O Convento da Penha, no Espírito Santo

Domingo, 23 de maio de 1535. O português Vasco Fernandes Coutinho desembarcou no Morro da Penha, região onde hoje fica a baía de Vitória. Era dia de Pentecostes, uma festa que celebra a descida do Espírito Santo sobre os discípulos de Cristo, 50 dias depois da ressurreição dele. Daí veio o nome da Capitania Hereditária e, mais tarde, do estado do Espírito Santo. Agora, pensa comigo: qual será o ponto turístico mais importante de um estado cristão até no nome? Alguma coisa religiosa, claro. Por mais que as praias capixabas sejam lindas, é o Convento da Penha, em Vila Velha e no alto do mesmo morro onde os portugueses desembarcaram, que recebe o título de campeão estadual no número de turistas.

O Convento da Penha tem uma longa história. A construção começou cerca de 20 anos depois que os portugueses chegaram na região, em 1558. Para quem é ruim de matemática, vou deixar claro: são 455 anos, o que faz desse um dos prédios religiosos mais antigos do país.

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E, como não poderia deixar de ser, tudo começa com um milagre, Dizem que a própria Nossa Senhora indicou o lugar onde o convento deveria ser erguido. O relato do milagre varia, mas o mais comum diz que um quadro de Nossa Senhora teria desaparecido misteriosamente de uma Capela.

“Cadê o quadro?”, se perguntou Frei Pedro Palácios, para depois achá-lo no alto do morro, entre duas palmeiras.

Quando isso aconteceu, o Frei levou o quadro de volta para a Igreja, provavelmente doido para saber quem era o autor da brincadeira. Mas a pintura sumiu de novo. E de novo. Na terceira vez o Frei não teve como evitar – aquilo era um sinal para que um convento fosse erguido ali.

E foi isso que ele fez. Mais tarde, o próprio Convento foi envolvido em outra história milagrosa. Dizem que os holandeses, ao tentarem tomar essa parte do Brasil, viram um poderoso exército descendo do convento. E pularam fora dali rapidinho.

Você pode acreditar nesses milagres ou não, depende da sua fé. De qualquer forma, visitar o Convento da Penha é mesmo um dos passeios imperdíveis do estado. Primeiro por toda essa história narrada acima, que se confunde com as origens do próprio Espírito Santo. Em segundo lugar, pela religiosidade do Convento, que recebe missas até hoje e costuma ficar lotado de fiéis nesses horários. A Melissa, autora do blog Descortinando Horizontes conta que tem várias memórias da infância no Convento, quando ela ia às missas, acompanhando o avô.

Se religiosidade e história não tem interessarem, fica o terceiro motivo para passar por lá: a vista. Ó:

Minha visita ao Convento da Penha

Confesso que eu já queria visitar o Convento há umas duas décadas. Como bom mineiro e belo-horizontino que sou, passei a maior parte das férias da minha infância e adolescência nas praias capixabas. Quando estava lá, via o Convento com frequência, seja toda vez que eu passava por Vitória e Vila Velha, ou pela televisão mesmo, em propagandas sobre o estado, várias vezes estreladas pelo cartão-postal.

Mesmo assim, só fui conferir a vista no final do ano passado. O convento fica numa área preservada e rodeado pela natureza. Para subir, há três opções: você pode ir a pé, um percurso de mais ou menos 500 metros, no seu carro ou pegar uma das vans que prestam serviço no local e fazem o percurso a cada 15 minutos. A passagem custa R$ 1,50 (um trecho) ou R$ 2,50 (ida e volta). Preço justo que poderia ser aplicado em outros pontos turísticos do Brasil, não é? (Cristo Redentor, isso foi uma indireta para você).

Vi uma dica interessante no blog Rotas Capixabas, do Tiago, que mora em Vitória e por isso entende assunto. Ele aconselha, se você não for católico, a evitar o horário das missas, quando o Convento fica bem mais concorrido e podem ocorrer filas de carros tentando subir a ladeira. Consulte os horários das missas aqui.

Quem estiver interessado na história do convento pode começar a visita pela gruta Frei Pedro Palácios, que fica no pé do Morro da Penha.  Sim, o mesmo Frei que ordenou a construção do Convento e teve que brincar de esconde-esconde com o quadro de Nossa Senhora deu nome a essa gruta. E por um motivo curioso: dizem que ele morou nela.

Depois disso, é só escolher como você vai subir o morro e tomar o rumo do convento. As vans oficiais param num estacionamento, área onde fica uma Capela dedicada a São Francisco. É da região do estacionamento que se tem as melhores vistas da Baía de Vitória. De lá, é preciso fazer o resto do percurso até o Convento caminhando mesmo – são menos de 10 minutos morro acima.

Além da Igreja, o complexo do Convento da Penha tem um museu e serve como moradia para religiosos. Lá no alto você vai conhecer a Igreja e até aquele quadro fujão que faz parte da história do lugar. Dizem que a pintura, encomendada pelo Frei Pedro Palácios da Europa, é o óleo sobre tela mais antigo do continente. E você se lembra daquela história milagrosa envolvendo os holandeses? Também virou um quadro, de autoria do pintor  Benedito Calixto. Essa pintura também está lá no convento.

O 360meridianos viajou a convite da Secretária de Turismo do Espírito Santo e o Sebrae.

*Imagem Destacada: Chico/Wikimedia Commons

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

  • Amei o Post. Parabens!
    Sensacional!
    Continue realizando esse trabalho tão importante que faz da vida das pessoas mais felizes.

  • Com certeza, o Convento da Penha faz parte do orgulho capixaba!
    Além da histórias e das lendas entorno dessa belíssima construção, passar o pôr-do-sol no alto da pedra é uma experiência incrível!

    Vale a pena ir!!!

  • Eu já era fã de vocês mas, com essa série sobre o Espírito Santo, tô ficando mais ainda. :-D
    Um post mais bonito e bem escrito que o outro. Como é bom ler blogs assim!
    Vcs só estão devendo a visita e o chopp por aqui.
    Abs e obrigado pela menção!

    • Fala, Tiago!

      Poxa, que bom que você está gostando dos posts. Ainda vem muita coisa pela frente.

      Pode deixar que vamos tomar esse chopp! Deixa só a gente voltar pro ES.

      Abraço!

    • Oi, Talana.

      Itaúnas é sensacional! Estive lá uma vez, em 2010, mas sou doido pra voltar. Lugar lindo!

      As praias de Guarapari eu também conheço bem. Mesmo assim, ainda tem muita coisa no Espírito Santo que eu preciso conhecer!

      Quem sabe em breve.

      Abraço.

  • Olá Rafael!
    Moro no ES há 12 anos e olha se tem uma coisa linda nesse mundo é a vista quando se está na 3ª ponte! Ainda mais se for no pôr do Sol.
    Vale visitar as três praias em Guarapari (praia quase deserta e maravilhosa, apesar da água gelada), Aracruz, Itaúnas (mágico!mágico!) e subir o Morro do Moreno (de tirar o fôlego! literalmente).

    Beijos!

  • Ola Rafael! Isso ai. Ficou muito bom o relato do convento e da sua historia! Parabens. Finalmente vc conseguiu visitar :). Se soubesse tinha te levado antes! Abracao ;)

    • Oi, Melissa. Obrigado!

      Ainda quero voltar lá num dia de céu claro, para pegar a vista mais bonita.

      Abraço.

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Rafael Sette Câmara

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