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Motorhome, o sonho: a arte de levar sua casa, aonde quer que você vá!

“Viver em um motorhome está sendo uma experiência muito nova pra gente. O que mais me motiva é o Brian, desde pequenininho. Uma das primeiras palavras que ele aprendeu a falar foi “Bu’. Ele chegava no ônibus e já falava; “Bu, bu”. Durante as viagens ele é o que mais fica feliz, toda vez que ele percebe que a gente vai viajar, ele fica muito feliz”, conta Lucas, pai do Brian.

Sabe aquela vontade de ser que nem uma tartaruga, ter a casa nas costas e sair por aí, sem rumo? Para alguns isso pode ser apenas um sonho, mas para os personagens desta edição da Vozes, esse foi um sonho que virou realidade. Essa é a história do Lucas, da Paty e do pequeno Brian, essa família que tem a casa deles sobre rodas.

Lucas e Paty estão juntos há 14 anos e há pouco mais de 3 anos ganharam mais um membro na família, o Brian. A ideia de ter um ônibus era um sonho que o Lucas tinha desde pequeno e que se tornou realidade por conta de uma grande dose de sorte. É que eles tinham um carro que valia uns R$12mil e acharam um ônibus que estava sendo vendido por R$20mil. Como não tinham a grana pra completar a diferença, ofereceram uma troca com o proprietário do ônibus e conseguiram, sem precisar voltar a diferença.

Com tudo dando certo desde o início, era hora de colocar a mão na massa. Afinal, segundo o próprio Lucas: “não adiantava ter o ônibus e deixá-lo parado na garagem”. Foi daí que surgiu a ideia de fazer o motorhome. Com a ideia na cabeça, começaram a desmontar o ônibus, a trabalhar em cada parte dele. Quanto mais trabalhavam, mais empolgados eles ficavam.

Um ônibus 1992, com TV, cama de casal, algumas camas de solteiro, banheiro com água quente e fria, cozinha e energia solar. Parece até hotel de luxo, mas é um casa sobre rodas. Na intenção de morar confortavelmente, tem todos os eletrodomésticos que tem em uma casa “normal”. Foi um ano construindo, dentro da própria garagem. O investimento foi de aproximadamente R$50 mil.

Motorhome: como fazer o sonho virar realidade

O processo de montagem geralmente começa na desmontagem. “No meu caso, comecei desmontando a bancada do ônibus, arrancando o maleiro. Depois que ele ficou só na lataria, comecei a fazer o isolamento térmico, revestimento das laterais. A montagem não segue uma sequência exata, depois de montar toda a parte hidráulica e elétrica, é a hora de começar a mobiliar o automóvel. É a hora de colocar as camas, o banheiro, colocar as caixas de água e ir pra cozinha. Uma coisa depende da outra. Não tem como fazer tudo de uma vez, é um quebra-cabeças meio complicado”, garante Lucas.

A primeira viagem que eles fizeram com o ônibus já adaptado, foi para um encontro de viajantes. Quando chegaram lá, a surpresa: o pessoal já conhecia o canal deles no YouTube e queriam ver o motorhome, tirar fotos. Para eles foi tudo uma grande novidade, afinal, tinham ficado um ano trabalhando dentro da garagem deles, fazendo os videos, meio que sem saber o que estava acontecendo no mundo aqui fora.

“Quando a gente saiu de casa e fomos para esse encontro, quando percebemos que tinha tanta gente que curtia, fiquei sem palavras. Foi uma sensação muito boa. A vibe é sem palavras. Eu aconselho a quem quer saber como funciona, que vá a um encontro de viajantes e aí vai ter a real dimensão de quem viaja e vai sentir a energia dos viajantes, do desapego. Ver o pessoal compartilhando uma mangueira, uma extensão, fazendo churrasco. É muito bacana”.

Depois disso, já viajaram pelo interior de São Paulo, por cidades históricas de Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Por enquanto eles ainda não vivem o tempo todo no ônibus, esse é um sonho para o futuro. Como não tem muito tempo livre, começaram a viajar por perto mesmo. O projeto maior é fazer a Rota 66, no Estados Unidos.

Motorhome: Canal no YouTube e os cursos

Quando eles começaram a pensar em montar o próprio motorhome, pesquisaram na internet e não acharam muita referência. Os vídeos eram dos EUA e tinha muita referência de como montar Kombi, mas nunca como montar um ônibus. A partir daí, eles viram a necessidade de produzirem material pra ajudar quem, assim como eles, também queria ter uma casa que pudesse ir com eles para todos os cantos. E foi assim que surgiu o “Motorhome o sonho”, o canal deles no YouTube.

Tanto no YouTube, quanto nos cursos, eles tiram dúvidas dos mais variados tipos, mas a documentação está entre as mais recorrentes. São questionamentos do tipo: qual o melhor veículo: carro pequeno, kombi ou ônibus? Como se faz banheiro, caixa d’água, isolamento, quais materiais usar? Eles respondem tudinho!

“Montamos o ônibus e o canal e agora onde a gente passa com o ônibus, o pessoal passa buzinando, chama a gente nas redes sociais. Para onde a gente vai, tem gente chamando pra ir ver o motorhome deles, querem ver nosso, é bem bacana”, diz Lucas.

Documentação, uma preocupação à parte

“No Brasil a burocracia é muito grande. Por conta disso, muitas pessoas acabam desistindo de fazer um motorhome, mas como tá crescendo bastante, esse cenário está mudando. Muitas pessoas já estão conseguindo fazer as documentações e as montagens artesanais”.

Segundo Lucas, essa é a maior dificuldade. Muitas vezes as pessoas têm a vontade de transformar os veículos, vão aos órgãos responsáveis pedir informações e não recebem muito apoio. Ele diz que por a cultura de montar motorhome artesanal ser ainda muito pequena e fraca, quando as pessoas vão até o órgão para fazer a documentação, geralmente os funcionários até desconhecem o assunto.

Para regularizar a documentação, a pessoa interessada precisa ir ao DETRAN, pegar a documentação do automóvel, ir ao INMETRO e fazer a vistoria no veículo já transformado. Depois da vistoria, é preciso voltar ao DETRAN e emitir um novo documento, mudando de furgão ou ônibus, para motorcasa. “Basicamente é isso, mas é necessário cumprir alguns requisitos, precisa se informar bastante, mas varia de acordo com cada veículo. Dependendo do estado, também pode mudar”, aconselha Lucas.

A dica então pra quem quer fazer o seu próprio motorhome é ter paciência, determinação e ficar de olho junto ao DETRAN da sua cidade para saber sobre a legislação do seu estado. No mais, boa sorte, boa reforma e boa viagem!

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Se quiser acompanhar o que nós já fizemos:

Oficina Shanti: Os tecidos que mudaram uma vida
Guia do cadeirante viajante: as duas rodas que rodam o mundo
Plan International Brasil- Um basta ao turismo sexual
Favelados pelo mundo: Descendo o morro pra descobrir o planeta
Janelas Abertas: Viajar sozinha é, sim, coisa de menina!

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Fernanda Pádua

Tenho BH como meu ponto de partida e o meu porto seguro. Entrei pela primeira vez em um estádio de futebol aos 10 anos e ali descobri que queria ser jornalista. 20 anos depois, me tornei repórter esportiva e viajante nas horas vagas. Fiz intercâmbio na Irlanda em 2016/2017, pra estudar inglês. Tenho um objetivo de visitar todos os estados brasileiros e metade dos países do mundo e já percorri boa parte do trajeto, mas várias histórias e paisagens legais ainda estão por vir.

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  • Desde criança viajo muito;primeiro com meus pais de trem e ônibus ,depois irmã e alunos carro e agora sobrinhas e sobrinhos.Primeiro conheci capitais e algumas cidades do lindo e diferente Brasil e atualmente descobrindo America Norte,Central e Sul ,capitais Europa e Asia.Este ano em março tour Rio Nilo .Agora espero vacina para o COVID 19 para depois continuar a maratona .Terra beleza .Voar ,voar Santos Dumont presente .KKK .Acompanho blogs e youtube.Agradeço .

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