Matera, na Itália, é uma das cidades mais antigas do mundo. Conhecida como Cidade de Pedra por conta de suas cavernas, que foram habitadas desde 7 ou 8 mil anos atrás, até os anos de 1950. Hoje, tais casas nas cavernas foram repaginadas e a cidade se tornou a Capital Européia da Cultura em 2019.
Nesse post, você descobre o que fazer em Matera, num roteiro de 2 dias, com dicas dos pontos turísticos, como chegar, onde comer e onde ficar.
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Matera é conhecida como a cidade dos Sassi, ou seja, a Cidade das Pedras. O que você encontra ali hoje é uma grande combinação de diferentes eras. Desde a pré-história, com as vilas do neolítico que se desenvolveram nas Idades do Bronze e do Ferro que continuaram habitadas no período dos Romanos, na Idade Média e assim por diante.
Uma cidade onde agricultores, pastores, artesãos e monges viviam e esculpiam suas casas, igrejas, oficinas, cozinhas e cisternas coletivas, tudo na pedra.
Até o início do século 19, Matera era uma próspera cidade rural e capital regional da Basilicata – o salto da bota italiana.
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Mas com a mudança da capital para Potenza, o prestígio acabou. Famílias inteiras e animais viviam nessas cavernas chamadas de Sassi, onde a regra era doenças como malária, falta de saneamento básico, de luz e de água encanada. Para coletar água, eles usaram por muito tempo as áreas comunais, além de cisternas públicas. Trabalhavam nos campos, tinham seu próprio dialeto, mas estavam isolados.
Matera tornou-se símbolo da pobreza e fonte de vergonha para o país, mas demorou muito para que qualquer providência fosse tomada (essa matéria do The New Yorker conta bem a história).
Nos anos 1950, o governo que assumiu o poder pós-ditadura tomou a decisão arbitrária – que vinha da época de Mussolini – de remover as pessoas das cavernas. Os sassi seriam destruídos ou renovados de acordo com as suas condições. Quase 16 mil pessoas foram deslocadas para casas na parte nova da cidade.
A parte velha, porém, não deixou de existir. Afinal, Matera, tal como Aleppo e Byblos, é uma das mais antigas cidades continuamente habitadas do mundo.
Apesar dos planos de implodir o local, o que aconteceu foi que, pouco a pouco, ao longo dos anos 1970 a 1990, jovens, artistas e empresários voltaram a viver nos Sassi, reformando as antigas habitações.
Surgiram hotéis, restaurantes e museus, mas você ainda vai encontrar casas de pedra calcária cujos pisos passam em cima do teto da outra, de uma forma aleatória e não planejada – assim como alguns grupos de cavernas abandonadas e igrejas rupestres.
Em 1993, os Sassi de Matera foram considerados Patrimônio da Unesco, o que realmente fez com o turismo começasse por ali. Foi nomeada Capital Cultural da Europa para 2019 (junto com Plovdiv na Bulgária, outra cidade milenar que tive o prazer de conhecer). Matera segue sendo essa incrível dicotomia entre o velho e o novo, entre o que o futuro reserva, mas em busca sempre de resgatar o passado.
Ao olhar o mapa da cidade você vai entender que a Matera de hoje é a mesma descrita em documentos do século 18.
A parte antiga é dividida em três áreas: a Civita e o Piano formam parte mais alta, onde ficam as grandes igrejas e alguns palácios. E dos dois lados, circundados por um vale, estão os Sassi (ou pedras), as áreas residenciais, construídas fora dos muros da Civita, com as casas umas em cima das outras, escavadas nas rochas.
São o Sasso Barisano, mais organizado, conhecido por ter vários elementos mais artísticos, e o Sasso Caveoso, onde há bem mais cavernas.
Ainda, cruzando o vale, fica o Parco della Murgia Materana, onde encontram-se várias cavernas e igrejas rupestres. E, por fim, há a parte nova da cidade, que tem cara de uma cidade comum e é onde fica a estação de trem e ônibus.
Eu fiquei dois dias inteiros em Matera e acredito que é o mínimo necessário para conhecer a cidade.
Como estávamos fazendo um roteiro que incluía também outras cidades das regiões de Puglia e Basilicata, usamos Matera como base. No total, foram cinco noites na cidade.
Para circular por essa região, recomendamos alugar um carro. Não é necessário dentro de Matera, mas para explorar seus arredores. Veja nossas dicas de aluguel de carro na Itália e como evitar as multas que eu levei nessa viagem.
Para facilitar sua viagem, listo abaixo algumas das atrações de Matera que considero mais importantes e interessantes.
A Catedral de Matera é visível de qualquer ponto da cidade, uma igreja construída entre 1230 e 1270, mas cujas escavações ao redor revelam uma área que sempre foi muito movimentada desde a Idade Antiga.
Outra igreja que vale a visita é a pequena San Giovanni Batista, um exemplo de construção em estilo Romanesco, de 1233.
O Palombaro Lungo fica abaixo da praça Vittorio Veneto. Trata-se de uma rede antiga de canais construída no século 19, que levava água de uma fonte natural próxima ao Castelo Transmontano até a cisternas.
Prepare-se para caminhar bastante, subir e descer escadas e explorar ruelas e cavernas. Esse é o principal passeio nos Sassi, caminhar pelas ruas históricas sem rumo e se perder com a beleza das paisagens.
A Igreja de San Pietro Barisano fica no Sasso Barisano e é um bom exemplo de construção integrada com as pedras. Apesar da construção original ser do ano mil, a fachada atual é de 1755.
Também no Sasso Barisano fica a Igreja e Monastério da Madonna della Virtù e San Nicola dei Greci. Essa construção é um excelente exemplo da típica “arquitetura negativa” de Matera: as construções eram feitas para dentro das rochas, escavando as pedras. Lá dentro também dá para ver parte do sistema interconectado de cisternas para coleta de água da chuva – e ainda tem os tanques antigos de produção de vinho.
A Igreja de San Pietro Caveoso foi construída em 1218, mas muito modificada ao longo dos anos. A entrada é gratuita, mas a melhor parte da visita é a vista da praça que fica em frente à construção.
Ao lado de San Pietro Caveoso fica uma grande rocha. E no topo dessa rocha, além da vista incrível, está a entrada para outra igreja-caverna, a Dell’Idris Madonna e San Giovanni Monterrone. É uma mistura de construções e escavações na rocha, com afrescos bem conservados.
Tanto no Sasso Caveoso como no Sasso Barisano existem algumas casas-museu que “remontam” como era a vida em Matera antes da expulsão dos moradores, nos anos 1950.
Mas se você, como eu, não curtir muito essas montagens ou simplesmente não quer pagar por isso, pode conhecer algumas das cavernas abandonadas que ainda estão abertas. Basta seguir pela viela que sai de trás da igreja de San Pietro Caveoso e seguir pelo Rione Casalnuevo.
Eventualmente você chegará aos espaços, mas tenha cuidado: lembre-se de que apesar de serem abandonados, o cheiro de urina e o lixo denotam presença humana. Evite ir sozinho ou à noite.
Enquanto o principal passeio dos Sassi é andar pelas vielas, no parque que fica do outro lado do vale, acessível por uma caminhada entre as montanhas ou de carro, o passeio é entrar em cavernas e antigas igrejas – além de, claro, apreciar a vista.
Para visitar algumas das igrejas é necessário estar acompanhado de um guia, como a San Nicola della Ofra, a Caverna dos Morcegos, Santa Maria degli Angeli, etc. Outros templos podem estar fechados para reforma ou por terem colapsado.
A minha parte favorita foi o Belvedere, a área de onde se tem a melhor vista de Matera e todo o vale (várias fotos abaixo). Ali em volta, com simples caminhadas, dá para ver e entrar em algumas cavernas também.
Uma delas é a Igreja de Santa Agnese, bem pequena, mas com afrescos coloridos.
Também vale a pena ir até a Igreja Madonna delle Vergini, a única de todas as igrejas-caverna que ainda é usada como espaço de oração. No entorno, há outras cavernas que dá para entrar, além da vista incrível.
Estive em Matera em meados de outubro, quando a cidade já está um pouco mais vazia e o clima ameno. Pegamos alguns dias de chuva. Para economizar, visto que Matera era nossa base de cinco noites para conhecer a região de Puglia e Basilicata, decidimos ficar na parte nova da cidade.
A escolha foi o excelente apartamento La Caseta al 21, que fica a cerca de 10 minutos de caminhada do centro histórico. É um apartamento de dois quartos, todo equipado e novinho. E os proprietários são muito atenciosos e prestativos. Gostei muito da experiência. Custou 54 euros por noite para duas pessoas. Tem nota 9,5 (Excepcional) no Booking.
Quando eu voltar, porém, gostaria de ficar num dos Sassi, visto que existem vários hotéis e casas para alugar (de preços variados) que são reconstruídos e reformados a partir das cavernas antigas. Temos várias indicações de hospedagem, além de mais dicas sobre a localização, no post de Onde ficar em Matera
Veja uma lista com opções de hospedagem na região do Sassi di Matera com desconto.
Tivemos duas experiências muito boas com restaurantes em Matera. Como esse era o último destino da viagem, estávamos dispostas a gastar um pouco mais, mas ainda assim são opções que podem ser consideradas econômicas (mas talvez não caibam no bolso de um mochileiro).
O Stano fica na região do Piano, atrás do Sasso Barisano. É um restaurante familiar com várias opções de carnes e peixes, massas tradicionais dessa região italiana, além de um menu especial de pizzas. Nosso jantar, que estava delicioso (e eu esqueci de fotografar), com o vinho, saiu por 35 euros para duas pessoas. Endereço: Via Santa Cesarea 67/69
Já o La Talpa fica no Sasso Barisano, dentro de uma caverna que em 2000 foi transformada em restaurante. Apesar de eu ter achado a comida no Stano melhor, o La Talpa ganha na ambientação e simpatia dos garçons. O menu tem pratos típicos de peixe, frango, massa e pizza. Nossa conta ficou em 32 euros com a entrada, prato principal e vinho. Endereço: Via Fiorentini 167
Os dois aeroportos mais próximos de Matera são Bari e Brindisi. Esses aeroportos recebem voos das principais cidades italianas, como Roma e Milão. Além disso, é possível voar de outras cidades europeias, como Paris e Madri, direto para esses aeroportos.
Ryanair e Alitalia operam para esses destinos.
Não existe opção de trem para Matera, mas a empresa de trem do país vende a viagem de ônibus.
O trajeto é feito a partir de cidades no sul do país, como Nápoles (4 horas), Salerno (3 horas), Bari (1 hora) e Brindisi (3 horas).
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Oi Luiza! Adorei o post. Estou planejando meu roteiro e gostaria muito de incluir Matera. Mas tenho duas crianças. Uma com 2 e outra com 4 anos. Na região dos Sassi andar com carrinho é impossível ? Um beijo
Oi Carolina,
Tem algumas regiões que dá para andar, mas outras tem bastante escada. Se vocês alugarem um carro acho que rola
oi Luiza, Vou a Matera em junho tenho um dia em Matera tb. gostaria de saber um lugar para jantar.
Obrigada Maria
Oi Maria,
Eu gostei muito dos dois restaurantes que eu sugiro no post!
Adorei as dicas. Tudo muito claro e muito bem escrito.
=)
Luiza boa tarde, vou para Itália em 30/09 e volto dia 21/10, serão quase 20 dias e vou passar 1 dia em Matera. Qual dica do que conhecer, lembrando que tenho 1 dia. Outra coisa: chove muito na região da Toscana, Costa Amalfitana e Puglia no mês de Outubro?
Oi Maira,
Caminhe pelo centro e os sassi. É o melhor a fazer em um dia.
Sobre a chuva, não tem como prever. Eu peguei alguns dias de chuva na Costa Amalfitana dessa vez, mas das outras vezes que estive na Itália não.