A mochila no porta-malas do carro, um sorriso e um abraço. Ninguém quer ser o primeiro a soltar, mas é preciso ir. O trajeto até o aeroporto é lento, culpa do engarrafamento, mas ainda tenho algumas horas até o voo e uso o tempo para rever as fotos no celular. Isso foi há quase um ano, na minha despedida de Buenos Aires.
No último fim de semana, mais um ciclo se encerrou. Uma festa de três dias e dezenas de pessoas que fizeram parte da minha vida nos últimos 10 meses. Deixamos o último dia para escrever recados uns para os outros e mal pude terminar de ler o primeiro sem ter que segurar as lágrimas. Alguma vez na vida eu gostaria de não ser a pessoa que vira as costas e se vai. Se há uma coisa com a qual eu não me acostumei em cinco anos de estrada, essa coisa é dizer adeus.
Cinco anos. Seis cidades que eu chamei de casa, mas prefiro não contar assim. Conto o tempo na estrada em número de amigos. São inúmeros. Com alguns não passei mais que alguns poucos meses, mas meses intensos, suficientes para me fazer guardar um montão de recordações e deixar marcas profundas em mim. Porque cada pessoa especial que a gente conhece transforma a gente um pouquinho.
Foi com essas pessoas que descobri que sou latina, sim senhor, mas também sou do mundo inteiro. Hoje sou um pouquinho colombiana, um pouquinho norte-americana, espanhola, catalã, basca, argentina, chilena, peruana, sul-africana e russa. Porque o lugar onde a gente nasce não diz quem a gente é, mas sim as experiências que a gente tem. E as minhas me levaram para mais perto das fronteiras.
E se temos cultura, língua e costumes tão diferentes, na essência somos tão parecidos que essas barreiras se tornam insignificantes. E é também por causa delas que eu me sentirei eternamente estrangeira em meu próprio país. Sei que terei casa e família em qualquer dos lugares que o mundo me leve em seguida, e espero que essas pessoas saibam que eu sempre terei um sofá ou uma panela de brigadeiro esperando por elas onde quer que eu esteja.
Acho que seria impossível contar minha história sem mencionar a casa de dois andares e as festas no telhado de Manimajra; os meses que eu passei morando no Belgrano Hostel e o velho banco de praça em uma rua sem saída de Buenos Aires; o Álamo, a Universidade Autònoma de Barcelona, a Roca de la Muntanyola, a Plaça del Sol e o xiquipiso. E se meu mapa afetivo das cidades onde morei quase não tem grandes atrações, apenas ruas e esquinas que para qualquer um seriam insignificantes, é por causa das pessoas que conheci nelas.
Alguns amigos sempre vão estar sempre ali. Outros seguirão caminhos diferentes, mas o tempo e a distância que muitas vezes enfraquecem os laços nunca serão capazes de enfraquecer também as lembranças dos tempos incríveis que passamos juntos. A nenhum deles eu quero dizer adeus. Por isso fica aqui um até logo. Um dia a gente volta a se ver.
Um post especialmente dedicado à Manimajra Family de Chandigarh, aos incríveis amigos que batiam cartão na Oficina de Buenos Aires e à família do Máster de Periodismo de Viajes de Barcelona. Minhas andanças nunca seriam as mesmas sem vocês.
Foto destacada: Dominic Robinson (CC)
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Me identifiquei com o seu texto Natália, realmente viver viajando é algo que muitos sonham, mas sempre nas nossas escolhas pagamos um preço, mas no final a balança sempre pesa para o mais :-) Parabéns pelo blog.
Marta, verdade, no final pagamos um preço pelas nossas escolhas. Não se pode ter tudo, mas segue valendo a pena.
Abraços
Olá Natália, tudo bem?
Belíssimo texto de sensibilidade sem igual. Mas, afinal, o que é a vida senão uma grande viagem?
Lendo o teu texto acabo de encontrar meu segundo lema de viajante. E, se você me permitir, gostaria de compartilhar o meu:
"Mais legal do que ter para onde ir é ter para onde/por quem voltar!"
Com o teu texto, o ter para onde/por quem voltar ganha um sentido muito mais amplo que apenas a viagem física. Pois, de fato, são as experiências que a gente tem que nos constroem. E graças a elas temos essa liberdade para as diversas idas e vindas, mesmo que apenas na lembrança.
Que venham mais viagens, mais experiências e mais histórias.
Beijos e abraços!
Cássio, eu é que agradeço por um comentário tão sensível.
Você tem toda a razão em suas ponderações...
Abraços
"Porque o lugar onde a gente nasce não diz quem a gente é, mas sim as experiências que a gente tem." Que frase linda!
Obrigada, Isabella!
Pois é , cada saída é eternamente memorial , no sentido de guardar cada amigo com carinho! e o adeus, se repete, viajem após viajem, já me senti muito triste , é eternamente gratificante saber que você pode voltar ! e com certeza é uma jornada de volta , pelo menos em nossas lembranças!
Bruna, que bom saber que não estou sozinha nesse sentimento!
Abraços