Três fraturas na coluna, 11 na perna, dezenas de cirurgias e um incentivo para criar uma das carreiras artísticas mais impressionantes da América Latina. Essas foram algumas das consequências do acidente de ônibus que marcou para sempre a vida de Frida Kahlo. Ela enfrentou ainda a poliomielite, que a deixou com uma perna mais curta que a outra, e passou um longo período sem ser capaz de se levantar da cama. Nada que a impedisse de criar. “Eu pinto minha própria realidade”, disse certa vez a a mais conhecida artista mexicana. Toda essa história é contada no Museu Frida Kahlo, um dos mais populares da Cidade do México.
O Museu funciona no endereço onde a artista nasceu, numa casa em estilo colonial, em 1907. A Casa Azul, construída em forma de U e com um jardim no meio, fica em Coyoacán, na época um subúrbio da capital mexicana, região que nos anos de Frida se tornou reduto de artistas e intelectuais. Embora a artista tenha morado em outros lugares da Cidade do México e também na Europa e nos Estados Unidos, a Casa Azul foi o local onde ela passou a maior parte da vida. E foi onde ela morreu, em 1954, já tendo amputado a perna direita e enfrentando dores fortíssimas. Em seu diário, Frida se despediu: “Espero feliz pela saída e espero nunca voltar”.
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Visita ao Museu Nacional de Antropologia, na Cidade do México
A casa tinha sido comprada anos antes pelo pai de Frida, Guillermo Kahlo, um fotógrafo alemão que emigrou para o México, onde se casou com a mãe da artista, a mexicana Matilde Calderón. Frida se considerava “filha da revolução”, por conta de um movimento político que balançou o México por 20 anos, justo os primeiros da vida dela. Da infância, Frida se lembraria dos momentos em que sua mãe abriu a casa e ofereceu comida e ajuda para os revolucionários que passavam por Coyoacán. Esse evento contribuiu para a formação política da artista, que era de esquerda e admirava líderes comunistas.
Em 1929, Frida se casou com Diego Rivera, já um célebre pintor mexicano. Entre idas e vindas, o casal passou muitos anos na Casa Azul. A visita começa nos jardins, onde Frida costumava caminhar, e entra nos aposentos da residência. Cozinha, ateliê e os quartos podem ser visitados. Neles estão obras importantes de Frida, como o quadro Viva la Vida, o último trabalho feito pela artista, dias antes de morrer, ou Frida y la cesárea, que mostra a frustração da pintora por não poder ser mãe – ela sofreu três abortos.
O Museu guarda também alguns trabalhos de Diego Rivera, de outros artistas e até peças de arte pré-colombianas, um acervo que fazia parte da decoração da casa.
Viva la Vida
As obras mais importantes de Frida não estão na Casa Azul, mas espalhadas em museus mundo afora. Por isso, a importância do Museu Frida Kahlo é outra: ver como ela viveu a maior parte de sua vida e sentir um pouco da sua capacidade de superação. Isso fica evidente no mobiliário do quarto, onde há um espelho acima da cama, usado por Frida para pintar nos anos em que ela ficou acamada, após o acidente. É também num dos dormitórios que estão a urna que guarda as cinzas da pintora e máscara funerária de Frida.
Foto: Divulgação / Museu Frida Kahlo
Outro espelho que se tornou famoso está no ateliê, este usado por Frida para fazer alguns de seus mais conhecidos autorretratos. Já o chão amarelo da sala de jantar e o da cozinha receberam vários convidados famosos, como o cineasta Sergei Eisenstein, o escritor André Breton, o empresário Nelson Rockefeller, que mais tarde foi vice-presidente dos Estados Unidos, e León Trotsky, um dos líderes da Revolução Russa.
Trotsky, exilado e perseguido por agentes de Stalin, se exilou no México por quase três anos – em dois deles ele viveu na Casa Azul, a convite de Frida e Diego e sem pagar aluguel. A Casa passou a ser vigiada 24 horas por dia, para proteção do líder soviético, que estava acompanhado da mulher. Frida e Trotsky tiveram um caso por mais de um ano.
Foto: Divulgação / Museu Frida Kahlo
Quando o caso foi descoberto por Rivera, Trotsky foi convidado a se retirar da residência, embora o motivo oficial tenha sido divergências políticas. Trotsky se mudou para uma casa perto dali, onde acabou assassinado por ordens de Stalin, em 1940. Diego Rivera também tinha casos extraconjugais frequentes e algum tempo antes tinha tido até um relacionamento com a irmã de Frida, Cristina, o que na época causou a separação do casal.
Frida morreu em 1954 e a Casa Azul foi transformada em Museu poucos anos mais tarde, por iniciativa de Diego Rivera.
O Museu Frida Kahlo abre de terça a domingo, sendo que quarta-feira o funcionamento é de 11h às 17h30 e nos outros dias é de 10h às 17h30. O museu não funciona nos dias 1° de janeiro, 21 de março, 1° de maio, 16 de setembro, 21 de novembro e 25 de dezembro. O ingresso para estrangeiros custa 200 pesos em dias de semana e 220 nos finais de semana. Já as visitas guiadas custam a partir de 500 pesos por pessoa (e não incluem o valor do ingresso).
Fotos são permitidas gratuitamente somente nos jardins – para fotografar dentro da casa é preciso pagar uma taxa extra de 30 pesos. É possível pagar com cartão de crédito e até comprar pela internet, no site do museu. Por conta das filas, que costumam ser grandes principalmente nos finais de semana, é aconselhável comprar seu ingresso pela internet e levar o comprovante – assim você evita a fila da bilheteria.
O ingresso garante entrada também no Museo Diego Rivera-Anahuacalli, que fica no mesmo bairro. Como Coyoacán está relativamente afastado do centro, pode ser uma boa ideia aproveitar o dia para visitar também o Museu Casa Leon Trotsky, a última residência do líder soviético e onde ele foi assassinado, que também está na vizinhança. Outro passeio legal nos arredores – que eu fiz e recomendo muito – é o Mercado de Coyoacán, ótimo lugar para comer na Cidade do México.
O Museu Frida Kahlo fica na Calle Londres 247, Del Carmen, em Coyoacán. As estações Coyoacán (linha três do metrô) e a General Anaya (Linha 2) estão a cerca de 15 minutos de caminhada. Também dá para ir de uber/cabify. A corrida do centro custa cerca de 130 pesos.
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