Biribiri, MG: cachoeiras numa vila-fantasma em Diamantina

Trinta casinhas brancas no fim da estrada de terra. Essa é Biribiri, MG, nos arredores de Diamantina. Uma vila-fantasma, com apenas um punhado de moradores, e que já teve escola, armazém, convento, barbearia, igreja e chegou a gerar sua própria luz elétrica.

Perdida no meio do Parque Estadual do Biribiri, em seu auge a vila foi casa para cerca de 600 pessoas. É que entre 1876 e 1972 funcionou ali a Estamparia S.A., uma das primeiras indústrias têxteis de Minas Gerais.

Biribiri está tão perto do centro de Diamantina que é até difícil entender como a vila conseguiu permanecer tanto tempo perdida no mundo. São menos de 15 quilômetros – e no meio do caminho você ainda passa por duas cachoeiras do Parque Estadual. Foram as quedas d’água, inclusive, que levaram ao nascimento da fábrica.

Em meados do século 19, o Bispo de Diamantina, Dom João Antonio Felício dos Santos, teve a ideia de abrir uma fábrica de tecidos num terreno da família. A localização era estratégica, já que seria possível usar a cachoeira como fonte de energia para a indústria. Como 15 quilômetros, em 1870, representavam uma distância muito maior do que no século 21, foi necessário criar uma vila de apoio para os funcionários. Assim nasceu Biribiri.

Vila de Biribiri e a Serra do Espinhaço

A chegada dos equipamentos envolveu uma longa viagem até a cachoeira. A preciosa carga embarcou em Massachussets, nos Estados Unidos, e desembarcou no porto do Rio de Janeiro. De lá, seguiu de trem até Juiz de Fora, pelos trilhos criados pelo Imperador. Mas ainda faltava muita terra até Biribiri – ou melhor, muita água.

Tudo foi colocado em carroças e levado até o Rio das Velhas. Ali a carroça virou jangada e a carga desceu rios sem fim, até, finalmente, chegar nos arredores de Diamantina. E para alcançar Biribiri foram outros 15 quilômetros por estradas de terra, caminhos que tinham sido abertos somente para que aquela carga pudesse, enfim, estar em casa.

A princípio, a Estamparia S.A. teve como funcionárias as ex-internas do Colégio Nossa Senhora das Dores, que funcionava na Casa da Glória, em Diamantina. Com o passar do tempo a fábrica cresceu e teve outros donos – três famílias diferentes chegaram a gerenciar o local. Após o encerramento das atividades, já na década de 1970, a vila que era fábrica virou cidade-fantasma.

Alguns moradores permaneceram na vila, que aos poucos se tornou um ponto turístico e destino de final de semana para quem é de Diamantina ou visita a cidade. Quando o século 21 chegou, Biribiri tinha apenas quatro moradores, mas muitos visitantes de fim de semana.

A vila de Biribiri é tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais e já foi locação para filmes e novelas, como Chica da Silva, além de ter sido, junto com Diamantina, a cidade que inspirou o livro Minha Vida de Menina, da escritora Helena Morley, pseudônimo de Alice Caldeira Brant.

Em 2013, a fábrica, que ainda era a proprietária da vila, começou a vender as 33 casas que estavam vazias para gente interessada em morar ali. Uma pousada também surgiu no local, que conta ainda com dois restaurantes: o do Raimundo sem Braço e o do Adílson.

Biribiri

O que fazer em Biribiri, MG, em Diamantina: do parque à vila

Se o tempo estiver bom, deixe cedo o hotel em Diamantina e siga para o Parque. Apenas cuidado com o GPS, que costuma indicar uma rota errada. Aconteceu com a gente e, como garantiram dois policiais rodoviários para quem pedimos informação, acontece com muita gente.

A dica é simples: se o caminho indicado pelo GPS incluir rodovias que passam por terrenos particulares, pode saber que a rota está errada. Na dúvida, peça ajuda para moradores locais ou simplesmente siga as placas.

Em menos de vinte minutos você vai cruzar a portaria do parque, controlada pelo Instituto Estadual de Florestas. Não há taxa, mas é importante respeitar as regras – não deixe lixo, não faça churrascos ou fogueiras e proteja o meio ambiente. O parque funciona todos os dias, das 8h até às 18h.

Cachoeira da Sentinela

A estrada é de terra, mas bem tranquila, e há áreas de estacionamento próximas às cachoeiras – ou seja, a trilha para chegar na queda d’água é curtíssima. O parque tem 18 mil hectares e serve de santuário para várias espécies típicas do cerrado. Além das cachoeiras, chama atenção a beleza da Serra do Espinhaço. O Caminho dos Escravos, uma trilha da época da Corrida do Ouro, também passa por dentro do parque.

Da portaria até a primeira cachoeira, a da Sentinela, são pouco mais de cinco quilômetros. A trilha começa na saída do estacionamento e rapidamente se divide em duas – você pode ir na parte de baixo da queda d’água ou na superior, que tem um lago maior e onde a vista é o ponto alto.

Cachoeira dos Cristais

Depois do banho, volte para o carro e siga por mais 10 minutos. Você chegará a uma bifurcação – para um lado fica a Cachoeira dos Cristais, para o outro a Vila do Biribiri. Optamos por seguir primeiro para a cachoeira, que também é muito bonita. Perto da hora do almoço, voltamos, pegamos a bifurcação no outro sentido e em 10 minutos vimos a Vila de Birbiri aparecer na nossa frente.

Siga as placas até o estacionamento para turistas. Além de caminhar pelas casinhas do século 19, descobrir os segredos da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, de 1876 e testemunhar a beleza da Serra do Espinhaço, o grande programa por ali é comer – e bem. Os dois restaurantes servem comida mineira e lotam nos finais de semana.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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