Uma pesquisa da XP/Ipespe, publicada no início de abril, indicava que metade dos entrevistados havia sofrido impactos financeiros com o avanço da epidemia de coronavírus no Brasil. E 82% acreditavam que seriam afetados economicamente no futuro.
Num tempo de tantas incertezas, instabilidade e ansiedade, chamamos para um bate-papo o Eduardo Amuri, que é consultor financeiro, colega de longa data do 360meridianos e a quem sempre recorremos quando precisamos falar de dinheiro.
Na conversa, discutimos um pouco mais sobre planejamento financeiro para autônomos e pequenos empresários nesse momento de crise, mas muitas das dicas servem também para quem trabalha no regime de CLT. Falamos do cenário das viagens, da alta do euro e do dólar, investimentos e empréstimos.
Segundo o Eduardo Amuri, não é possível prever quando a alta do euro e do dólar vai parar: “Qualquer pessoa que diz que sabe para onde a moeda vai, na minha opinião, ou ela está sendo muito ingênua ou está sendo picareta. Porque de fato a gente não tem previsão. Agora, nesse momento político super instável que estamos vivendo, tem menos previsão ainda.”
Além disso, ele aponta um detalhe que tem sido menos discutido: “Não está claro para as pessoas que o dólar não está numa alta histórica. Aqueles que pensam que não dá para subir mais, que dá para esperar para comprar, têm uma postura bastante ingênua. Se a gente for normalizar pela inflação, o dólar já foi bem mais caro do que os R$5,60 que está hoje. Em valores nominais, talvez não. Mas se for normalizar pela inflação, o dólar já chegou a R$ 7 facilmente”.
Na prática, isso significa que a moeda ainda pode subir muito – ou pode descer. “Essa especulação dá ruim”, diz. Assim, a dica do consultor financeiro para quem tem necessidade de trabalhar com o dólar ou euro num futuro próximo é não tentar adivinhar, mas fazer compras frequentes e fracionadas.
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Ele sugere um cenário de alguém que planeja ir à França num casamento, em junho do ano que vem. Contando a partir de abril, essa pessoa teria mais ou menos 13 meses para se planejar: “O melhor é definir uma data para comprar euros todo mês, em vez de tentar adivinhar se a moeda vai subir ou se vai descer. O melhor caminho, nesse sentido, é tentar fazer um preço médio.”
Pergunto o que ele acha de comprar viagens a preços baixos para 2021. Ele fala dos riscos: “É completamente especulativo.” Ele explica que tem, sim, o lado positivo, que é ajudar a sustentar o mercado do turismo nesse momento difícil.
Ao mesmo tempo, tal como já apontamos nesse texto, é preciso lembrar que a forma como o Brasil está lidando com a pandemia pode fazer com que os outros países imponham medidas contra a entrada de brasileiros por algum tempo. “Eu acho que é precipitado e acho que é bom dar uma segurada nessa agonia que a gente tem de comprar passagem, querer viajar.”
Viagens dentro do Brasil têm mais chances, num futuro menos distante
Em relação a quem já tinha uma viagem comprada, não pensa em remarcar e não sabe se pede o reembolso (que só vem daqui a 12 meses) ou o voucher, Amuri explica: “A não ser que eu tivesse uma perspectiva muito clara de viagem e essa companhia que eu tenho a passagem contemplasse esse destino, me parece mais prudente pedir esse reembolso, que vem em 12 meses, e depois lidar com esse dinheiro da maneira que eu achar melhor, do que ficar refém de uma companhia só. Eu acho isso um mau negócio.”
Dica do 360meridianos: Lembramos que o reembolso só tem sido disponibilizado para voos cancelados pela própria companhia aérea. Ou seja, você precisa ter paciência de esperar para que seu voo seja cancelado e só então pedir o reembolso – opção que também só costuma estar disponível pelo telefone.
“Um ano é pouco tempo, são só 12 meses. Você pergunta para a pessoa: você ia usar esse dinheiro agora? E ela: não. Considerando que a gente pode viver 80 anos, é muito pouco. Esse curto prazo da nossa geração é demais”, comenta Amuri.
“Quando a gente trabalha com planejamento financeiro, a gente brinca com espaços temporais. Então, às vezes a gente pega uma semana e vai tentar planejar esse dinheiro para esse período. E vai brincar com isso – para um mês, para três meses, para um ano, para 10 anos.
Exercícios de diminuir e aumentar o espaço temporal são muito bons, porque dão uma nova perspectiva para a gente. Um mês muito ruim, no qual eu tive que pegar da minha reserva de emergência ou entrei no cheque especial, vai me deixar chateado? Vai. Mas num espaço de uma vida financeira inteira, isso é uma coisa muito pequena. Então, se eu monto um planejamento financeiro bem feito e escorrego em um mês, ele é só um escorregão de um mês. Em 40 anos de vida financeira produtiva isso é muito pouco.”
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Ele recomenda planejamentos com prazo muito curto e também muito longo. Lembra que planejamentos de longo prazo envolvem mais variáveis e estimativas: “O fato da gente não ter previsibilidade para organizar claramente 15 anos não faz com que um planejamento de 15 anos seja desinteressante. É um jeito de começar a sonhar se as variáveis vão ser atendidas.”
Amuri aponta também que a habilidade de fazer boas estimativas é algo que não aprendemos na escola e que faz muita falta na vida adulta, mas que é importante se interessar por aprender depois, em especial para pessoas que são autônomas ou pequenos empresários.
“Como um psicólogo, um dentista ou um blogueiro vai trabalhar daqui para frente, se não fizer estimativa? Se a gente estiver fazendo um planejamento de um blog de viagens, por exemplo, essas entradas de dinheiro (que estão paradas), em algum momento vão voltar a acontecer. Eu não sei quando isso vai voltar, então eu preciso estimar. Por exemplo, eu vou pegar uma média dos últimos 6 meses de faturamento e vou supor que, a cada 2 meses, vou conseguir preencher 10% dessa média. Assim eu desenho meu fluxo de caixa e vou fazendo minhas estimativas. Caso contrário, estou sempre às cegas e não consigo montar negócio nenhum.”
Segundo Amuri, essa dica também vale para quem é contratado pela CLT ou trabalha por conta própria.
“Eu sei que o cenário de viagens está super incerto. Mas acho improvável dizer que a gente não vai mais viajar. O mercado de viagens vai voltar em algum momento. Agora, ele vai voltar em qual ritmo? Qual estimativa que eu vou fazer? A gente pode usar as variáveis que tem, desenhar cenários e fazer bons planejamentos dali para frente.”
Para quem tem interesse em saber mais sobre finanças, os dois cursos do Amuri: “Dinheiro sem Medo” e Finanças para Autônomos”, estão com inscrições abertas só até amanhã, 30 de abril. Além disso, o livro Finanças para Autônomos pode ser baixado gratuitamente pela Amazon.
“É muito difícil fazer planejamento financeiro em época de crise, porque grande parte do que deveria ter sido feito, é preciso ser feito antes da crise chegar. A gente brinca que a época de comprar guarda-chuva é quando tem sol. Numa crise, é difícil tomar medidas que vão mudar drasticamente o cenário que você está vivendo.” Ainda assim, há coisas que dá para fazer.
Para Amuri, a pior postura a adotar num momento como o que vivemos é a passiva. “Tipo quando a gente fica esperando para ver o que vai acontecer e tenta reagir da melhor forma possível. Em época de crise essa postura é muito ruim. Então, se a gente puder tomar as medidas que tomaria caso o cenário X, Y ou Z acontecesse antes desse cenário acontecer, isso costuma ser uma coisa boa.”
Ele dá o exemplo de alguém que aluga um espaço num coworking e pensa: ‘quando meu dinheiro acabar, uma coisa que eu faria é não alugar mais essa mesa, porque vou estar com saldo muito apertado’. Segundo o consultor, faz mais sentido já tomar essas medidas antes do dinheiro acabar, para ter uma margem de manobra maior.
“O que você faria se o caixa acabasse, de fato? O que você mudaria no seu modelo de negócios, o que você mudaria no seu painel de custos? E a gente às vezes pode antecipar esse corte, de forma que fique mais confortável.”
O que cada um pode fazer, obviamente, depende das realidades de cada pessoa ou empresa. Desde pedir desconto no aluguel até criar produtos para oferecer aos seus clientes, ele dá alguns pitacos financeiros para ajudar a quem não sabe bem o que fazer nesse texto.
Quem tem uma reserva de emergência pode refazer o planejamento e os saques de maneira menos numerosa e mais planejada. Em vez de ir sacando ao poucos, de acordo com a necessidade, é melhor “estimar o quanto você precisa para um mês, e sacar uma vez esse valor realista. Acessar menos vezes e de maneira mais consciente.”
“Só faz sentido pegar empréstimo se a gente já fez um planejamento financeiro e sabe como esse empréstimo vai ser utilizado. Pegar um valor no banco para dar uma aliviada nas contas, sem saber exatamente como esse alívio vai funcionar, costuma ser um péssimo negócio.”
Ele dá o exemplo de um autônomo que costuma faturar R$ 5.000 por mês, com um custo de R$ 2.000. Ou seja, um salário de R$ 3.000. Pegar um empréstimo de R$10.000 só para continuar empurrando essa bola por mais alguns meses é uma má ideia.
“Pegar R$ 10.000 e falar: esse dinheiro garante que eu não tenha que efetuar uma retirada da minha empresa nos próximos três meses. Eu vou pagar a dívida com uma taxa de juros X pelos próximos 24 meses. Uma coisa é ter um plano e usar esse empréstimo para viabilizar esse plano, outra é só pegar para dar uma desafogada. Essa desafogada é geralmente uma péssima ideia.”
Falando em investimentos no mercado financeiro, Amuri explica que uma crise não muda o perfil de um investidor. “Esse negocio de: ‘ah, agora faz sentido comprar, porque está tudo barato’. A gente não tem capacidade de dizer se agora tá tudo barato. O que a gente pode fazer é manter o mesmo plano, o mesmo framework que a gente tinha antes. O fato do mercado estar uma loucura agora não deve mudar a sua estratégia.”
Ele dá o exemplo de uma pessoa que todos os meses compra um pouquinho de um fundo de ações para compor a camada de renda variável de sua carteira. “Essas cotas que ele comprou nessa camada quando estava em baixa vão render muito mais porque estava muito barato. Siga sua estratégia para comprar barato, não compre por causa de um cenário especulativo. Quando a gente faz uma compra frequente, a gente pulveriza o risco. A gente não tem que ficar adivinhando e está no meio-termo. E no longo prazo faz todo o sentido.”
Para terminar a conversa, perguntei ao Eduardo Amuri o que ele acha sobre a ansiedade que estamos todos sentindo nesse momento de tantas incertezas sociais, econômicas e políticas.
“Eu vejo as pessoas querendo ser incrivelmente produtivas e sendo bombardeadas por propaganda e marketing que tentam seduzir num momento de fragilidade. O que eu faço aqui é reduzir um pouco a exposição a essas propagandas e entender que não é porque a gente está em casa com o tempo livre, que a gente está com a cabeça no lugar.
Esse vai ser um período que a gente precisa de uma dose extra de autocuidado, e vai ser um período meio estranho mesmo, é uma pandemia. Acho que é normal estar mais ansioso.”
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Realmente aqui no Brasil a economia sentiu o impacto. Muitas pessoas ficaram desempregadas, mas estamos retomando tentando seguir em frente.
La economia esta dura en brasil y argentina, veremos que pasa con la pandemia
Excelente entrevista ! Parabéns Luiza!
Não tenho nenhuma viagem planejada para este ano. Tenho euros, é bom negócio vender para uma casa de câmbio agora? Ou vou perder muito com taxas, etc?