São Paulo perde alguns de seus melhores passeios: mirantes estão fechados

Poucas cidades do mundo são mais impressionantes vistas de cima do que São Paulo. Eu descobri isso em 2013, época em que morava na capital paulista, mas já estava de malas prontas para ir embora. Nos últimos dias na cidade, aproveitei uma tarde de folga para conhecer três mirantes. Estive no mirante do Edifício Altino Arantes, o Banespa. De lá, caminhei por cinco minutinhos até o mirante do Edifício Martinelli. A última parada foi no alto do Edifício Itália, na Praça da República. Ainda tentei visitar o terraço do Copan, mas descobri que a visitação não era possível.

Quatro anos depois, o texto que escrevi sobre os mirantes de São Paulo ainda atrai leitores aqui no blog. E foi um deles, o Odon Pereira, que deu o alerta: o passeio gratuito mais legal da capital paulista não existe mais. Dois mirantes estão fechados, enquanto outro ainda recebe visitantes, mas passou a cobrar (e caro) pela entrada. Resolvi verificar essa situação com os administradores dos três edifícios.

Mirante do Edifício Altino Arantes, o Banespa

O telefone do Edifício Altino Arantes toca, toca, até cair numa gravação. Nela, vem a confirmação: “em virtude de um projeto de melhorias e adequação na estrutura interna do edifício, as visitas estão temporariamente suspensas”. Quem vai até o Banespão, como o prédio é carinhosamente chamado, encontra uma placa com esse mesmo aviso. Não há nenhuma informação sobre a data da reabertura. Procuramos a assessoria de comunicação do Banco Santander, atual proprietário do prédio, que informou que ainda estuda a possibilidade de reabrir o mirante após as reformas.

O Edifício Altino Arantes é o terceiro prédio mais alto de São Paulo e talvez o mais famoso da cidade. Foi projetado no final dos anos 30, para servir de sede do Banespa, banco que na década de 90 foi vendido para o Santander. Do mirante, que até 2015 estava aberto e tinha entrada gratuita, era possível ver todo o centro de São Paulo, com destaque para a Catedral da Sé.

mirantes de são paulo

Edifício Banespa 

Mirante do Edifício Martinelli

O telefonema para o Edifício Martinelli não caiu numa gravação, mas a resposta foi parecida. A visitação está suspensa desde março deste ano, quando o mirante foi fechado para reforma. Também não há previsão para reabertura.

Eu estive algumas vezes no terraço do prédio, pra mim o melhor lugar para ver São Paulo do alto. É que lá a visita nunca foi corrida, os horários disponíveis eram mais amplos e incluíam finais de semana. Mesmo quando estava aberto, o tempo de permanência no mirante do Banespa era curto e limitado a dias de semana. Além disso, nada de vidros ou grades atrapalhando a visão no Martinelli, o que ocorria em outros mirantes.  Do alto do Martinelli, São Paulo se mostra com sua imponência máxima. O lugar é tão grande que em 2016 uma cervejaria abriu um bar temporário no alto do edifício, o Heineken Up On The Roof.

O edifício foi construído por iniciativa de Giuseppe Martinelli, um imigrante italiano. O projeto causou uma enorme polêmica, porque naquela época os prédios de São Paulo tinham no máximo cinco andares. Quando ficou pronto, o edifício tinha 25, um tamanho tão assombroso para a época que a prefeitura resolveu intervir. O empresário queria mais, e acrescentou outros cinco andares na obra de forma criativa, contrariando o limite de altura estipulado pelo governo. Para isso, ele construiu uma casa de cinco andares no topo do arranha-céu, que assim alcançou 130 metros de altura.

mirantes de são paulo

Visitantes no Mirante do Martinelli

Mirante do Edifício Itália

O Mirante do Edifício Itália está aberto e o horário de visitação foi até ampliado. Se antes os visitantes só eram permitidos de segunda a sexta, entre 15h e 16h, agora é possível entrar no local entre 15h e 19h, mas também somente em dias de semana. O problema é que o passeio, que até o ano passado era gratuito, agora cobra R$ 30.

Eu sei que cobrar entrada em mirantes é comum em várias partes do mundo, ainda mais quando se trata de uma propriedade particular, mas, francamente, R$ 30 pila não é pouca coisa não. Acho que vale a pena ir ao Terraço Itália, restaurante que funciona no topo do edifício e que tem acesso ao mirante, nem que seja só para tomar um café. Vai sair mais barato e você ainda poderá ir num fim de semana. Ou, melhor ainda, guarde seus trinta reais e visite um prédio vizinho (veja o próximo tópico).

O Edifício Itália tem 165 metros de altura e 46 andares. O nome oficial do prédio é Circolo Italiano, uma associação de imigrantes italianos que até hoje é sediada no local e que foi responsável pelo projeto. Fica na  Avenida Ipiranga, 344, Praça da República.

Mirante de São Paulo

Vista do alto do Edifício Itália

A boa notícia: o Mirante Copan está aberto – e de graça!

Colado com o Edifício Itália, o Copan é um dos cartões-postais mais famosos de São Paulo. Dono da maior estrutura de concreto armado do país, o prédio foi projetado por Oscar Niemeyer e erguido ao longo das décadas de 50 e 60.

Tentei visitar o terraço do edifício algumas vezes, todas sem sucesso, mas parece que isso mudou. Hoje, o Copan abre para a visitação. São dois horários por dia, às 10h30 e às 15h30, de segunda a sexta (exceto feriados). A visita é de graça, mas é uma pena que o paulistano só poderá ir quando estiver de férias.

O Copan fica na Avenida Ipiranga, 200, no centro. A estação de metrô mais próxima é a República.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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8 comentários sobre o texto “São Paulo perde alguns de seus melhores passeios: mirantes estão fechados

  1. Eu amo SP! Já fui no MAC e no Martinelli, onde o relações públicas nos deu uma palestra contando essa história que você citou e um pouco mais. Banespa, um dos mais lindo de SP. Copan, só fui no térreo, quero ficar hospedada lá pelo Airbnb. Tá aí uma dica! Eu escolhi um prédio que admiro muito o projeto da década de 50 e vou ficar hospedada. Será emoção na certa porque eu me emociono mesmo kkkk. Tbm tem uma boate que tem uma vista panorâmica mas não lembro o nome, fica em um hotel de sp e tem tb o Sky bar.

  2. Ja estive nos quatro mirantes e realmente é uma pena que dois deles estejam fechados e o Italia tenha passado a cobrar, mas existem outros dois mirantes que gosto muito e que possibilitam uma bela visão da cidade, um deles é o terraço do MAC USP de frente para o Ibirapuera que permite um belo contraste entre o verde do parque em um primeiro plano e os prédios da cidade ao fundo. O outro mirante é o que poderíamos chamar de Corcovado paulistano, é a Pedra Grande, dentro do parque Cantareira, o mirante natural é acessível apos uma trilha de uns cinco quilômetros dentro do parque, é um passeio super bacana, bonito e seguro e que por um determinado momento nos faz esquecer que estamos em São Paulo ate
    que no final nos surpreende com uma bela visão da cidade. Recomendo esses dois para compensar enquanto os outros continuam fechados

  3. Mirantes no topo de alguns prédios é bastante comum em muitas cidades do mundo e muito popular entre turistas. Pena que esse tipo de atração não é explorada em uma cidade como São Paulo.

    1. Até que era, Margarete. Pena que alguns fecharam. Espero que seja mesmo reabertos.

      Abraço e obrigado pelo comentário.

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