De uns tempos para cá, uma praia grega com mar azul elétrico passou a aparecer no Instagram repetidamente. Na última temporada, pelo menos cinco pessoas fizeram exatamente a mesma foto em Zakynthos, na Grécia. Se você não sabe onde é, uma busca pela hashtag #navagiobeach mostra exatamente qual praia e qual a foto estou falando.
Nada contra, até gostaria de conhecer o lugar. Mas essa – e tantas outras fotos repetidas na timeline – me faz pensar o que torna um destino turístico mais atrativo que outro. E como as redes sociais alimentam essas tendências de viagem.
Claro, essa é a pergunta de um milhão de dólares, cuja resposta é buscada pelos destinos turísticos em si, estudos acadêmicos e empresas mundo afora. Em 2015, o site MissTravel fez uma pesquisa com mais de 78 mil pessoas: 48% dos usuários do Instagram utilizam a rede para escolher destinos de viagem e 35% usam para descobrir novos lugares.
Outro exemplo é o investimento da região de Wanaka, na Nova Zelândia, em convidar influenciadores digitais para visitar a região em 2015. O resultado: 14% de aumento do turismo na região.
- Leia também: Como usar o Instagram para planejar uma viagem
Para Anna Terttunen, uma especialista finlandesa na área de turismo cuja pesquisa para o mestrado abordou a influência do Instagram no planejamento de viagem e escolha dos destinos, a motivação dos consumidores varia de acordo com a personalidade, estilo de vida, experiências passadas, características demográficas e percepções dos indivíduos ao longo de suas vidas. Segundo a autora, as fotos têm uma influência poderosa em gerar engajamento na viagem: “Por meio de videos e fotos, viajantes são fornecidos com um senso de autenticidade sobre o local real”.
Já a pesquisadora portuguesa Fabiana Baumann, que em seu mestrado estudou as percepções sobre Lisboa através do Instagram, comparou as fotos produzidas pelos turistas na cidade com aquelas divulgadas pelos órgãos de turismo. Segundo sua pesquisa, “a confiança que os consumidores têm na opinião de outros consumidores é muito elevada e as marcas devem gerir esta relação com a maior honestidade possível – 92% dos consumidores em todo o mundo afirmam confiar mais no WOM (Word of Mouth, vulgo, boca a boca) eletrônico e na recomendação de amigos e família do que noutras formas de publicidade”.
Terttunen também comenta que consumidores consideram mais importante a recomendação de alguém que conheçam. “Os grupos de referência desempenham um papel importante no comportamento do consumidor e na tomada de decisões”. E conclui que postagens no Instagram podem ser um gatilho para o wanderlust, que é aquela vontade de viajar e experimentar novos lugares e culturas. Talvez por isso, observa, é que fotos de lugares e visitas inspiradoras são muito mais populares do que fotos de restaurantes e instalações de hotel, mais associadas a dicas práticas.
Baumann chegou ao mesmo tipo de conclusão ao categorizar os tipos de fotos postadas sobre Lisboa. A imagem projetada da cidade pelos órgãos de turismo nem sempre era a mesma imagem percebida pelos turistas e expressas em suas fotos. Por um lado, a principal categoria de fotos dos dois lados são as com temas de “arquitetura, construções e atrações”. Porém, no caso das atrações, enquanto o órgão de divulgação turística da cidade divulga fotos com pessoas, buscando criar imagens mais autênticas, o turista prefere associar os monumentos e atrações a espaços verdes e vazios.
A National Geographic fez uma matéria sobre o fenômeno. Assim como eu comentei sobre a praia grega, eles abrem a reportagem com o exemplo de Trolltunga, na Noruega. Talvez você já tenha visto uma foto de alguém sentadinho na beira de uma pedra pontuda que dá para um precipício. Entre 2009 e 2014, o lugar cujas fotos ficaram populares no Instagram viu um crescimento de visitantes de 500 para 40 mil. O que a linda foto não mostra, segundo a revista, é a longa fila de pessoas esperando todas as manhãs para tirar sua versão de uma foto que inspira tranquilidade, quietude e vazio. Infelizmente, em 2015, uma australiana de 24 anos morreu ao cair da beira pedra.
O que concluir com isso tudo? Que sim, somos influenciados por imagens lindas de lugares. E que ver nossos amigos, famílias, artistas ou blogueiros favoritos em determinado lugar nos faz desejar ainda mais conhecer aquela região e fazer a mesmíssima foto. Eu, por exemplo, fui influenciada digitalmente, há dois anos, a ir para a Albânia, tudo por que vi as fotos da Liliana, do Catálogos de Viagem. Quando estive em Ksamil, agora, em agosto, vi pessoas nos comentários dizerem que gostariam de ir lá por conta das minhas fotos.
Porém, também é importante ponderar duas coisas. A primeira é que as fotos no Instagram mostram um ambiente perfeito, com uma luz perfeita e conseguem capturar um momento mágico, mas tão mágico, que certa vez acreditei na foto de uma praia em Pernambuco para chegar lá e querer chorar de raiva com a sujeira da areia e a poluição sonora dos quiosques que competiam pela música mais alta. Por mais que uma imagem fale mais do que mil palavras, imagem não mostra cheiro, não mostra uma multidão de gente em volta e nem nada de negativo.
Ao mesmo tempo, vale a pena lembrar daquele detalhe mais óbvio: o mundo é muito maior do que as fotos que nosso feed do Instagram mostra. O problema não é exatamente repetir o mesmo destino, nem mesmo tirar uma foto parecida com todas as outras. Mas refletir também um pouco sobre as consequências negativas que o turismo em massa trás para os lugares. E sobre como viajar pode significar muito mais do que uma imagem nas redes sociais.
Quer aprender a tirar fotos lindas? O 360meridianos indica um curso online de fotografia que é muito bom, o Caçadores de Imagens. São 60 aulas – quase 20 horas de conteúdo exclusivo e original.
Os professores, o Charles e a Lígia, são fotógrafos profissionais há mais de uma década e já comandaram uma grande escola de fotografia em Belo Horizonte (o Rafael Sette Câmara, autor aqui no 360, foi aluno deles e recomenda). Há três anos eles se mudaram para o Japão e passaram a dar aulas somente online.
Mais de dois mil alunos já fizeram o curso Caçadores de Imagens, que tem sete módulos: introdução, desenvolvimento de olhar fotográfico, formação técnica, cores, composição, iluminação e photoshop para fotógrafos digitais.
O curso Caçadores de Imagens garante certificado e você terá um grupo exclusivo no Facebook para interagir com os professores e com outros alunos. Saiba mais aqui.
Inscreva-se na nossa newsletter
Ba, matéria muito pertinente, nao entendo pq tantos instagrams de viagem repetem sempre as mesmas fotos. A minha reacao é dar unfollow, parece lavagem cerebral. Fiquei só com os igers muito interessantes…
Mas uma coisa q nao concordo é q muitos blogueiros de viagem se definem “X carimbos de países no passaporte”, assim como a jornalista da matéria. Eu vou viajar e viajar e viajar sem pensar nisso, pq o barato é conhecer lugares… nao entendo essa mentalidade.
Obrigada por comentar Viviane
Interessante esse artigo, acredito que a maioria das pessoas que compartilham fotos estão apenas em busca de curtidas e por isso nem se preocupam se tem conteudo ou não
Discordo Daniel,
Acredito que tem muita gente que se preocupa sim com o conteúdo. Mas de fato não são a maioria
Esse é um ponto bem importante na hora de compartilhar conteúdo. Sempre fico em cima do muro ao fotografar, entre faço a foto perfeita esteticamente, ou perco um pouco da estético e mostro como o ambiente realmente é? 🙂
Acho que é uma dúvida que passa pela cabeça de muita gente.
Eu conheço um pessoal que photoshopa multidões de pessoa para fora da foto. Sou contra isso.
Lu, q post ótimo. Eu tenho notado muito q esta todo mundo em 2 ou 3 lugares no meu insta. Impressionante!
Obrigada Helo! Realmente. Eu me pergunto se falta criatividade da gente, que “influência” pessoas. Ou se o pessoal não quer saber de criatividade, mas sim daquela foto perfeita.
Taí um dilema que eu vivo constantemente…junto com o dilema dos “lugares que quero visitar X lugares que ainda não fui, mas seriam mais interessantes para o blog”.
Como tudo na vida, seguimos tentando buscar o equilíbrio.
Todos os lugares podem ser interessantes para o blog, mesmo os que a gente está repetindo 😉
Confesso que via nosso site e via Instagram ja fiz alguns lugares se tornar mais conhecidos aqui no estado do Espírito Santo. Acredito que eu e muitos outros que divulgam o ES fez o turismo interno e externo crescer. Infelizmente existe o outro lado da moeda que é o crescimento desordenado.
Com certeza Antonio vocês influenciam o turismo no estado. E quando se trata de turismo, sempre tem esses dois lados.
Gosto bastante de posts reflexivos e críticos como esse
Parabéns!!
=D
Excelente post!
<3
Adorei o post!! Venho pensando muito nisso ultimamente… O instagram também é uma das minhas principais fontes de inspiração de lugares onde gostaria de ir e certamente que isso acaba tornando muitos lugares bem populares e bem diferentes do que as fotos mostram! Inclusive me vi ali, quando você falou sobre a Trolltunga… hhahaah Estive bem ali em agosto passado e, veja só, nem consegui tirar a famosa foto na beira da “lingua do troll” pq a fila era tão longa e demorada que não ia dar tempo de esperar e voltar ao ponto de partida ainda durante o dia. E a muvuca de tanta gente (e drones voando!) tira muito o clima do lugar…
Confesso que fiquei bem espantada com a popularidade de uma trilha que é bem difícil (são 26km ida/volta com um desnível de 1300 metros), certamente “culpa” das fotos lindas que vemos por aí… Pra mim valeu a experiencia pq o lugar é realmente lindo, mas pra quem vai só atrás da atração principal deve sair frustrado!