Eu bem me lembro da primeira vez que vivi numa casa em que não havia máquina de lavar roupa. Foi na Índia. Lá, ainda muito mais do que no Brasil, esse eletrodoméstico é um extremo privilégio. Eu me lembro de ficar com alguns machucados nos dedos de tanto esfregar calças jeans e peças mais pesadas. Algumas semanas depois, descobrimos que havia uma lavanderia próxima de casa, mas era daquela que você entrega suas roupas para a pessoa e ela devolve tudo passadinho e dobrado com cuidado.
Ou seja, a minha primeira experiência com uma dessas máquinas de lavar roupas gigantes de self service foi num mochilão pela Europa, onde não ter máquina de lavar roupas costuma ser uma escolha. Eram 40 dias de viagem. Uma mala de 17 kg. Daí vocês podem calcular que ou eu lavava as roupas ao longo do caminho, ou eu ia ficar sem ter o que usar.
Depois disso, em praticamente todas as viagens que eu faço, essa é a minha política. Minhas malas cada vez mais ficam menores e minhas idas a lavanderias são estrategicamente calculadas ao longo do trajeto. Eu e minha mãe, na Itália, até decidimos por uma cidade ao invés de outra por conta da bendita lavanderia self service.
Porém, eu nunca tinha parado para refletir o quando jogar todas as suas roupas numa máquina de lavar e depois numa de secar é um exercício de desapego. Até eu, novamente, não ter máquina de lavar roupa em casa aqui no Porto. Talvez a reflexão veio só agora porque, durante as viagens, trata-se de um número limitado de roupas. Ou porque eu acabei de voltar do Brasil e por lá a minha mãe sempre tem a tendência de olhar para minhas roupas e dizer: “como estão velhas”.
Enfim, enquanto um monte de peças minhas de tipo e cores diferentes giravam sem divisão naquela maquina enorme, eu pensei: é, realmente, sou bem desapegada com minhas coisas mesmo.
Eu lembro de uma colega de faculdade que lavava todas as suas roupas delicadas a mão para durar mais. Quando eu perguntei para ela quais eram as roupas delicadas (pensando em lingerie), ela me explicou que também eram camisetas, sueters e vestidos. E fiquei com uma cara de pena dela ao invés de pensar em fazer o mesmo com as minhas.
Outra amiga, essa que morou comigo, estava sempre preocupada se numa roupa aparecia um furinho ou manchinha. É bem provável que você sempre vá me encontrar com uma roupa com algum furinho, ou que perdeu algum botão, ou que um fio está soltando, ou umas bolinhas engraçadas – e por aí vai. E sempre, mas sempre, espere me ver amarrotada.
Enquanto alguns de vocês estão lendo isso chocados, tenho certeza que vários estão se identificando. Pois é, desleixados, desapegados e desorganizados, uni-vos. Demorei anos para parar de me sentir mal e admitir que sim, sou uma mulher desleixada e desorganizada – oh, que crime! Se as coisas estão limpas e cheirosas, tá ótimo.
Prefiro poupar meu tempo e os nós dos meus dedos do que andar impecável. E ainda economizo nas moedinhas pagando uma máquina só. E antes que venham me falar: mas assim suas roupas não duram. Garanto que duram sim: tenho roupa, calça e casaco que já devem até andar sozinhos depois de existirem há quase dez anos no meu armário.
P.S. Para não dizer que meu tempo na lavanderia não foi produtivo, gastei meus 40 minutos esperando a máquina bater escrevendo este post. Porque hoje em dia as lavanderias self service na Europa costumam ter wi-fi. Desapegada sim, desconectada nunca.
*Imagem Destacada: Shutterstock
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Só me dei conta de q n tenho roupa branca ao morar c duas médicas e reparar que ao separarmos as roupas pra lavar nunca tinha nada meu lá. Gente, branco só mancha. Seda, lingerie, pode tudo bater até junto de jeans. Garra não.
Minha teoria é q vou enjoar (ou querer diminuir meu já diminuto armário de roupas) e doar antes dela estragar mesmo. Aliás, teoria não. Sempre acontece isso.
Eu até gosto de branco, mas não consigo manter branco por muito tempo hahah