O carnaval no Rio de Janeiro é o mais famoso do mundo. Tanto é que todos os anos milhares de estrangeiros e brasileiros desembarcam na cidade maravilhosa para curtir um samba e cair na folia. Apesar dos hotéis mais caros e da cidade cheia, passar o carnaval no Rio de Janeiro vale a pena e é muito divertido. Segundo a Riotur, em 2019, 1,5 milhão de turistas foram conferir a festa na Cidade Maravilhosa. Todas elas devidamente fantasiadas, claro.
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A folia no Rio começa bem antes do calendário dizer que é carnaval. Na verdade, é possível participar de ensaios das Escolas de Samba durante quase o ano inteiro, se você quiser ter um gostinho fora de época. Essa também é uma ótima oportunidade para quem até gosta da bagunça, mas prefere fugir de multidões muito intensas. Nos dois fins de semana que antecedem o evento, blocos de rua já começam o esquenta com o pré-carnaval.
Essa é uma faceta relativamente nova do carnaval na cidade. Antes, a festa se restringia ao que a gente vê na TV: os desfiles grandiosos das escolas de samba, e alguns blocos de rua mais tradicionais. Seguindo uma tendência que ocorreu em diversas capitais do país, o carnaval de rua no Rio de Janeiro explodiu nos últimos 10, 15 anos.
O lado bom disso é que agora tem folia para todos os gostos: para quem quer ver desfile da arquibancada, para quem quer desfilar na Sapucaí, para quem gosta do carnaval do povão em blocos enormes e até para quem ama uma aglomeração, pero no mucho (sim, é possível achar blocos menores e mais família no Rio de Janeiro).
Os bloquinhos de rua são a democratização do carnaval. Ao contrário do sambódromo, não é preciso pagar para participar (só a sua bebida). Vai quem quer, e se não gostar de um bloco é só ir embora e curtir outro. Eles começam a lotar as ruas semanas antes do carnaval. Não tem hora do dia ou da noite que você possa sair sem encontrar gente fantasiada. Cada ano, a cidade recebe mais de 500 blocos oficiais, de acordo com a prefeitura.
Se você quer participar da festa mas prefere programas mais tranquilos, a grande dica é acordar cedo: é que os melhores blocos começam à 7h ou 8h da manhã e nessa hora não são muitas pessoas que se dispõem a estar fantasiadas na rua, com uma latinha em mãos. Pode parecer estranho começar a beber nessa hora, mas carnaval é carnaval.
O site do guia oficial do Rio de Janeiro reúne todos os blocos e é possível filtra-los por dia e bairro. Tem o blog de um pessoal carioca, o Diário do Rio, em que eles fazem uma avaliação de alguns bloquinhos. Achei muito útil.
Para garantir que a festa vai ser boa, vale a pena se ligar em alguns truques. Bloco muito cheio costuma ser só para os fortes. Experimente passar, mesmo que sem querer, pelo maior bloco do mundo, o “Cordão da Bola Preta”, que reúne 1,5 milhão de pessoas e você vai ver o verdadeiro significado de multidão.
Para quem não curte tanta muvuca e prefere algo mais tranquilo, vale a pena evitar os blocos do centro e Ipanema. Nos dias de festa fica quase impossível pegar o metrô pra esses lados. Para te ajudar a escolher, o site da Wikirio estima quantas pessoas devem comparecer em cada bloco.
Há exceções: o bloco “Sargento Pimenta” reuniu 150 mil pessoas no aterro no Flamengo no ano em que eu fui. Apesar dessa multidão, a folia acontece num amplo espaço aberto e o bloco fica parado em um palco, por isso dá pra escolher um canto agradável e curtir a festa dali.
Os desfiles das Escolas de Samba acontecem, todo mundo sabe, no Sambódromo, também conhecido como a Marquês de Sapucaí. São 12 escolas do grupo especial. Seis desfilam no domingo e seis na segunda feira, das 21h às 3h50.
Além disso, sexta e sábado 19 escolas de samba do chamado grupo de ouro (junção dos antigos grupos de acesso A e B) também desfilam. Por fim, no sábado depois do carnaval, as cinco escolas com melhor classificação, incluindo a campeã (decidida na quarta-feira de cinzas), fazem o desfile das campeãs.
Em função da pandemia, ainda não há certeza de que os desfiles ou mesmo o carnaval do Rio de Janeiro irá ocorrer em 2021.
Os ingressos para os desfiles do carnaval no Rio de Janeiro são vendidos pela Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro). O processo de compra é chato, pois eles divulgam o dia em que começam a vender os ingressos e essa venda é realizada somente por telefone, e nem sempre é fácil conseguir contato com eles.
Só é possível comprar quatro ingressos por ligação e você precisa fornecer o seu CPF. Depois disso, é necessário fazer um depósito e após 20 dias, o papel informando da compra dos ingressos chega pra você por correio.
Depois de todo esse processo, já em terras cariocas, você precisa se aventurar na Rua da Alfândega, próximo ao Saara (o bairro), para pegar seu ingresso e curtir o carnaval. Detalhe: só o dono do CPF responsável pela compra dos ingressos pode retirar os ingressos. O telefone da Liesa é (21)3213-5151.
Mas há um macete: as agências de turismo na cidade vendem o ingresso de forma simplificada, algumas até mesmo pela internet. Você obviamente vai pagar mais caro por isso, uma vez que elas incluem um valor pelo serviço no total da compra, mas dependendo da sua disposição, pode valer a pena. Aqui temos a indicação de uma agência que faz esse serviço.
No site da empresa tem os preços por local que você escolher ficar. E também tem um mapa da Marques de Sapucaí, que reproduzo abaixo:
Os melhores lugares são os que ficam perto da bateria das Escolas de Samba: próximo aos setores 2 e 3 fica o primeiro recuo da bateria, onde rola o aquecimento. Eles ficam por lá um bom tempo do desfile. O segundo recuo da bateria é próximo ao setor 11. Tem como ficar na arquibancada, onde os preços variam de R$ 10 a R$ 500. As cadeiras custam de R$ 90 a R$ 130. As Frisas, que ficam na frente das arquibancadas, custam de R$ 650 a R$ 7.000. E os camarotes custam de R$ 35 mil a R$ 104 mil reais (CHOCADA!).
Foto de Vladimir Platonow/Agência Brasil
Nós chegamos à avenida por volta de 19h, apesar dos desfiles só começarem às 21h, para garantir bons lugares na arquibancada. O setor 2, onde estávamos, ficava do lado do primeiro recuo da bateria. A Flávia me explicou que melhor mesmo é o setor 3, que fica em frente ao 2 e te permite não só ouvir, como também ver o pessoal dos batuques. O caminho até a entrada do sambódromo era um beco bem esquisito com ambulantes vendendo água, bebidas e almofadas. Sim, almofadas. Cada uma custa 5 reais e garante que você não fique com a bunda quadrada, amenizando o contato com o concreto da arquibancada.
O que eles não mostram na televisão é que antes do desfile propriamente dito começar a bateria entra na avenida e faz um aquecimento tocando um samba antigo. É incrível. Depois eles voltam para o recuo, vêm os fogos de artifício e o desfile de fato começa. Seis escolas depois, muito samba, momentos de tensão quando dá alguma coisa errada e tentativa de adivinhação de quem vai ganhar, o maior show da terra terminou, lá pelas 5h40. No final eu já estava exausta, mas também emocionada.
Mesmo quem não gosta muito de carnaval e samba deveria ver um dia de desfiles na Sapucaí. É muito bonito e bem feito. Acho que nunca vou esquecer a cena da Mangueira arrasando com as duas baterias ou os gritos de é campeã após a Vila Isabel terminar. Passei o resto da semana lembrando fragmentos dos sambas que decorei lá na hora – eles entregam um caderninho com as letras e uma explicação ala a ala, carro a carro, o significado daquilo para o desfile (mais uma vez, muito melhor do que a Globo).
Hoje em dia as principais escolas de samba contam com alas comerciais: são aqueles grupos que não são compostos por pessoas da comunidade, mas sim por gente de fora que não pode frequentar os ensaios, mas que morrem de vontade de realizar o sonho de desfilar no carnaval do Rio de Janeiro.
As fantasias podem ser compradas pela internet, nas páginas das escolas de samba, e retiradas quando você estiver no Rio de Janeiro. Para isso, é preciso entrar em contato com os representantes das alas especiais e acertar a compra diretamente com eles.
Veja abaixo uma lista das alas comerciais de algumas escolas de samba do Rio de Janeiro:
Os ensaios nas quadras das escolas de samba do Rio de Janeiro começam a partir do meio do ano. Quem tem curiosidade de ver de perto bateria, passistas e uma festa animada pode tentar essa programação. Mangueira, Salgueiro e Vila Isabel têm festas bem famosas. O site da Secretaria de Cultura do Rio dá mais dicas para quem quer conhecer melhor as quadras ou ver ensaios. Além disso, perto do carnaval, não só as escolas, mas também os blocos de rua fazem ensaios e festa na cidade.
Uma alternativa para curtir um pouco do carnaval fora de época é fazer um tour pela história do samba na cidade. Veja mais informações aqui.
Se você pretende curtir o carnaval no Rio de Janeiro, planejamento é essencial. Reserve sua hospedagem com antecedência – de meses, se possível -, já que a cidade enche bastante e os preços das hospedagem vão lá pra cima. Sem querer te apressar mas já apressando, a taxa de ocupação dos hotéis e apartamentos para temporada chega aos 90%.
Com uma cidade grande de locomoção complicada, acredito que procurar uma hospedagem perto do metrô é sempre uma boa ideia. Por isso, bairros como Ipanema, Copacabana, Flamengo e Botafogo são sempre boas pedidas de onde ficar no Rio, mesmo no carnaval.
Para uma descrição mais completa, leia nosso guia dos melhores bairros onde ficar no Rio de Janeiro.
Opções de hospedagem recomendada em Copacabana e Ipanema:
Embora tenham muitas atrações e bom acesso ao transporte público, é preciso ter cuidado ao se hospedar no Centro ou na Lapa, já que algumas ruas ali podem ser perigosas durante a noite. Se quiser procurar hotel nessa área, o Santa Teresa é um opção mais segura. Lá você ainda tem a chance de se hospedar em um belo casarão colonial.
Opções e hospedagem recomendada no Santa Teresa:
Encontre hotéis no Rio de Janeiro
Seja por conta dos blocos, seja na saída da Sapucaí, conseguir um taxi é uma missão quase impossível. No dia dos desfiles fomos caminhando até a Central do Brasil, exaustos, mas não havia nenhum táxi disponível ou disposto a nos levar. Esteja preparado, portanto, para pagar a tarifa dinâmica do Uber e de outros apps. O metrô funciona 24 horas, mas algumas entradas das estações são fechadas durante o evento. Isso, somado ao enorme fluxo de gente faz com o empurra-empurra seja frequente.
Os ônibus também costumam ficar lotados. Ouvi vários casos de pessoas que tiveram o celular roubado, por isso é bom redobrar o cuidado. Fora o cheiro desagradável de urina em alguns pontos da cidade e as filas intermináveis para os banheiros químicos. Não sei bem como resolver esses problemas estruturais com tantos visitantes na cidade de uma só vez, mas minha impressão geral é que falta organização por parte da prefeitura e também falta educação por parte de muitos foliões.
A história do carnaval no Rio de Janeiro se confunde com a história da cidade. A primeira versão da festa trazida pelos portugueses desembarcou aqui no ano de 1641 e era conhecida com Entrudo, no qual o costume era atirar qualquer tipo de liquido uns nos outros de forma não muito festiva e amigável, digamos.
Em 1841, esse tipo de manifestação foi proibido por causa inúmeros casos de violência que surgiam dela. Isso aconteceu um ano depois do primeiro baile de carnaval nos moldes como conhecemos hoje ocorrer no Rio de Janeiro. A festa, no entanto, ainda tinha muitos ares europeus: a música que comandava o evento era a polca e a valsa, dois ritmos muito pouco carnavalescos, diga-se de passagem.
Apesar da proibição do entrudo, a folia nas ruas não parou: as pessoas que não participavam desses bailes pomposos encontraram formas de adaptar o evento para que ele não morresse de todo. Anos mais tarde surgiam os primeiros clubes e blocos de carnaval do país: foi entre os anos 1855 e 1890 que a festa foi ganhando os contornos que a tornariam tão brasileira. Até mesmo as grandes fantasias de pena foram introduzidas nessa época, herança dos povos africanos que chegou aqui junto com as pessoas escravizadas.
O samba, no entanto, só ganhou seu espaço na festa mais tarde, já em 1917, graças ao florescimento do estilo musical nos bairros cariocas habitados por pessoas recém-libertas (veja mais sobre essa história no post sobre a Pequena África do Rio de Janeiro). Como o estilo ganhava cada vez mais espaço, os músicos e dançarinos começaram a organizar em clubes de samba que competiam uns com os outros, criando assim a primeira escola de samba da cidade, a Deixa Falar, e o primeiro desfile oficial, em 1932. Veja o tour pela história do Samba no Rio de Janeiro.
O Sambódromo, grande palco do carnaval carioca, só foi construído em 1984, no local onde tradicionalmente as escolas já se apresentavam: a Avenida Presidente Vargas, uma das mais antigas do Rio de Janeiro.
O objetivo era criar um espaço mais seguro e confortável para o público dos desfiles, que crescia a cada ano. O projeto foi o arquiteto Oscar Niemeyer.
O carnaval não é só festa. Além de sua importância histórica e cultural, o evento movimenta a economia e injeta dinheiro na cidade, sendo responsável por uma parte considerável da renda anual de diversas famílias.
De acordo com dados da Riotur, o Carnaval de 2019 movimentou R$ 3,8 bilhões na economia do Rio de Janeiro, com mais de um milhão e meio de turistas na cidade e a ocupação da rede hoteleira em mais de 90% durante o período carnavalesco.
Já a FGV calcula que, em 2018, foram criados mais de 70 mil postos de trabalho relacionados à festança, gerando uma arrecadação de impostos de R$ 179 milhões.
Entre os turistas, 88% foram brasileiros, que tiveram uma permanência média de 6,6 dias e gastaram R$ 280,32 por dia (média). Já os 12% de estrangeiros, ficaram mais dias e gastaram mais também: 7,7 dias, com gasto médio de R$ 334,01. (Fonte)
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Ver Comentários
De modo geral, que nota, de 1 a 10, vc daria a essa experiência no carnaval do Rio, e por quê?
Ei Marcelo,
É um pouco difícil ser objetiva numa festa tão subjetiva. Acho que você tem que levar em conta que cada um tem um gosto diferente, por exemplo, eu odeio multidões e jamais iria para Salvador. Dito isso, eu gosto muito do carnaval no Rio porque é democrático e dá para cada um achar a festa que se identifica mais - apesar de ser caro, para quem tem que pagar hospedagem. E também pelo clima da cidade toda fantasiada e festejando, mas sem um ar de micareta.
Acho que dou nota 9 para a Sapucaí, com a única perda de ponto sendo pela falta de organização de transporte para sair de lá. Para os bloco de rua a nota é 8, mais pela prefeitura do que por eles - mais uma vez a perda de ponto é por conta da confusão que eles deixam o transporte: até fecham estações de metrô, em pleno carnaval. E ainda pela falta de segurança.
ficou claro?
bjs
Ficou claro sim. Muito obrigado mais uma vez pelas ótimas dicas, gosto demais desse site!
Ola! que legal este post..
Bom para desmistificar meu olhar do carnaval do Rio.. adorei!
Mas vejam só.. BH tbm teve um ótimo carnaval, o q significa uma super mudança. Tivemos vários blocos saindo nas ruas da capital vários dias de fevereiro!! (extrapolando as datas festivas).. Na verdade, eu acho q este novo carnaval belorizontino está nascendo em resposta as açoes proibitivas de manifestações culturais na cidade nestes últimos tempos.. as pessoas estão "acordando" e fazendo disso muita festa!
Em razão desta mesma falta de incentivo dos órgãos gestores, os dias de folia tiveram alguns pontos negativos; falta de divulgação, banheiros químicos, limpeza das ruas, segurança adequada..
Mas enfim, foi maravilhoso comemorar o carnaval, sem ter q viajar para outras cidades!
Ei Cristina,
Acompanhei o carnaval de BH pelas postagens dos amigos e achei super legal. Acho que essa falta de organização inicial é um pouco comum, porque ninguém esperava que fosse ser um evento tão grande. Vamos torcer para ano que vem a coisa ser diferente. A prefeitura não costuma ajudar muito, mas o povo está bem organizado e animado, e isso que conta para o carnaval, né?
bjs