Kashan foi uma das cidades que mais me surpreendeu no Irã. Pequena, charmosa e repleta de história, ela tem um equilíbrio fascinante entre beleza, cultura e autenticidade.
O lugar parece ter saído de “As Mil e Uma Noites”, e é repleto de casas históricas dignas de contos de fadas, cercado pelo deserto de Maranjab.
Passear pelos corredores do Grande Bazar, visitar os magníficos Jardins de Fin e explorar o legado cultural que respira em cada esquina fazem dessa cidade um lugar muito especial em qualquer roteiro pelo Irã.
Se você está pensando em visitar Kashan e quer aproveitar ao máximo sua estadia, este guia vai te ajudar a descobrir o que fazer e onde ficar, com opções de hospedagem que variam desde as famosas casas tradicionais até hotéis modernos e confortáveis. Vamos lá?
Localizada à beira do grande deserto iraniano (Dasht-e Kavir), na província de Isfahan, Kashan é uma das cidades mais antigas do Irã, com uma história que remonta há 7.000 anos.
No século 19, floresceu como um importante centro de comércio e cultura persa, principalmente pela produção de seda e cerâmica de alta qualidade, que até hoje é considerada uma das mais refinadas do Irã. Isso acabou fazendo com que ela se tornasse um refúgio para a aristocracia persa, e isso se reflete nos muitos palácios e jardins espalhados pela cidade.
Veja abaixo, no vídeo que publiquei no meu canal, um pouquinho da minha visita na cidade:
Durante a era Safávida, quando a corrente Xiita do Islamismo foi estabelecida como como religião oficial do Estado, Kashan também se destacou como um centro de devoção e de aprendizado religioso, graças à construção de Mesquitas e madraçais (escolas religiosas).
Por isso, Kashan abriga uma comunidade clerical bem grande e influente, e os líderes religiosos são muito respeitados pela população local e têm um papel ativo na vida social e política da cidade, influenciando decisões e promovendo um estilo de vida mais conservador. Isso não é tão forte em centros urbanos maiores, como Tehran e Isfahan.
Eu confesso que cheguei em Kashan meio apreensiva com essa fama. Mas, embora esses dois aspectos sejam reais, o que eu encontrei foi uma cidade muito tranquila, agradável e com pessoas amigáveis.
Pense em uma cidadezinha do interior de Minas, com muita gente beata e pessoas apegadas ao seu modo de vida tradicional, mas sem qualquer traço de agressividade, pelo contrário! Kashan é bem isso aí.
Inclusive, eu viajei pelo Irã durante os protestos contra do Hijab e, na verdade, Kashan foi um dos lugares mais pacíficos que encontrei por lá.
Lembrando aqui que a maior parte das plataformas internacionais não funcionam no Irã, devido aos embargos.
Para as reservas de hotéis e passeios da minha viagem (e também para o meu processo de visto do irã), eu utilizei a agência 1stQuest, que é especialista em viagens ao país e outros destinos do Oriente Médio e parceira aqui do blog 😉.
1. Saraye Ameriha Boutique Hotel
Estilo: Luxuoso e tradicional
Preço: A partir de €115 por noite
Um hotel boutique de alta classe localizado em uma das casas históricas mais famosas de Kashan, restaurada para preservar seu design original do período Qajar. Com quartos decorados com riqueza de detalhes e serviços completos, como restaurante, café e galeria de arte, é uma excelente escolha para quem busca uma experiência autêntica e confortável. Saiba mais aqui.
2. Manouchehri House
Estilo: Boutique tradicional de médio-alto padrão
Preço: A partir de €99 por noite
Uma casa histórica lindíssima que combina a arquitetura persa tradicional com conforto. O hotel tem um pátio muito agradável, fontes e quartos com decorações únicas. A localização também é perfeita, no miolo do bairro histórico de Kashan. Saiba mais aqui.
3. Yasmin Historic Hotel
Estilo: Econômico e tradicional
Preço: A partir de €32 por noite
Localizado em uma casa histórica, o Yasmin Historic Hotel oferece uma experiência autêntica a um preço acessível. Com um ambiente simples, é ideal para viajantes que querem mergulhar na cultura persa sem gastar muito. Os quartos incluem café da manhã e Wi-Fi. Saiba mais aqui.
4. Negin Traditional Hotel
Estilo: Econômico com toques tradicionais
Preço: A partir de €40 por noite
Minha escolha de hospedagem em Kashan! Tratas-e de um hotel mais acessível, porém charmoso, com quartos decorados no estilo persa tradicional e um pátio tranquilo. Eu achei tudo muito bom e confortável, e é uma ótima opção para quem quer uma estadia econômica no centro histórico de Kashan. Saiba mais aqui.
5. Negarestan Hotel
Estilo: Moderno e econômico
Preço: A partir de €28 por noite
Para quem prefere uma acomodação moderna com preços acessíveis, o Negarestan Hotel oferece uma estrutura mais contemporânea, com todas as comodidades, como restaurante e piscina. É uma excelente escolha para famílias e viajantes a negócios. Saiba mais aqui.
Veja agora as principais atrações para ver em Kashan.
Os Jardins de Fin, ou Bagh-e Fin, estão entre os mais importantes jardins persa do país. E se você ainda não se deparou por aí com o conceito de jardim persa, eles são sempre criados como uma representação da antiga concepção do “paraíso” na cultura iraniana, onde a natureza é controlada e organizada em um espaço de harmonia entre o homem e o meio ambiente.
Eles foram construídos no final do século 16, durante o reinado de Shah Abbas I, no período safávida, sendo ampliadoa e embelezadoa por diferentes dinastias ao longo dos séculos, incluindo os Zand e os Qajares.
Ali, você encontrará outro conceito muito importante nos jardins persas, o “chahar bagh”, ou “quatro jardins”, onde o espaço é dividido simetricamente por canais de água e passagens, representando o encontro de água, terra e vegetação.
Mas nem tudo são flores no paraíso. Foi ali que, em 1852, Amir Kabir, um dos mais respeitados e influentes reformadores da história iraniana, foi assassinado por ordens do xá Naser al-Din Shah Qajar.
O motivo pelo qual ele conquistou tantos inimigos poderosos foi a implementação de reformas que abrangiam áreas como a educação, o sistema de impostos e a economia. Ele chegou a criar a primeira escola de ensino superior moderno no Irã, e defendia um governo mais eficiente e menos corrupto.
Ele foi morto no hamam com a garganta cortada e, ainda hoje, é considerado um grande herói pelo povo iraniano.
Nenhuma cidade iraniana existe sem seu bazar e eles são quase sempre a parte mais legal delas. Em Kashan não é diferente.
Se prepare para uma experiência sensorial, repleta de cores, cheiros e sons mais variados possíveis. Esse é um bom lugar para ver (e quem sabe levar pra casa) os tapetes persas, pelos quais Kashan é mundialmente famosa. Muitos vendedores no bazar são especializados nessa arte, oferecendo peças tecidas à mão que são verdadeiras obras de arte.
Além dos tapetes, o bazar também tem muito artesanato local, incluindo tecidos bordados, cerâmicas pintadas à mão, objetos de cobre e miniaturas em madeira; lojas de especiarias, com montes coloridos de açafrão, cardamomo, canela, e outros temperos exóticos estão expostos. Eu amo fotografar essa parte!
Você encontra ainda outros ingredientes tradicionais da culinária iraniana, como pétalas de rosa secas, água de rosas e ervas usadas para fins medicinais e gastronômicos.
As ruas do bazar também estão cheias de vendedores de doces e frutas secas, como tâmaras e nozes, além de uma infinidade de chás e xaropes.
➡️ Uma parada obrigatória é provar os tradicionais doces de pistache, como o sohan, típica da região.
Próxima ao bazar fica a mais importante obra de arquitetura islâmica de Kashan, a Mesquita Agha Bozorg. Construída no final do século 18, ela foi projetada para servir como um espaço de oração e como uma escola teológica (madraçal) e é um dos motivos pelos quais Kashan é uma cidade tão religiosa.
Até hoje, o lugar é usado para formar clérigos, e conta com uma série de salas e câmaras ao redor do pátio onde os estudantes podem viver e estudar o Alcorão e outras ciências islâmicas.
É possível ver tudo isso de perto e a entrada na mesquita é gratuita. Eles também oferecem gratuitamente um chador (túnica islâmica) para as mulheres poderem visitar trajando as roupas adequadas, não sendo necessário se preocupar com isso. Tem até umas senhoras que te ajudam a vestir (depois de um mês lá eu segui sem aprender como coloca um rs).
O Hamam Sultan Amir Ahmad é uma das casas de banho público mais bem preservadas de todo o Irã.
A função principal dos hamams, além de higiene, era a socialização. Eles serviam como locais onde as pessoas podiam relaxar, conversar e se envolver em rituais de purificação.
O lugar é dividido em várias seções, cada uma projetada para diferentes fases do banho:
Mas a parte mais legal da visita é a oportunidade de subir ao telhado do hamam, de onde se tem uma vista panorâmica da cidade e do deserto ao fundo.
O telhado é coberto por pequenas cúpulas de vidro colorido, conhecidas como luminárias, que serviam para permitir a entrada de luz natural nas câmaras de banho, sem comprometer a privacidade dos usuários. Quando a luz bate, elas criam um efeito de iluminação mágica dentro do hamam.
Uma das mansões mais famosas de Kashan, a Casa de Tabatabaei foi construída em 1880 por um rico comerciante de tapetes que queria ostentar seu status social, e é muitas vezes chamada de “a joia das casas de Kashan”.
O mais impressionante é que, além de linda, a casa também foi toda pensada pela funcionalidade, criada para atender as necessidades da família, dos negócios do patriarca e das condições climáticas da região desértica.
A casa é composta por três seções principais: andaruní (espaço privado para a família), biruní (área para recepção de convidados) e harem (área reservada para as mulheres). Além disso, é cercada por altos muros para garantir privacidade, algo típico das mansões da época.
A família Tabatabaei passou por altos e baixos ao longo dos anos, especialmente durante as turbulências políticas e econômicas que afetaram o Irã no final do século 19 e início do século 20. Eventualmente, todo mundo ali se mudou, e a casa foi deixada para trás.
Anos depois, a mansão foi restaurada como parte do esforço para preservar o patrimônio histórico de Kashan.
A visita é uma oportunidade de entender o estilo de vida e a arquitetura da elite persa do século 19.
Mais uma mansão construída para um rico comerciante de tapetes na cidade, pelo mesmo arquiteto da anterior e como presente de casamento para sua esposa, que vinha da, vejam-só-vocês-como-rico-só-se-casa-entre-eles, proeminente família Tabatabaei.
Aqui, a grande parada é ver os afrescos que adornam o interior. Eles foram pintados por Kamal-ol-Molk, um dos artistas mais renomados do Irã, e retratam cenas da natureza, mitologia persa, e paisagens do dia a dia.
Outro aspecto interessante são as torres de vento, ou badgirs, que são uma característica marcante da arquitetura tradicional do deserto iraniano. Ali há três delas, altas e elegantes, projetadas para capturar a menor brisa do deserto e canalizá-la para o interior da residência, ajudando a refrescar os quartos e salas durante o calor do verão.
Esse sistema de ventilação natural é muito comum no deserto iraniano e pode ser visto também em Yazd.
O Deserto de Kashan fica a cerca de 60 km ao norte de Kashan e conta com dunas de areia dourada e desertos de salinas contrastando com o verde do Oásis de Maranjab.
Uma das atividades mais populares na região é explorar o deserto a pé ou em veículos 4×4. O passeio é oferecido por diversas agências locais, mas você também pode reservar com os guias recomendados da 1stQuest por aqui.
A vantagem de fazer a reserva online é que você poderá pagar com cartão de crédito e, ao reservar no local, terá que ser no dinheiro. Saiba mais sobre dinheiro no Irã nesse post aqui.
Também é possível dormir em um dos acampamentos no deserto e observar o céu noturno livre de poluição luminosa, o que o torna um dos melhores locais do Irã para a observação de estrelas.
Muitas excursões oferecem pacotes de camping, incluindo barracas e refeições tradicionais preparadas sob o céu aberto, onde você pode provar a autêntica culinária persa enquanto aprecia o silêncio e a paz do deserto à noite. O nascer e o pôr do sol no deserto são inesquecíveis, acredite.
O Kavir-e Namak é outra parada que pode ser incluída nos passeios do deserto. Trata-se de uma salina que se estende por quilômetros. Elas costumam ficar mais bonitas durante os meses mais secos, quando a superfície se transforma em um enorme mar branco de cristais de sal, criando uma paisagem quase extraterrestre.
Dependendo da época do ano, você pode até encontrar lagos sazonais formados pela evaporação da água.
O Oásis de Maranjab é um respiro verde no meio da paisagem árida. O oásis é alimentado por nascentes subterrâneas, que criam uma área rica em vegetação e que contrastam com as dunas douradas e as salinas brancas ao redor.
Perto do oásis, fica o Caravanserai de Maranjab, uma antiga pousada para mercadores que viajavam pela Rota da Seda. Construído no século 17, o local é um edifício de pedra em ruínas, mas que nos permite voltar no tempo, e imaginar as caravanas de mercadores e seus camelos, que passavam por ali em suas longas viagens pelo mundo.
A vila de Abyaneh fica nas montanhas de Karkas, a cerca de 70 km de Kashan. Muitas vezes chamada de “a aldeia vermelha” por causa de suas casas construídas com barro vermelho, essa pequena cidade oferece uma janela para o passado persa, onde tradições e costumes ancestrais ainda são preservados.
Abyaneh é uma vila com mais de 1.500 anos de história, e sua arquitetura e modo de vida permanecem notavelmente inalterados ao longo dos séculos.
A vila é conhecida por preservar a cultura zoroastriana, que mantêm tradições antigas e onde as pessoas ainda usam roupas coloridas que remontam ao período safávida. As mulheres de Abyaneh, por exemplo, são facilmente reconhecíveis por seus véus brancos floridos, e os homens vestem calças largas tradicionais.
A língua falada na vila também preserva elementos do persa antigo.
O mais característico dali, no entanto, são as casas de barro que parecem “empilhadas” nas encostas da montanha. Estas casas foram projetadas com terraços em diferentes níveis, criando uma paisagem visual bem exótica para os nossos olhos.
A vila também tem antigos templos zoroastrianos, mesquitas, e um castelo. Os passeios costumam sair de Kashan e duram cerca de 6 horas. Você pode reservar seu lugar aqui.
Kashan não é muito grande, mas é um destino que merece ser explorado com calma. Por isso, recomendo ficar de dois a três dias para aproveitar bem a cidade e seus arredores.
No primeiro dia, você pode mergulhar na história e arquitetura de Kashan, começando pelas famosas casas históricas. Comece pelas Casa de Tabatabaei e a Casa de Boroujerdi e siga para o Hamam Sultan Amir Ahmad, uma antiga casa de banhos tradicional.
À tarde, faça uma visita ao Jardim de Fin (Bagh-e Fin).
No segundo dia, comece com uma visita à Mesquita Agha Bozorg. Depois, dirija-se ao Grande Bazar de Kashan.
Não se esqueça de fazer uma parada no Caravanserai de Aminoddole, dentro do bazar.
Se você tiver mais tempo, vale a pena dedicar o terceiro dia para um bate-volta no Deserto de Maranjab e no Oásis de Maranjab, quem sabe até pernoitando por lá.
O passeio pelo deserto pode incluir visitas à Salina de Maranjab e ao histórico Caravanserai de Maranjab.
A melhor época para visitar Kashan é durante a primavera (de março a maio) e outono (de setembro a novembro), quando as temperaturas são mais amenas e agradáveis.
O clima de Kashan é desértico, o que significa que os verões podem ser muito quentes e os invernos, embora menos rigorosos que em outras partes do país, tem noites mais frias.
Se você for viajar durante a primavera, tente fazer sua visita coincidir com o Festival das Rosas e da Água de Rosas, que ocorre todos os anos entre o final de abril e o início de maio.
Nessa época, as rosas damascenas florescem, e as comunidades iniciam o processo de colheita e destilação para produzir a famosa água de rosas.
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