O Castelo de Chapultepec e a história do México

Aos 19 anos, Juan Escutia sabia que ia morrer. Último defensor do Castelo de Chapultepec, que era atacado por tropas dos Estados Unidos, o cadete do Colégio Militar da Cidade do México tinha entrado voluntariamente no conflito, junto com colegas de escola. Seis adolescentes acabaram sendo os últimos defensores do castelo. E foram mortos, um a um, pelas tropas estadunidenses.

Juan foi o último – e teria optado por encarar a morte de frente. Diz a lenda que o garoto pegou a bandeira mexicana, para evitar que ela caísse em mãos inimigas. Enrolado no símbolo máximo de seu país, ele se jogou do alto do castelo. Anos mais tarde, esse momento foi imortalizado no painel do pintor Gabriel Flores, que hoje decora o teto da construção. É difícil saber como as coisas realmente aconteceram, mas, para o panteão militar do país, Juan é um herói de guerra.

Juan e os cinco últimos defensores do castelo tinham entre 13 e 19 anos. Hoje, dão nomes de ruas em várias cidades do país, ganharam um feriado nacional (13 de setembro) e são homenageados com um monumento no Bosque de Chapultepec. Eles entraram para a história do México como os Niños Héroes.

E os seis adolescentes não são os únicos heróis mexicanos que morreram em Chapultepec. Além dos muitos soldados que perderam a vida ali, defendendo a fortaleza, hoje o país se lembra com carinho dos 30 do Batalhão de São Patrício. Eram imigrantes, em sua maioria europeus, que tinham abandonado o exército dos Estados Unidos e entrado na guerra ao lado dos mexicanos.

Monumentos dos Niños Héroes, no Bosque de Chapultepec 

Capturados em outra batalha, eles foram julgados e condenados à morte. Estavam na forca, montada no castelo, apenas aguardando a hora do fim. Que foi ordenada no momento exato em que a bandeira mexicana era substituída pela dos Estados Unidos. Foi a última imagem que eles viram.

Voltando no tempo: a história da guerra

Quando isso ocorreu, em 1847, o Castelo de Chapultepec era uma fortaleza a alguns quilômetros da Cidade do México. Construído por um Vice-Rei espanhol como casa de campo para a nobreza, o castelo virou sede do Colégio Militar depois da Independência do país. Essa era a função do prédio quando começou a guerra mexicano–americana, que durou dois anos e deixou dezenas de milhares de mortos. Por conta da posição estratégica, no alto de uma colina, o Castelo de Chapultepec era usado na defesa da Cidade do México e logo virou alvo das tropas dos Estados Unidos.

A Batalha de Chapultepec foi um dos últimos capítulos desse confronto e só foi possível porque os Estados Unidos fizeram o maior desembarque anfíbio até então, com o objetivo claro de capturar a Cidade do México. Guerra que foi um ponto definidor na história dos dois países: o México perdeu metade do seu território; os Estados Unidos ampliaram bastante o deles. Uma multa milionária foi paga pelos Estados Unidos ao México, por conta dos territórios perdidos. Foi assim que cidades como Los Angeles, San Francisco, San Diego e quase 25% do atual território dos EUA passaram a fazer parte do país.

Nomes importantes dessa guerra acabaram se tornando presidentes dos EUA, como o tenente Ulysses S. Grant e o general Zachary Taylor. E o hino dos fuzileiros navais dos Estados Unidos tem, até os dias de hoje, a frase de abertura como uma homenagem ao confronto vitorioso na Cidade do México (From the Halls of Montezuma).

Por fim, o confronto acabou apressando a Guerra Civil dos Estados Unidos. É que não havia escravidão nos territórios conquistados do México, ao contrário do que ocorria nos tradicionais estados sulistas do país. Essa diferença acabou levando a uma nova guerra e, anos depois, ao fim da escravidão.

Interior do Castelo de Chapultepec, hoje Museu Nacional de História

Não foi, porém, o fim dos dias sangrentos para o Castelo de Chapultepec. Anos mais tarde e enquanto ainda se recuperava da guerra com os Estados Unidos, o México foi invadido por tropas francesas. Um príncipe austríaco, Maximiliano de Habsburgo, foi declarado Imperador do país, com o auxílio dos políticos conservadores locais e do Imperador da França.

Maximiliano I, que era primo do nosso Dom Pedro II, governou por três anos, até que o exército europeu deixou o país. Durante seu breve governo,  Maximiliano morava no Chapultepec. Ele mandou construir um grande boulevard, bem à moda parisiense, que levava do castelo até o centro da cidade. Essa via é hoje uma das mais importantes da Cidade do México: o Paseo de La Reforma.

O Castelo de Chapultepec ainda foi residência oficial de vários presidentes do México, incluindo Porfirio Díaz, até ser transformado no Museu Nacional de História, em 1939.

Interior do Castelo de Chapultepec, hoje Museu Nacional de História

Visita ao Museu e o Bosque de Chapultepec

O tempo trouxe a Cidade do México para perto do Castelo de Chapultepec. Hoje, essa é uma das áreas mais valorizadas e bonitas da capital do país. Vale muito a pena visitar o castelo, agora convertido em museu, que funciona de terça a domingo, de 9h às 17h. A entrada custa 65 pesos. Além do acervo, impressiona a vista, uma das mais bonitas da cidade.

Gaste o resto do seu dia caminhando pelo Bosque de Chapultepec, uma das maiores áreas verdes urbanas da América Latina. Lagos, pistas de caminhada, zoológico, jardim botânico e muito verde dividem espaço com monumentos e outros museus, como o de Arte Moderna, o Museu Rufino Tamayo, que é de arte contemporânea, e, claro, o Museu Nacional de Antropologia, que é um passeio imperdível. Lá estão guardados vários artefatos pré-colombianos, entre eles a Pedra do Sol. A estação Auditório do Metrô (linha 7) te deixa praticamente na porta.

Veja também: Visita ao Museu Nacional de Antropologia, na Cidade do México

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Na frente do Museu de Antropologia, que merece praticamente um dia inteiro de visita só pra ele, ocorrem diariamente apresentações dos Voadores de Papantla, um ritual de origem totonaca. Homens, vestidos com trajes típicos, pulam do alto de um tronco de 20 metros. Amarrados com cordas, eles “voam” sem medo.

Por fim, reserve um tempo para conhecer as feiras de comidas de rua, relaxar lendo um livro debaixo das árvores ou simplesmente ver o tempo passar. E lembre-se que muita coisa importante aconteceu por ali.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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  • Morei na Índia e estou me mudando para a Cidade do México. Suas dicas estão sendo muito valiosas, obrigada Rafael!

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Rafael Sette Câmara

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