Já pensou como seria o mundo se o Império Romano nunca tivesse existido? Eu já. E, óbvio, não faço ideia de como responder a essa pergunta. O que eu sei, no entanto, é que vários eventos – alguns deles até esquecidos na história – poderiam ter impedido a existência do Império e mudado o curso de nossas vidas. Mudado o curso da sua vida.
Um desses eventos ocorreu em Lucca, cidade milenar da Toscana e atualmente parte da Itália. Lucca já existia no ano 56 a.C. E foi o local escolhido por Júlio César para marcar uma reunião com seus dois parceiros: Marco Licinio Crasso e Cneu Pompeu. Era o chamado Primeiro Triunvirato, uma das das últimas etapas antes de Roma deixar de ser uma República e virar um Império.
As ruas de Lucca testemunharam o encontro de três dos mais importantes líderes de todos os tempos. Um encontro que selou a paz entre eles e colocou a História nos rumos que hoje conhecemos. Percebeu como Lucca tem seu lugar na História? Mas não para por aí. E, por mais que você, como eu, goste de saber de fatos assim, provavelmente não é por isso que você entrará num trem e seguirá para Lucca. Sua maior motivação será outra: a muralha da cidade.
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Corta para o Renascimento. O Império Romano já caiu, César virou cinzas e até a Idade Média já deu o que tinha que dar. Nessa época, período em que a Itália como país não existia e diversos reinos e repúblicas ocupavam a península, Lucca era novamente importante. E murada, como muitas das cidades antes da unificação italiana.
Mas basta você sair de Florença ou Milão e chegar em Lucca para perceber uma diferença fundamental. Assim que se tornaram inúteis, os muros dessas cidades deixaram de existir. Já Lucca, que escapou de conflitos ao longo dos séculos usando uma boa dose de diplomacia e sabendo a hora certa de se render, permanece murada.
A muralha é a principal atração da cidade. Assim que você descer da estação de trem, procure uma das muitas lojas que alugam bicicletas. Pegue a sua e dê a volta completa no centro da cidade – são quatro quilômetros de esforço, algo plenamente realizável até para sedentários. Né?
Não quer pedalar? Então a dica é fazer o meu passeio favorito em cidades históricas. Caminhe pelas ruas, sem rumo, sem se preocupar em entrar nas igrejas ou museus, apenas curtindo o visual e imaginando toda a história que já rolou por ali. Uma história que já era antiga e respeitada quando o Império Romano surgiu.
Algumas construções merecem sua atenção. Assim como Veneza, Lucca também tem seu Palácio Ducal. Esse prédio foi a sede do governo de Lucca até a unificação da Itália, em 1882. Antes disso, o local era uma fortaleza que ocupava quase 20% da cidade.
Seguindo a lógica de toda cidade italiana, Lucca também tem seu Duomo, que nada mais é que a catedral. A primeira versão desse templo foi erguida há quase mil anos, embora a estrutura tenha sido bastante modificada com o passar dos séculos. Detalhes sobre a visita aqui.
Outra igreja imponente (e para mim mais bonita) é a de San Michele in Foro. Esse Foro, depois do nome do santo, é de Fórum, mostrando o local em que o templo foi erguido: o antigo centro da vida em Lucca, durante o auge do poderio romano. A igreja foi construída no final do século 8, mas ganhou a cara que tem hoje cerca de 300 anos mais tarde.
A grande atração da cidade, depois das muralhas, é a Piazza dell’Anfiteatro, uma praça que tem a forma de um antigo anfiteatro romano que existia exatamente naquele lugar. Com o passar dos séculos a cidade engoliu o antigo anfiteatro, mas ainda é possível perceber claramente a origem do lugar.
Segundo a Wikipédia, o Anfiteatro tinha capacidade para até 10 mil pessoas e recebia aquele tipo de entretenimento inocente que agradava aos romanos, tipo lutas até a morte entre gladiadores. Hoje, ali você vai encontrar restaurantes, bares e tranquilidade, tudo que você não encontraria há alguns séculos. A Deyse, do blog Passeios da Toscana e que mora naquela região da Itália, tem um post inteiro apenas sobre essa praça.
Piazza dell’Anfiteatro
Com 45 metros, a Torre Guinigi é uma das mais importantes de Lucca (e uma das poucas que ainda estão de pé). É preciso vencer uma escadaria para chegar ao topo. Eu não fiz isso, mas parece valer a pena. A vista do mirante – que conta com um simpático jardim – tem cara de ser interessante. A visita custa 4 euros. Detalhes aqui. Outra estrutura semelhante é a Torre delle Ore.
Por fim, destaque para a fachada da Basílica de San Frediano, que está por ali, mais ou menos desse jeito, há quase 800 anos.
Você não precisa de muito tempo para conhecer Lucca. Embora a cidade tenha quase 80 mil habitantes, o centro histórico, que é a parte murada, é bem menor e pode ser percorrido a pé (ou de bike!).
Eu fiquei apenas algumas horas na cidade – estive lá no mesmo dia que visitei Pisa, num bate-volta a partir de Florença. Você pode fazer a mesma coisa, já que as duas cidades cabem tranquilamente num dia só e que o deslocamento entre Pisa e Lucca é rápido e simples.
No tempo em que estive lá, caminhei bastante, observei as fachadas dos prédios e o charme das ruas, mas não entrei na maioria das atrações justamente por falta de tempo. Mais importante: com tempo você pode aproveitar com calma os restaurantes da cidade. Se você quiser fazer isso, talvez seja interessante passar uma noite por lá. Eu te garanto que ruim não vai ser, afinal até Júlio Cesar escolheu passar um tempo em Lucca.
O Booking lista centenas de opções de hospedagem na cidade. Não tem muito como errar – fique dentro da muralha. Veja a lista de opções aqui.
Peguei o trem a partir da estação Pisa San Rossore, perto da famosa torre inclinada, em Pisa. Os trens passam de meia em meia hora e a viagem dura pouco mais de 20 minutos. Também é possível ir a partir da estação Santa Maria Novella, em Florença. Essa viagem dura em torno de 1h20.
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Ver Comentários
Oi Rafael, sempre muito bom seus comentarios e dicas sobre um passeio aqui ou ali, ja tinha colocado Lucca na minha planilha de visita em minha proxima viagem a Italia, mas vou fazer um bate e volta a partir de Pisa e irei tambem em Livorno. Achei otimo seu artigo. Parabens , acho que você ja merecia estar em Nove ou Dez Camaras. Obrigado mais uma ves.
hahaha.
Obrigado, Elson. Aos poucos eu chego lá. :)
Abraço.
Gostaria que me informasse se é possível visitar Pisa e Lucca num bate-volta partindo de Roma.
Um abraço e " Boas Viagens"
Oi, Thel. Possível é, tem trens que fazem o percurso em 2h30. Só não é o mais comum, em geral é um bate-volta recomendado a partir de Florença.
Abraço.
Obrigada pela indicação do meu blog Rafael!
Sempre um prazer, Deyse! :)
Ótima matéria meu avô paterno veio de lá fugindo da fome quando da unificação da Italia.
Chegou em Santos por vilta de 1883, casou durante a viajem com minha avó Giuseppina, que vinha de perto de Roma.
Tiveram 7 filhos, seis homens e uma menina. Um dos Filhos foi meu pai Aldo.
Eu ainda não consegui visitar Florença e Lucca, mais ainda chego la se Deus quizer!
Não preciso dizer que fiquei emocionado. Sabia de Puccini, mas dos romanos só soube agora.
Obrigado e Parabéns!
Fico muito feliz de receber esse comentário, Silvano. E vá visitar Lucca sim, caso tenha a oportunidade. Certamente vai ser emocionante conhecer suas raízes. :)
Abraço.
AH que massa! Estou procurando uma cidade italiana pra passar um tempo em julho/agosto e Lucca entrou no top 3 agora: Napoles, Florenca e Lucca!
Que ótimo, Ricardo. É uma cidade agradável sim. E perto de Florença.
MATÉRIA EXCELENTE!!!!!!!! Eu sou suspeita pra falar de Lucca. Já fui duas vezes pra lá e não descarto voltar. Pra quem vai ficar por mais de um dia, vale o passeio até Péscia, a cidade do Pinocchio. São 30 minutos de carro, mas dá pra ir de trem também. Lá é a cidade onde a história foi criada e pra quem gosta da história, é uma boa pedida.
Você é muito suspeita para falar de Lucca, Fê. hahaha
Obrigado pelo comentário e pelas outras dicas. :)
Excelente matéria. Me senti lá novamente. Mas senti falta de uma coisa muito importante. Lucca é a cidade do grande Giacomo Puccini. Uma das grandes atrações da cidade é visitar a sua casa, que conta com um pequeno museu, mostrando com detalhes sua rotina e hábitos. Acho que é um dos passeios que tem de ser feitos! É emocionante entrar lá.
Abs.
Boa dica, Camila. Obrigado. :)
Acrescentou muito ao texto.
Abraço.