Ciclos de sete anos, crises e escolhas da vida

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“Quantos anos você tem?” 27, respondi. “Ui, e como foi o ano da crise para você?” perguntou minha interlocutora. Não era a primeira pessoa ou situação que me atentava para o fato de eu estar passando por uma crise, uma espécie de período de transição. Os 27 anos tem meio fama de tenebrosos, principalmente pelo fato de alguns artistas terem morrido nessa idade: Janis Joplin, Amy Winehouse, Kurt Cobain, Jimi Hendrix, Jim Morrison. E alguns psicólogos dizem que essa é uma idade de questionamentos, dúvidas e pressões sobre fracassos e futuro.

Porém, apesar de admitir que vivi uma crise nos meus 27 anos, não acho que tal crise seja assim tão comum para todas as pessoas. Ou que crises estão delimitadas pela idade. Tem mais a ver com o momento de vida, com o que você construiu até agora e o que vai fazer no futuro. Eu escrevi sobre minha crise algumas vezes aqui no blog, sem antes me dar conta de que ela tinha começado pouco depois do meu aniversário (7 de junho). É uma crise sobre impermanências, sobre decisões e incertezas, sobre quais serão as minhas prioridades daqui para frente.

O que isso tem a ver com os tais ciclos de sete anos? Bom, tem uma corrente meio mística, baseada na antroposofia, que diz que a vida é dividida em ciclos de sete anos. Essa teoria do setênio busca compreender que a vida vem em ciclos, cada um com conhecimentos vindos do ciclo anterior e novos desafios para o seguinte. Aliás, essa coisa de ciclos de sete anos é a premissa de muitas culturas, tal como a judaica, que criou também nesse período a ideia de ano sabático. Vou tirar um parágrafo do post que escrevi sobre o tema uns anos atrás (ainda está super atual, podem ir lá ler):

“O termo é de origem judaica e significa “dia do descanso”. Além do sétimo dia da semana, reservado para o descanso, a cada ciclo de sete anos os judeus ficavam um ano inteiro sem trabalhar. Esse ano sabático servia para que a terra pudesse descansar depois de seis anos de colheita ininterrupta. Todo mundo estava liberado das responsabilidades: até mesmo as dívidas eram perdoadas”

E foi com uma carta de tarot, de brincadeira – logo eu, normalmente bem cética – que descobri sobre o setênio e me dei conta que os meus 27 anos, que em breve terminarão, finalizando assim meu último ciclo de 7 anos, culminam também com grandes mudanças na minha vida, mudanças essas que têm gerado esse tanto de crises sobre decisões e incertezas.

Uma foto publicada por Luíza Antunes (@afluiza) em

Eu nunca tinha lido sobre isso antes, mas achei que fazia sentido na minha vida. Quando fiz 21 anos, em 2009, tinha voltado há pouco tempo do meu primeiro intercâmbio e, céus, como eu me sentia diferente. Era como se eu estivesse começando uma nova fase da vida – pelo visto, estava – e me abrindo para isso. Nos anos seguintes, eu me formei na faculdade, corri atrás do meu sonho de fazer intercâmbio profissional fora do Brasil, fui parar na Índia, dei a volta ao mundo, comecei este blog, me mudei para São Paulo, larguei tudo pelo 360meridianos, vim sozinha fazer mestrado em Portugal

Tenho vivido coisas incríveis, transformadoras e mágicas. Construí coisas que sempre sonhei e tive sucesso no que eu faço. Eu descobri quem eu era enquanto mulher, eu amadureci para me tornar a mulher que eu queria ser. E então, agora que chego ao fim do meu mestrado em Portugal (tomara!) e esse ciclo está se fechando, eu estou de frente a um novo desafio que ainda não sei qual é, mas passei praticamente todos os últimos 12 meses ao redor dessa questão.

Me tranquiliza saber que nos últimos 7 anos eu tive a chance de aprender tanto sobre quem eu era, quais eram meus limites e o que sou capaz de fazer com a minha determinação. A certeza de que eu não quero voltar a ser quem eu era há 7 anos, tantas transformações depois. Aliás, até a nostalgia alheia me assusta. Eu não me arrependo de nada que vivi, coisas boas e ruins, mas de forma alguma gostaria de voltar para minha pele de anos atrás.

Basicamente, era isso o que dizia a tal carta que me fez refletir sobre meu futuro: “Você mudou, não sente mais o que sentia, sente coisas que nunca sentiu. Percebe diferente. Pensa o que nunca pensou que ia pensar, mas sua vida ainda não mudou, e isto traz uma certa agonia. É uma carta que diz: eu mudei, e agora quero mudanças na minha vida

Sim, eu quero essas mudanças e me assusta um pouco ter percebido que a prioridade do meu próximo ciclo deve ser minhas emoções. Nenhuma das minhas escolhas na vida vieram sem um custo e o preço que paguei foi a distância da família e dos amigos, as constantes mudanças de cenários, de pessoas, de sentimentos, que não são fáceis. Geram confusão, desconfiança, peso. E me assusta porque, muitas vezes, deixei minhas emoções e sentimentos em segundo plano. Meio negligenciadas, tomadas como desimportantes. Não digo só de relacionamentos amorosos, veja bem, digo de tudo. Eu nunca tomei uma decisão em que “como eu me sinto sobre isso” veio em primeiro lugar.

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Eu comecei os meus 27 anos, o último ano do meu ciclo, falando sobre o que havia atrás dos sonhos realizados. Eu estava realizando um dos maiores deles: a concretização de uma viagem de 2 meses, sozinha – eu queria que fosse assim – que me levou da Grécia a República Tcheca, e garantiu que eu concluísse o objetivo de visitar 30 países antes dos 30 anos. Isso me fez muito feliz, mas era uma meta muito prática.

Estou a 7 dias de começar o meu tal novo ciclo místico do setênio. E não faço ideia de quais são meus sonhos neste momento, enquanto ainda tenho que finalizar os projetos iniciados no passado. Mas os 28 anos virão, depois os 29, depois os 30… Não me assusta a idade, me assusta um pouco o desconhecido. E o fato de que pela primeira vez na vida não estou fazendo planos. Estou abraçando a incerteza e o que vier dela. Vou decidir de acordo com o que eu sentir sobre isso. E algo me diz que será a decisão certa. Tomara que sim.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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