O que fazer em Hamburgo, Alemanha: roteiro de final de semana

A cidade com mais pontes do mundo. “Não seria Veneza ou Amsterdam?” – perguntou-me uma pessoa no Instagram. A resposta, pelo menos autodeclarada, é Hamburgo, na Alemanha, com 2473 travessias sob as águas dos rios Elba e Alster (que foi canalizado e hoje é um grande lago). A cidade no norte do país foi construída entre dois rios e em frente ao Mar do Norte. Desde o período medieval se destacou pela importância marítima e comercial e enriqueceu muito com isso, a ponto de hoje carregar também o título de local com mais milionários da Alemanha. Na fachada do prédio da prefeitura, uma fênix relembra a capacidade de Hamburgo de ressurgir das cinzas. Em 1842, um grande incêndio varreu a cidade inteira e chegou a arrasar com o prédio da prefeitura medieval. Um século mais tarde, os bombardeios da Segunda Guerra Mundial foram especialmente destruidores em Hamburgo.

O centro da cidade (Alstadt e Neustadt) que conhecemos hoje era basicamente toda a Hamburgo do passado. Ali existem apenas cinco igrejas. O castelo que deu nome à cidade nunca foi reconstruído. Todas as igrejas do centro são luteranas, porque, na época da reforma de Lutero, qualquer outra religião foi banida. Assim, judeus, católicos, muçulmanos e pessoas de outras religiões encontraram liberdade no distrito de Altona, que nessa época era uma cidade dinamarquesa. Hoje, Altona é um bairro de Hamburgo, mas ainda tem essa tradição de ser um lugar de imigrantes.

Se era a religião que dividia Altona do centro de Hamburgo, a região entre os dois distritos só tinha relação com o profano. St. Pauli era (e ainda é) o lugar onde rolava a putaria, bebedeira e confusão entre os marinheiros que desembarcavam em Hamburgo. Hoje, é um Red Light District, com a famosa avenida Reeperbahn e suas fachadas neon, fedor de mijo e cerveja e até uma rua em que mulheres (exceto as que estão trabalhando) não são bem-vindas. A atmosfera de festas e prostituição local faz parecer que você pegou um teletransporte e saiu da Alemanha direto para Phuket, na Tailândia. Tem gente que ama e gente que odeia St. Pauli. Eu fico mais no segundo time, exceto por um fator cultural interessante: foi ali que os Beatles aprenderam a tocar em público e começaram a ficar famosos, de 1960 a 1962. Nessa época, o grupo não tinha um baterista fixo e nem seu produtor, Brian Epstein. Tocaram em clubes como The Top Ten e The Start Club. No final da Reeperbahn você encontra a Beatlesplatz, com esculturas de metal que indicam a rua onde eles costumavam tocar e se hospedar.

O que fazer em Hamburgo, Alemanha: roteiro de final de semana

Sábado

Comece o dia em frente ao prédio da prefeitura. O nome da estação é Rathaus. Como expliquei antes, esse prédio foi construído depois do grande incêndio de 1842, levou 40 anos para ficar pronto e só sobreviveu à Segunda Guerra Mundial porque, por algum milagre, a bomba que caiu lá não explodiu. É possível passear pelo lobby do prédio e pelo pátio interno gratuitamente. No pátio, há uma bela fonte de água, chamada Fonte da Saúde. É que ela foi construída durante uma grande epidemia de cólera, para que a população pudesse pegar água potável dali. Também é possível fazer um passeio guiado pela prefeitura, em horários específicos, que custa 5 euros. Saiba mais no site oficial.

Perto da prefeitura fica o Inner Alster, que é uma parte pequena do lago canalizado. Logo ao lado fica o lago maior. É ao redor dessa região do lago que ficam os endereços mais caros e luxuosos de Hamburgo. Era ali que, no século 17, as moças e rapazes caminhavam para encontrar maridos e esposas.

Bem próxima à prefeitura está a igreja de St. Peter. O prédio de hoje é uma reconstrução do modelo da igreja do século 13. Logo ao lado, está o local onde ficava o Castelo de Hamburgo. Hoje, a área é marcada com uma espécie de instalação artística. Vale a pena caminhar com calma por essas ruas do centro. São bem bonitas e cheias de lojas interessantes. Observe, enquanto caminha, as pontes e os detalhes dos prédios históricos. Se bater a fome enquanto estiver ali, se delicie com uma tradicional salsicha alemã. Os dois quiosques que ficam na saída do metrô Mönckebergstrasse, chamado também de Mö-Grill, ficam lotados. Eu optei pelo salsichão recheado com queijo. Outro local importante no centro é a Igreja de St. Nicolau. Em estilo gótico, essa foi uma das igrejas destruídas durante a guerra. Eles optaram por não reconstruí-la, como um memorial para as vítimas. A torre da igreja era tão alta que servia de orientação para os bombardeios, que começaram em 1943, na chamada Operação Gomora. As bombas especiais jogadas em Hamburgo só podiam ser apagadas com areia. O fogo durou 11 meses, tão quente que até o asfalto derretia. Foram 60 mil mortos e um milhão de desabrigados. Além de visitar o memorial – que é gratuito -, dá para subir na torre, de elevador, e observar a vista lá de cima. Como o dia não estava muito bonito, deixei para outra oportunidade. Tenho duas sugestões de atração para a tarde, mas dá para fazer as duas coisas, se você correr um pouco: Uma é o Museu Marítimo Internacional. Localizado na região das docas, o museu tem dez andares, contando tudo sobre a relação do homem com o mar, desde navios históricos, as grandes navegações, piratas, animais do fundo do oceano (e muito mais). Eu gastei cerca de duas horas lá dentro, mas se você for fã do tema, certamente ficará mais tempo. Fica aberto das 10h às 18h e a entrada custa 13 euros. Outra visita que eu amei fazer é o tour de chocolate da Chocoversum. É um tour montado pela chocolateria Hachez, que envolve um pouco da história do chocolate, do cultivo e exploração do cacau, e o processo de fabricação do doce. Mas o mais importante é que tem muita degustação de chocolate ao longo de todos os 90 minutos e, para completar, você tem a chance de montar a sua própria barra de chocolate, com os ingredientes que quiser. Os tours em inglês ocorrem às 12h e 15h45. É necessário reservar com antecedência, porque esgotam muito cedo e ficam mais caros para quem compra na última hora. O preço inicial é 12 euros, com descontos para estudantes e crianças,. Para terminar o dia com boa comida e bebida, minha sugestão é a cervejaria Groninger. Eles têm cervejas deliciosas de produção própria e também servem comidas típicas alemãs, saladas e cozidos. Além do menu a la carte, também tem um buffet no quilo. Caso queira esticar a noite, pode curtir as loucuras da região de St. Pauli. Uma recomendação que recebi do hostel foi tomar cuidado ali com batedores de carteira, boa noite Cinderela e os grupos de homens bêbados caçando briga. Uma dica mais cultural é comprar um ingresso para uma das muitas peças de musicais espalhadas por Hamburgo. A cidade é famosa por essa cena do teatro e da música. Veja aqui um site com as programações.

Domingo

Comece seu domingo cedinho no mercado de peixe, no St. Pauli Fischmarkt. Uma tradição da cidade que só abre aos domingos, a partir de 5h ou 7h30 (mais cedo no inverno e mais tarde no verão), até às 9h30. Não faça como eu, que não consegui acordar a tempo – e olha que coloquei mais de um despertador. Ou vá direto da balada! Ali, a maior tradição é comer, logo de manhã, o sanduíche de arenque. Aproveite que você está ali para caminhar um pouco pelo porto. Se você não esteve em St. Pauli na noite anterior, esse é um bom momento para conhecer a Reeperbahn num período mais calmo e ver a Beatles Plaz. Quando terminar, é hora de caminhar pelo porto até a Elbphilharmonie. Esse nome esquisito refere-se a um prédio bem modernoso da orquestra filarmônica de Hamburgo. Demorou 10 anos para ficar pronto e custou 789 milhões de euros. O resultado é uma das melhores salas de concertos do mundo, com acústica quase perfeita. É possível visitar the Plaza, ou seja, o terraço da Elbphilharmony, gratuitamente. Basta fazer a reserva pelo site. Já para assistir um concerto ali você tem que ser rápido e esperto. Confira a programação: tem como marcar a opção para ver apenas o que tiver bilhetes disponíveis. Quando terminar o passeio, que permite uma vista 360 graus de Hamburgo, aproveite para caminhar pelos canais e região das docas. Ali está uma grande concentração de pontes e de prédios que antigamente eram armazéns. Um dica legal para quem curte história é visitar a rua Deichstraße, cheia de restaurantes fofos. Se você entrar num dos becos dessa rua, vai cair no porto histórico de Hamburgo. E foi nesse lugar que o fogo do grande incêndio de 1842 começou, quando uma fábrica de cigarros e outra de bebidas alcoólicas, lado a lado, espalharam para a cidade inteira o incêndio. Por ironia, boa parte dessa região não pegou fogo, então é por isso que ali tem mais prédios antigos. Depois desse passeio, é ali nas docas que fica o Miniatur Wunderland, uma das maiores exposições de miniaturas e modelos de trem do mundo. É um passeio sensacional. Eles têm de tudo: cenas históricas, cidades famosas do mundo, representações em movimento de cenas como a erupção de um vulcão e até um festival de música e um avião decolando. É bem cheio, mas dá para aproveitar. Os horários de abertura variam ao longo dos dias: em alguns, fecha às 19h, em outros às 23h. O preço dos bilhetes também varia de acordo com o horário da visita.

Como se locomover em Hamburgo

Se você não estiver hospedado no cento de Hamburgo, o que é possível porque as hospedagens ali são caríssimas, vale a pena investir num Hamburg Welcome Card, que é um cartão de transporte para uso ilimitado por um período de 1 a 5 dias e que ainda dá descontos nas entradas das atrações. Eu usei o de 48h e foi muito útil porque estava em Altona. E também para aqueles momentos que eu estava cansada e não queria cruzar a cidade. Veja como comprar no site oficial.

Onde ficar em Hamburgo

Eu fiquei no Meininger Hamburgo, em Altona. Funciona como hotel, com quartos privativos modernos, e como hostel. Eu fiquei num dormitório para seis meninas, com banheiro privado. Já escrevi para vocês um post com todas as dicas sobre quais bairros em Hamburgo se hospedar e também algumas sugestões de acomodação para diferentes perfis de viajantes.

Como chegar e sair de Hamburgo para o resto da Alemanha

Eu passei o final de semana em Hamburgo, a partir de Berlim. Decidi a viagem meio de última hora e confesso que, quando vi os preços dos trens, eu quase desisti. Então lembrei de entrar na Omio (antiga Goeuro) – um buscador entre todos os tipos de transporte possíveis na Europa – para ver as outras opções. E foi assim que descobri que seria muito mais barato ir de ônibus, com a Flixbus. Paguei 36 euros, ida e volta, para uma viagem de cerca de três horas. Um informação útil: na estação de trem central há uma grande área de guarda-volumes. Se você estiver numa cidade mais distante, como Munique, talvez valha a pena também ver os valores dos voos. Tanto a estação de trem quanto a de ônibus em Hamburgo ficam bem no centro. O aeroporto também não fica longe das atrações da cidade e o bilhete comum do metrô (ou o Welcome Card) te permite chegar lá.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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