Eram 4h30 da manhã quando pegamos a primeira van daquela noite que, naquele momento, eu esperava ser a única. Faríamos um trajeto de 130 km em três horas, o que foi prometido no momento da compra da passagem. O porquê de tanta demora eu viria a descobrir depois.
Embarcarmos na tal van, que chamarei de van 1, circulamos pelas ruas escuras de Ohrid, na Macedônia, pegando grupos de turistas que aparentemente tinham comprado os bilhetes em agências pela cidade. Por fim, o veículo ficou completamente cheio e seguimos viagem. Ou isso eu pensava. Fomos, na realidade, para a cidade vizinha, Struga.
Quando eu pesquisei na internet como ir da Macedônia para a Albânia, não encontrei muita informação atualizada. Achei alguns relatos informando que o ônibus sairia de Struga e não de Ohrid. E um relato assustador de uma menina que estava num busão em que o motorista perdeu o controle e quase caiu da ribanceira. Felizmente, todos sobreviveram. As notícias sobre vans e ônibus da Albânia eram todas sobre más experiências.
Nada tão trágico tinha acontecido com a gente ainda, mas ali estávamos nós, parados em Struga há alguns minutos, com outra van também a nossa frente e uns três caras, incluindo o motorista da van 1, participando de uma confusa discussão. Alguns momentos depois, o motorista entra e pergunta quem seguiria para Tirana. Apenas eu e meu namorado levantamos as mãos. Então o motorista sai da van 1 e retoma a discussão. Em seguida, um dos três volta e pede para nós dois sairmos do veículo.
Sem explicar nada, ele começa a tirar nossas malas. Antes que eu conseguisse dar um escândalo, chega um fulano qualquer e avisa que nós iriamos pegar outra van, direto para Tirana. Pensei eu, inocentemente, que seria a tal van que estava parada a nossa frente. Então imagina a confusão quando o fulano pega as malas e coloca no porta-mala de um carro comum. Um dos participantes da discussão chegou para pedir nossos bilhetes e questionar quanto havíamos pagado pela viagem.
Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, já estávamos dentro do carro. E o fulano, agora motorista, nos explicou que ia nos levar para outra van. Parou no meio de uma estrada e ficamos ali até que a van 2 estacionou para que entrássemos. Essa era bem ruim e velha, o que contribuiu para o meu mau humor às 5h da manhã. Felizmente, não demorou nem 15 minutos para que a van 2 parasse atrás da van 3. Sim, pegamos um carro, para pegar uma van, para pegar outra van. A van 3 era de boa qualidade, ainda bem, mas estava lotada. Achei um lugar no canto, o namorado em outro, e assim seguimos por algumas horas, passamos pela imigração entre os países e em algum momento eu dormi.
Quando acordei, a van 3 estava parada. Conferi no Google Maps se já estávamos chegando, afinal os relógios marcavam quase 8h da manhã e as tais três horas de viagem já tinham se esgotado há tempos. Para minha surpresa, tínhamos desviado do caminho de Tirana e estávamos seguindo, aparentemente, em direção a Durres.
E, então, rolou um deja vu. Olhei para fora e o motorista estava numa discussão com dois fulanos. Eu estava ouvindo música quando o motorista entrou e perguntou quem iria para Tirana. Contou e voltou para a discussão. Eu poderia dizer que já imaginava o que iria acontecer, mas não seria verdade. Eu estava totalmente alheia aos acontecimentos, ouvindo música com fones de ouvido. Entrou alguém e perguntou alguma coisa em outra língua que eu não entendi e eu continuei lá, de boas. Até que um cara que estava no banco de trás me cutucou e falou: quem vai para Tirana precisa sair.
Eu não sabia se ria ou chorava, mas, por via das dúvidas, saí toda atrapalhada com as minhas coisas para a van 4, uma versão vermelha e com luzes piscantes (sem brincadeira!) dos veículos que nos levaram. Pelo menos a van 4 tinha bastante espaço. Tempo, por outro lado, faltava. Já eram umas 9h quando finalmente seguimos viagem. Ainda passamos por Durres antes de chegar em Tirana. fizemos um trajeto de 86km em 5h30 e cinco trocas de veículo.
Se você pensa que essa foi a minha única história engraçada com vans na Albânia, está muito enganado. Alguns dias depois, foi a vez do transporte entre Berat e Sarande nos fazer rir para não chorar. Era um trajeto de 200 km e uma viagem supostamente de três horas.
Quando chegamos na rodoviária, a van já estava cheia, mas como havia muito mais gente querendo fazer a viagem, alguém surgiu com uma segunda van. Misteriosamente, havia banquinhos de plástico em cima de algumas das poltronas. Durante a viagem, a nossa van fez o melhor estilo “cata jeca” e parava no meio de nada, de poucos em poucos quilômetros. Até que ficou completamente lotada e os tais banquinhos de plástico foram colocados no meio do corredor. Os três, alinhados. E ali sentaram-se os passageiros que entraram depois.
Isso sem contar que, num calor de quase 40 graus, a van não tinha ar-condicionado, mas tinha um sistema de som com seis alto-falantes instalados, tocando na maior altura os grandes hits albaneses do momento. Ainda, o motorista era bem doidão, saia correndo, buzinando sem parar e fazendo manobras malucas enquanto falava no celular. Pelo menos o atraso final da viagem foi só de uma hora.
Enquanto escrevo este post, tenho outras duas longas jornadas pela Albânia me esperando. Me desejem sorte. Ou mais histórias tragicômicas para contar por aqui.
ps. Desculpem as fotos de qualidade duvidosa, rs
*Por Silvia Paladino No dia 12 de outubro de 2023, eu cheguei ao acampamento base…
– Aí estão vocês, eu estava esperando! Venham!, disse, apontando para um beco que parecia…
Chegar no povoado Marcelino é uma atração à parte na visita aos Lençóis Maranheses. Depois…
A Domestika é uma comunidade criativa e que oferece diferentes categorias de workshops: do desenho…
“Na Pedra Furada, abaixo de um local onde havia pinturas, escavamos tentando encontrar marcas do…
“Muita gente acha que comer saudável é cortar açúcar, por exemplo, entrar num mundo de…
Ver Comentários
Luiza, tremi agora lendo. Estou indo em agosto e pretendo utilizar transfers para me locomover de Tirana para Dhermi e depois Sarande, 9 dias, qual empresa vcs pegaram pra eu passar longe. Alguma dica que receberam depois de empresa seria? será melhor taxi ou ônibus? To engolindo aqui o google a respeito, qq ajuda sera incrível...
Oi Celio,
Desculpe a demora para responder.
Tive notícias recentes de uma amiga que utilizou o transporte público na Albânia e me disse que melhorou bastante.
Não temos indicações de empresas, infelizmente.
Como ler este texto e não me lembrar dos chicken buses na América Central!?
hahahahhaha
Ao menos os chicken buses são hiper baratos e antes de começar a viagem eu já sabia que seria uma baita peregrinação!!
Ontem mesmo estava revisando um texto que explicava como ir de chicken bus de Antigua para o Lago Atitlán, na Guatemala: Antigua x Chimaltenango, Chimaltenango x Los Encuentros, Los Encuentros x Sololá, Sololá x Panajachel, Panajachel x San Pedro la Laguna. Quatro ônibus, um barco, cinco horas de de estrada, para se deslocar cerca de 95 quilômetros. E não, não é piada! hahaha
Adorei o texto!
PS: Ao invés de sorte te desejo mais histórias tragicômicas... hahahaha
Abraço!
hahahaahhahahah a gte sofre, mas se diverte
Caramba,que perrengue...eu teria ficado preocupado.Nada contra ninguém,é só porque assim que comecei a ler o relato me fez lembrar de um filme...Mas viajar é ter também suas dificuldades, mas o prazer é bem maior, é o que vale mais. Um abraço a equipe 360 Meridianos!!!
Oi Alceu,
Realmente daria para ficar preocupado. No início eu estava. Mas depois entendi que era assim que funcionava lá e passei a rir.
Amei!!
Muito bom esse post, estou adorando visitar e ler os posts deste blog, sempre tem posts legais e com dicas interessantes, informações e muitas coisas boas...
Parabéns !!!
Obrigada!!