No fim da vida, quando eu fizer uma lista com os lugares mais incríveis que visitei, guardarei um lugar para a Ilha do Marajó. Para ser mais específico, para o manguezal e a praia da Fazenda São Jerônimo, em Soure, cidade de 22 mil habitantes que funciona como uma espécie de capital da ilha. O lugar é tão surreal que é complicado descrever: uma imensidão de árvores tortas e passarelas de madeira que levam até uma praia deserta.
Praia fluvial, de água quase doce – a presença do Oceano Atlântico, pertinho da fazenda, deixa a água salobra. Esse lugar, isolado e fora da rota turística tradicional do brasileiro, já foi famoso. É que há 15 anos uma equipe da Rede Globo sobrevoou a Ilha do Marajó, percebeu o que havia ali e entrou em contato com os donos da fazenda.
Mangue na Fazenda São Jerônimo, em Soure
A proposta era irrecusável: durante dois meses, a Fazenda São Jerônimo virou cenário da terceira edição do programa No Limite. Anos mais tarde, Seu Brito e Dona Jerônima, os donos da fazenda, viram a TV voltar, dessa vez para gravar a novela Amor Eterno Amor. E foi assim, na tela da TV, que os donos perceberam a vocação turística da Fazenda São Jerônimo.
Desde então, o ecoturismo é uma das principais atividades da fazenda e não falta quem vá até lá e peça para ver as ruínas do portal do No Limite. Nada contra o turismo televisivo, mas o ponto alto do passeio pela fazenda é outro. É caminhar pelas passarelas e deixar o queixo cair. Várias vezes.
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Mangue na Fazenda São Jerônimo, em Soure
Agendei minha visita no dia anterior, pelo telefone 91 91980904 (toda a negociação foi por WhatsApp). Outra opção é ligar no 91 3741 2093. Existem dois tipos de passeio, sendo que o mais caro tem um adicional – montar num búfalo e entrar dentro d´água, imitando uma cena do ator Gabriel Braga Nunes, na novela Amor Eterno Amor. Já o passeio mais barato tem todas as etapas do anterior, menos a parte em que você nada com o búfalo.
Eu, que já estava com um pé atrás com a ideia de montar num búfalo, preferi evitar a experiência de fazer isso dentro d’água. Fiquei com o tour mais curto, que custou R$ 100. O passeio longo, com direito a mergulho bovino, custa R$ 150. O pagamento é feito na própria fazenda e o deslocamento até lá não está incluso. Para isso eu contratei um mototaxista.
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O tour estava marcado para às 9h. A primeira etapa era a que me dava receio: caminhamos pela fazenda até um local onde vários búfalos estavam amarrados, preparados para levar turistas por pouco mais de um quilômetro. O medo não era do animal, mas do passeio em si. Como muitos de nossos leitores sabem, o 360 acha que é preciso pensar duas vezes antes de encarar uma atração turística envolvendo animais.
Búfalos no passeio da Fazenda São Jerônimo
Por um lado, os búfalos são o símbolo da Ilha do Marajó, que tem o maior rebanho dos animais no país. Lá, a coleta de lixo é feita por carroças puxadas por búfalos, a Polícia Militar usa búfalos como montaria e muitos dos habitantes do Marajó fazem o mesmo, com o búfalo sendo um auxílio no dia a dia de pessoas de várias classes sociais, mais ou menos como o cavalo é usado em outros lugares. Percebe como não dá para igualar essa situação com a de parques temáticos, circos e outros lugares que usam animais como atrações turísticas?
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Búfalos no centro de Soure, na Ilha do Marajó
Acabei montando no bicho por um tempo, mas uma coisa me fez querer descer e seguir a pé. É que todos os búfalos têm uma argola presa ao nariz, que deve ser puxada pelo turista para fazer com que o animal vá para um lado ou para outro. A dor do búfalo era óbvia e eu percebi que aquela parte do passeio definitivamente não era pra mim quando vi que um búfalo tinha até perdido parte do nariz.
Só para deixar claro: acho que a Fazenda cuida bem dos animais e sei que o procedimento é considerado normal, feito para domesticar o búfalo, em todas as partes da Ilha do Marajó e também fora de lá. Não questiono quem faz isso, por exemplo, por conta de suas atividades diárias ou do trabalho, mas não vi sentido em seguir ou recomendar um passeio que eu poderia fazer andando, afinal a experiência ali era montar no búfalo. Só que essa experiência não estava boa para mim, por preocupação com o bicho, e acho que não estava boa para o búfalo também.
Se este tipo de coisa te incomoda, meu conselho é que você ainda assim faça o tour, mas peça para pular a parte da montaria. Vale conhecer os animais de perto, tirar fotos e em seguida ir até o local onde o búfalo te deixaria. Caminhando.
Se montar no búfalo não me agradou, a segunda parte do passeio é imperdível. O destino era a Praia do Goiabal, uma faixa de areia deserta onde foram gravadas as cenas do reality show e da novela. Só que no meio do caminho tinha um manguezal. E dos grandes.
Passarelas e toras de madeira permitem que os visitantes passem por cima do mangue. Ao longo do caminho, placas contam algumas das lendas da região. O cenário é espetacular – a memória mais forte que levei do Marajó e meu maior motivo para um dia querer voltar.
Se já não faltavam motivos, resolvi que um dia voltarei lá quando descobri que, de tempos em tempos, um festival de Ópera é realizado no meio das passarelas e do manguezal. Se passar pelo Marajó, verifique se o evento não vai ocorrer nas datas em que estiver lá. Você pode fazer isso pela página do Banquete Ópera Festival no Facebook. O vídeo abaixo mostra como é a apresentação.
E chegamos na Praia do Goiabal. Árvores, ondas e água doce formam outra paisagem inesquecível. Li em alguns blogs que o passeio curto não inclui parada para banho, mas isso foi permitido no nosso tour. Quem quis entrou na água por cerca de 10 minutos.
Caminhamos pela praia por alguns metros e chegamos até um barco. A volta para o casarão da fazenda foi pela água, com as remadas dos guias. Outra oportunidade de observar animais – a fazenda é moradia para muitos, inclusive de espécies em risco de extinção – e um pouco da paisagem amazônia da Ilha do Marajó.
Voltamos para o casarão e fomos recebidos com um suco de frutas da região. Os relógios ainda não marcavam meio-dia. Se você tiver interesse, é possível almoçar na fazenda, mas é preciso combinar isso antes do começo do tour. Eu preferi seguir para a Praia do Pesqueiro, que fica a três quilômetros da fazenda. Pra isso, combinei os dois passeios com o mesmo mototaxista, que estava me esperando na fazenda depois do tour, me deixou na praia e no fim do dia foi me buscar lá.
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