Durante dez anos, Luciana Paulino viveu voando. Em sua carreira como relações públicas, ela viajou a trabalho para lugares como Suíça, Portugal e Estados Unidos, para ajudar a promover as ações turísticas desses destinos. Só tinha um problema. Nas salas de embarque, principalmente nas internacionais, Luciana raramente via pessoas que se pareciam com ela. Luciana é negra. Mas a gigantesca maioria dos brasileiros que viajam para fora é branca. A constatação virou um incômodo. O incômodo gerou uma questão: se viajar é uma experiência transformadora, por que não pode ser também uma experiência inclusiva? E a questão virou projeto.
Em contato com outras pessoas que também sentiam falta de rostos negros nos aviões, Luciana idealizou o Black Bird, uma plataforma de turismo e representatividade.
Vamos por partes. Apesar de ser comumente associada à pobreza, a população negra (que, vamos lembrar, é mais que a metade do total de brasileiros) está inserida no mercado consumidor e tem poder aquisitivo. Eles têm grana para comprar produtos de beleza, roupas, eletrodomésticos, automóveis. Mas, por algum motivo, no geral, eles não investem em viagem.
Se os consumidores das classes C e D estão no foco das agências que vendem pacotes, porque não há tanta gente de pele escura fazendo compras em Miami ou tirando foto segurando a Torre de Pisa? Para Luciana, é porque o negro brasileiro ainda não se vê como turista.
É isso que o Black Bird vem mudar. O conteúdo da plataforma coloca pretos e pardos como protagonistas de narrativas de viagem, para que outras pessoas negras consigam se considerar também capazes de conhecer novas paisagens, viver experiências longe de casa e postar fotos incríveis no Instagram. A tendência é internacional. Nos Estados Unidos, o Black Travel Movement incentiva negros a viajarem e mostrarem que, além de empoderados, eles também podem ser endinheirados.
Além da questão econômica, Luciana acredita que o turismo é uma forma de conexão com a ancestralidade. Conhecer destinos negros é também desvendar um pouco da história do povo negro, algo que se vê pouquíssimo nos livros da escola. Pensando nisso, a Black Bird também está por trás de um city tour que passa por diversos pontos do centro de São Paulo por onde passaram personagens negros históricos. E a ideia é ir bem mais além.
Está marcada para Novembro de 2019 a Expedição em grupo do Black Bird para União dos Palmares, em Alagoas, região onde ficava o Quilombo dos Palmares de Zumbi. Também está nos planos de Luciana uma viagem coletiva para o Afropunk, o incrível festival de cultura negra que acontece em Nova York em dezembro. E passou da hora de se acostumar: vai ter cada vez mais pessoas negras do Brasil na fila do embarque em Guarulhos rumo ao Harlem, Soweto, Kingston, e também Paris, Veneza e Orlando. O Black Bird não vai mais parar de voar.
Conheça o projeto e siga eles no Instagram e no Facebook.
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