Se os viajantes precisassem de uma Bíblia, o livro Vagabonding, de Rolf Potts, seria um sério candidato ao cargo. Pioneiro na missão de inspirar pessoas a explorarem esse mundão sem porteira, ele escreveu esse manual para aventureiros em 2003, anos antes da super onda de blogueiros de viagem tomar conta da internet.
O título do livro, Vagabonding, era para ser um neologismo criado pelo próprio Rolf em uma coluna sobre viagens que ele mantinha na internet. Anos mais tarde, porém, ele descobriu que alguém já havia tido a ideia antes. Em ambos os casos, no entanto, o significado é mesmo: Vagabonding é o ato de deixar nossas rotinas para trás com o objetivo de viajar pelo mundo por um período de tempo prolongado, enfatizando o contato com as pessoas que cruzam nossos caminhos, a descoberta, a aventura e a criatividade. Além disso, a definição também engloba a forma como planejamos e estruturamos nossa vida de forma a tornar as viagens constantes não apenas possíveis, como necessárias.
A primeira parte do livro é dedicada à filosofia de quem adota viagens não apenas como prioridade, mas como estilo de vida. E ele bate numa tecla que a gente já cansou de bater aqui: não precisa ter uma tonelada de notas de dólares para viajar por longos períodos. É tudo apenas uma questão de prioridades, de assumir o controle das circunstâncias, parar de inventar desculpas e direcionar sua vida em direção aos seus sonhos se os seus sonhos forem, de fato, viajar por este mundo.
Nessas páginas, o autor tenta desconstruir os principais preconceitos que rondam a cabeça das pessoas quando falamos em largar tudo para viajar. Para ele, por exemplo, a noção de que investimento material é de alguma forma mais importante que investimento pessoal está intrincada na sociedade de consumo e é o que nos leva a acreditar que nós nunca poderíamos pagar por uma viagem mais longa, mas que poderíamos, com algum esforço, investir em um carro zero de mesmo valor.
O capítulo seguinte é dedicado a questões mais práticas do planejamento, em especial o momento de economizar, orçar e manejar o dinheiro em uma viagem como essa. As dicas são intercaladas com relatos de pessoas que vivem esse estilo de vida e com citações inspiradoras de outros vagabonders mundo afora. Por fim, o autor aborda as possíveis dúvidas que viajantes iniciantes possam ter durante a vida na estrada: segurança, saúde, planejamento, choque cultural e interação com locais.
O livro tem alguns pontos com os quais eu não concordo. A distinção entre turistas e viajantes é o mais crítico deles. Segundo Potts, viajantes são os únicos que veem o que está a volta, ao passo que turistas apenas dão um olhar superficial nas atrações.
Isso implicaria em uma ausência de bom gosto e profundidade nos pobres turistões, que acabariam por ter experiências não autênticas e desumanizadas. Os viajantes, por outro lado, seriam o exato oposto na escala Potts de legitimidade na estrada. Sei lá vocês, mas eu acho essas divisões um pouco prepotentes e preconceituosas. Afinal, é impossível medir algo tão subjetivo quanto o impacto de uma experiência, qualquer que seja, na vida e nas percepções de alguém.
Apesar dessa pequena desavença, a leitura de Vagabonding me ajudou a refletir sobre a forma como viajamos e em como viajar melhor. Sem dúvida é um livro recomendado a todos aqueles que já são velhos amigos da estrada e para aqueles que ainda sonham em colocar seus pés no mundo.
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Oi, Natália! Sou fã dos posts sobre livros, já comprei alguns depois de ler review sua!
Fiquei curiosa sobre esse livro, mesmo tb não concordando com a distinção entre viajantes e turistas (me parece um pouco pseudointelectual, mas enfim), definitivamente colocarei na minha listinha!
Obrigada por mais uma ótima dica!
Que bom saber, Bárbara! Até pq eu adoro falar de livros por aqui, são minha outra paixão...
Abraços!