Pouca gente conhece a capital da República da Macedônia e o nome Skopje não é muito comum nas listas de roteiro do pessoal que visita a Europa. Apesar da grafia estranha, o nome é fácil de pronunciar: Escópia é a forma aportuguesada. Cortada pelo rio Vadar, com milênios de história e algumas polêmicas regionais e turísticas, vale a pena conhecer a cidade e tirar suas próprias conclusões.
A história é de fato riquíssima: há vestígios de habitação ali desde o neolítico, 4 mil anos antes de Cristo. Foi invadida por macedônios e romanos na Antiguidade. O imperador bizantino Justiniano I nasceu ali, em 453 d.C., e fez várias construções e melhorias na cidade, até que os eslavos tomaram o local, no século 7. Nos dois séculos seguintes, foi disputada por poderes regionais, até que foi tomada pelo Império Búlgaro – do qual foi capital entre 972 a 992. Ainda fez parte do Império Sérvio, até que, em 1392, foi capturada pelo Império Otomano junto com praticamente todos os Balcãs.
Apesar do islamismo ter sido bastante difundido durante esse longo período de ocupação, as demais religiões – católica, judia e ortodoxa – continuaram a ser professadas, criando um ambiente de grande diversidade. No início do século 20, Agnes Gonxha Bojaxhiu nasceu em Skopje. Não reconhece o nome? É como foi batizada a Santa Madre Teresa de Calcutá.
A cidade só tornou-se capital da República da Macedônia quando o país foi oficialmente instituído, após o fim da Iugoslávia, em 1991. Porém, é importante lembrar que a República da Macedônia não tem nada a ver com aquela Macedônia de Alexandre, o Grande. Essa é uma região da Grécia. Eu contei isso tudo nesse post aqui, quando visitei a Macedônia Grega. Inclusive, essa é uma grande briga internacional, em que a Grécia acusa o país de tentar roubar sua história e identidade, com os quais não tem a menor relação.
Se você acha que as polêmicas acabam por aí, está enganado. Em 1963 um grande terremoto destruiu completamente Skopje. Mais de mil pessoas morreram, 70% da população ficou desalojada e a maioria dos edifícios históricos ficou comprometida. A reconstrução foi pensada no sentido de evitar uma tragédia semelhante: novos bairros foram criados e a população realocada. As novas construções tinham aquele estilo cinzento da arquitetura socialista.
E assim foi até que, em 2010, foi criado um projeto de remodelação, o Skopje 2014. A construção de 20 prédios (museus, centros culturais e edifícios do governo) e 40 monumentos (estátuas, pontes, fontes) custou mais de 700 milhões de euros. Além do custo elevadíssimo ter sido motivo de muitas críticas, com escândalos de superfaturamento, a polêmica também tem a ver com as construções do projeto. Estátuas de Alexandre, o Grande, e de Filipe II da Macedônia buscam abraçar o passado da antiguidade que não pertencem ao país. Além disso, calhou de ser bem no momento em que a Grécia baniu a República da Macedônia de participar da OTAN, por conta da disputa com o nome. Para completar, muita gente reclama que as construções e estátuas são “bregas”.
Um protesto pacífico contra o Skopje 2014 consistiu em jogar tinta colorida nas construções
Tenho que confessar aqui: não gostei muito de Skopje. Concordo com a crítica, a cidade me lembrou mais Las Vegas do que uma parte dos Balcãs. Não cheguei a odiar, mas não vejo necessidade de passar mais do que um dia e uma noite lá, antes de seguir viagem por outros cantos da Macedônia. Claro, essa é a minha opinião: de todos os lugares que visitei nos Bálcãs, essa foi a única cidade que não curti tanto. Mas tem outras pessoas com opiniões diferentes da minha. A Camila, do Viaggiando, por exemplo. Você pode ir lá ver o post dela para ter outra visão.
O Old Bazaar, ou seja, o mercado turco de Skopje, é o maior bazar nos Balcãs fora de Istambul. A partir da Stone Bridge até a Fortaleza de Kale, o espaço do Old Bazaar é patrimônio nacional. O traçado de suas ruas remonta ao século 12 – apesar de ter sido reconstruído ao longo dos anos. Ali você encontra várias mesquitas, lojas e restaurantes. Vale a pena andar pelas ruas, descobrindo as construções antigas, vendo as vitrines, tomando um café ou uma cerveja. Foi meu lugar favorito em Skopje, sem dúvida o mais original.
Entre as construções históricas da época de Justiniano, a Stone Bridge data inicialmente do século 6. Apesar de sua herança bizantina, foi reconstruída ao longo dos séculos: porém, conserva alguns blocos de pedra originais. Também do tempo do imperador bizantino é a Fortaleza Kale, no topo da colina mais alta da cidade, mas, infelizmente, não há trabalhos de arqueologia em busca da construção original. Boa parte do que se visita hoje vem das fortificações dos séculos 10 e 13, período otomano. A entrada é gratuita e a vista da cidade ali de cima é bem bonita.
Um bom ponto de partida para ver as polêmicas construções do projeto Skopje 2014 é a praça da Macedonia. É fácil reconhecê-la, porque bem no meio fica o símbolo de Skopje: a estátua “Guerreiro num Cavalo”. Muita gente pensa que essa é uma estátua de Alexandre, o Grande, apesar disso não ser oficialmente confirmado. Do outro lado do rio você encontra a estátua do pai de Alexandre, Filipe II de Macedônia, junto com várias estátuas e fontes.
Na margem do rio os prédios novos se dividem entre museus, como o Museu de Arqueologia ou o Museu da História da Luta Macedônia, além do Teatro Nacional e Orquestra. Ainda, ali ficam agências do governo e a prefeitura. Para completar, dá para visitar o Arco do Triunfo, uma construção que custou 4,5 milhões de euros. E as várias pontes temáticas que cortam o rio, com destaque para a Ponte das Artes, que tem 29 esculturas. Quando cai a noite, a iluminação dessas construções é muito bonita e nos dias de verão ficam cheias de pessoas de todas as idades passeando por ali, na beira do rio.
Para os interessados na história da Madre Teresa de Calcutá, há um museu/memorial, construído no local onde ficava a casa em que ela nasceu e viveu até os 18 anos.
Eu, sem saber, reservei minha estádia em Skopje para a véspera de um jogo da final da Supercopa da UEFA. Faltando uma semana para a viagem, o hostel que reservei inicialmente simplesmente cancelou a nossa reserva. Tive que entrar em contato com o Booking e felizmente eles conseguiram outro hostel pra gente e nos reembolsaram a diferença. E, melhor ainda, o segundo hostel, chamado Shanti Hostel II, era excelente!
Gostei muito da minha experiência ali e paguei muito barato: €6,50 para um quarto com ar-condicionado, banheiro e camas com cortinas. Vale dizer que a localização não é a melhor possível: o hostel fica muito perto da estação de ônibus, mas a cerca de 1,5km do centro da cidade, onde ficam todos os restaurantes, bares e atrações. Não foi um problema para mim, mas é uma questão a se considerar.
Na região do Old Bazaar, ou seja, o antigo e histórico bairro turco, existem pouquíssimas opções de acomodação, com preços variados. Você pode conferir todos aqui. Gostaria de acrescentar também que, apesar dessa ter sido minha região favorita da cidade para passear e comer, eu não sei se gostaria de ficar hospedada ali: me senti um pouco incomodada com os olhares masculinos durante o dia e à noite essa região fica mais vazia.
Por outro lado, no centro mais moderno, na região no entorno da Praça Macedônia, existem várias opções de hotéis, apartamentos e hostels. É uma boa ficar no centro porque obviamente você está perto de tudo, consegue fazer todos os passeios a pé e não tem esse problema da insegurança que apontei. Pesquise aqui sua acomodação.
Já fiz um post inteirinho sobre a culinária dos Bálcãs, que recomendo que você leia. O melhor lugar em que comi em Skopje foi o restaurante Destan, que serve o tradicional kebab: são 10 rolinhos de carne, acompanhados de pão, cebola picadinha e pimenta assada.
Outra dica ótima é a Old Town Brewery. Fica no alto da colina, do lado da igreja Ortodoxa da Ascenção de Jesus Cristo e da Fortaleza Kale. É uma microcervejaria local, as cervejas artesanais deles são excelentes. Também servem algumas comidinhas de pub. Tem programação com música ao vivo e DJ no happy hour.
É possível chegar em Skopje por terra ou de avião. O aeroporto de Skopje recebe voos da Europa toda, com empresas como a Wizz Air, Alitalia e Turkish Airlines operando por lá.
Para quem vai por terra, apesar de a cidade ter conexões de trem com as outras capitais nos arredores, esse transporte é extremamente lento, então vale mais a pena pegar ônibus, se você não tiver alugado um carro. Um bom site para pesquisar horários e preços dentro do país é o MK Transport. Mas não adianta muito comprar com antecedência: no dia que você chegar, vá até a rodoviária e compre as passagens para o destino seguinte.
Para verificar opções internacionais, o Balkan Viator e o Busticket4me foram os meus melhores amigos durante esse roteiro pelos Balcãs.
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Ver Comentários
Estou indo amanha para Skopje. Muito obrigado pelas dicas, foram muito uteis.
Fique na paz de Cristo que excede todo o nosso entendimento.
Kleber
Fico feliz em ajudar Kleber! Espero que tenha tido uma boa viagem
Acabei de chegar em Escopia, e fui da uma pesquisada agora. Muito obrigada pelas dicas valiosas.
Eu também estou tentando fazer meus 30 antes do 30.
Boa viagem Glaucia!
Amei a matéria. Excelente.
obrigada!
Oi Luiza, muito legal a matéria!
Estamos indo para Skopje... queria perguntar sobre visto na fronteira... algum problema? Tudo certo?
Vamos entrar pela Albania!
Aguardo sua resposta, obrigado :-)
Oi Valter,
Brasileiros não precisam de visto. Seu passaporte vai ser carimbado na fronteira, não tem nenhuma entrevista, nem nada.
Obrigado pela dica do restaraunte, ótimo kebab!
=)