Como funciona o câmbio paralelo na Argentina

Por

Não importa a hora do dia: é impossível andar pela Calle Florida, no centro de Buenos Aires, sem ouvir o mantra “Câmbio, Câmbio” entoado a plenos pulmões por dezenas de doleiros. Esse é um mercado relativamente novo na Argentina, que existe desde que o governo, na tentativa de controlar a crise e evitar que muito dinheiro viaje ao exterior junto com os argentinos, passou a dificultar a compra e a venda de moeda estrangeira dentro de território nacional. E foi para driblar essa restrição que floresceu o câmbio paralelo na Argentina.

Paralelo. Palavrinha muita usada para definir coisas teoricamente ilegais, mas praticadas a torto e a direito. E também como eufemismo para outra, muito mais feia: falsificado. Esses dois fatores explicam o medo de muita gente em enfrentar o câmbio paralelo na Argentina – vou comprar pesos com algum tipo de mafioso, numa lojinha escondida dos policiais? E se eu for preso enquanto tento me dar bem no submundo de Buenos Aires? E, pior, se o dinheiro for de fato paralelos, ou seja, falsificados?

Medos legítimos, caro leitor. Eu pensei nas mesmas coisas antes de chegar em Buenos Aires. Um mês e meio depois, já usei tantas vezes o câmbio paralelo, sempre sem nenhuma dificuldade ou problema, que quase não consigo entender o porquê daquele medo inicial. O grande lance, que faz até o mais precavido dos viajantes pelo menos pensarem em encarar o câmbio não-oficial, é simples: existem, na Argentina, dois pesos e duas medidas. Ou mais.

Veja também:
Onde ficar em Buenos Aires
O que fazer num fim de semana em Buenos Aires
Como economizar em uma viagem a Buenos Aires

Câmbio paralelo na Argentina

Câmbio paralelo x Câmbio oficial

Ainda no Brasil, comprei alguns pesos argentinos. Pouca coisa, só o básico para pagar nossos primeiros gastos de viagem, tipo o táxi do aeroporto. Na época, paguei cerca de 1 real para cada 2.26 pesos, só um pouco diferente do valor que era cobrado pelas casas de câmbio oficiais em Buenos Aires. Uma semana depois, já na capital da Argentina, fomos até a Calle Florida para ver qual era a desse câmbio paralelo. Sem muito esforço, conseguimos achar a cotação de 1 real para cada 4 pesos (câmbio de agosto/2015).

Faça as contas. Por essa cotação, se você comprar mil reais em pesos no câmbio oficial, terá 2.260 mil pesos. No paralelo seus reais valem 4 mil pesos, uma diferença de quase 50%! E dá para achar cotações ainda mais vantajosas. Na realidade, desde que começou a briga da Argentina com os fundos abutres e a negociação da dívida do país, o dólar paralelo (e, por consequência, o real) disparou.

Quando chegamos aqui pela primeira vez, no dia 15 de julho de 2014, 1 dólar valia 11,80 pesos no câmbio alternativo. Pouco mais de um mês depois o valor já era de 13,50 pesos para cada dólar. Hoje, em agosto de 2015, o dólar já vale 14.50. Por conta dessa diferença gritante, a melhor forma de trazer dinheiro para a Argentina é em espécie (esqueça os travel cards), seja reais ou dólares.

O câmbio paralelo ainda vale a pena em 2020?

Durante os anos da era Macri, a restrição do câmbio foi extinta e as pessoas podiam comprar dólar livremente nos bancos e casas de câmbio oficial. Com isso, a diferença entre as duas cotações diminuiu bastante e o comercio ilegal de dinheiros perdeu muito de sua força. Mesmo assim, trocar dinheiro no mercado paralelo continuou vantajoso, apesar da diferença não ser tão grande quanto antes. Mesmo durante o mandato do presidente, ainda era possível encontrar comerciante de dólar, euro, real e outras moedas na Calle Florida.

Com o agravamento da crise econômica argentina, no entanto, em 2019 o governo acabou por impor novas medidas restritivas sobre o controle do mercado de câmbio, para evitar a saída de dinheiro do país. Isso dá um novo fôlego ao mercado negro, e a expectativa é que a diferença entre a cotação paralelas e a oficial volte a disparar. Por isso, trocar dinheiro com o câmbio paralelo da Argentina deve continuar vantajoso nos próximos anos. 

Os macetes do câmbio paralelo na Argentina

Trocar moeda no câmbio paralelo é muito simples. Embora existam cambistas espalhados por toda Buenos Aires (e também em outras cidades do país), a meca dos doleiros é a Calle Florida, uma rua só para pedestres que corta o centro da cidade. O câmbio paralelo é feito tão às claras que, como dito no começo do texto, os cambistas passam o dia inteiro gritando em buscas de clientes, isso na frente de policiais e mesmo a poucos metros da Casa Rosada, sede do poder executivo do país. Portanto, o governo sabe que isso acontece. E nem fecha os olhos para fingir que não viu.

Casa Rosada, Argentina

Quer trocar seus dólares ou reais (aqui explicamos qual a melhor moeda para levar para a Argentina)? Na Florida você pode conferir a melhor cotação do dia, consultado vários doleiros. O preço varia de acordo com a quantidade de dinheiro que você pretende trocar – quanto mais grana, mais barato fica o peso. Além disso, notas grandes, como de 100 dólares, valem mais do que notas pequenas (tipo uma de 10 dólares).

De forma geral, esses doleiros combinam o preço que você vai pagar. Se você topar, ele te leva até uma loja, que pode parecer uma casa de câmbio como outra qualquer ou ser outro tipo loja, como uma agência de viagens que resolveu fazer um bico de casa de câmbio. Trocas de dinheiro na rua mesmo são mais incomuns, até porque a Florida é insuportavelmente lotada de gente (e sofre com casos de furto). Mas acontecem.

De forma geral, o ideal é trocar moeda dentro de lojas, por um motivo básico: você sabe que aquela loja estará ali no dia seguinte. Depois de trocar moeda no câmbio paralelo algumas vezes – e de conversar com vários estrangeiros que já fizeram o mesmo – concluí que há mais medo de receber as tais notas falsas do que notas falsas de fato. Todo mundo sabe que casos assim acontecem, e já até encontrei gente que viveu essa situação, mas com um pouco de cuidado dá para evitar problema.

É como o atendente do nosso hostel disse, quando perguntamos se era seguro trocar dinheiro na Calle Florida: “De forma geral é, afinal esse é o negócio deles. E eles (os cambistas) não vão ferrar com o ganha-pão ao dar notas falsas para alguém. Por isso, o que todo mundo faz é achar um que pareça confiável, trocar alguma moeda e, não havendo problemas, depois trocar mais”.

Por isso a preferência por trocar dentro de lojas – e não no meio da rua. Dessa forma você sabe que aquele cara estará ali amanhã. Mesmo que seja impossível reclamar depois de feita a operação (afinal, não é fornecido recibo e a policia não tem nada a fazer), pelo menos o cambista que está sempre ali, com um endereço fixo, tem uma reputação para manter.

Uma alternativa é também comprar dinheiro com brasileiros que vivem na cidade de trocam real por pesos com as cotações paralelas. Eles aceitam reais em espécie ou transferências de bancos brasileiros, nesse caso com uma cotação um pouco pior. Existem centenas de páginas que oferecem esse serviço no Facebook. Assim como na troca de rua, nem todas eles são confiáveis.

Onde trocar moeda em Buenos Aires

Já trocamos dinheiro em várias casas fixas na Florida e também com pessoas que entregavam em domicílio. Infelizmente, a indicação mais segura que tínhamos fechou as portas. Na dúvida, escolha uma que tem cara de casa de câmbio oficial, como as que existem em qualquer lugar do mundo. Ter uma estrutura física por trás costuma ser sinal de um serviço confiável.

Existem dezenas de lugares que fazem o serviço, muitos deles com lojas físicas na Florida, o que dá um pouco mais de garantia. De qualquer forma, vale a regra básica: se a cotação parecer muito boa, desconfie de golpistas. Para acompanhar a cotação paralela do dia, clique aqui. E nunca deixe de dar uma olhada rápida nas notas. Percebeu que alguma tem cara de falsa? Não confiou? Peça outra, sem drama.

Seguro de viagem para a Argentina

Contratar um seguro de viagem é essencial, ainda que seja para países tão próximos quanto a Argentina e o Uruguai. Por mais que seja perto de casa, o melhor é viajar protegido para não sofrer com os imprevistos.

A boa notícia é que é possível contratar um bom seguro de viagem gastando cerca de 10 reais por dia. Para isso, recomendamos utilizar um buscador como o do Seguros Promo, que compara as principais seguradoras e garante que você encontre o melhor custo-benefício, de acordo com suas necessidade.

Além disso, leitores do blog tem direito a um cupom de desconto exclusivo: 360MERIDIANOS05. Veja algumas das ofertas abaixo e escolha o seu:

Onde ficar em Buenos Aires

Os principais bairros para se hospedar em Buenos Aires são:

Os dois primeiros são para quem quer economizar, ficar perto de tudo e não se incomoda com bagunça. Já Recoleta e Palermo tem hospedagens mais caras, mas são bairros mais nobres e bonitos. Você pode saber mais sobre as regiões no nosso post Onde ficar em Buenos Aires.

Acomodações recomendadas em Buenos Aires:

Encontre hotéis em Buenos Aires

*A Argentina passa por um processo inflacionário de mais de 30% ao ano. Por esse motivo, pode ser que os valores informados aqui não sejam mais aplicados na época da sua visita.
Avalie este post
Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Confira todos os posts escritos por

Deixe seu comentário
110 comments

Olá, Rafael!
Tudo bem? Chegarei em Buenos Aires no próximo sábado, dia 26/09… será que as lojas de câmbio blue funcionam ao sábados?
O que você recomendaria que eu fizesse?
Estou com medo de chegar lá e ficar sem comprar peso por ser fim de semana.
Obrigado!

Resposta

Meus parabéns pelo blog, Rafael!
Tirou muitas dúvidas minhas em relação ao câmbio paralelo, além de me indicar contatos confiáveis para efetuar o câmbio. Sugiro manter sempre atualizado o seu blog, assim como está. Muitas informações valiosas.

Abraço!

Resposta

qual empresa você está usando?

Resposta

Não entendi. Você deposita a grana na conta deles?
fiquei confusa

Resposta

Acho que irei fazer intercâmbio de uma semana para BA, estou muito animado e já pesquisando o lance das cotações. Provável que eu vá em Janeiro de 2016, com uma amiga, será que até lá a cotação do real é mais valorizado (comprando pelo câmbio paralelo é claro)

Resposta

Bom dia Rafael,
Já estive aí em Bs As, no ano passado e fiz meu câmbio sempre pela lojas da Calle Florida. Porém, tive que levar dinheiro “vivo”, em espécie, para fazer as trocas.
Assim, entendo que o risco de assalto é bem menor se deixasse o meu dinheiro na conta corrente e fosse fazendo o câmbio através de transferências bancárias.
Portanto, gostaria saber como funciona o sistema de transferência de dinheiro para a conta das pessoas que fazem câmbio (se é pela internet; qual o custo dessas transferências), pois assim evitaria levar tanto dinheiro em espécie.
Grato

Resposta

Olá, pessoal.

Estou em BAs e troquei real por peso a R$3,80.

Para minha surpresa ao ler os comentários, Eu fiz cambio na Boston Cash na Florida, 142. Box 36
Descendo as escadas, virando a direita.

Informei ao atendente sobre a página no Facebook e ele disse não ser deles. Que uma pessoa está utilizando o nome deles.

De fato é estranho, não tive problemas com as notas e vi que quem trocou pelo FB tbm não teve.

Resposta

Oi muito boa suas considerações sobre o cambio parelelo, estou indo a Buenos Aires pela segunda vez. Confesso que da primeira vez fiquei com medo dos doleiros na rua, mas agora com sua orientação isso me tranquilizou, poderia me informar uma casa de cambio onde você costuma trocar moeda? Estou voltando em dezembro, agradeço sua informação.

Resposta

Olá Rafael, boa noite!
Estou em Buenos Aires há poucos dias, na casa de uma tia. Por incrível que pareça, ela entende menos que nós sobre o próprio dinheiro que consome. Nos deu a ideia de retirar seu dinheiro no banco e trocar pelo nosso Real, já que sempre visita sua família no Brasil. Ou seja, damos real a ela e ela nos dá peso. Sendo assim, sabes me dizer como faço pra trocar com ela? Não sei se vai entender a minha pergunta, realmente estou muito confusa com esseesses valores peso/real, mas quanto esta valendo então a moeda dela? Fica como o valor do câmbio oficial?

Resposta

bom dia Rafael,

Me tira uma dúvida por favor, nunca fui para fora do Brasil e estou um pouco temerosa rs, gostaria de saber se você acha melhor comprar dólar aqui e trocar lá, ou a diferença do real pro dólar não compensa já que está em alta? outra dúvida, não utilizo cartão de crédito, não pretendo levar muito dinheiro por volta de 5mil (o que eu quero é apenas conhecer o zoo de Luhan rs) é melhor sacar no Brasil levar e comprar tudo? tenho medo de não conseguir sacar, ou sacar e cobrar muita taxa… na hora de pagar com debito nas lojas eu consigo pagar no real e ele recebe em real ou o banco converte?

Resposta