Quando inaugurei minha coluna aqui no 360meridianos, escrevi que só tiro a câmera da mochila quando sinto que faz sentido fotografar alguma cena ou pessoa — mesmo que, na hora, eu não saiba explicar exatamente o porquê.
As paisagens costumam atrair quando me parecem bonitas ou têm alguma diferença marcante se comparadas às que já vi antes. Mas quando o assunto é gente, os motivos não são tão lineares assim. Existem diversos gatilhos que fazem fotógrafos, profissionais ou amadores, a tomar a iniciativa de registrar e “levar pra casa” a imagem de um completo desconhecido.
Para mim, as fagulhas costumam ser: a conexão que há entre a pessoa, o lugar em que estou ou uma história que quero contar; a relação entre o que o fotografado mostra de si (expressões, roupas, etc) e as minhas visões de mundo ou a simples curiosidade de saber mais sobre a história de um indivíduo, de um modo de vida.
Não há uma receita de bolo, mas, quando esses encontros acontecem, é preciso aproveitar. Antes e depois do clique, costumo levar em consideração dois pontos que considero imprescindíveis.
Fotos de pessoas desconhecidas: como fotografar
1) O tempo
Se o que eu quero registrar é uma cena que está acontecendo naquele instante e se eu não fotografar imediatamente corro o risco de perder a imagem, eu clico primeiro e penso nas implicações depois.
Quando isso acontece em um lugar público, durante uma atividade que costuma ser fotografada (desfiles, atrações turísticas) ou trata-se de uma imagem a ser utilizada para fins jornalísticos e não comerciais, não costuma gerar problemas. Bola pra frente.
No caso das minhas fotos de Carnaval de Belo Horizonte, por exemplo, costumo “devolvê-las” aos retratados. Posto as fotos nos grupos dos blocos no Facebook, para que as pessoas possam se achar e usar as fotos como bem entenderem. É uma ocasião alegre, as pessoas estão bonitas.
Não conhecia a Naiara quando fiz essa foto, mas não queria perder a imagem
2) O respeito
Agora, refletindo sobre o mesmo cenário descrito no item anterior. E se a fotografia que você fez é de alguém específico ou de uma ação que não costuma ser fotografada?
Apesar de ser tímido, costumo me aproximar do retratado e me apresentar, ainda que eu já tenha feito o clique. “Sou o Ismael, sou fotógrafo e, como achei isso muito interessante, resolvi te fotografar. Tudo bem?”. Se você está em outro país e não domina o idioma, vale usar mímicas, sorrisos e outros recursos na abordagem, Às vezes, essa abordagem inclui mostrar a foto que fiz. Às vezes, deixar um cartão com meus contatos profissionais. Em alguns casos, já aconteceu da pessoa pedir para apagar uma ou outra foto. Apago sem problemas.
É o que gostaria que fizessem comigo. E essa ética, aliás, se aplica a diversas situações. Você gostaria que alguém registrasse seu rosto em uma situação chata ou vexatória? Não? Estenda isso às outras pessoas.
Você provavelmente não gostaria que um estranho tirasse fotos dos seus filhos na rua, do nada. Então procure conversar minimamente com os pais das crianças fofinhas ou desconfiadas que encontrar por aí.
Quando estava na Serra das Araras, no interior de Minas, estava fotografando a Evanilde Ferreira Marques — acima, lavando roupas no fim de tarde do sertão — enquanto a filha dela, Emily Rihanna, nos observava. Já havia perguntado se ela importaria com meus cliques dela lavando roupas, e tinha recebido a autorização. Quando percebi o olhar matreiro da filha ao meu lado, fiz dois cliques rápidos, para não perder a foto.
Virei novamente para a mãe e chequei se estava tudo bem registrar a menina também. Ela riu, brincou com a filha e disse que não era um problema. Ótimo, pois adoro a foto abaixo.
Quando as fotos serão utilizadas para fins profissionais, há de se levar em conta também a importante questão dos direitos de imagem dos fotografados. Costumo carregar comigo um modelo de autorização por escrito, que peço aos retratados para assinarem. Não são poucas as vezes, no entanto, que abro mão dessa proteção jurídica.
Colocar um papel à frente de uma pessoa que não se sente confortável ao ler e escrever pode gerar desconfiança sobre as implicações que a assinatura daquela autorização podem ter. Nesses casos, acredito que a melhor opção é deixar a pessoa o mais segura possível.
Explico com cuidado quais são os meus objetivos com aquele trabalho e me satisfaço com o entendimento e autorização oral. Os advogados que nos leem hão de puxar a minha orelha, mas é uma escolha consciente. Prefiro correr os riscos que isso traz do que estragar a relação com o fotografado.
Agora quero saber de você, que lê esse texto. Costuma fotografar pessoas nas viagens que faz por aí? Como você as aborda? E pra matar a curiosidade de vez: se tiver um link, mostre seus retratos preferidos nos comentários!
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Adorei!! Não sou fotógrafa, mas adoro viajar. Adoro livros e sempre que vejo alguém lendo em um local público eu fotografo, com o meu celular mesmo. Procuro faze-lo sem ser vista e não as usos publicamente, exceto nos meus grupos de leitura, sem que os rostos estejam em evidência. Fiz fotos em um trem para Nova Iorque, em um café em Redlands, entre outras viagens.
Adoro o 360
Eu estive na Geórgia recentemente e adorei o país, assim como os georgianos, já que em nenhum momento senti situação de desaprovação em sair nas fotos, muito pelo contrário, em alguns casos até pediam para serem fotografados, principalmente para o interior do país. Em Gori, por exemplo, cidade natal de Josef Stalin, eu caminhava com minha máquina fotográfica tomando fotos das fachadas das casas, que por sinal eram singulares e bonitas, quando umas senhoras que estavam sentadas à frente de uma das casas, me chamaram para conversar e quando souberam que eu era do Brasil, elas pediram para que eu tomasse uma foto delas para mostrar aqui no Brasil. Que simpáticas as georgianas….
Acompanho o 360 meridianos há alguns anos e em 2011 estive em Giverny, no Jardim de Monet, onde havia uma professora com alunos, os quais mexiam na terra em um canteiro de tulipas. Na época eu não tive consciência da possível invasão de privacidade, registrei a cena sem ser percebida. Nunca fiz divulgação da mesma, guardei apenas para mim, ficou ótima a foto. Teve outro momento na viagem, no qual em companhia de amigos que moravam na França, um casal de franceses carregando uma bolsa com uma baguette e o filhinho choramingava e tentava pegar na ponta da baguette, os pais explicavam que ao chegar em casa ele comeria. Meu amigo disse pra não deixar que eles percebessem que estaria fotografando, que ficariam chateados. Me dei em conta de que poderia causar transtorno, infelizmente não consegui tirar a foto, mas a cena era tão emocionante.
Eu gosto de fotos de pessoas, mas as vezes tenho medo ou vergonha de pedir e acabo não clicando. Vou tentar a sua abordagem da próxima vez. Lindas fotos!
Me lembrei de duas situações que passei por causa de fotos de estranhos: uma viagem à Arraial do Cabo me encantei com uma mãe brincando com o filho na praia. Tirei várias fotos, inclusive quando o pai chegou com outro filho. Em nenhum momento eles me viram e eu poderia ter ido embora sem que eles nunca soubessem (o que a minha colega de hostel que também estava fazendo o passeio me aconselhou). Acabei indo até eles, me apresentando e mostrando as fotos. Vi que a mãe ficou bem emocionada. Pedi um e-mail e enviei as fotos. A resposta dela foi super positiva e eu nunca postei nenhuma das fotos que tirei deles. Poucos meses depois numa cidadezinha do Uruguai vi um casal na praia e fotografei. Não tive coragem de chegar até eles e ter a mesma atitude que tive em Arraial, e acabei indo embora. Acho que é uma das fotos mais lindas que tirei, mas nunca divulguei porque sei que não é o certo.
Enfim, acho que é sempre melhor ir até a pessoa e mostrar a foto.
Parabéns pelo artigo! Esse é um problema que enfrento em cada viagem e que enfrentei de forma acentuada esse mês no Marrocos. O país que deveria ser uma fonte de belos cliques para qualquer fotógrafo que gosta de retratos, acabou me decepcionando. As pessoas por lá, com todos os seus trajes típicos e religiosos, não gostam e não deixam ser fotografadas. Mesmo quando você tem a intenção de registrar a paisagem, as pessoas escondem o rosto quando veem a câmera, principalmente as mulheres. Tentei fotografar algumas crianças em um vilarejo que usavam trajes típicos, mostrei a câmera e fiz um mímica perguntando se poderia fotografar e elas saíram correndo. A partir desse momento não tentei mais fotografar pessoas e tomava o cuidado ao fotografar paisagens e locais de verificar antes de havia alguma pessoa na cena para evitar problemas.
Seu texto me fez lembrar uma situação que eu passei recentemente. Fui fazer uma aula experimental de yoga em um local próximo da minha casa. Durante toda a aula a dona do local tirou fotos dos alunos (sem me consultar antes). No final da aula, apenas disse que nos mandaria as fotos e que não postaria nenhuma que aparecesse nosso rosto (!). Fiquei bastante chateada com essa postura e nunca mais voltei no local. Minha surpresa foi que, dias depois, uma foto minha (que nem era aluna da escola) foi publicada na página, como forma de divulgação do local. Achei o cúmulo da falta de noção e pedi pra ela retirar. Mas olha que coisa a absurda.
É justamente esse tipo de situação que busco prevenir, Cristiana. Nesse seu caso, ainda teve o agravante de que mentiram para você.
E nas suas viagens, que tipo de fotos você costuma fazer?
Tudo bem Ismael, ótimo artigo como sempre, já te acompanho no PDH.
Fico sempre com um pé atrás com este negócio de tirar fotos de pessoas, sempre sinto que estou invadindo o espaço delas (e claro estou) e acabo, ou não tirando ou perdendo o timing. Já estive em ótimos lugares e momentos para eternizar lindas fotos mas sempre fico reticente, sendo assim acabo focando em fotos de paisagens, flores e animais.
Já fiz algumas viagens de moto pela América do Sul passando por Peru, Chile e Argentina e no caminho encontrei aldeias que são um deleite para fotos, mas….
Segue uma foto de um momento na cidade de Tacna Peru, não é nenhum Pulitzer claro mas gosto desta captura e para ser sincero é uma das únicas de estranhos https://2.bp.blogspot.com/-NQAIpvBBorg/UOdp8TUmg5I/AAAAAAAAAdQ/lPu0MUbxZ80/s1600/DSC08729.JPG
Em poucos dias vou novamente para o norte da Argentina (Tilcara) e vou usar suas dicas para aplicar nesta viagem, compromisso firmado.
http://www.circuitosemrumo.com.br
Que legal saber que você já tinha me lido antes e que essa conversa por aqui fez sentido para você, William. Depois quero ver as fotos dessas novas andanças de moto por aí (morro de vontade de fazer a mesma coisa).
Adorei o nome do site. Tem poucas coisas melhores do que se permitir ficar sem rumo, pelo menos um pouquinho