Vinícolas no Vale do São Francisco: vinhos e frutas no sertão

Do lado esquerdo era inverno, no direito verão. Parreirais sem fim e todas as estações do ano passavam pela janela do carro enquanto eu dirigia até a sede da vinícola Terranova, na Bahia. Sim, eu estava prestes a fazer conhecer as vinícolas no Vale do São Francisco e fazer enoturismo no meio do sertão.

Localizada na cidade de Casa Nova e a meia hora de Petrolina, essa é só uma das sete empresas que fazem com que a caatinga seja o segundo endereço mais importante para a vinicultura e o enoturismo brasileiros.

É nessa parte do Vale do São Francisco que são produzidos 15% dos vinhos finos do Brasil – só o Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, tem números mais expressivos. Além da Terranova, que é um braço do Grupo Miolo, no meio da caatinga há outras seis vinícolas: Mandacaru, Botticelli, Bianchetti, Terroir do São Francisco, Rio Sol e Quintas São Braz.

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A produção de vinhos na região, que é onde o Rio São Francisco marca a divisa entre Bahia e Pernambuco, começou há séculos, durante a colonização, mas ganhou importância mesmo na década de 1970. Foi quando o sertão virou mar.

A Represa de Sobradinho e o surgimento das vinícolas do Vale do São Francisco

Adeus, Remanso, Casa Nova, Sento-Sé.
Adeus, Pilão Arcado, vem o rio te engolir.
Debaixo de água lá se vai a vida inteira.
Por cima da cachoeira o gaiola vai, vai subir.
Vai ter barragem no salto do Sobradinho,
e o povo vai-se embora com medo de se afogar.
O sertão vai virar mar.
Dá no coração
o medo que algum dia o mar também vire sertão

Os versos de Guttemberg Guarabyra são um protesto contra a Represa de Sobradinho, que criou um dos maiores lagos artificiais do mundo e obrigou 70 mil pessoas a deixarem suas casas. Se a hidrelétrica trouxe energia e impactos sociais, é a irrigação feita com as águas do Velho Chico que permite que essa região produza vinhos de qualidade. E de uma forma única no mundo: ali os produtores conseguem até duas safras e meia de uva a cada ano.

Com solo pedregoso, poucas chuvas (menos de 400 mm por ano) e muito sol e calor, o semiárido brasileiro não é o típico local em que se esperaria encontrar vinícolas, que no imaginário popular costumam estar ligadas a endereços mais invernais. Mas é justamente a mistura do clima com a irrigação que permite que a maturação da uva ocorra mais rapidamente – e várias vezes ao ano.

Vinícola Terranova (foto: Fellipe Abreu)

A maior produtividade faz com que 95% das uvas exportadas pelo Brasil venham dali, além de uma grande quantidade de outras frutas – compre uma manga, em qualquer supermercado brasileiro, é são grandes as chances de você descobrir que ela veio do sertão. Hoje, Pernambuco é o estado brasileiro que mais exporta uvas, mercado que representa quase 5% do PIB pernambucano.

Segundo dados coletados pelos pesquisadores Talise Valduga Zanini e Jefferson Marçal da Rocha, num estudo publicado pela Revista da USP, 2400 pessoas trabalham nas vinícolas do Vale do São Francisco, gerando um faturamento de dois bilhões de reais por ano. A pesquisa, vale dizer, é de 2010.

Estivemos em Petrolina a caminho da Serra da Capivara, no Piauí, durante a produção do Origens BR, um projeto do 360meridianos que vai investigar a história – e a pré-história – do Brasil. Do período imediatamente anterior ao desembarque dos conquistadores até milhares de anos atrás. O Origens BR conta com o patrocínio da Seguros Promo e da Passagens Promo, empresas que tornaram essa investigação possível.

Enoturismo no Vale do São Francisco: Vinícola Terranova (foto: Fellipe Abreu)

As vinícolas e o enoturismo no Vale do Rio São Francisco

As duas maiores vinícolas do Vale do São Francisco são também as que mais recebem turistas. Na Terranova, a visitação ocorre diariamente e custa R$ 15 – convém reservar com antecedência. No passeio, o visitante aprende sobre a produção do vinhos, visita as instalações da empresa e termina com a tradicional degustação. No final do tour, vale passar na loja, onde os vinhos tintos, espumantes e destilados costumam ter preços interessantes. Se tiver que escolher qual levar para a casa, a dica é o Testardi Syrah.

Por conta da distância de Petrolina, onde está a maior parte da rede hoteleira da região, chegar lá envolve alugar um carro ou contratar um transfer, o que você pode fazer diretamente no seu hotel. Há locadoras no aeroporto de Petrolina e que funcionam nas horas de chegada e partida de voos, inclusive de madrugada. Se você decidir optar por isso, sugerimos que você pesquise e reserve antes numa comparadora de locadoras, a fim de garantir o melhor custo/benefício. Para isso, indicamos a Rentcars, parceira do blog que oferece descontos e vantagens no aluguel.

Outra alternativa, disponível apenas em finais de semana, é ir com o Vapor do Vinho, um barco que percorre a Represa de Sobradinho, com pausas para banho e para conhecer a vinícola Terranova. O passeio, que dura o dia inteiro inclui almoço e transporte a partir de Petrolina, custa R$ 160.

Já na Rio Sol, vinícola que faz parte de um grupo português, há três tipos de passeios. O tradicional custa R$ 15 e ocorre de segunda a sexta, de 9h às 11h e 14h às 16h; e também aos sábados, das 9h às 11h. Toda sexta, às 15h, o tour pode ser finalizado num passeio de catamarã pelo São Francisco (R$ 85). Realizado sempre aos sábados, o Rota dos Vinhos custa R$ 160, dura o dia inteiro e inclui almoço, transporte a partir de Petrolina e passeio de catamarã. É possível agendar pelo site da empresa.

Vale a pena procurar as vinícolas menores, que também recebem visitantes.

Vinícola Terranova (foto: Fellipe Abreu)

Onde ficar em Petrolina e Juazeiro

O primeiro passo é escolher se você prefere dormir em Pernambuco para acordar com vista para a Bahia ou o contrário. Petrolina é maior, tem 220 mil habitantes e jeitão de organizadinha e moderna, como fica claro pela maior presença de prédios lá do que na vizinha. Já Juazeiro tem 150 mil habitantes e um pouco mais de história para contar, já que é a irmã mais velha do Vale do São Francisco.

Não importa em qual cidade você decidir se hospedar, o deslocamento de um lado para outro é parte do dia a dia de quase todo mundo que vive por ali. Optei por ficar em Petrolina, bem pertinho da orla e com vista para Juazeiro. Foi uma boa escolha.

  • Ficamos na Orla Guest House, provavelmente o melhor custo/benefício da cidade. O hotel é confortável, embora simples. Não tem estacionamento próprio, mas sobram vagas na rua em frente, que está a poucos passos da orla – a localização é ótima e segura, com um posto de combustível que funciona 24h, de frente para o hotel. O café da manhã não está incluído na diária, mas há a opção de pagá-lo por fora (R$ 15 por pessoa).
  • Nobile Suites Del Rio, antigamente chamado Quality Petrolina, é o melhor hotel da região. Tem ótima localização, piscina, academia e terraço com vista.
  • O Hotel Grande Rio é outro muito bem localizado – fica um pouco mais afastado da orla, em direção ao centro. Tem boa avaliação.
  • Solar do Velho Chico Hostel – Também com localização central, esse albergue é a opção mochileira – e muito bem avaliado no Booking.com.
  • Já em Juazeiro, o Rapport Hotel é uma das opções mais bem avaliadas.

Veja mais opções de hotéis em Petrolina e Juazeiro


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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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