Sabe o que eu e São Pedro temos em comum? Um obelisco de 4500 anos, 300 toneladas e 40 metros de altura – esse da foto abaixo. Nós dois vimos o monumento de perto. E milhões de outros viajantes também, inclusive você – basta já ter visitado o Vaticano.
Segundo a tradição católica, o obelisco, que há séculos fica no centro da Praça de São Pedro, foi uma das últimas coisas que o apóstolo viu, pouco antes de seu assassinato, no primeiro século d.C.
Construído por ordem de um Faraó da Quinta Dinastia, que governou o Egito entre 2500 e 2300 a.C., o obelisco foi transportado para Alexandria durante o governo de César Augusto. Anos mais tarde, o monumento fez as malas e se mudou para Roma, dessa vez por ordem de Calígula, que colocou o colosso no monte Vaticano, a poucos metros de onde ele está hoje. É que ali ficava o Circo de Nero, uma arena onde centenas de cristãos foram mortos. Pedro entre eles.
Existem mais obeliscos egípcios em Roma do que em qualquer lugar do mundo – incluindo o próprio Egito. No auge do Império Romano, era moda surrupiar os monumentos dos faraós. O obelisco do Vaticano foi só um deles, uma prova gigantesca, literalmente, do poderio romano. Pausa para destacar dois fatos que talvez você já tenha notado:
1 – Um dos cartões-postais mais conhecidos da Praça de São Pedro, coração do mundo católico, está repleto de símbolos que muitos cristãos chamariam de… pagãos.
2 – Nós estamos mais próximos do tempo de Pedro do que Pedro estava do tempo em que o obelisco foi construído. Portanto, mesmo estando há dois mil anos em Roma, a história anterior do obelisco é muito maior.
Surtou? Eu surtei. E acho que só isso já é motivo suficiente para reservar ao Vaticano um tempo razoável do seu roteiro de viagem pela Itália, afinal de contas, se tem uma coisa que não falta por ali é História. Com H maiúsculo.
O monte Vaticano logo se tornou um local de peregrinação cristã. Durante o governo de Constantino, que selou a paz romana com os cristãos, um templo foi construído acima de onde, segundo a crença da época, estava a tumba do apóstolo Pedro.
Os séculos seguintes viram várias reformas, mas teoricamente toda a estrutura continuou a estar acima dos ossos de Pedro. Não acredita? Bem, não posso julgá-lo por isso, afinal muita gente duvida dessa história. Se quiser saber mais detalhes e até mesmo visitar a suposta tumba de São Pedro (sim, isso é possível), leia o texto sobre o passeio secreto pelas catacumbas do vaticano.
O menor país do mundo. É isso que quase todo mundo sabe sobre o Vaticano, um Estado independente da Itália que tem 800 habitantes, 0,44 km² e cujo governante é o Papa. Na prática, para visitar o Vaticano basta pegar o metrô de Roma e descer na estação Ottaviano. Uma vez lá, é só fazer uma pequena caminhada, sempre seguindo o fluxo constante de turistas, e você estará no Vaticano, que nada mais é que um quarteirão de Roma.
A entrada do Vaticano é pela Via della Conciliazione, uma avenida que liga a Praça de São Pedro ao Castelo de Santo Angelo, que fica às margens do Rio Tibre. O projeto da avenida existia desde o Renascimento, tendo sido planejado por ninguém menos que Bernini. No entanto, a via só saiu do papel depois que foi assinado o Tratado de Latrão, em 1929, que reconheceu a soberania da Santa Sé. A avenida não é parte do Vaticano, mas vive cheia de fiéis e peregrinos, principalmente durante grandes eventos papais.
Depois de alguns minutos caminhando pela Via della Conciliazione, chegamos à Praça de São Pedro. Além do obelisco, que está no centro da praça há quinhentos anos (deu um trabalho gigante mudar a peça de lugar pela terceira vez, e olha que foram só 300 metros), chamam atenção dos visitantes duas fontes, ambas com séculos de existência. A que fica mais ao norte da praça foi projetada por Carlo Maderno, entre 1612 e 1614; enquanto a outra é de Bernini, e foi feita entre 1667 e 1677.
A remodelação da Praça de São Pedro foi feita na mesma época e também foi um projeto do Bernini. Com um formato de ferradura, a ideia é que a Praça fosse um local onde multidões conseguissem ver o Papa, que passa por ali durante as cerimônias religiosas ou aparece numa das janelas do Palácio Apostólico. Mesmo que você nunca tenha ido lá, com certeza já notou que o projeto deu certo – em ocasiões especiais, até 400 mil pessoas se aglomeram ali.
Quer ver o Papa de perto? O blog Turista Profissional tem um relato interessante sobre o assunto.
Com ou sem Papa Francisco, vale prestar atenção também nas colunas que formam a Praça de São Pedro. São 284 delas, colocadas em filas de quatro. Acima, 140 estátuas de santos completam a decoração, todas com 3.20 metros e feitas pelos alunos de Bernini. Se você olhar com atenção também verá o brasão do Papa Alexandre VII, que ordenou a remodelação da Praça de São Pedro.
Chegou a hora de entrar na Basílica. Basta encarar a fila, passar pela segurança e ter um pouquinho de paciência. Vale a pena. Essa é a maior Igreja do catolicismo e um dos templos mais visitados do mundo. Rafael, Bernini e Michelangelo, três dos maiores artistas que a humanidade já produziu, trabalharam na construção da atual Basílica, que foi erguida entre 1506 e 1626.
Uma vez dentro dela, um dos grandes destaques é a Pietá, feita por Michelangelo quando ele tinha apenas 23 anos. A escultura mostra Maria carregando o corpo de Jesus e fica numa das capelas da Basílica, do lado direito. Por questões de segurança, a obra é protegida por um vidro a prova de balas – acredite, a estátua já sofreu ataques.
Se a Pietá fica isolada do contato com o público, uma estátua de São Pedro já está até com os pés desgastados de tanta gente que passa as mãos lá, em busca de bençãos. O curioso é que tem quem jure que essa estátua foi roubada pela Igreja do Panteão de Roma, onde representava o deus Júpiter. Não acredita? Veja o resto dessa história aqui.
O Baldacchino, cobertura do altar da basílica, está exatamente embaixo do domo e acima da tumba do apóstolo Pedro. Esculpido em bronze, esse é outro projeto de Bernini. E gerou polêmica, já que o boato é que o bronze usado ali também saiu do Panteão, templo romano cristianizado pela Igreja e que hoje atende pelo nome de Igreja de Santa Maria e Todos os Santos.
Embaixo do altar (e acessível a qualquer visitante) estão as tumbas de importantes papas da Igreja Católica. Se você se lembra do funeral de João Paulo II, talvez tenha visto esse lugar. Não confunda com a tumba do próprio Pedro, que só pode ser visitada por quem faz o tour citado no começo do texto.
Assim costuma terminar a visita à Basílica – mesmo quem não é católico se impressiona com a grandiosidade do local, seja pelos efeitos de luz ou pela cúpula fantástica, outro projeto de Michelangelo.
Por falar nela, se você tiver fôlego, corra para a fila e encare as escadarias até o domo. São cerca de 130 metros até o topo da estrutura. Você pode fazer o percurso do jeito esperto ou do jeito burro: o primeiro custa 7 euros. Nele, você faz metade do trajeto de elevador e fica só com 320 degraus para escalar. Já a segunda alternativa envolve uma economia de dois euros e 551 degraus ao todo.
Não, você ainda não visitou a Capela Sistina. E se for embora do Vaticano agora, nem visitará. A famosa capela, que guarda trabalhos de Michelangelo, Rafael, Bernini e Botticelli, entre outros, fica dentro do Palácio Apostólico, a residência oficial do Papa, ao lado da Basílica. Para visitar o local, é preciso enfrentar a fila dos Museus do Vaticano, cuja entrada é na lateral da Praça de São Pedro.
Uma vez lá dentro, você pode correr para a Capela Sistina, escolha da maioria dos visitantes. E isso é um baita erro, afinal os Museus do Vaticano guardam tesouros fantásticos (se tiver pouco tempo, procure pela ala egípcia. Você não vai se arrepender).
Foto: Alex Proimos, Wikimedia Commons
Na Capela Sistina, esteja preparado para encontrar uma verdadeira multidão e um clima bem diferente do que você desejaria. Eu tentei imaginar o Conclave, a eleição de um novo Papa, que tradicionalmente acontece ali, mas tive dificuldades, tanto pela quantidade de gente como também pelos avisos constantes da segurança, gritos para lembrar que fotos são proibidas no local.
Achou a descrição meio chata? Pois é.
Se você quiser uma Capela Sistina só para você, há alternativas. Além de virar cardeal e participar de uma eleição papal, outra possibilidade é fazer um tour privado com grupos de até 12 pessoas. O problema é só o preço, contado na casa das centenas de euros. Se tiver interesse, a Luisa, do blog Arquivo de Viagens, fez o passeio. Confesso que fiquei com inveja – juro que um dia pago os 200 euros (ou viro cardeal) só para ver a Capela Sistina em paz.
Não é preciso pagar nada para visitar a Praça de São Pedro e a Basílica. Apenas certifique-se de chegar cedo e de estar vestido de forma apropriada, afinal de contas você vai num templo. Ombros não devem estar a mostra e nada de roupas acima do joelho. A Basílica fica aberta entre 7h e 18h30. De segunda a sábado, as missas são nos seguintes horários: 9 – 10 -11 – 12 – 17. Já aos domingos e dias santos os horários são: 9 – 10.30 – 11.30 – 12.15 -13 – 16 – 17.30.
A estação do metrô, como já dito, é a Ottaviano. Tem muita coisa para fazer por lá. Se optar por todos os passeios – cúpula, museus, jardins e tour pelas catacumbas – um dia apenas não será suficiente. Falo em causa própria, já que esse tempo não foi o bastante pra mim. Portanto, se possível reserve dois dias para ver tudo com calma. Caso tenha interesse em conhecer as catacumbas e os jardins, lembre-se que é preciso reservar com bastante antecedência.
A não ser que o Vaticano seja seu principal alvo em Roma, essa não é a melhor região para se hospedar na cidade. Para mais detalhes, veja nossas dicas de hotéis e regiões onde ficar em Roma.
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Adorei! Muita História e descrita de maneira simples e objetiva. Passeio muito interessante !!
Que bom que gostou, Silvia.
Abraço e obrigado pelo comentário.
Oi Rafael,
Você acha que um dia para conhecer a Praça, a Basílica e o túmulo, e o outro para os museus e a catacumba fica bom ?
Obrigada!!
Realmente, um lugar incrível. Como você disse, se até para não-católicos é de se encher os olhos, imagina para quem o é (como eu!)...é de se encher a alma! Belo post!
Para católicos deve ser uma experiência única mesmo, Fernanda.
Abraço!
Entendo sua intenção mais preciso lhe dizer não tem nada com religião conhecer Roma ou qualquer outro monumento como Egito em suas piramides, catedrais e prédios históricos em geral, isso é história e arte do mundo em que vivemos. Eu mesmo não sou católica e sou completamente apaixonada por arte e toda história que ela representa para todos nós no mundo. abraços e tudo de bom!
O que eu quis dizer, Milene, é que toda essa beleza, que é universal e portanto pertence a todos pode ter um significado ainda mais especial! Tudo de bom pra vc tb!:)