Alcântara: como ir e o que fazer na vila histórica perto de São Luís

Alcântara, um vilarejo colonial que parou no tempo, fica pertinho de São Luís. Esse é o bate-volta ideal para quem vai passar mais dias na região antes de seguir para os lençóis maranhenses.

Casinhas de estilo português, ruas de pedra, azulejos, construções que exalam os marcos do passado e uma área histórica mais conservada e agradável que a da capital.

Este texto é um guia completo para você conhecer Alcântara: o que fazer, como chegar, quando ir, onde ficar e quais os principais passeios nessa cidade histórica do Maranhão.

Onde fica Alcântara?

Alcântara fica Maranhão. A cidade, que tem fama nacional por conta da base da Agência Espacial Brasileira que fica ali, está separada de São Luís pela Baía de São Marcos.

A distância entre as duas cidades pode ser percorrida em 1h20, em barcos que saem diariamente nos dois sentidos.

O que fazer em Alcântara, Maranhão

Alcântara é o tipo de destino turístico pelo qual eu me apaixono. Pequenina, rústica e charmosa, cheia de histórias para contar.

Mas faltava alguma coisa. Depois de perambular um pouco pelas ruelas, percebemos que não havia nada aberto na cidade e que eram poucas  as pessoas que se aventuravam pelas ruas.

Não sei se é assim em qualquer feriado ou se o fato de ser Sexta-Feira da Paixão contribuiu para deixar a cidade deserta.

Entre os séculos 18 e 19, Alcântara foi uma das cidades mais ricas do Maranhão. Suas ruas já viram barões, escravizados, palacetes e sinhás que se emperiquitavam para a missa.

Teve até uma disputa de gente rica para ver quem construía a casa mais digna de receber Dom Pedro II, que, por sinal, nunca deu as caras por lá.

Depois da abolição da escravatura, a cidade entrou em decadência e tudo o que resta desse passado são as ruínas, as memórias que atravessam gerações e a vida pacata de um interior esquecido.

Mesmo com tudo fechado, deu para perceber que estrutura turística não é o forte da região, um problema que eu também notei no Centro Histórico de São Luís.

Não espere encontrar restaurantes e bares charmosos, lojas de souvenires ou objetos de arte e decoração, a exemplo do que acontece em outros destinos semelhantes no Brasil e no exterior.

Entre os principais atrativos locais, estão as próprias construções históricas. A Igreja do Carmo, considerada a mais bonita e importante da cidade, foi construída em estilo barroco, no século 17, e possui painéis internos formados de azulejos portugueses.

A Igreja do Carmo fica na Rua Grande. Ali do lado, você vai notar algumas ruínas e casarões que pertenciam ao pessoal mais abastado.

As ruínas são dos palacetes que seriam construídos para receber o Imperador e que acabaram causando a discórdia entre dois senhores podres de ricos.

Subindo a Rua Grande, em um descampado próximo dali, está a Matriz de São Matias, uma construção de século 17 que nunca foi concluída, ainda que, no passado, tenha sido usada assim mesmo pelos habitantes para celebrar missas e outros tipos de atividades religiosas.

Quase em frente ao descampado, há uma ruela cheia de história. É a Rua da Amargura, onde costumavam viver alguns senhores bem de vida. Ali também ficam as ruínas do Palácio Negro, local onde os escravizados eram comercializados.

Não se sabe ao certo a origem do nome da rua. Alguns dizem que é porque esse era o caminho que os escravizados faziam antes dos castigos corporais.

Outros afirmam que é porque era ali que as mães davam adeus aos filhos que iam estudar em Lisboa.

Descendo a Ladeira do Jacaré em direção ao Porto, você vai encontrar também a pequena e bucólica Igreja do Desterro. É uma igrejinha branca, com um sino na porta, localizada em uma rua simpática.

Diz a lenda que quem fizer um pedido e tocar o sino três vezes terá seu desejo realizado. Esse é um ótimo lugar pra tirar fotos, pois há uma boa vista para a Ilha do Livramento.

A lista de atrações de Alcântara também conta com o Museu Casa Histórica de Alcântara, com um acervo simples e pequeno, e, claro, várias praias: Itatinga, Baronesa e Ilha do Livramento. 

Mas valeu a pena o esforço de chegar até lá, mesmo encontrando tudo fechado? O grande atrativo de cidadezinhas como essa é mesmo perambular pelas ruas, fotografar as ruelas, ver as ruínas e a vida local. Para isso não existe dia ruim.

Claro, se você puder evitar ir em um feriado, melhor. Não era nosso caso. E eu ainda acredito que a melhor ocasião é aquela que você tem.

O Centro de Lançamento de Alcântara: como é a base espacial

Se o nome Alcântara não te é estranho, pode ser porque você já ouviu sobre o lugar nos noticiários de ciência e tecnologia. É que essa cidadezinha que mais parece ter saído do capítulo “Brasil Colônia” do seu livro de história serve de base de lançamento de foguetes do Programa Espacial Brasileiro.

O lugar foi escolhido por sua posição privilegiada, a apenas dois graus da linha do Equador. Essa localização é ideal para atividades desse tipo, pois gera uma economia de até 40% no combustível.

A base não está aberta para visitação, mas você pode ter contato com essa história e conhecer melhor o Programa Espacial Brasileiro na Casa da Cultura Aeroespacial, na praça Nossa Senhora do Rosário.

Ali, estão expostas maquetes e protótipos dos foguetes. A entrada é gratuita.

Quando ir a Alcântara

A estação seca ocorre entre junho e dezembro. Em junho, inclusive, Alcântara costuma estar lotada, por conta das festas juninas. A Festa do Divino, em maio, é outro ponto alto na cidade. 

Dito isso, Alcântara pode ser visitada o ano inteiro e talvez seja mais importante estudar qual a melhor época para conhecer os Lençóis Maranhenses, esse sim um destino muito impactado pelo clima – e que costuma ser combinado com São Luís e Alcântara.

Como chegar em Alcântara

No meio de um feriado prolongado e com a cidade vazia, não havia forma fácil de chegar até o outro lado da Baía de São Marcos, onde fica o vilarejo. Em geral, o acesso se dá por barcos ou catamarãs que saem do Cais Praia Grande, no Centro Histórico de São Luís, pertinho do terminal de ônibus.

Os horários mudam de acordo com a maré, mas, em geral, há um catamarã que deixa a capital pela manhã (entre 7h e 10h) e um que retorna de Alcântara por volta das 16h. Nesse dia fatídico, nenhum barco ia fazer o trajeto.

“Vocês podem ir de carro, pegar a balsa e na volta pegar o catamarã que sai de lá às quatro”, sugeriu um senhor que trabalhava por ali. Foi ele quem nos informou desse meio de transporte alternativo.

“Pra voltar tem?”

“Tem. Pra voltar sempre tem, ficar lá vocês não ficam.”

Não preciso nem dizer que não tinha catamarã para voltar coisa nenhuma, né?

Ainda que fosse verdade e nossa volta estivesse garantida, nós não tínhamos carro para chegar até o Terminal da Ponta da Espera, local de saída das balsas, a cerca de 20 minutos de estrada dali.

Por sorte, um casal de viajantes que estava com o mesmo problema nos ofereceu carona. O problema é que todo mundo na cidade teve a mesma ideia e, ao chegarmos ao terminal de balsas, enfrentamos mais uma hora de fila debaixo do sol antes de embarcar.

Assim, a viagem a Alcântara, que deveria ter durado apenas 1h20 e alguns balanços, nos tomou três horas. Quando desembarcamos do outro lado da baía, no Porto Cujupe, foram mais 50 minutos de estrada até, finalmente, vislumbrarmos as simpáticas casinhas da cidade.

Como os horários dos barcos e catamarãs podem variar a cada dia, a melhor forma de planejar sua visita é ligando para o Terminal Hidroviário (98 3232 0692) no dia anterior ou antes de sair de casa. Ainda assim, programe-se para chegar cedo no Cais Praia Grande. 

Quem vai por esse meio desembarca no Porto do Jacaré, pertinho do centro da cidade. Ali mesmo, é possível contratar guias, que aguardam o desembarque dos turistas, para um tour guiado por Alcântara. A travessia deve sair em torno de R$25.

Já se você precisar fazer como eu e ir de balsa, partindo do Terminal Ponta da Espera até Cujupe, pode consultar preços e horários de saída aqui.

Vale a pena se hospedar em Alcântara?

A não ser em determinadas épocas do ano, como a Festa do Divino, Alcântara funciona melhor no esquema bate-volta a partir de São Luís.

Também pode valer se hospedar por lá se você faz uma longa viagem pelo Maranhão ou se tem interesse (e autorização) para conhecer a fundo o Centro Espacial de Alcântara.

Onde ficar em Alcântara

Não há muitos hotéis em Alcântara: o Booking lista apenas um, o Gengibre, que fica num casarão em pleno centro histórico. Funciona no esquema hostel (simples, rústico, sem muito conforto) e tem diárias a R$ 150.

Outra alternativa é buscar fora dos mecanismos de busca: um boca a boca em Alcântara pode indicar outras opções de hospedagens domiciliares.

Dicas de hotéis em São Luís

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na newsletter Migraciones e no Youtube. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Você encontra tudo isso e mais um pouco no meu Site Oficial.

Ver Comentários

  • Natália, a Igreja de São Matias foi a pique com um incêndio, conforme a palavra de um guia em agosto passado, quando lá estive. Sinceramente não sei da veracidade. Mas, a cidade é encantadora e cheia de mistérios.

  • Fui nesse fim de semana em Alcântara. Simplismente amei!!!! Na verdade ja conhecia rsrs mas acredito que não custava visitar novamente. Agradeço aos comentários da Natalia, realmente foi de grande utilidade. Gostaria de falar duas coisas, apenas atualizar o valor da passagem, agora custa 15,00 e falar do restaurante da Eugênia que almocei. O restaurante fica perto do cais, assim que vc desce do barco ja da pra ver o restaurante, lá você pode beber suco de bacuri, murici ou cupuaçu que são típicos da região, mas tem de maracujá e acerola rsrs. Depois que conheci a cidade, almocei lá, paguei por uma peixada "pescada maranhense" 75,00 para 5 pessoas, eramos em 4 comemos muito e ainda sobrou. Fomos atendido pela figura do Álvares, um amor de pessoa. E pela culpa do Álvaro, passamos a noite em Alcântara. Isso pelo "atendimento". Fomos muito bem recebidos e no domingo era aniversário da Eugênia "dona do restaurante" fomos convidados pra festa de aniversário dela rsr, regado a churrasco, frango, camarão. ... Fomos tratados como pessoas da família. Gente, enfim.... passaria a noite raagando seda pra Eugênia, se vc for lá, mande um abraço. Lídia do Sebrae-SP. Abraços

    • Lídia, só pelo seu belo "post", irei com um amigo, visitar o restaurante da D. Eugênia e sim, daremos um abraço nela, por você!
      Thanks!
      William Felipe, Prof. de Inglês, Natal/RN>

    • Lídia, obrigada por contar sua experiência e passar os valores atualizados. São de grande ajuda.

      Abraços!

  • Dicas muito boas e valiosas! As imagens são lindas...Parabéns pelo blog!
    Moro em São José de Ribamar, município da grande São Luís. Porém, nunca fui a Alcântara. Nosso MA é riquíssimo em beleza, em história, no seu povo batalhador!

  • Se ainda estiver na ilha e quiser alguma ajuda é só avisar ... aproveito e quero um autógrafo/selfie. . Amo o trabalho de vcs!

    • Vixe, Cris! Essa viagem foi no início de maio! Já estamos longe daí há um tempinho. Uma pena!

      Abraços

  • Kkkkkkk sou de são luis e viajava muito pelo ferry, já que trabalhava no interior do estado... Já ajudei muito turista perdido querendo ir para Alcântara! !! Gringos então. . Totalmente perdidos, com português precário e raros os que falam inglês e que podem ajudar. .. mas vale a pena!

    • hahah mas me conta: você perdia 3 horas para atravessar todo dia? Ou é porque era feriado que a fila ficou enorme?

      Abraços!

      • Moro em São Luís e viajo muito para essa região pelo ferry boat. Vcs devem ter demorado isso tudo pq estavam na fila de espera do transporte. Essa fila é para quem não reservou a vaga comprando a passagem com antecedência e por isso nos feriados fica enorme.

      • Na verdade era toda segunda e toda sexta... trabalhava no Interior e ia toda semana... sempre com atrasos nas viagens, mas ultimamente o procon ma tá dando pressão e o serviço tem melhorado, pelo menos foi o que me falaram. Pelo menos o visual é incrível,principalmente ao amanhecer e entardecer, dava pra relaxar antes de pegar a estrada ou chegar em casa depois da semana cheia...quanto a fila é sempre grande, nos feriados fica impossível, pelo fato de São Luís ser uma ilha(coisa que quase ninguém do Brasil sabe), só existe 3 saídas, uma ponte, avião ou o ferryboat!

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Publicado por
Natália Becattini

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