Eternamente perdida, mas sem nunca pedir informação

Lá estava eu, pela milésima vez na vida, me perguntando como eu tinha ido parar ali. Esse pensamento passa tantas vezes na minha cabeça que eu tive que eleger uma só ocasião para dar de exemplo neste post. Era quase meia-noite, eu tinha acabado de chegar numa rodoviária em Berlim e precisava achar a estação de metrô, correr para não perder o último trem e chegar em casa – do outro lado da cidade.

Eu e meu eterno companheiro, o Google Maps, seguimos nosso caminho naquela noite escura e fria. Uma menina andava na minha frente e eu ia atrás dela até que ela atravessou a rua e o mapa me mandava seguir em frente. Eu segui. Pouco depois, havia o que parecia a entrada da estação de metrô, ou pelo menos era o que indicava o caminho do aplicativo.

Leia também: Google Maps, mapas de papel e a arte de se perder numa viagem

Desci as escadas e caminhei até perceber que eu tinha entrado num daqueles túneis largos que servem para cruzar a rua por baixo e também para a entrada do centro de convenções ali perto, que obviamente estava fechado. Entendi por que a menina na minha frente tinha atravessado a rua para ir para o metrô, ao invés de seguir o caminho genial proposto pelo Google.

Eu estava num lugar escuro, esquisito e completamente sozinha. Apertei o passo, subi as escadas do outro lado, reemergi na sociedade e, como em todas as vezes, me perguntei por que eu simplesmente não pedi para alguém me explicar como chegar ao metrô.

Acontece que eu tenho um princípio meio estranho: eu nunca pergunto informação na rua, nem quando estou perdida, a não ser que seja uma situação de vida ou morte. Eu ando em círculos, vou e volto, eu me viro do avesso, mas não cutuco alguém para inquirir sobre o caminho. Não sei qual é meu problema exato. Em parte timidez, em parte desconfiança. E em parte minha eterna vontade de ser independente, não importa de quê.

Eu sempre acho que perguntar vai incomodar pessoas. Ou que as pessoas não sabem dar informação direito ou repetirão minha experiência em Curitiba (desculpe pessoal, mas aconteceu três vezes), quando me ensinaram o caminho errado para, eu acredito, que eu fosse embora logo.

Alguém claramente dando informação errada. Crédito: Por bokan – Shutterstock

Uma menina que conheci em Berlim me contou que ficava desesperada quando estava perdida e saía pedindo informação para todo mundo. Ela acabava mais nervosa e andando em círculos. Ela me mandou umas 20 mensagens e áudios me perguntando como chegar ao aeroporto. Se ela seguisse o meu princípio, não teria passado por isso: eu sempre acho que eu e o mapa vamos nos entender sozinhos, antes de eu entender as indicações dos outros.

Estava eu no metrô, em Hamburgo, que é bastante confuso, tentando descobrir qual direção pegar. O mapa de papel me dizia uma linha, o Google Maps dizia outra. E no informativo das estações de metrô, que estavam em obras, outra coisa. Entreguei para Deus e entrei no primeiro trem que passou. Demorou só duas estações e uma bolinha azul do GPS andando pro lado errado para eu perceber que deveria descer e esperar o próximo. No outro sentido. Enquanto estava lá, incerta na estação errada de que agora sim pegaria o trem certo, alguém veio e me pediu informação sobre o metrô. Ah, a ironia das ironias.

Quando eu estou perdida, frustrada, com vontade de gritar, tudo isso ao mesmo tempo, e me lembro que estou assim porque não quis pedir informação, isso me acalma, por incrível que pareça. Acho até graça. É a vida rindo de mim e eu rindo de volta.

Talvez eu deixe de fazer grandes amigos por causa disso, talvez eu fique mais ou menos perdida do que o resto das pessoas, talvez eu evite ou garanta meu encontro com um serial killer. Enquanto não descubro, sigo meu caminho, eternamente perdida, mas sem parar para pedir informação.

*Imagem destacada: Brian A Jackson – Shutterstock

Inscreva-se na nossa newsletter

Avalie este post
Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

Ver Comentários

  • Me senti tão normal agora com seu relato... Sentimento de não ser a única esquisita! Hehe
    Sou de Curitiba, e, apesar de raramente pedir informações, adoro ser útil e prestativa quando me pedem ajuda! Pena que não nos esbarramos!

    • hahahaa Lisandra! Somos normais sim! E pena que não te conheci mesmo, tenho que superar meu preconceito com os curitibanos

  • Eu sou igualzinha! Hahahaha
    Me perco, dou mil e uma voltas mas não peço informação jamais!

  • kkk... meio estranho isso pra mim. Eu peço informações mesmo. Maior preguiça de ficar procurando as coisas em mapa...

  • Eu peço informações na boa. É que quando comecei a viajar não existia Internet e os mapas eram horríveis.rsrs.Mas não pergunto para qualquer um não, tenho uma intuição legal, e traço um perfil de quem poderia me dar informações precisas. Por exemplo, em Milão, à noite eu e minha irmã perdidas, e ela me mandando pedir informações para cada doido que passava. Parei, olhei ao redor e fui direto até um rapaz, perguntei com o meu melhor italiano, e ele quis saber de onde éramos Abriu um sorriso e disse que era do Peru mas, morou um ano em São Paulo. Deu ótimas dicas e nos acompanhou até perto do local.
    Ah Luiza, Curitiba não é parâmetro. Moro a 200km de lá, já fui inúmeras vezes e no ano passado numa quebrada brava, por causa de uma informação errada.

    • hahaha sempre uma boa ideia não pedir informação para qualquer doido. Nas raras vezes que eu falo com alguém, também busco os mais confiáveis.

      Sobre Curitiba: eu acho até engraçadas essas histórias, porque sei que não foi só comigo.

  • Eu tenho um sério problema quando o assunto é pegar um transporte público coletivo, exceto táxi e aplicativos, eu tento fazer tudo a pé. E quando não dá mesmo, é que pego um ônibus ou algo semelhante. Mas, eu estava perdida lá em Berlim, também, decidi que ia de metrô até o aeroporto, e disso não abriria mão. Peguei o google maps e lá fomos nós, ele e eu. O problema é que eu não tinha intimidade nenhum com o tal aplicativo. Desci e subi duas vezes, até que pedi ajuda para um funcionário ou policial, sei lá. E enfim peguei o tal metrô. Eis que, ao descer onde o tal app mandava, vi tantas placas, que quase desisti. Aí eu disse ai Jesus, é tão barato para ir de metrô e tão caro para ir de táxi. De repente, apareceu uma mulher que, pelo que ela disse(e eu não entendo bem inglês), tinha me visto no hostel onde eu estava hospedada. Ela e o marido/namorado me ajudaram até chegarmos ao tal aeroporto. Pq eu achei que não precisava fazer a tal de baldeação. Se não fosse a ajuda daquele casal, eu teria rodado toda Berlim até descobrir que estava completamente perdido.

  • Oi Luiza,
    também estou morando perto do Porto.
    Sei que o assunto da reportagem não é esse, mas queria tirar uma dúvida e talvez vc possa me ajudar.
    Vim para Portugal há dois meses e pretendo viver aqui. Atendo meus clientes do Brasil, via internet (sou redator),
    e me mantenho superbem com o que ganho lá, portanto não preciso trabalhar numa empresa daqui.
    Minha pergunta é: se após os 90 dias do meu visto de turista eu viajar para outro país de avião, como a França por exemplo, ao voltar terei direito a mais 90 dias como turista em Portugal?

    abraços

    • Olá Sergio, vou te responder porque sei mais ou menos essa resposta. O visto de 90 dias é do espaço Schengen e não de Portugal. Ele garante permanência por até 90 dias de um total de 180 dias, em todo o espaço Schengen, incluindo Portugal e França. Ou seja, depois de passar 90 dias em Portugal você precisaria sair do espaço Schengen por mais 90 dias (ir para a Croácia, por exemplo) para poder voltar com o mesmo visto de turista. Assim daria 90 dias no espaço Schengen + 90 dias fora do espaço Schengen = 180 dias. Entendeu? Tem esse limite de 180 dias exatamente para as pessoas não ficarem morando ai apenas com visto de turista.
      Além disso tem como você renovar o visto de turista. No site do consulado de Portugal em São Paulo diz que "brasileiros não necessitam de visto para entrar em Portugal, por um período de 90 dias [...] Este prazo poderá ser prorrogado em Portugal mediante autorização do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, não podendo a prorrogação ultrapassar 90 dias". http://www.consuladoportugalbh.org.br/subitem2.asp?idmenu=1&idsubitem=30&idsubitem2=49
      Uma dica é tentar sempre se informar nos órgãos governamentais, pois eles têm a informação mais correta possível. E se pretende ficar ai corra atrás do visto de permanência. Comece com esse artigos da Luiza: https://www.360meridianos.com/dica/morar-legalmente-portugal-vistos, e depois busque informações com o governo português.
      Boa sorte!

  • Eu tb não pedia informação nuncaaaa, até q em uma estação de metrô de Santiago descobri q não tinha o mapa da estação em canto nenhum! nenhum papelzinho pregado na parede se quer.... como eu não havia baixado aplicativos de metro em Santiago, perguntei onde tinha o mapa do metrô para um guarda, que me disse tudo de cabeça e eu gravei... coisas do tipo, desça duas estações depois, pegue um metrô no sentido tal... me sinto muito vulnerável quando peço informações.... mas no final, deu certo!

  • Me perdi nas vielas de Veneza a noite, andando em círculos, passando por pontes que levam a lugar algum, o google maps mais perdido que eu, e advinha? Não tinha uma alma viva para pedir ajuda, um único cara que apareceu parecia que ia nos matar, eu e minha amiga saímos correndo aí que bagunçou tudo, até desistimos do mapa e fomos na intuição! kkkk

Compartilhar
Publicado por
Luiza Antunes

Posts Recentes

O que eu vi do alto do campo base do Everest

*Por Silvia Paladino No dia 12 de outubro de 2023, eu cheguei ao acampamento base…

1 ano atrás

Como é a relação dos iranianos com o álcool

– Aí estão vocês, eu estava esperando! Venham!, disse, apontando para um beco que parecia…

1 ano atrás

Lençóis Maranhenses e o artesanato com fibra de Buriti

Chegar no povoado Marcelino é uma atração à parte na visita aos Lençóis Maranheses. Depois…

3 anos atrás

Como são os Cursos Domestika? Descubra como funciona a plataforma

A Domestika é uma comunidade criativa e que oferece diferentes categorias de workshops: do desenho…

3 anos atrás

Niède Guidon, a arqueóloga que mudou a Serra da Capivara

“Na Pedra Furada, abaixo de um local onde havia pinturas, escavamos tentando encontrar marcas do…

4 anos atrás

Comida saudável pra todos: comer bem e descolonizar o paladar

“Muita gente acha que comer saudável é cortar açúcar, por exemplo, entrar num mundo de…

4 anos atrás