Como quase tudo na Arequipa do século 16, era o vulcão que dava abrigo para as freiras do Monastério de Santa Catalina. Ou melhor, as pedras vulcânicas, chamadas silliares, retiradas dos irmãos Chachani e Misti, vulcões que marcam a paisagem nos arredores da cidade peruana.
Pedras que foram levadas para a vila e usadas para erguer muros de até quatro metros. Muros que separam a cidade da cidade. Inaugurado em 1579, apenas 40 anos depois da fundação de Arequipa, o Monastério de Santa Catalina é enorme: tem 20.000 m², o equivalente a quatro campos de futebol.
Não se trata de um prédio religioso normal. Uma vez que você ultrapassar os muros do monastério, encontrará uma série de pátios, ruas, casas e claustros, uma vila inteira, autônoma e que viveu, durante quatro séculos, isolada de Arequipa – e ao mesmo tempo no coração da cidade.
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Por isso, reserve tempo para a visita e não passe por lá muito cansado, já que é quase impossível percorrer tudo em menos de duas horas.
E agradeça pela chance de visitar o local, já que o isolamento acabou apenas na década de 1970, quando uma nova estrutura foi erguida para receber as freiras que vivem lá (atualmente são cerca de 20) e os antigos corredores e ruas foram abertos aos turistas.
Entrada interna do Monastério
Em seu auge, o monastério chegou a ter uma população de 500 pessoas. Cerca de 2/3 delas eram freiras, que entravam ainda adolescentes e muitas vezes não saiam nem depois da morte, já que há um cemitério no local. Um cemitério, uma lavandeira, dormitórios, casas, terraços, cozinhas…
Lavanderia e, ao fundo, a porta do cemitério do Monastério
Com a construção bancada por uma viúva rica, o Monastério logo se converteu num lugar para famílias poderosas. No Peru colonial, era tradição que os segundos filhos – homens ou mulheres – fossem dedicados à Igreja. A moça não tinha opção: ao chegar a idade certa, fazia as malas e era enviada para o Monastério, onde viveria para sempre, em celibato e entregue ao Senhor.
Isso era considerado um privilégio entre os nobres, que ainda pagavam um dote ao Monastério, algo em torno de 2000 moedas de prata. Há divergências sobre o que isso significaria em valores atuais, mas várias fontes garantem que seria algo entre 50 e 150 mil dólares.
As mais ricas levavam até porcelana chinesa, cortinas, tapetes e tudo que fosse necessário para dar uma festa e receber as vizinhas.
Riqueza que criou um fenômeno interessante. Se as filhas da nobreza iam para o Monastério para viver em clausura, isso não queria dizer viver sem conforto. Elas levavam suas servas e cozinheiras, casas eram erguidas pelas famílias (e depois vendidas para outras famílias ricas, após a morte da freira).
Apesar de ser uma ambição dos ricos, o Monastério também recebia algumas mulheres pobres. Mas a separação social era evidente no tipo de moradias, nos servos e até nas roupas.
Isso só acabou no século 19, quando houve uma reforma na Igreja Católica. As casas foram substituídas pelos dormitórios e as cozinhas particulares foram trocadas pelas coletivas. No século 20, outra reforma permitiu que as freiras, caso desejem, larguem a vida de clausura e voltem para a sociedade.
A estrutura física também mudou ao longo dos séculos, com pouco restando das paredes originais. Culpa dos terremotos.
O Monastério também servia como asilo e como escola para as famílias nobres, que enviavam suas filhas para lá cedo, aos cinco anos. Nesse caso, o objetivo era treinar as crianças para o casamento – isso, óbvio, não acontecia com as segundas filhas. Quando chegava a idade indicada, a filha deixava o Monastério e se entregava ao matrimônio escolhido pelos pais.
Esse deveria ter sido o destino de Ana dos Anjos Monteagudo, que aos três anos foi entregue pelos pais às monjas catalinas. Ele foi retirada do Monastério aos 14, quando seria jogada no matrimônio escolhido pelos pais. Só que a Ana resolveu voltar, por conta própria, para o convento, contrariando a família e até a direção do monastério.
Ela venceu a parada, virou noviça, freira e mais tarde Madre Superiora, por três anos, do convento. A ela foram atribuídos milagres e predições. Ela foi beatificada pelo Papa João Paulo II, que visitou o local em 1985.
Hoje, muitos católicos vão ao Monastério para agradecer à Sor Ana de los Ángeles, como ela ficou conhecida.
O Monastério abre para visitação todos os dias, a partir das 9h. Tente ir numa terça ou quinta, quando o local fecha às 20h – é incrível ver o pôr do sol mudar as cores do convento. Um terraço permite observar toda a cidade, inclusive os vulcões de onde foram tiradas as pedras para a construção de Arequipa e do Monastério Santa Catalina. Nos outros dias o local fecha às 17h.
A entrada custa 45 nuevos soles. Se quiser enriquecer ainda mais sua experiência, é possível reservar um tour guiado (espanhol, inglês e, claro, portunhol). Custa R$ 150 e já inclui o ingresso do Monasteiro e também um roteiro pelo centro histórico.
Sem guia, você receberá um mapa do local e terá que se virar por conta própria, perdendo várias informações importantes.
O endereço é Santa Catalina 301, perto da Praça de Armas e bem no centro histórico de Arequipa. Mais informações no site oficial.
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Ver Comentários
Olá Rafael,
Quanto tempo é preciso para conhecer o monastério com algum detalhe?
Att,
Marcos Silveira
Oi, Marcos. Dá pra fazer a visita em duas horas, duas horas e meia. Mas a área é bem grande. Se quiser uma visita mais aprofundada, você vai levar pelo menos a metade de um dia de viagem.
Abraço.