Escrever bons relatos de viagem é uma arte. Vai muito além de contar o preço e o horário de funcionamento de uma atração ou de passar os macetes para os leitores. Viagens são momentos cheios de desafios e quase sempre levam a alguma transformação e aprendizado. Um processo muito parecido ao da Jornada do Herói, o que torna nossas peregrinações uma fonte infinita de histórias e narrativas.
Não é à toa que algumas das melhores histórias do mundo são sobre viagens, nem é sem motivo que viagens reais inspiraram alguns dos maiores best-sellers recentes. Sejam reais ou imaginadas, literatura ou jornalismo, as crônicas e relatos de viagem são um gênero textual que nunca sai de moda e, hoje, nesse espaço democrático que é a internet, todo mundo tem um cantinho para publicar os seus. Veja aqui algumas dicas que reunimos ao longo do nosso trabalho no 360meridianos sobre criar relatos de viagem que valem a pena ser lidos.
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Uma das coisas que eu mais gostei de participar do Projeto Wakaya foi poder colocar em prática o que eu aprendi na minha pós em Jornalismo de Viagens. Começamos a nos preparar para os textos e vídeos que iríamos fazer muito antes de entrar no avião. Dividimos o mapa da América Latina entre os membros do grupo e cada um ficou responsável por pesquisar tudo o que fosse possível sobre as línguas indígenas daquele lugar. Sempre que chegávamos a um novo país, já tínhamos claro quais contatos acionar e quais os temas que poderíamos abordar. Embora mais de uma vez tenhamos jogado tudo isso para o alto para ir atrás de uma nova história que descobrimos no processo – tanto porque era mais interessante, quanto porque era mais compatível com nosso tempo e recursos -, não vejo como o projeto poderia ter sido concretizado sem essa pesquisa prévia.
Pesquise possíveis temas sobre os quais você gostaria de escrever e leia o que foi e está sendo publicado sobre o destino no momento. Viaje informado. Faça uma lista com os textos que você quer tirar daquela viagem, anote os lugares que você precisa ir e as pessoas com as quais precisa falar. Inclua essa produção no seu planejamento de viagens. É claro que alguns desses temas vão cair – para usar o jargão jornalístico de quando uma pauta não se sustenta – e outros vão surgir no caminho. Anote todos mesmo assim, até os que você sabe que não poderá fazer.
Foto: Shutterstock – Por Rawpixel.com
Uma vez, ao chegar a uma pequena vila no alto do Himalaia Indiano, demos de cara com todas as hospedagens fechadas por causa da neve e nenhuma possibilidade de descer. Ao bater de porta em porta procurando abrigo, acabamos nos hospedando no hotel mais barato de nossas vidas, um total absurdo de R$1,50 por pessoa. Poucas semanas mais tarde, ao chegar ao Nepal, demos de cara com o país em polvorosa, prestes a votar sua primeira constituição republicana, situação que culminou em uma grande greve geral um dia antes de termos que cruzar o país inteiro para pegar o voo seguinte, em Katmandu. Além do frio na barriga de ter que pegar a estrada ali no meio da noite e o risco de perder o avião, aprendemos mais sobre o contexto do país e o povo nepalense.
Viagens são cheias de imprevistos. E isso é valioso. Situações que fogem ao esperado são sempre muito enriquecedoras e podem te dar ideias de temas e abordagens que você não teria de outras formas. Não se prenda demais ao que foi planejado, deixe espaço para o novo. O que você aprendeu com aquela experiência? Que aspectos daquele país ou cultura aquele imprevisto te revela? Foi engraçado, dramático, frustrante? Coloque tudo isso no papel.
Eles são seus melhores amigos. Mantenha um diário de viagens e separe um momento para escrever nele com regularidade. Anote seus sentimentos e sensações enquanto elas ainda estão frescos na memória. Anote também conversas, nomes de lugares, pessoas que viu/conheceu, frases, expressões e costumes locais.
Nossas percepções mudam com o tempo, então ter um registro do seu primeiro olhar sobre o destino pode render ideias interessantes sobre o que escrever depois. Mas atenção: não adianta nada anotar tudo e nunca mais reler o que você escreveu. Volte em suas notas regularmente. Elas são excelentes para te dar ideias sobre o que escrever, mas também para enriquecer um texto no qual você está trabalhando no momento.
Conte uma história. Nossos cérebros são programados para serem fisgados por narrativas e histórias são a melhor forma de engajar o leitor já inventadas até hoje: elas estabelecem uma relação com a audiência da primeira à última linha, fazem a gente se conectar com as pessoas envolvidas, criar uma relação emocional com o texto e ajudam até mesmo a fixar melhor as informações passadas.
Então, como inserir narrativas em um blog de viagens? Usar esse recurso na construção dos seus posts pode trazer as culturas mais distantes para perto do leitor e tornar experiências mais vivas, mais reais para ele. E, para contar uma história, você precisa criar um arco narrativo, personagens com o qual a audiência se identifique e que tenham motivações reais (mesmo que esse personagem seja você), colocar um começo, meio e fim no texto e uma sequência lógica do fatos narrados. Significa capturar a atenção dos leitores com um “problema”, desenvolvê-lo em direção ao desfecho e recompensá-los com um final daqueles que faz a gente sentir que valeu a pena gastar minutos preciosos da vida com aquela história.
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Algumas pessoas tendem a contar suas histórias de maneira cronológica, listando os eventos da forma como elas se lembram. “Acordei naquela manhã e tomei café no hotel. Eles serviram ovos mexidos e suco de laranja, estava bom. Depois, me arrumei e saí para esperar o ônibus que passaria ali na porta”. Não faça isso. Não comece sua história com o despertador tocando ou com a sua chegada ao aeroporto. Comece com aquilo que for mais interessante e desenvolva a partir daí.
Em vez de tentar contar sua viagem inteira como se você estivesse descrevendo seu dia para a sua mãe ao telefone, escolha os trechos mais emocionantes e construa pequenas narrativas ao redor daquilo. Reflita sobre essas situações, explore e expanda seu texto e impressões a partir delas. É uma enorme tristeza quando uma experiência interessante se esconde entre parágrafos e mais parágrafos de situações, digamos, chatas de doer.
Foto: Shutterstock, por Daria Gorbunova
Ando muito cansada do Instagram e quase não tenho utilizado a rede, mas não sabia dizer exatamente o motivo. Quando, semana passada, o perfil Insta Repeat viralizou na rede mostrando que todas as fotos postadas ali são iguais, eu entendi. O que antes era uma plataforma cheia de espontaneidade cotidiana acabou se tornando um festival artificial de fotos altamente produzidas, com influencers que aparentam ter vidas inacessíveis e feeds milimetricamente planejados com pessoas com cara de modelo desfilando com seus vestidos e chapéus, cada dia em um cenário diferente no mundo. Em se tratando especificamente dos perfis de viagem, tanto faz se a pessoa está na Índia ou em Paris, já que o que é importante mesmo é a pose blogueirinha.
Fotos também são uma forma de relato e de narrativa, mas esse tipo de postura também pode ser facilmente transportado ao texto escrito. Vivemos em tempos de egocentrismo exagerado e por isso é fácil cair no vício dos euzismos. É claro que você é bonito, descolado e tem uma vida interessante, mas se você focar só nisso, dificilmente vai conseguir produzir um relato mais legal do que os outros 39775 zés que povoam a internet e que são tão floquinhos de neve quanto você. E a verdade é que, no final, esse tipo de abordagem é sempre muito parecida, assim como as fotos no Instagram.
É claro que eu não estou dizendo para você se apagar dos seus textos. Longe disso. Você precisa estar lá para contar o que viu, mas você não precisa ser o protagonista. Pelo menos não o tempo inteiro. Deixe o local e as pessoas que vivem ali falarem através de você. O que você aprendeu com elas? O que te despertou curiosidade, aversão ou empatia naquela cultura? Mostre um pouco do que te interessa e das suas motivações para fazer daquela viagem algo além de tirar uma foto massa para compartilhar na rede. Desloque um pouco o ponto de vista e um novo mundo de histórias a serem contadas vai se abrir para você.
Fuja correndo das descrições genéricas. Tente ser o mais específico possível, como se você não pudesse inserir fotografias no post ou estivesse contando aquela história para alguém que nunca poderá viajar até aquele destino. Não tenha medo de usar os seus cinco sentidos para isso.
Em vez de usar apenas “flor” e “ervas”, descubra o nome daquela flor que te chamou a atenção e das ervas usadas naquele prato. Diga a cor e o sabor que você sentiu. A casa é velha? Mas quão velha? Que marcas indicam essa idade? Qual o estilo arquitetônico, o material usado na construção? Quanto mais detalhes você conseguir reunir, mais viva na mente dos leitores será a imagem que você quer criar.
Da mesma forma, evite palavras que não querem dizer nada, como “interessante”, “surpreendente” e “incrível”. Essas são muletas fáceis, mas que não fazem o trabalho de criar uma imagem porque são muito genéricas, podem ser usadas em uma infinidade de situações e são vazias de significado. Sempre que puder, aposte no específico. Há uma regrinha na escrita criativa que diz “mostre, não conte”, que funciona muito bem para a escrita de viagens.
Outra muleta comum é recorrer a frases de efeito e clichês para descrever um lugar. “Praias paradisíacas”, “mar azul-turquesa”, “de tirar o fôlego”, “a Meca de tal coisa” são expressões fáceis de se recorrer quando vamos descrever um lugar. O problema é que elas estão pra lá de batidas. Usar clichês na escrita é um sinal de falta de criatividade e, por que não, de preguiça de pensar. Evite essas frases como o diabo corre da cruz (ops!). Vale a pena quebrar um pouco a cabeça para encontrar a sua própria forma de contar para as pessoas o que você sentiu ao estar naquele lugar, sem parecer que você tirou todas as suas impressões de um guia (ruinzinho) de viagens.
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então vou contar da minha viagem eu foi pela primeira vez ao porto pensei que me ai perder depois foi ver um hotel para ficar e eu como não conhecia a cidade fiquei um pouco baralhada mas começai a conhecer a cidade mas isto foi no segundo dia hoje foi só compra as coisas e ir embora do porto tem muitas coisas para visitar adoro as paisagens mas a parte má do porto é que as coisas são tão caras a tem restaurante também os hotéis são tão caros mas foi uma boa viagem e quero fazer outra viagem para conhecer outros sítios novos também só tivemos 3 dias no porto mas foi bom conhecer coisas novas
Que ideias magníficas! Isso vai me ajudar muito a me organizar na próxima viagem! Registrarei tudo!
Obrigada, Caio! :)
Amei as dicas! Realmente são detalhes que eu não pensaria e que fazem toda a diferença na criação da narrativa! Amei mesmo!
Que bom saber, Rafael! Obrigada
Muito obrigado pelas dicas Natália! De hoje em diante vou registrar todos
os acontecimentos das minhas viagens!
Boa, Leandro! Depois volta pra mostrar seus escritos pra gente!
Dicas muito úteis. Obrigado.
E as minhas próximas viagens vão ser diferentes a partir daqui, pois realmente temos de registar o pormenor e o detalhe.
Vou passar a visitar o 360meridianos mais vezes, que desconhecia.
Parabéns Natália pela iniciativa :-)
Helder (Almada, Portugal)
Obrigada Helder! Fico feliz de ter ajudado!
Como faço para escrever um relato de viagem depois de ter viajado????
Olá Gabriela! No post temos muitas dicas que você pode usar pra se inspirar :) No mais, basta colocar suas experiências no papel!
Dicas que irei levar nas minhas próximas viagens! Amo o blog.
Obrigada, Amanda! :)
Que dicas maravilhosas!! Amo o blog.
Obrigada, Fabíola! :)
Como eu nunca pensei em escrever relatos de minhas viagens? Muito obrigado por abrir minha mente Natália
De nada, Thiago! Fico feliz que tenha gostado!
Natália, achei sensacional o seu artigo.
Além de ótimas dicas, amplia um pouco visão, principalmente na questão de narrativa.
Muito bom. Continuarei acompanhando o blog.
Que ótimo! Fico feliz que tenham gostado do texto. Voltem mais! :)
Abraços
Obrigado pelas dicas Natália!!!!
Espero aprender muito como vc!!!!
Obrigada, Eyshila!