Ksamil e as praias da Riviera Albanesa: guia de viagem

Para todo mundo que me pergunta como fazer uma viagem mais barata pelas praias da Grécia, minha resposta vai ser: vá para Albânia. Sim, talvez isso surpreenda quem não sabe que a Albânia tem algumas das praias mais bonitas do continente europeu e, por serem tão desconhecidas, também são muito baratas. Eu, desde 2015, quando vi fotos da Lili, do blog Catálogo de Viagens, se aventurando por Ksamil, não tirei da minha cabeça que precisava ir conhecer aquele lugar. Dois anos depois, lá fui eu.

A Riviera Albanesa corresponde a uma faixa litorânea de mais ou menos 85 quilômetros, no sul do país, banhada pelo mar Jônico. Para você ter uma ideia, da Ilha de Corfu, na Grécia, para Sarande, na Albânia, são apenas 35km de ferry: eu via a ilha grega do meu hotel em Ksamil.

Saiba mais: O que fazer em Tirana, a capital da Albânia

As mil janelas e os milênios de história de Berat

É importante dizer que a Albânia é uma mistura de belas paisagens, pessoas extremamente simpáticas e uma estrutura que não é muito organizada. Ao mesmo tempo que você encontra restaurantes fofinhos e hotéis ótimos, também é comum ver vigas aparentes, construções sem reboco e estruturas desmoronadas. Para quem focar nas vistas incríveis, na cor da água e no preço para lá de camarada, é fácil tratar os buracos na estrada como meros detalhes. Mas se você tiver aquele perfil de viajante que gosta das coisas mais arrumadas e perfeitinhas, talvez essa não seja a viagem ideal.

Como tem pouca informação na internet em português sobre viagens pelas praias albanesas, vou compartilhar com vocês minha experiência de viagem sem carro e também todas as dicas que eu descobri ao longo desse processo.

Quais praias na Albania?

Apesar da costa ser mais extensa, é um consenso geral que as praias mais bonitas na Albânia vão de Dhermi a Ksamil.  Eu escolhi Ksamil como minha base por causa da influência das fotos que vi por aí, facilidade para conseguir encontrar um hotel barato na alta temporada e fato de ser uma cidade menor. A princípio, eu tinha pensado em fazer alguns bate-voltas entre as praias e outros passeios, mas como as minhas experiências com transporte público no alto verão não foram exatamente as melhores, acabei preferindo aproveitar o descanso da sombra e água fresca apenas em Ksamil mesmo.

Leia também: O estranho caso das vans na Albânia

Para quem quer conhecer um número maior de praias, eu recomendaria ficar dois ou três dias em Ksamil e depois mais dois ou três dias numa das praias do norte, como Himare ou Dhermi. Isso facilita o transporte tanto para quem está de carro, quanto para quem vai de ônibus/caronas.

Ksamil

Ksamil, onde fiquei, é uma vila, com diversas praias pequenininhas: algumas delas de pedra, outras de areia. Além disso, tem três ilhas bem na costa e para uma delas dá para ir nadando. A água tem uma cor de azul maravilhoso.

É possível facilmente caminhar entre as várias praias de Ksamil. A maioria delas, pelo menos no verão, fica cheia e boa parte da faixa de areia fica tomada por cadeiras e guarda-sóis dos quiosques, que são pagos. Mas você não é obrigado a pagar para aproveitar a praia, até porque, dependendo da hora que chegar na praia, estará tudo ocupado – mais uma vez, isso é no mês de agosto. Li vários relatos de praias desertas em junho ou setembro.

Só pagamos no primeiro dia. Nos dias seguintes, encontramos um quiosque amigo que ficava na parte mais alta da praia. Não era na beira do mar, mas bastatava descer uma escadinha e já estávamos com o pé na água. No último dia, resolvemos ficar o dia todo na praia mesmo, deixamos nossas coisas num cantinho e ficamos nadando. Ninguém mexeu em nada – por precaução, os celulares ficaram no hotel.

A minha praia favorita foi a que fica logo em frente a ilhota mais próxima, não tem um nome específico. A cor da água ali é maravilhosa e, como o chão nessa praia é de areia, é menor incômodo no pé para nadar.

Além de ter nadado até a ilha mais próxima, também alugamos um caiaque todo transparente para um passeio. Na semana em que estivemos lá, por conta do vento e da maré, não era permitido remar até a ilha mais ao fundo, e barcos com motor e jetskis estavam proibidos.

Nos arredores de Ksamil, a cerca de 20 minutos de ônibus (que custa 30 lekes e você pode pegar em vários pontos na avenida principal da vila), ficam as ruínas romanas e bizantinas de Butrint, um complexo muito interessante, que é patrimônio da UNESCO.

Ali por perto também fica o Olho Azul (Syri Kalter), que é uma fonte de água que brota no fundo de um rio, com uma cor azul especial. Para ir de transporte público é preciso pegar um ônibus na direção de Girokaster, que te deixa no meio da rodovia, e caminhar por mais 3 km. Ou tentar pegar uma carona. Outra opção é pagar um táxi ou alugar um carro. Decidimos não ir por pura preguiça e porque no hotel nos contaram que estava muito cheio na época (agosto). Você pode ler a experiência da Liliana aqui.

Se quiser ver como é viajar pelo país e ter um gostinho das praias, veja o vídeo que a Natália Becattini, outra autora aqui do blog, gravou na sua passagem pela Albânia.

Sarande

Sarande é a maior cidade da Riviera Albanesa, com 30 mil habitantes. Fica a uns 20 minutos de Ksamil, então os ônibus e ferrys saem e chegam lá. A cidade também tem praias e uma estrutura maior. Eu vi Sarande de passagem e aquele visual de prédios grandes amontoados e muita gente não era o descanso que eu queria, por isso não fui.

Himare

No caminho entre Sarande e Himare você encontra diversas praias. Algumas têm nome, outras ficam escondidas no mapa. As mais famosas são Lukove, Borsh, Porto Palermo e as praias de Himare e Livadhi.

Himare, que é a referência e uma boa base para explorar essa parte da Riviera Albanesa, é uma praia com muitas influências gregas, visto que os habitantes ali são descendentes do país e você encontrará cultura, comida e até pessoas falando grego.

Himare. Crédito: Shutterstock

Dhermi

O caminho entre Dhermi e Himare é curto: só 16 quilômetros. Mas é bem ali que a estrada se afasta um pouco da costa e que algumas das praias mais bonitas, segundo outros blogueiros, ficam.

Dhermi, Albânia. Crédito: Shutterstock

Nesse caminho, então, você encontra Jale e Gjipe (tem aqui um relato no blog Próxima Parada), até finalmente chegar a Dhermi, que é considerada a praia mais chique, com hospedagens mais caras e turistas mais cheios da grana, ou seja, funciona para quem quer ter uma experiência mais luxuosa, mas pagando em preços albaneses mais em conta. Ao lado da praia de Dhermi fica outra mais calma, Drymares.

Quando ir

Para conhecer praias, o ideal é viajar no verão ou perto dele. Ou seja, mais ou menos de junho a setembro. Dependendo do ano, dá para contar de meados de maio até meados de outubro. Apesar de nos outros meses você encontrar praias vazias, em alguns casos quase desertas, na altíssima temporada, ou seja, mês de agosto, as praias estarão bem cheias.

No mais, a temperatura da água é uma delícia. Algo em torno dos 25 graus. Refrescante para o calor, mas nada gelada.

Como chegar e como se locomover

O transporte público na Albânia é bastante precário. Mas, ainda assim, alugar um carro não é obrigatório. É possível chegar na região das praias partindo de outras cidades albanesas, como Tirana ou Berat. Também é possível chegar lá em trajetos internacionais, como saindo de Ohrid. Porém, não é fácil achar a informação dos horários certinhos e preços na internet, na maioria dos casos. O jeito é se informar nas rodoviárias e perguntar para as pessoas.

Muitas vezes, o transporte é meio informal, feito com vans, que vão parando no caminho. Em outras, é possível pegar ônibus, mas que são em geral muito velhos. Enfim, dá visitar as praias de ônibus, há uma estrada única que liga Vlore a Sarande, a SH8, com uma vista linda e basta parar na estrada e descer até as praias. Mas é aquele tipo de viagem perrengue com boas recompensas.

Dito isso, também rola fazer trajetos de carona ou com táxi. Carona é super comum e mesmo eu não sendo adepta da modalidade, na manhã em que esperava o ônibus de Ksamil para Sarande, um carro, com um senhor, duas mulheres e vários sacos de mariscos, parou do nosso lado e ofereceu para nos levar. Apesar da desconfiança inicial, foi uma viagem bem divertida.

Por fim, sem dúvidas, o mais fácil é fazer os trajetos de carro. Se eu voltar para a Albânia, é como pretendo me locomover. Acontece que tem várias praias desertas, desconhecidas e inexploradas, que ficam fora das paragens de ônibus. Vi várias sugestões no blog gringo Heart my Backpack.

Onde ficar

Ficamos hospedados no adorável hotel Villa Nertili. É um hotel familiar, simples, mas muito agradável. Nosso quarto, no terceiro andar, tinha uma varanda de bom tamanho, com uma vista legal para o mar e o pôr do sol. Pagamos 35 euros por noite,  foi a diária mais cara da viagem. Mas contando que estávamos num quarto privativo com banheiro, na alta temporada, num lugar que estava bastante cheio, foi uma pechincha. Era uma pequena caminhada até a praia e havia três supermercados quase do lado do hotel.

Para quem busca outras opções de hospedagem em Ksamil, você pode conferir aqui.

As outras sugestões de base para quem quer explorar mais da costa albanesa seriam Himare, a cidade com vibes gregas e várias praias lindas nos arredores. Ou Dhermi, a praia mais chique, com estrutura mais organizada.

Quanto custa

Vou falar dos meus gastos na alta temporada. Ou seja, quase certamente, se você for em outra época, irá pagar menos. Em Ksamil encontramos as melhores comidas que provamos na Albânia – não tivemos muita sorte nas nossas escolhas nas outras cidades do país. Como expliquei, o hotel nos custou 17 euros. Além disso, gastamos cerca de 20 com comida por dia, incluindo o almoço quase sempre na beira da praia e o jantar, que variamos entre o restaurante do hotel Murati, com boas opções de frutos do mar em conta, e o 4 Valltaret, que servia variações do pita gyros (churrasco grego de porco) mais delicioso que já provei na vida.

Vista do restaurante do hotel Murati

Para sentar nas cadeiras na beira do mar a taxa era cerca de 800 lekes (5 euros), que pagamos apenas uma vez. Descobrimos um quiosque, que ficava numa parte mais alta da praia, com o atendente mais simpático do mundo. A comida ali era pizza, que eles recebiam na tele-entrega. Mas tinha cerveja gelada.

Vista do nosso quiosque

No fim das contas, gastamos por volta de 40 euros por dia em Ksamil (5340 lekes), contando transporte para chegar lá, hospedagem, alimentação e cervejas. É cerca de 10 euros a mais do que a média gasta nas outras cidades albanesas.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

Ver Comentários

  • Boa tarde,
    Obrigada pela sua partilha.
    Só ouvi falar da Riviera Albanesa o ano passado!!!!Como é possível?
    Eu que sou uma amante de praias e vivo em Portugal?
    Tenho reservados já os voos de Portugal para tirana de 8 a 15 de Setembro. Vou alugar carro,pois eu não consigo depender de horários dos transportes públicos e gosto de fazer as coisas ao meu ritmo.

    Eu estou com muita dificuldade em decidir onde ficar!
    Eu quero ficar numa zona central que me permita conhecer tudo á minha volta de carro. Eu quero conhecer as praias mais bonitas, este é o meu objectivo. Sair bem cedo do hotel ou hostel e pôr -me a caminho da descoberta da praia x ou y. A minha ideia era por dia ir explicar uma zona.
    E não me importo de fazer 50 km para explorar uma zona bonita!!!
    Onde devo ficar? Saranda? Ksamil?Dhermi?
    Parece tudo tão perto mas já estou confusa com a localização delas!!!!
    E vlore? Vale a pena ir tão a norte?
    Beijinho

  • Obrigado pela partilha de toda a informação relativamente à visita a ksamil. Como a partilha de informação é importante para outros viajantes, gostava de partilhar a minha experiência de agora, Agosto 2023 em relação às espreguicadeiras, os preços estão altíssimos, o mais barato que vi foi 20000 Leks, cerca de 20€, sendo o mais usual 25000 e 30000, havendo outros a 40000. E em uma das praias, ficamos na areia cerca de 30 mim, e vieram logo chamar-nos a atenção dizendo que a praia era privada e não podíamos estar ali, ou seja praticamente somos obrigados a pagar para ir à praia. Obrigado pela partilha de todos e espero poder ajudar outros viajantes.

    • obrigada por compartilhar Miguel!

      Infelizmente, com a popularização da Albânia, os preços tendem a subir bastante

  • Muito legal voce compartilhar sua experiencia!

    Agora uma pergunta. Como foi o trajeto do aereo até Albania? Por onde você chegou?

    Obrigado

  • Bom dia Luiza.
    De 29/06 a 07/07/19 irei estar na Albânia em férias. Estou a programar ficar no início 4 dias em Dhemi, para conhecer a norte até Fier e a sul até Konispol, mais coisa menos coisa. Os outros 4 dias ficarei em Durres para conhecer a sul até Fier e a norte até Shkoder. Atendendo á sua experiência, tomo a liberdade de lhe pedir a sua opinião sobre os meus planos.
    Obg
    Manuel Guerreiro

    • Oi Manuel,

      Acredito que seus planos estão bons, mas será necessário um carro para conseguir se locomover entre as praias!

    • Oi Adriana,

      Não me lembro de ser particularmente ventoso não, pelo menos não na época que fui. Tem movimento a noite sim, alguns bares animados na beira da praia e tb tem boates, mas não fui para poder dizer se são boas.

  • Olá! Obrigada pelas dicas!
    Saberia dizer se há uma linha de ferry que opere em junho ligando Corfu à Riviera Albanesa???
    Obrigadaaa

    • Oi Fernanda.

      Tem sim! Lá em Ksamil você encontra pelo centro mais informações sobre isso. É um trajeto de meia hora e custa uns 20 euros

  • oi Luiza estou interessada em ir até a reviera Albanesa mas estou muito confundida, vamos de avião até tirana e ai alugamos carro?

    Se puder ajudar-me eu agradeçia

    • Oi Sonia,

      Sim, o jeito mais fácil, partindo de Portugal, é ir de avião até Tirana e seguir de carro (ou, se vocês forem aventureiros, com as carrinhas albanesas)

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Publicado por
Luiza Antunes

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