Uma pirâmide maia construída à moda de matrioska, aquelas bonequinhas russas que se encaixam umas dentro das outras. Essa é Chichén itzá, uma das mais importantes ruínas pré-colombianas do México. Localizada a cerca de 200 km de Cancún, Chichén itzá é concorridíssima: pelo menos dois milhões de pessoas passam por lá todos os anos.
Eu fiz parte desta multidão. Em junho de 2017, após dirigir por duas horas a partir de Akumal, na Riviera Maya, estacionei o carro alugado em frente ao sítio arqueológico, comprei os ingressos e me preparei para realizar um sonho. Alguns metros adiante ela surgiu, imponente e muito bem conservada. Teotihuacan pode até ser mais imponente, Cholula pode até ganhar no tamanho, mas em beleza é difícil superar Chichén itzá.
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A região é habitada pelos maias há milênios, mas o apogeu da civilização foi entre 250 e 900 d.C. Enquanto o Império Romano caía, Maomé surgia no mundo árabe e Carlos Magno era coroado como primeiro imperador do Sacro Império Romano-Germânico, os maias construíam templos, observatórios astronômicos, pirâmides e grandes cidades. A civilização maia chegou a ter milhões de habitantes e cidades grandiosas, como Tikal, Palenque e Uxmal, além de ter desenvolvido o sistema de escrita mais desenvolvido do continente.
Em meio a tanta grandiosidade, Chichén itzá era uma cidade menos importante que suas vizinhas. Até que veio o século nove. Com ele, uma seca sem precedentes e que durou quase 100 anos. É isso que garante um estudo, baseado nas marcas de chuva encontradas em cavernas da região, e que mostrou que o período de seca coincide com o declínio de várias cidades maias. Foi assim que as cidades mais ao sul, cuja existência dependia da agricultura, colapsaram e foram tomadas pelas selva.
Chichén itzá tinha sido erguida ao redor de vários cenotes, formações geológicas comuns nessa parte do México e onde a água de lençóis freáticos chega até a superfície. Isso pode ajudar a explicar como ela sobreviveu e como acabou se tornando local para uma mistura de culturas, não só maias, mais também toltecas, que em determinado momento migraram da região central para o sul do México.
A teoria ajuda a explicar a construção em camadas de sua principal pirâmide. A primeira, com 10 metros de altura, foi construída entre 550 e 800 d.C. A segunda, com 20 metros e erguida por cima da anterior, surgiu a partir de 800 d.C, quando outras cidades maias entraram em declínio e Chichén itzá viu sua população aumentar. A terceira camada, de 30 metros, surgiu entre 1050 e 1300 d.C. É a Pirâmide de Kukulkan, principal cartão-postal de um sítio arqueológico que foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco e escolhido como uma das Sete Novas Maravilhas do Mundo.
“Repare na cabeça da serpente, no pé da pirâmide”, apontou o guia. “Todos os anos, no equinócio, milhares de pessoas se reúnem aqui, para ver o momento em que a luz do sol forma o corpo da serpente na escadaria, um efeito que foi planejado pelos maias, que eram grandes astrônomos”, explicou ele. Eu não estive em Chichén itzá nessa época, mas, durante visitas noturnas ocasionalmente organizadas nas ruínas, luzes artificiais simulam o efeito, mostrado na foto abaixo.
Foto: Wikimedia Commons
Cada uma das quatro escadarias que levam ao topo da pirâmide tem 91 degraus. Some esse número com o último degrau, no topo, e o total é de 365, o número de dias do calendário maia. Atualmente não é permitido subir na pirâmide, decisão tomada para preservar o construção.
A Pirâmide de Kukulkan não é a única construção do complexo, embora seja a mais bem preservada. Atrás dela está o Templo dos Guerreiros, que por sua vez está cercado por Mil Colunas, que sustentavam o teto de um grande edifício. Também chama atenção um Palácio que os espanhóis chamaram de Las Monjas e um observatório astronômico que os europeus batizaram de El Caracol.
Na outra ponta do sítio está uma das construções mais interessantes de Chichén itzá, uma espécie de arena com 150 metros de comprimento e onde era praticado o que hoje é conhecido como jogo de bola mesoamericano, o esporte mais importante da cultura maia.
Nele, duas equipes disputavam para ver qual delas conseguia passar uma bola de borracha num pequeno aro de pedra – tudo isso sem usar as mãos, apenas as coxas, braços e ancas. Embora também fosse praticado pela população em geral, de forma informal, a disputa nessa arena era considerada sagrada e acompanhada por toda a cidade. Arqueólogos encontraram 13 arenas somente em Chichén itzá e existem centenas espalhadas pelo continente americano, já que variantes desse esporte foram praticadas em várias civilizações do Novo Mundo. A arena principal de Chichén itzá é a maior do tipo.
Parado no centro da arena, o guia que nos acompanhou bateu palmas, um ritual, logo reparei, seguido por todos os guias que trabalhavam ali e por inúmeros turistas. O som reverberou por toda a estrutura. “Ela foi projetada para que o som fosse ouvido com facilidade de um lado ao outro”, explicou ele, garantindo que o efeito era ainda melhor quando toda a estrutura estava de pé. Vencer os jogos era uma grande façanha, comemorada por toda a cidade. Nesses dias, a festa terminava com uma série de sacrifícios humanos.
O que nós leva a outro ponto interessantíssimo de Chichén itzá, o Cenote Sagrado. Com 60 metros de diâmetro e grande profundidade, esse cenote era cenário para sacrifícios humanos e peregrinações. Escavações retiraram milhares de objetos do cenote, de utensílios e armas de ouro e jade até restos humanos.
Estruturas menores completam a lista de atrações do sítio arqueológico, que pode ser visitado em um dia.
Foto aérea de Chichén itzá mostra a arena (canto inferior esquerdo), pirâmide e o templo (Dronepicr/Wikimedia Commons)
A maioria dos turistas vem de Cancún, Playa del Carmén ou do restante da Riviera Maya, que está a 200 quilômetros de Chichén itzá. Foi o que eu fiz. Agências de viagens organizam excursões de bate-volta, com direito a parada para mergulho num cenote e almoço antes de chegar em Chichén itzá, por volta de meio-dia. É corrido e você divide a visita com um grupo enorme, mas, caso não tenha outra saída, basta pedir no seu hotel pela indicação de um passeio.
Se você tiver um pouco mais de tempo, porém, compensa alugar um carro e ir por conta própria. As estradas são boas e não é preciso ter carteira de motorista internacional para dirigir lá – nesse texto aqui explicamos como alugar um carro no México.
Foi o que fizemos. Pegamos o veículo em Playa del Carmen e aproveitamos para visitar também alguns cenotes, além de Akumal e Tulum. Fomos no esquema bate-volta, saindo por volta de 8h de Akumal, mas acho que o melhor é dormir uma noite, seja em Chichén itzá, onde há hotéis, seja em Valladolid, uma cidade colonial bonitinha que fica a 45 km do sítio arqueológico. Se estiver sem carro, fazer Valladolid de base também pode ser uma boa ideia, já que ônibus partem de lá com destino às ruínas, diariamente.
Se resolver se hospedar em Chichén itzá, há opções nos arredores das ruínas, como o Villas Arqueologicas Chichen Itza, o Mayaland Hotel & Bungalows e o Hotel Chichen Itza. E o Booking lista também várias opções de hospedagem Valladolid. Veja aqui.
Chichén itzá (ícone verde) e cidades turísticas ao redor
Tente combinar sua visita com outras duas ruínas maias que estão no meio do caminho, entre Chichén itzá e Cancún: Cobá, que está no meio de uma mata e em frente a um lago, e Tulum, ruínas à beira-mar que ficam na cidade de mesmo nome. Se quiser esticar no outro sentido, uma boa alternativa é continuar a viagem em direção a Mérida, que está a 120 km de Chichén itzá.
O sítio arqueológico funciona todos os dias, das 8h às 17h. É comum haver filas, então coloque na conta uma espera de pelo menos uma hora. A bilheteria fecha às 16h. A entrada custa 232 pesos, o que dá em torno de 50 reais. Aceitam cartões.
Vale a pena contratar um guia para a visita – eles estão aos montes, logo após da bilheteria, e negociam o preço diretamente com o seu grupo. Leve bastante água, capriche no protetor solar e vá com calçados confortáveis. Antes de ir embora, passe na feirinha de artesanato que funciona dentro do parque, no caminho para o Cenote Sagrado, que tem muitas coisas interessantes. Os preços caem no fim do dia, quando os artesãos se preparam para encerrar o expediente.
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