Conhecendo a Colina do Castelo de Buda, em Budapeste

Bem me lembro como eu fui parar na Colina do Castelo de Buda: depois do meu trem noturno, vindo da Romênia, atrasar umas duas horas, eu não consegui encontrar com minha amiga que me hospedaria e tive que esperar na rua enquanto ela estava no trabalho, até o final da tarde. Aí, tive a minha grande crise, em que tudo deu errado na estação de trem e, quando já não me restava mais nada a fazer, saí para passear nos arredores de Buda, nervosa, cansada, suada e sem banho.

Com todas as minhas forças, eu tentava me livrar da primeira má impressão que tinha tido da cidade e foi pensando nisso que me arrastei da estação de trem até o Castelo de Buda. A primeira coisa que fiz, confesso, não foi ir ver a paisagem ou tirar minha câmera da bolsa. Eu me deparei com uma gelateria e foi para lá que eu fui, afinal, quem disse que felicidade não se compra provavelmente não gosta de sorvete.

Leia também: O que fazer em Budapeste em 3 dias

Onde ficar em Budapeste

Com a minha alegria gelada, comecei a dar umas voltas pelo lugar e reparar: “nossa, que lugar bonito.” De um lado, a rua seguia por entre casinhas bonitinhas e o que pareciam ser praças. Do outro lado, se erguia um grande palácio. Fui nessa direção primeiro, ali, circulando em torno da construção, e me deparei com um mirante que parecia estar ali para tirar qualquer má impressão que eu tivesse de Budapeste. Basicamente, ô cidade linda:

A colina do Castelo de Buda fica 170 metros acima da beira do Danúbio. Uma posição estratégica para a construção de uma cidade murada no período medieval, muito antes da união de Buda e Peste, com a construção da Ponte das Correntes, que hoje é parte do cartão-postal da cidade. Também conhecida como bairro do Castelo, as ruas, casas, monumentos medievais e museus que se encontram ali hoje são Patrimônio da Humanidade, segundo a UNESCO. Além disso, abaixo da colina há uma rede de cavernas de quase 28 quilômetros, formada pelo curso das águas termais que banham a cidade.

Para completar, a bela vista que eu encontrei durante o dia ganha uns 80 pontos de beleza ao entardecer. Durante a noite, a iluminação dourada transforma o lugar num cenário de conto de fadas e é um paraíso para quem curte fotografia.

Todo o distrito começou a ser construído mais ou menos no século 13, após uma invasão mongol. Cada rei que assumia o trono ampliava o palácio, mas o ponto alto das construções foi durante o reinado de Matias Corvino, em 1476, que se casou com uma italiana e trouxe artistas de lá para empreender reformas renascentistas. As esculturas de pássaros que você encontra são uma homenagem a esse rei.

Em 1526, ocorreu a primeira invasão otomana. Nos anos seguintes, a resistência e a ocupação de Buda levaram a destruição do Castelo, principalmente no cerco de 1686, quando os Habsburgos conseguiram retomar a cidade. Assim, os séculos 18 e 19 foram um período de renovação e transformação do local. Inclusive, em 1867, o Imperador Francisco José I e Elizabeth (também conhecida como a Imperatriz Sissi, uma grande viajante) foram coroados lá.

O florescimento da cidade recém unificada de Budapeste trouxe mais mudanças e crescimento para do castelo, mas, poucos anos depois, com as duas guerras mundiais veio mais destruição e decadência, até o início da reconstrução para o que visitamos hoje, iniciada nos anos 50.

Hoje, nos pavilhões do Castelo de Budapeste ficam dois museus. A Galeria Nacional da Hungria, onde ficam pinturas de artistas húngaros famosos ao longo da história do país. A entrada no museu custa 1800 ft. O valor incluí a subida ao Domo, que sem dúvida permite uma visão privilegiada da cidade. Logo em frente fica uma grande estátua de um homem num cavalo, esse um general polonês que lutou contra o exército otomano. Eu preferi não visitar a galeria, porque estava cansada demais para ver pinturas.

Mas conheci o outro museu, o de História de Budapeste, que ocupa quatro andares do prédio, incluindo o subsolo, onde ficam escavações da fundação do castelo em seus períodos medievais, uma capela fundada pelo rei Matias e artefatos de várias épocas. Além disso, a exposição é ótima para quem quer entender melhor a história da Hungria e da cidade ao longo de tantos anos e tantas guerras. A entrada custa 1500 ft.

O Castelo de Buda também abriga a Biblioteca Nacional Széchenyi, com uma coleção de cerca de 2,5 milhões de livros! Incluindo uma grande coleção dos primeiros livros impressos no mundo. É possível visitar gratuitamente as exposições permanentes e temporárias da biblioteca. 

Mesmo que você não entre no castelo em si, toda a área externa, de pátios, jardins e esculturas, é aberta ao público gratuitamente, a qualquer hora do dia. O pátio dos Leões, em frente ao museu de história, é bem bonito. Ali perto também fica o Jardim Hunyadi e a famosa fonte em homenagem ao Rei Matias Corvino numa caçada. No Terraço Savoyai, onde fica uma das melhores vistas para Pest, também está uma grande estátua em homenagem ao príncipe Eugênio de Savoia, outro herói na guerra contra a Turquia.

Caminhando na direção contrária ao castelo fica o Palácio Sandor, que hoje é residência oficial do presidente húngaro (lá em frente rola uma troca da guarda). De lá, você pode continuar seguindo em direção a rua Dísz, onde começa a parte da cidade antiga do bairro do Castelo. Ali, acima da soleira da porta costuma estar escrito a data em que as casas foram construídas. As ruas são fechadas para carros, exceto para transporte público e trânsito local.

Seguindo reto, você chegará na praça da Santíssima Trindade, que é considerada o meio do distrito do castelo. No centro da praça foi construída uma estátua, em 1713, com o objetivo supersticioso de evitar que a praga (ou seja, a peste negra) voltasse a assolar a cidade. Nessa praça também fica o prédio da antiga prefeitura de Buda.

É nessa região que se concentram vários restaurantes e lojas – mas por ser uma zona tão turística, os preços são meio altos. Não deixe de explorar também outras ruas nesses arredores, já que são todas bonitinhas e históricas.

Em frente à praça fica a gigantesca Igreja Matias. Já existia uma igreja ali desde 1015, mas, com as invasões e guerras, esse primeiro templo foi destruído. Os reis seguintes reconstruíram a igreja, mas foi somente durante o reinado do amado Matias Corvinos, no final dos anos 1400, que a Igreja ganhou a aparência que tem hoje. Matias também se casou lá duas vezes e por isso a igreja acabou popularmente conhecida com o nome do rei.

Além de visitar a igreja, é possível assistir a um concerto de órgão, coral e orquestra, que costumam acontecer diariamente. A entrada custa a partir de 1500 ft. Para que só quer subir a torre, o valor é 1000 ft.

Por fim, o Fishermen’s Bastion, ou Bastião do Pescador, é um dos cartões-postais conhecidos de Budapeste. São sete torres que representam as sete tribos que fundaram o país. Já o nome do bastião é uma homenagem a guilda dos pescadores, que ajudou a defender os muros da cidade na Idade Média. Dali, além da construção em si, se tem uma vista excelente de Peste. Mas também é o lugar mais lotado de turistas de todo o bairro do Castelo.

Por fim, vale a pena circular pelas ruelas da cidade velha, ver as casas, torres, igrejinhas que ficam por ali. No final das contas, mesmo cansada, passear pela colina do Castelo de Buda ajudou eu esquecer minha má impressão inicial e me apaixonar completamente pela cidade.

Recomendo que você faça a visita sem pressa e aproveite para tirar muitas fotos das vistas da cidade e das construções históricas dali.

Como chegar no bairro do Castelo de Buda?

Se você já estiver na região de Buda, ou seja, do lado de trás da colina (considerando que a frente seria a parte voltada para o Danúbio) o jeito mais fácil é subindo a ladeira e as escadas a partir da rua Palota. Foi o caminho que eu fiz. Para quem vem de Peste, talvez a melhor ideia seja cruzar a Ponte das Correntes a pé – simplesmente porque ela é linda – e depois subir a colina com o funicular de 1870 ou subindo as “escadarias reais”, chamadas Király lépcső.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

Ver Comentários

  • Oi Luiza, vou para Budapeste é estou montando o roteiro seguindo as suas dicas; essa parte do castelo, museu, é o bastião, acredito que leve boa parte do dia , pelas minhas "contas", chega-se de manhã na região e só termina no comecinho da noite , correto? Obrigado pelas dicas.

    • Oi Bruno,

      É possível fazer essa parte da cidade em uma tarde ou manhã inteira. Não rende o dia todo não.

  • Agora é mais fácil viajar para Budapeste. Há a low cost Wizz Air, directamente do Porto.
    Estou a chegar, adorei a cidade e a sua gente. Segui os seus conselhos aqui descritos.
    Um abraço

  • olá Luiza, estou adorando ler seus artigos. Estarei em Budapeste de 10 a 14/07/17 e estão sendo super úteis. Pelo que entendi do Castelo de Buda, não tem uma visita específica pra ele todo, mas sim, visitação à GAleria nacional e Museu de historia, além dos arredores, é isso? Vc indica compra de ingressos em algum site? Aliás, se for um site que tb tenha ingressos para o Parlamento e outras atividades da cidade seria ótimo. Vc chegou a ir ao pub 50%, que foi parte no filme "A espiã que sabia de menos"? É lindo. Dicas de restaurantes tb são mt bem vindas. Obrigada pelas super dicas, bjao

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Luiza Antunes

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