Ligue um cronômetro: a cada hora, 228 crianças, na maioria meninas, são exploradas sexualmente em países da América Latina e do Caribe. E o Brasil ocupa o primeiro lugar neste ranking, um daqueles em que ninguém quer ficar no topo.
Essa é a triste realidade que Cynthia Betti, diretora executiva da Plan International Brasil, quer mudar. Por meio do programa Down to Zero (DTZ), ela atua no empoderamento de crianças e adolescentes vítimas ou em risco de exploração do turismo sexual infantil, para que possam ser agentes de mudança.
Este texto, que agora é republicado no 360meridianos, foi a sexta edição da Vozes, nossa newsletter quinzenal que traz perfis e experiências de pessoas e projetos extraordinários.
Para Cynthia Betti, se envolver nos projetos da Plan tem sido especial e uma experiência cheia de valor. Depois de trabalhar com recursos humanos no mundo corporativo por mais de 30 anos, ela encontrou no terceiro setor uma forma de tentar transformar o mundo.
“O diferencial do projeto Down To Zero é a capacidade que temos para criar uma grande rede de proteção de luta contra a exploração sexual infantil”, conta.
Mas o desafio é grande. São cerca de 500 mil crianças e adolescentes na indústria do sexo no país, segundo uma estimativa do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil. Uma realidade que assusta e que precisa ser urgentemente combatida.
Em nossa conversa com a Cynthia, descobrimos os impactos que o Projeto Down to Zero tem tido na vida de crianças e adolescentes que vivem esse tipo de situação.
“Não podemos nos esquecer que as principais áreas do Brasil afetadas pelo fenômeno da exploração sexual de crianças e adolescentes são justamente cidades turísticas, como Rio, Salvador, Recife e Fortaleza; e também no chamado turismo fluvial das regiões Norte e Centro-Oeste; e em regiões pobres como no semiárido”, diz ela.
Segundo o Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), a Região Nordeste é a que mais cresce em número de visitantes estrangeiros, em especial da União Europeia. É por isso que Cynthia diz que o projeto é uma iniciativa de abrangência nacional, mas com foco no nordeste. Atualmente, o principal objetivo da Plan é reduzir a quantidade de crianças vítimas ou em situação de risco de Exploração Sexual em comunidades da Bahia, isso até 2020.
“Uso toda minha experiência de anos como gestora no corporativo, estou aprendendo muito e cada dia mais apaixonada em contribuir com a causa dentro de uma organização de projetos tão relevantes e realmente capazes de transformar a história de meninas, mulheres e toda a sociedade”, diz.
Entre as medidas tomadas estão treinamentos em Direitos Humanos, acolhimento terapêutico psicossocial e campanhas de mobilização. Mas por se tratar de crianças e adolescentes, muitas vezes é mais difícil identificar o problema, já que elas podem nem ter consciência de que estão sendo exploradas. “Esse é um dos desafios da Plan”, explica Cynthia.
Por meio do programa Down To Zero, a Bahia tem sido reconhecida como o estado que desenvolve o trabalho com maior qualificação dos profissionais sobre o enfrentamento das violências sexuais contra crianças e adolescentes.
Mais do que números, ela diz que a verdadeira gratificação vem de quem é diretamente afetado pelas ações da ONG. É o caso de YS, jovem mobilizador do projeto, que explica: “Aprendemos sobre tudo que tem a ver com os nossos direitos, os das crianças e adolescentes, como podemos nos proteger e fazer com que nossos direitos sejam garantidos.”
É nas rodovias do país que a exploração sexual mais acontece – é vendida como um souvenir para os viajantes. O MAPEAR (mapeamento nacional dos pontos vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas rodovias federais), produzido pela Polícia Rodoviária Federal em parceria com a Childhood Brasil, identificou 2.487 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes. O gráfico abaixo mostra os estados com maiores índices de pontos críticos. O Ceará lidera a lista, com 81, seguido por Goiás, com 55, e o Pará, com 52.
A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que o tráfico de seres humanos para exploração sexual movimenta cerca de U$ 9 bilhões em todo o mundo, só perdendo para a indústria das armas e a do narcotráfico. No Brasil, é crime submeter criança ou adolescente à exploração sexual, com pena de reclusão de quatro a dez anos.
Para quem quiser denunciar, o telefone é o DISQUE 100 – Disponibilizado 24 horas por dia. As ligações são gratuitas e mantidas em sigilo.
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Que realidade triste a do nosso país! Ainda bem que tem pessoas que lutam constantemente pelo direito a liberdade dos outros. É de doer o coração ler sobre essas crianças. E obrigada por escrever esse artigo. Eu não conhecia a Plan. Trabalho lindo mesmo.