Perdi as contas de quantos degraus tive que subir até o topo do brinquedo. Disseram-me que eu estava a 25 metros do chão, mas parecia mais. Lá do alto, eu precisava escolher de qual dos tobogãs coloridos do Beach Park eu ia me jogar. A única certeza é que no Arre Doidus, a tal da “Cápsula”, eu não ia. Ainda mais depois de ver de perto a expressão de pavor nos rostos que desapareciam na janelinha quando o chão se abria. Os dois jornalistas que estavam comigo resolveram encarar a Cápsula. Eu amarelei. Ao descer as escadas, encontrei várias crianças corajosas subindo e me senti um pouquinho humilhado.
Mas superei. Afinal, eu já tinha reconhecido anos atrás qual é meu limite para atrações radicais: não pratico. Simplesmente não gosto de coisas que caem, que pulam, que viram de cabeça pra baixo. Não vejo graça na sensação de ter o estômago saindo pela garganta, e menos ainda no que às vezes acontece depois com o conteúdo do estômago. Prefiro não ter meu frágil corpo arremessado de um lado para o outro, segurado por um elástico, uma cordinha, uma trava de segurança, que seja. Velocidade não me agrada, altura não me encanta, água não é meu elemento favorito da natureza. É por isso que parques temáticos não são a minha praia (aliás, praia também não é minha praia, mas isso é assunto para outro post).
No entanto, lá estava eu, no Beach Park em Aquiraz, a 17 km de Fortaleza, numa viagem de trabalho. Trata-se de um dos maiores complexos turísticos do Brasil, com atrações famosíssimas e mais de um milhão de visitantes por ano (em 2017, foi o quarto parque aquático mais visitado do mundo). Algum brinquedo eu teria que aproveitar, para fazer valer o ingresso e para eu ter o que escrever aqui. De alguma forma, eu até acho importante superar os meus medos. Então, pensei em saídas para aproveitar melhor o passeio – e agora vou compartilhar.
Acidentes acontecem. Eu sei que, para quem tem medo de avião, o fato de as estatísticas provarem que o índice de acidentes é baixíssimo não deixa a experiência de voar menos terrível. Eu visitei o Beach Park semanas antes de um acidente que teve uma vítima fatal, em julho de 2018. É bem provável que chegaria com muito mais medo caso tivesse ido depois do ocorrido. Mas a única arma que a gente tem contra coisas que fogem ao nosso controle é a informação. E não estou falando só de estatísticas, mas de estratégias de segurança. Se o monitor de um brinquedo diz que é para você deslizar pelo tobogã de braços cruzados, mantenha os braços cruzados e não abra por nada. Se um brinquedo tem limite de altura ou de peso, evite aqueles que não são adequados para o seu corpo. É possível que as informações não sejam tão óbvias, ou que não sejam repassadas para você com tanto cuidado. Então, leia as placas com atenção e não entre desavisado em nenhum brinquedo, pois o perigo é real.
Arrepius: vários toboáguas, várias maneiras de descer
Mas não precisa ficar o tempo todo paranóico. Afinal, é um lugar de diversão. Se um brinquedo parece perigoso demais, é bem possível que tenha um logo do lado que exige menos coragem. No Beach Park é assim. Eu não topei o Arre Doidus, mas poderia ter descido um dos outros toboáguas da mesma plataforma. O único motivo pelo qual não fiz isso foi a falta de companhia. E é aí que está o ponto chave: busque fazer tudo acompanhado.
Não tem amigos que topem ir nos brinquedos menos radicais? Faça amizades na fila. Provavelmente está todo mundo ali meio tenso mesmo – umas pessoas só são melhores em esconder. Uma piadinha para quebrar o gelo já vai fazer com que a pessoa deixe que você embarque na mesma boia que ela.
Talvez você já tenha ouvido falar no Insano, um toboágua que fica a 41 metros de altura lá no Beach Park. Nesse brinquedo, a gente passa dos 100 km/h ao cair. Quer dizer, “a gente” não, porque eu nem me dei o trabalho de subir os sei-lá-quantos lances de escada. Isso porque o Insano é individual. E eu sabia que não teria coragem de me jogar lá de cima sozinho. Mas no Ramubrinká, um emaranhado de sete toboáguas coloridos a 24 metros de altura, eu desci de boa, junto com uma colega.
Insano: sem condições (mas cada um com seu gosto, né?). Crédito: Beach Park/Wikimedia Commons/CC BY-SA 4.0
Vai por mim. O bate-papo com outras pessoas vai fazer o tempo passar mais depressa no momento da fila, o que alivia bastante a tensão. Uma pessoa vai dando força para a outra. E, depois que a brincadeira começar, é bem possível que as risadas e os gritos de diversão e zueira coletiva sejam mais predominantes do que o medo na sua cabeça. Você ainda vai sentir o frio na barriga, mas logo vai passar. E o que era para ser uma memória ruim se transformará numa memória legal que você vai compartilhar com seus amigos.
Foi isso que me convenceu a ir no Vaikuntudo, um toboágua em que a boia de quatro lugares desemboca num funil gigante antes de passar por outro tubo. Ele chega a 25 metros, a mesma altura do Arre Doidus. Mas me pareceu uma experiência bem menos estressante já que eu tinha outras três pessoas com quem compartilhar. E olha que essa atração está marcada como “radical” na escala do próprio parque, junto com o Insano.
Aliás, leve a sério essa classificação. O Atlantis, um tobogã com várias lombadas, tem quase 18 metros de altura, mas é uma atração “moderada”. Agora, se a sua tolerância para atividades radicais é realmente muito baixa, foque nas atrações marcadas como “família”. E vai na fé, sem vergonha de dividir lugar com crianças. Aproveite o Correnteza (um circuito relaxante de bóia) e o Aquabismo (um tobogã coletivo com uma inclinação bem suave). Se pintar o pavor, fique um pouquinho na sauna, ou dá uma chegada na praia Porto das Dunas, que fica logo na entrada do parque (é só avisar na entrada que você pretende voltar).
Enquanto os corajosos se divertem, sempre dá para você ficar de boa na lagoa
Para não ficar de um lado para o outro feito barata tonta, estude o mapa do parque e faça um roteirinho das coisas que pretende fazer. Intercalar brinquedos radicais com outros mais leves e relaxantes vai fazer você aproveitar melhor e sem estresse. Minhas sugestões para um dia no Beach Park são, em ordem:
Vaikuntudo: esse funilzão será a coisa mais radical que você fará no Beach Park. Crédito: Reprodução/Beach Park.
A gente fala “Beach Park”, mas esse é, na verdade, o nome do complexo todo, que inclui hotéis e restaurantes em Aquiraz. Dá pra passar as férias inteiras curtindo o que o lugar tem de mais legal, tem várias opções de pacotes diferentes disponíveis. Ou você pode se hospedar em outro lugar e ir só ao parque mesmo.
Não é uma diversão baratinha. O ingresso adulto custa R$ 225, o infantil (para crianças de até 12 anos) sai por R$ 215. O passaporte para 3 dias é R$ 350 e, para 7 dias, R$ 380. Além do ingresso, quem deseja mais conforto pode alugar uma cabana no interior do parque, onde é tranquilo deixar os pertences. Uma cabana com direito a toalhas, água e TV liberada sai a partir de R$ 400 para a família toda, mais o valor dos ingressos individuais.
Dá para comprar tudo isso pelo site, onde também tem um calendário que mostra os dias em que o parque estará fechado. Quando chove forte, vários brinquedos fecham, então, fique atento. Nos outros dias, o parque está aberto das 11h às 17h.
Poucas regiões do mundo combinam tanto com uma viagem de carro como a Toscana. Habitada…
Kashan foi uma das cidades que mais me surpreendeu no Irã. Pequena, charmosa e repleta…
Fussen é um bate-volta comum para quem visita Munique e uma parada estratégica para quem…
Se você gosta de história e curte cidades com muitas atrações de graça, você vai…
Alguns lugares que a gente visita parecem nem pertencer a esse planeta. Foi bem assim…
O que fazer em Hong Kong? A metrópole asiática é um daqueles umbigos do mundo…