Um passeio pelos bastidores da Torre Eiffel

“Na época da construção, artistas, arquitetos e escritores diziam que a torre era tão feia que nem os norte-americanos gostariam dela”, explicou o guia. A torre em questão é a mais famosa do mundo, cartão-postal soberano de Paris. Sim, houve quem tenha feito de tudo para que ela não fosse colocada lá. Mais: gente que lutou para que, uma vez erguida, ela fosse desmanchada. Hoje, é impossível pensar na França (e até no mundo) sem a Torre Eiffel.

Monumento pago mais visitado do planeta, muitos turistas diriam que subir na Torre Eiffel é quase um clichê. Só que o lugar esconde segredos que muitos dos 250 milhões de visitantes que já passaram por lá sequer suspeitam. Para tentar conhecer um pouco mais da história desse símbolo de Paris, resolvi dedicar minha segunda passagem pela cidade para fazer um tour pelos bastidores da Torre Eiffel. Agora é hora de te contar como é a visita guiada por partes da torre que pouca gente conhece.

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Um pouco de história

Depois de agendar o tour pela internet semanas antes, cheguei ao local um pouco antes da hora marcada. O ponto de encontro com o guia era debaixo de um dos pilares de sustentação da torre – aquele que tem uma estátua de Gustave Eiffel, dono da empresa que projetou a construção. “Quantos metros vocês acham que a torre tem?”, perguntou o guia. Ele mesmo respondeu: “Ela foi projetada com 300 metros, sendo duas vezes maior do que qualquer estrutura feita pelo homem na época. Décadas mais tarde foram acrescentados outros 26 metros, de antenas de rádio”, explicou.

A Torre Eiffel foi construída para a Exposição Universal de 1889, evento internacional que ocorreu em Paris. Este era também um ano historicamente importante para o país, que comemorava o centenário da revolução francesa. Para você entender melhor, olhe as duas imagens abaixo. A Torre funcionava como porta de entrada para a Exposição, que acontecia em prédios que hoje não existem mais.

Imagem e foto abaixo mostram prédios da Exposição Universal

Foto:  Alphonse Liébert

Apesar da Torre levar o nome de Gustave Eiffel, não foi ele quem projetou o monumento, mas três de seus funcionários. Os engenheiros Maurice Koechlin, Émile Nouguier e Stephen Sauvestre foram os responsáveis pelo projeto, logo adotado por Gustave Eiffel. O projeto foi apresentado ao governo francês anos antes da Exposição Universal. Foi aprovado, apesar das reclamações de parte da população. Só que o governo não liberou todo o dinheiro necessário para erguer a torre. Para resolver o problema, Eiffel (o homem, não o monumento) pegou empréstimos e bancou o restante do próprio bolso. Ele teria os próximos 20 anos para tentar recuperar o investimento. “Provavelmente foi o melhor negócio da história do turismo. Em seis meses  ele já tinha conseguido todo o dinheiro de volta”, disse o guia.

Veja também: Qual a melhor região para ficar hospedado em Paris?

Lembra que a galera artística odiava a torre? Alguns deles levaram a sério esse ódio e fizeram de tudo para que o projeto não saísse do papel. Até mesmo um manifesto num jornal parisiense. “Nós, escritores, pintores, escultores, arquitetos e amantes devotados à beleza de Paris, até hoje intacta, fazemos protesto com todas as nossas forças e indignação, em nome do bom gosto francês desvalorizado, da arte e da história francesa agora sob ataque, contra a ereção, no coração de nossa capital, da Torre Eiffel, que é inútil e monstruosa, que a maldade pública, muitas vezes cheia de bom senso e espírito de justiça, já batizou de Torre de Babel”, bradaram eles.

Deu para perceber que os ânimos da alta sociedade não eram dos melhores. Mesmo assim, a Torre foi erguida. Um contrato garantiu que ela ficaria ali por 20 anos, até 1909, quando seria desmontada e o Campo de Marte, local onde ela está, devolvido ao exército. Para tentar impedir que sua torre fosse desfeita, Gustave Eiffel sugeriu que ela começasse a ser usada como antena de rádio e para outros objetivos científicos. Deu certo. A função comunicativa da torre chegou a ser importante até mesmo na Primeira Guerra Mundial, garantindo vitórias para os franceses e seus aliados. Segundo a Wikipédia, foi também esse papel que impediu que Hitler mandasse desmontar a Torre, quando Paris foi conquistada pelos nazistas.

O Tour

Tudo isso é contado pela guia durante cerca de uma hora, em diferentes lugares da Torre. A primeira parada é num bunker que existe debaixo do Campo de Marte. O nome do local, uma homenagem ao deus romano da guerra, lembra que toda a área pertencia ao exército. Dessa forma, era natural que um bunker e diversos túneis funcionassem ali.

Uma porta metálica a poucos metros da Torre esconde a entrada do bunker. Junto com o guia, descemos as escadas que levam ao subsolo do Campo de Marte. “Desde a década de 70 que esse lugar não é mais usado pelo exército. Hoje, só os funcionários da Torre passam por aqui, usam esse lugar para comer e trocar de roupa”, explicou o guia. Nas paredes, fotos relembram as diferentes fases da construção da torre. Também momentos importantes, como a transmissão da cerimônia de coroação da Rainha Elizabeth II, o primeiro grande evento internacional transmitido pela televisão, em 1953. Durante anos, o bunker foi usado como estúdio de TV. A coroação da Rainha britânica foi transmitida para a França a partir da Torre Eiffel.

Um dos corredores do Bunker

Depois de visitar o bunker, o tour segue para a Torre. Todos os participantes recebem um ingresso para subir de elevador até o segundo andar. E isso sem ter que enfrentar a fila gigantesca que se forma quase que diariamente por ali. Só que o destino não é essa parte da torre, visitada por muitos dos turistas que passam por lá.

O bunker fica debaixo do Campo de Marte. O quadrado no centro é o antigo estúdio de TV.

O guia nos levou até um local de entrada restrita. Subimos escadas estreitas e passamos pelo restaurante Jules Verne, onde uma refeição completa pode custar mais do que todo orçamento de um viajante ecônomico para uma semana em Paris. A vista do terraço do restaurante, por outro lado, é reservada apenas para quem agenda esse tour. A vantagem é não ter concorrência na hora de tirar fotos de Paris.

Além de tudo isso, o tour pelos bastidores da Torre Eiffel (ou Behind the scenes of the Eiffel Tower, em inglês) também mostra as engrenagens dos elevadores e o guia conta um pouco sobre o funcionamento das máquinas.

E se você não percebeu ainda, sim, existe um tour organizado, que dura 1h30 e está disponível para pequenos grupos (no máximo 20 pessoas), em inglês e francês. O ingresso é vendido pela internet e custa 22,90 euros por pessoa.

Uma boa opção, principalmente se você já subiu na Torre do jeito tradicional, tipo eu, ou quer conhecer um pouco mais da história e dos segredos do maior cartão-postal de Paris. Sem contar que a vista lá de cima sempre vale a pena.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

  • Que legal ver esse post! No domingo fui comprar entradas para a torre, mas pelo site oficial nao havia mais horario disponivel. Daí encontrei esse tour ao pesquisar na net, pela Cultival. A intençao era evitar possiveis filas. Mesmo que o voucher informa que eles nao tem preferencia nas filas, em todos os foruns que li a respeito, as pessoas disseram que mao tiveram que ficar na fila. Sem contar que parece ser muito interessante!
    Mas foi muio bom ler seu post e ter uma ideia melhor se como é. :)

    • Oi, Priscilla.

      Realmente não tem preferência para a fila de entrada na torre, mas você não precisa enfrentar a fila de comprar o ingresso, que é a maior e mais demorada. Isso já torna todo o processo bem rápido.

      Abraço e obrigado pelo comentário.

  • Hahaha eu fiz esse tour em agosto de 2012, Les Coullisses de la Tour Eiffel, algo assim, mas na verdade acho que a parte do bunker é meio tapeação, praticamente só partes vazias, como a da sua foto, o resto bem legal, o maquinário dos elevadores, subir no teto do restaurante etc.

    • Oi, Gabriela.

      Verdade, não tem nada de muito especial pra ver no bunker não. De qualquer forma, acho que vale pela história e curiosidade.

      Obrigado pelo comentário!

      Abraço!

  • Rafael, impressionante esse passeio! Eu mesmo estive na Torre, fui até o topo, mas não conhecia esse "behind the secenes".
    O que posso dizer, no meu caso que trabalhei com Certificação Aeroespacial, achei interessante uma informação no topo da torre onde diz que ela foi usada com ponto de lançamento de corpo de prova para ensaios em voo.
    Muito obrigado pela sua dica!

    • Oi, Sérgio.

      O passeio é bem interessante mesmo, principalmente para quem se interessa pela história da Torre. São muitas curiosidades, coisas que muita gente jamais imaginaria. Mesmo assim, ainda tem informações que eles não falam. Tipo essa, que você disse aqui. Obrigado por compartilhar! Aprendi mais uma. hehehe

      Abraço!

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Publicado por
Rafael Sette Câmara

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