“Muita gente acha que comer saudável é cortar açúcar, por exemplo, entrar num mundo de restrições e terrorismos alimentares”, diz a catarinense Juliana Gomes, do blog “Comida Saudável Pra Todos”. Ela pretende, com seu trabalho, desmistificar a comida e mostrar que alimentação é um processo coletivo.
“Não existe isso de você comer a sua couve orgânica e tá tudo bem. Não. O agrotóxico tá na nossa água. Não é uma questão de mudar pequenos hábitos. Ou a gente entende que estamos todos juntos nessa, que existem questões estruturais imensas aí ou a gente não muda nada”, afirma.
É comum que a alimentação vegana, orgânica ou qualquer tipo de dieta considerada saudável seja vista como elitista e, às vezes, até sem graça. Parte do trabalho da Juliana é também mostrar que é possível comer bem pagando pouco.
Juliana se apresenta como “uma catarinense que quer contar histórias para além da culinária influenciada pelos europeus. Histórias que remetem ao milho, à farinha de mandioca e à jabuticaba”.
Descolonizando o prato
Com ascendência direta de portugueses, Juliana traz com ela um ideal bem brasileiro: descolonizar a nossa alimentação, dando protagonismo aos alimentos da nossa terra.
“Eu comecei a achar estranho que muitas das minhas referências alimentares, minhas memórias afetivas, são de comidas associadas aos imigrantes alemães, mesmo não tendo nenhum descendente de alemão na minha família. Depois eu comecei a me incomodar com o fato de todo mundo achar que a culinária vegetal é algo diferentão, distante da nossa cultura alimentar. Quando a gente fala, ‘tira o leite de vaca da canjica e só usa o de coco’, as pessoas acham que a gente tá destruindo a cultura alimentar brasileira. Mas de onde veio esse leite de vaca da canjica? O que ele representa? Não existiam vacas aqui antes dos portugueses invadirem”.
Para ela, aquilo que a gente chama de “culinária brasileira” é, muitas vezes, uma violência com os povos indígenas e as culturas dos povos africanos, que vieram escravizados pro Brasil. “Nossa comida conta, basicamente, uma história só: a europeia. E tudo o que não é de fora não é exaltado. O nosso milho é comida de pobre. O acarajé é comida de “herege”. Frutas nativas como butiá e jabuticaba correm o risco de extinção enquanto os supermercados de Norte a Sul sempre vendem maçã”.
Para Juliana, a primeira coisa que precisamos fazer é “parar de comer hambúrguer”, diz, entre risos. “Eu não aguento mais ver abrir hamburgueria, pizzaria e temakeria em cada esquina deste país. Não aguento mais ver o pão apagando a tapioca e o cuscuz do café da manhã da gente. Não aguento mais ver o consumo de feijão, arroz e farinha de mandioca cair todo ano”.
Para ela, a gente precisa conhecer o que é nativo, valorizar, pedir esses alimentos pros feirantes, pedir que os restaurantes priorizem o que é nosso. “Quando a gente não conhece e valoriza o que é nosso, fica ainda mais fácil pros ruralistas desmatarem tudo e transformarem a Mata Atlântica, o Cerrado e a Amazônia em plantação de soja e criação de boi”.
Por onde podemos começar?
“Questionando tudo. Por que você come isso aí que tá no teu prato e o que tá por trás dessa comida? Além disso, também é importante se mobilizar politicamente e não ficar só nas mudanças individuais. Conversar com mais gente sobre esse assunto, assinar petições, denunciar a publicidade abusiva nos alimentos, entender o que tá acontecendo, se informar, se reunir em coletivos, associações, comprar comida de pequenos agricultores, lutar pra que os reis do gado e as empresas de refrigerantes passem a pagar impostos”.
Muita gente pode não conseguir entender o que é a colonização da nossa culinária e até mesmo dos nossos hábitos alimentares, mas a Juliana explica: “Não somos um país livre. Fomos colônia de Portugal e o nosso modelo econômico é o do capitalismo dependente. Vou explicar melhor. Nossa história, nos últimos 500 anos, é a história de um país refém de outros. E, por mais que tenhamos a ‘independência’, a influência cultural europeia, e depois dos Estados Unidos, é muito forte aqui ainda. Sabe aquilo que Paulo Freire fala, que se a gente não tiver uma educação libertadora, o oprimido vai querer ser o opressor? Então. A gente ainda quer ser a Europa”.
Ela dá um exemplo: “exaltamos seus intelectuais, produtos, hábitos, comidas (queijo, nata, ovos, açúcar, carnes de animais de criação). O tomate e a batata, ingredientes nativos da América Latina, viraram ‘tomate italiano’ e ‘batata inglesa’. A pimenta que mais usamos na culinária é a ‘do reino’. E hoje cada agrotóxico proibido na Europa, produzido muitas vezes por empresas europeias, é desovado aqui, já que alguém precisa continuar comprando. É como se a gente fosse o lixão tóxico do mundo”.
Comida saudável pra todos – uma alimentação saudável é um processo
“Nada é mais urgente do que reduzir drasticamente ou parar com o consumo de alimentos de origem animal. Como expliquei no episódio 9 do meu podcast, o Jornal do Veneno, não é uma questão de ser amiguinho dos animais, é a única chance da gente enxergar um futuro. A gente precisa ser realista! Foi esse modelo industrial de criação de porcos, bois e galinhas, associado ao desmatamento, que nos trouxe o coronavírus, que vai nos trazer mais doenças futuras, como outras pandemias e a resistência a antibióticos”.
“É isso que acelera as mudanças climáticas, que vai secar a nossa água, vai nos deixar todos intoxicados por agrotóxicos. A maior parte dos agrotóxicos não vai pro alface, mas pra soja que vai virar ração pra essa quantidade imensa de animais. Só o Brasil tem 37 milhões de porcos confinados nesse momento. E o porco é o hospedeiro intermediário perfeito pra vírus como o corona passarem por mutações e chegarem nos seres humanos. Não temos escolha”.
Juliana está ciente que essas mudanças no estilo de vida de uma população não acontecem de um dia para o outro. Mesmo para ela o processo levou tempo. Antes de adotar o veganismo, ela conta que era a pessoa que temperava a carne do churrasco, que catava a salsicha no prato. Para se tornar quem é hoje, foi preciso um longo caminho – e não foi só por conta do paladar.
“Foi um processo, várias etapas. Começou com o feminismo, que fez questionar a loucura de viver de dietas. Depois a politização mesmo, que sempre me levou a desenvolver a mosquinha crítica do sistema capitalista, o meio de produção das grandes empresas, como funciona a publicidade delas, o que tá por trás do que a gente come, o fato da colonização europeia influenciar tanto os nossos hábitos alimentares até hoje. Depois veio o vegetarianismo e o desemprego, que me levou a reduzir muito os gastos com comida. O veganismo foi consequência de tudo isso. Repensar e questionar a alimentação, assim como tudo na vida, não tem fim, né? Eu continuo nesse caminho”.
Como surgiu o Comida Saudável Pra Todos
Juliana é formada em jornalismo, o que a ajudou a entender as necessidades e a saber como se expressar e atingir cada vez mais pessoas. “Assim como todo mundo, eu sempre coloquei minhas experiências pessoais no meu trabalho. Mas o Comida Saudável pra Todos surgiu de uma necessidade pessoal. Eu buscava receitas vegetarianas, acessíveis e naturais (sem esse lance de fit do bem que cura) e não encontrava”.
“Depois descobri que as informações que eu buscava sobre o agronegócio, a grande indústria e o marketing não são fáceis de encontrar. O conteúdo sobre ‘alimentação saudável’ produzido nas redes sociais, jornais, revistas, são muito ruins em geral. Não despertam a autonomia alimentar, individualizam a questão da alimentação como se fosse apenas uma questão de fazer escolhas melhores”.
Pra muita gente, veganismo é uma ideia distante atrelada a produtos caros, a receitas mirabolantes e pratos em que parece faltar alguma coisa. Juliana tem o trabalho de mostrar que é possível comer uma comida gostosa e saudável, pagando pouco. E ela não é a única a criar esse tipo de material.
“Já tem muita gente periférica e maravilhosa que faz isso além de mim também. Vejo o começo de uma mudança nesse pensamento. Tá mais fácil. Muitos movimentos, coletivos, grupos de ativismo de outras causas já começam a enxergar os veganos como aliados. Isso é muito importante. O veganismo precisa estar ao lado do Movimento Sem Terra, dos movimentos de agroecologia. E não ficar endeusando grandes marcas que lançam mentiras empacotadas caríssimas na versão vegana”, diz a dona do Comida saudável pra todos.
O modelo de alimentação predominante na atualidade é muito influenciado por produtos midiáticos e dietas da moda e acaba incluindo vários industrializados. E isso pode até ser gostoso, mas está longe de ser saudável. No blog, Juliana mostra que é possível fazer ótimas receitas, pagando pouco. Ela ensina receitas por até R$ 10 que são um sucesso absoluto entre seu público. A gente pediu pra ela separar algumas que ela gostava mais. Ela separou duas:
PANQUECA DE MILHO (AREPA) – R$ 1,21
AREPAS DE MANDIOCA – R$ 2,34
Quer um bônus? A gente experimentou essa receita aqui, que é DIVINA!
PATÊ HUMILDE DE BERINJELA – R$ 1,44
Quer mais receitas? Corre lá no blog
“O retorno positivo do público sobre as receitas é muito grande. Gente que conta que passou a questionar tudo, entrou pro veganismo, nunca mais foi no supermercado do mesmo jeito, compra de pequenos produtores, largou as dietas malucas… São muitos depoimentos maravilhosos todos os dias e é o que me faz seguir, apesar de sofrer ameaças, milhões de críticas, xingamentos, e do desgaste emocional imenso desse trabalho”, conta, dizendo que recebe os comentários tanto no blog quanto no Instagram e outras redes sociais. É uma mudança que saiu dela e passou a atingir várias pessoas.
Ela conta que as dicas que o pessoal mais gosta são mais simples, que vão de como agilizar o preparo dos ingredientes a temperar a comida. “Tipo como deixar o caldo do feijão, como deixar uma sopa sem gosto de hospital e como decifrar o rótulo de um produto alimentício…”
O futuro do Comida Saudável Pra Todos
Por conta da pandemia, a agenda da Juliana está fechada, mas isso não quer dizer que ela esteja parada. Há a possibilidade de rolar um curso online, porém ainda não há datas para que isso aconteça.
Quem quiser ajudar o projeto pode entrar no financiamento recorrente dela no Catarse. “É a única forma de manter o Comida Saudável pra Todos. Eu não faço parcerias comerciais com empresas. Os apoiadores doam a partir de R$ 7 todo mês e, além de financiarem meu trabalho, participam de sorteios de brindes e recebem um boletim mensal com dicas exclusivas e comentadas de filmes, podcasts, livros, notícias”.
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