Na minha lista pessoal de destinos dos sonhos, o Irã ocupa a primeira posição disparado. O antigo território do Império Persa guarda uma coleção de edifícios históricos antiquíssimos, cultura diversa, gastronomia de lamber os beiços, mercados, mesquitas, ou seja, motivos não faltam para se meter no primeiro avião rumo a Teerã. Só tem um detalhe: a homossexualidade ainda é punível com pena de morte na terra dos aiatolás, seguindo os mandamentos da Xaria, o sistema de leis muçulmano que funde religião e estado.
Quando viajo, minha orientação sexual vai comigo na mala, não posso, nem quero deixá-la em casa. Por isso, antes de programar a próxima viagem, é melhor pesquisar onde estamos pisando. Acaba de sair a versão 2018 da lista Gay Travel Index, (https://spartacus.travel/gaytravelindex.pdf) elaborada pelo guia Spartacus (https://spartacus.travel/en), que pontua os países em diversas categorias para chegar a uma nota geral. Entre elas estão as agendas positivas, como “casamento igualitário” e “legislação antidiscriminação”; interferências negativas como “influência religiosa” e “hostilidade local”; e perigos reais como “assassinato” e “sentença de morte”.
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Mesquita no Irã (Foto: Fotokon, Shutterstock.com)
Meu número um, o Irã não passou de ano: ocupa a posição 194, com 14 pontos negativos, a quarta pior nação do mundo para alguém LGBTQI+. Intuitivamente a gente já conhece os alunos mais aplicados e sabe quem está no topo de destinos gays friendly e quem está de recuperação. Os dez primeiros lugares são todos preenchidos por países desenvolvidos, sendo oito deles na Europa – quem levou a estrelinha dourada gay este ano foram o Canadá, de Justin Trudeau, e a Suécia, como era de se esperar, empatados em primeiro.
O mais bem colocado da América Latina é o Uruguai, na 15ª posição; o Brasil figura na zona amarelada dos resultados, em 55º, empatado com países como Chile e Japão. Por aqui, o que mais pesou contra foi a influência religiosa, a falta de direitos das pessoas trans e, principalmente, o alto número de assassinatos contra LGBTQI+. Segundo o Grupo Gay da Bahia, foram reportadas 445 mortes em 2017, um aumento de 30% em relação ao ano anterior.
Protesto em Berlim, na Alemanha (Foto: Jacqueline Abromeit, Shutterstock.com)
A última colocada da lista é a República da Chechênia, parte da federação russa, onde há relatos de campos de concentração para LGBTQI+, torturas e mortes de honra e assassinatos cometidos pelos próprios familiares contra pessoas de orientação sexual diversa.
Estou aqui falando para não explorar novos destinos? Longe disso, sou um grande encorajador, na verdade. Minha viagem ao Irã só não aconteceu ainda por falta de oportunidade, mas assim que der eu chego lá. Inclusive para entender mais um lado dessa trama complexa e contraditória que é a vida. Nem só boa, nem só ruim, mas sempre interessante para curiosos e cheia de oportunidades para aqueles que querem mudar o mundo. Como a mãe que entrega o agasalho para x filhx antes de sair, meu recado é mais simples: olhe por onde anda, meninx!
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