de rua de cada destino é única. A pousadinha é única. O restaurante típico é único. Optando por produtos e serviços locais você também vai estar optando por experiências e aprendizado para você. Todo mundo ganha.
É verdade que grandes cadeias podem oferecer preços muitas vezes melhores que pequenos negócios, já que essas empresas compram seus produtos em quantidades absurdas e têm recursos para operar, meses, talvez anos, no vermelho, a fim de quebrar a concorrência.
No entanto, em algumas ocasiões, principalmente em países onde a barganha é uma cultura, negociar diretamente com o dono pode te garantir descontos difíceis de conseguir em grandes redes, onde os preços são tabelados. Além disso, pequenos negócios têm um custo operacional e uma margem de lucro menor que a das grandes redes, o que pode favorecê-los na hora de decidir o preço de uma produto ou serviço. Há um estudo interessante sobre isso aqui.
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Isso também acaba valendo pra aquele velho papo de guias e excursões de "vou te levar num lugar em que a produção é da fábrica, muito mais barata...".
Aí te levam pra ver um "show" com os trabalhadores locais fazendo o poduto, onde supostamente é tudo mais barato por ser o local original de produção.
No fim das contas tudo armado e aqueles trabalhadores ganham uma parcela ínfima das vendas.
No dia seguinte você vai na rua e encontra tudo 1/10 do preço...
hehehe, esse é um golpe até bem comum. Nunca compro nada em lojas que surgem no meio de tours com guias turísticos.
Que gostoso ler este artigo. Acabo de voltar de Bariloche e estava comparando a cidade com Campos do Jordão, que parece uma feira empresarial na alta temporada. Percebi que em Bariloche não há hotéis de rede internacional e padarias, açougues, verdurarias ainda são usadas para abastecer a população. Fora o McDonalds e a Petrobrás, não vi nada internacional. As lojas de montanhismo vendem produtos de marcas americanas, mas há grande oferta de produtos de couro e lã, tudo local. Artesanato autêntico foi mais difícil de encontrar, mas em Cerro Catedral e em Vila la Angostura há lojas com produtos feitos por artesãos locais. Logo eu escrevo sobre isso também!
Abraços!
Que legal Márcia, estou indo para Bariloche em agosto. Bom saber que por lá as coisas são assim! Abraços e obrigada por comentar!
Muito bom artigo! Parabéns...
Obrigada, Diogo!