Este texto começa com um exercício para você: imagine que você comprou uma passagem internacional. Não qualquer uma, mas de volta para casa, que você não visita há quase um ano. E então você acorda na manhã anterior, com o dia todo organizado para resolver coisas da dita viagem. Enquanto está tomando café, recebe uma sms. A primeira coisa que vai passar pela sua cabeça, se você for remotamente parecido comigo, é: quem diabos manda sms em 2016? Enfim, superada essa questão, vc abre a mensagem:
Nós pedimos desculpas mas o seu voo XX1234 foi cancelado
Como você se sentiria?
Eu fiquei congelada por quase um minuto. Sem palavras além do palavrão que soltei quando li a mensagem. Já tive alguns voos atrasados, já tive que trocar ou cancelar voos por inúmeros motivos. Mas nunca tinha tido um voo cancelado assim, meio que do nada. Não criei um sistema de resposta para isso ainda. E, para completar, essa é uma viagem que já tinha sido adiada por mais de um mês por conta de burocracias.
Depois que saí do meu estupor e expliquei o que estava acontecendo para quem me interrogava com cara de tacho, fui pesquisar o motivo do cancelamento: a Lufhtansa estava de greve. Entrei no link que me indicaram na sms para buscar alternativas para o meu problema e o número que indicavam para o atendimento ao cliente em Portugal simplesmente não existia. Tentei todos os números que o site indicava para Portugal. Todos inexistentes.
Nessa hora obviamente meu coração ansioso já estava a mil e bateu o desespero de perder o voo. E consequentemente o evento que eu tinha em BH – o encontro da Rede Brasileira de Blogueiros de Viagem, no qual não só eu iria participar, mas palestrar também.
Respirando fundo, comecei a buscar telefones da Lufthansa no Brasil. O número do Rio de Janeiro também não funcionou, a chamada não completava. Meu voo chegaria no Galeão, vindo de Frankfurt, mas eu embarcaria primeiro em Lisboa. E meu destino final era Belo Horizonte. Sim, um voo de 2 escalas e 24 horas. Chegaria na sexta de manhã, com sorte os trâmites do aeroporto não demorariam tanto e eu conseguiria almoçar com minha família antes de seguir para a programação de eventos de trabalho.
Um voo comprado com uma semana de antecedência, quando eu finalmente consegui me resolver com as burocracias em Portugal e pude comprar a passagem, escolhendo a opção longa porque era a única com preço razoável.
Tentei o de São Paulo e a ligação completou – ouvir aquele barulhinho de telefone chamando me deu alguma esperança. Isso nos primeiros 10 minutos, que depois viraram uma grande tortura. Até que me atenderam, mais ou menos com 20 minutos de espera. Para um dia de greve e vários voos cancelados, nada mal. O problema foi que cumprimentei a atendente, expliquei a questão e quando ela foi me dar qualquer resposta: puft. A ligação caiu.
Olho para a internet (eu estava usando o serviço de chamadas do Skype, que é mais barato) e a internet da casa tinha caído. Paciência, interurbano seria a solução. Peguei meu celular e lá vamos nós. O número de São Paulo continuava funcionando. Mais 20 minutos de espera até ouvir um alô.
Expliquei o problema mais uma vez. Talvez o tom da minha voz revelava o meu desespero, mas antes de brigar ou chorar era melhor esperar. O funcionário, muito simpático, disse que iria me deixar na espera enquanto tentava achar uma solução. Aguardo alguns minutos calada e tensa. Então, o cara retorna: olha, encontrei um voo da TAP direto para Confins amanhã.
Não tendo certeza de que tinha ouvido direito, questionei:
– O voo da TAP direto Lisboa para Belo Horizonte?
– Sim senhora. O voo que sai de Lisboa às 10h e chega em Confins 17h30.
– O voo que sai às 10h de Lisboa amanhã e chega amanhã mesmo em BH?
– Sim senhora. Posso realizar a troca e aguardar na linha enquanto o email da confirmação não chega.
Eu acho que reconfirmei com o coitado do atendente umas três vezes se ele estava trocando meu voo com duas escalas e 24 horas de duração por outro direto e com duração de 9 horas – que eu não tinha comprado porque custava mais de R$ 4 mil. Eu ainda estava ansiosa com o cancelamento e chocada com a minha sorte. Esperava, confesso, que eles fossem trocar meu voo de dia, o que geraria um problema porque eu perderia o evento, teria que explicar isso e viraria uma bola de neve. Fico exausta só de lembrar a capacidade da minha mente de pensar no pior cenário possível.
Aguardei o email da confirmação chegar e agradeci mil vezes o atendente. Na hora de me despedir, ainda desejei a ele boa sorte com o longo dia de ligações pela frente. Ele riu muito e disse um obrigado cansado. Um atendente da Lufhtansa alemã ainda me ligou mais tarde para informar que estava tudo certo e me lembrar de ir mais cedo para Lisboa (meu voo original era às 12h).
Foi só quando estava tudo resolvido que eu contei para alguém no Brasil que meu voo tinha sido cancelado. Foi para minha irmã, que quase caiu da cadeira com a notícia antes que eu pudesse completar chegaria no Brasil 15 horas antes do previsto. Armamos uma surpresa para minha família. Foi muito divertida a cara de espanto de todos quando apareci na quinta à noite em casa, quando me esperavam para o almoço de sexta.
Essa história toda é para me lembrar, e também lembrar a todos vocês que sofrem de ansiedade e medo das coisas darem errado, que às vezes as coisas dão errado mesmo, mas é para o nosso próprio bem. Talvez na hora isso não seja tão óbvio como a troca por um voo direto. Mas, no fim das contas, tudo é um aprendizado. E com um pouco de sorte tudo se ajeita.
P.S. Se a companhia aérea que cancelar seu voo não for tão prestativa quando a Lufhtansa foi comigo, dê uma olhada no nosso post sobre direitos dos passageiros em voos
*Imagem destacada: Shutterstock
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Esse ano eu e minha namorada estávamos saindo de férias pra mochilar pela america do sul e na ida, faríamos escala de 24hs em Buenos Aires, planejada especificamente pra conhecer um pouquinho da cidade. Tudo certo, na véspera do voo, lá pelas 11 da noite recebo o famigerado SMS informando o atraso no nosso voo, que sairia por volta das 10 da manhã e tinha sido adiado quase pra 1 da tarde ... e lá se ia embora nossa esperança de conhecer a cidade.
Foi aí que a blogosfera e o tanto de informações disponível nos ajudou, no desespero fui procurar ajuda sobre o que fazer e vi que em casos de adiamento de mais de 2 horas o cliente tem direito de exigir que a companhia o coloque no próximo voo com mesmo destino (mesmo que seja de outra cia. aérea). Aproveitamos que chegamos bem cedo no aeroporto (antes de saber do adiamento já estavamos com planos de chegar cedo e tentar pegar lugares vazios num voo anterior ao nosso mas que a companhia não fazia a troca por ser um voo não operado pela mesma divisão da empresa) e fomos correndo no balcão de informações e pedimos o que queríamos, a funcionária teve que ligar pra uns 2 superiores dela pra confirmar se a lei realmente obrigava isso e assim conseguimos nosso adiantamento de voo somente por causa do atraso do nosso voo original, nos dando um poquinho mais de tempo pra conhecer a capital hermana
Que ótimo Lucas!
Que bom que vcs fizeram valer seus direitos e ainda não perderam Buenos Aires
Hahaha...MT legal. Sorte mesmo! Minha mãe sempre diz que esse tipo de coisa são presentes q a vida dá para pessoas do bem! Rs...acho legal acreditar nisso.
Ótimo texto...boa sorte.
=D
Que legal!
"Há malas que vão para Belém ", ditado antigo :)
Que bom que deu certo - e melhor ainda!
hahahahahaahahah melhor ditado
Há males que vem para o bem! É só não se desesperar e acreditar que no final tudo vai dar certo. =]
Parabéns pela palestra. Achei sensacional!!
Minha maior dificuldade na vida é acreditar nesse pensamento positivo. Ansiedade é duro demais!
bjss
hahahahha, só fiquei aqui imaginando a cena (e os cenários) :P
hahahaha e a pessoa que ficou me olhando com cara de tacho enquanto eu me descabelava
Que sorte hein!! Também acho que muitas vezes quando tudo dá errado, na verdade é Deus ou um poder maior qualquer nos mostrando um caminho diferente. Um caminho que de alguma forma vai ser melhor pra gente no fim das contas!! Tudo tem um lado positivo, nem sempre é visível aos nossos olhos, mas que ele existe, existe!!
PS: Eu tbm estava ansiosa aqui para ir ao encontro. Comprei uma passagem de avião da minha cidade Governador Valadares com antecedência pra chegar na sexta pela manhã poder participar de tudo e justo na quinta a noite caiu um toró aqui em GV e eu fiquei super ansiosa achando que se o tempo não melhorasse meu vôo seria cancelado.
Verdade Fernanda, as vezes temos que esperar um pouco e ir seguindo antes de descobrir o lado positivo das coisas