Neste texto falarei sobre o que fazer em Tiradentes (MG), pra muita gente a mais charmosa das cidades históricas mineiras. Mas, antes, um pouco de história. Fundado em 1702, o primeiro nome do povoado, claro, não foi esse: se chamava Santo Antônio do Rio das Mortes. O passar dos anos trouxe o passar dos nomes, que foram vários – Arraial Velho e São José foram os outros dois, que duraram até o século 19.
Com a República instalada e o ouro desaparecido das Minas Gerais, os republicanos resolveram colocar os pés na cidade. E rebatizaram o município, que passou a ter o nome atual, uma homenagem a Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, mártir e herói da Inconfidência Mineira, movimento que foi resgatado pelos republicanos, numa tentativa de criar a figura de um herói nacional. É que o Tiradentes nasceu nessa região, na Fazenda do Pombal.
Também foi ali, na Casa de Padre Toledo, que a rebelião foi tramada. Vizinha de São João del-Rei, outra cidade histórica que merece a visita, Tiradentes fica a 190 km de Belo Horizonte. Além da história, das ruas e dos casarões, combinação que fez da cidade cenário para várias séries da Globo, Tiradentes se tornou nacionalmente famosa por conta de dois festivais: o de cinema, em janeiro, e o de gastronomia, em agosto. Lembre-se de reservar sua hospedagem com antecedência caso pretenda viajar nesses meses.
E nos outros a cidade continua interessante, afinal há muito o que fazer em Tiradentes. Eventos menores e menos conhecidos tomam conta do restante do calendário da cidade – é provável que tenha algo legal ocorrendo quando você for.
Dica importante: quase todas as igrejas e museus de Tiradentes cobram entrada, mas o valor é simbólico – em torno de R$ 5. É comum que aceitem carteira de estudante. A cobrança é importante para preservação das construções.
Tudo começa no Largo das Forras, a praça principal da cidade e que atualmente conta com paisagismo de Roberto Burle Marx.
Repleta de pousadas e restaurantes, que ocupam os antigos casarões coloniais, por ali você também encontrará algumas igrejas, como a Capela Bom Jesus da Pobreza (abre de sexta a quarta, das 12h30 às 17h30), que foi erguida no final do século 18. É um templo pequeno, no estilo Barroco-Rococó e construído para pagar uma promessa.
Capela Bom Jesus da Pobreza (no final da rua)
Ainda na praça, na Rua Resende Costa, você vai encontrar uma das seis Capelas dos Passos da Paixão de Cristo, feitas a partir de 1729. Fique atento enquanto caminhar pela cidade, mesmo que essas capelinhas estejam fechadas – as outras estão na Rua Direita, na Rua Padre Toledo, na Rua Jogo da Bola e no Largo do Ó.
Uma das Capelas dos Passos da Paixão
Se você descer a Rua Silvio Vasconcelos, passará por vários restaurantes e, com apenas cinco minutinhos de caminhada, cruzará um rio. É o Ribeirão de Santo Antônio, que pode ser cruzado pela Ponte das Forras, construída toda em pedra, durante o século 18.
Tanto o Largo quanto a Ponte têm esse nome por conta da alforria – ou a libertação – dos escravos. Siga na mesma rua por mais alguns minutos e você passará pelo Largo das Mercês. Ali está a Capela de Nossa Senhora das Mercês (domingo, das 8h às 17h), construída entre 1793 e 1824 e restaurada recentemente.
O Largo das Mercês marca o começo da Rua São Francisco de Paula. Siga por ela para chegar à Capela de São Francisco de Paula (domingo, das 9h às 11h30), que fica no alto de uma colina e tem uma vista incrível da cidade – esse é o melhor lugar para observar o pôr do sol, já que do alto do morro você terá uma vista de todo o centro histórico, com destaque para a Matriz de Santo Antônio (abre todos os dias, das das 8h às 17h).
A minissérie Hilda Furação, baseada na obra do escritor Roberto Drummond e exibida pela Globo em 1998, teve uma cena importante gravada nessa colina. Na frente da capela fica um cruzeiro, que foi colocado ali em 1718.
Capela de São Francisco de Paula
Vista de Tiradentes a partir da Capela de São Francisco de Paula
Desça o morro pelo outro lado, seguindo até o final da Rua Custódio Gomes. Você passará pelos arredores da rodoviária, cruzará outra ponte e voltará para a região do Largo das Forras, dessa vez na rua Ministro Gabriel Passos – viu como Tiradentes é pequenina?
À sua direita estará a praça principal, mas eu seguiria para a esquerda, em busca do Chafariz de São José. Ele foi construído em 1749, para ajudar no abastecimento da vila. A água jorra de três carrancas esculpidas em pedra. E ainda é potável. Além do consumo humano, ali havia espaço também para dar água para animais, principalmente cavalos, e para lavar roupas, serviço que era feito por escravos no tanque lateral do chafariz.
Ao lado do Chafariz fica a entrada para a Trilha do Bosque Mãe d’Água, onde está a nascente que abastece o tanque. A caminhada é feita ao lado do aqueduto de pedra que foi construído por escravos. A trilha é curta, tem pouco mais de um quilômetro. Ao final do passeio, dê meia-volta e retorne para o centro histórico. Antes você pode passar no Museu da Liturgia, que guarda quase 500 peças sacras do período colonial. Eu nunca visitei, mas o blog Mineiros na Estrada conta como é esse museu.
Suba pela Rua da Câmara, que tem esse nome, você adivinhou, por conta da Casa da Câmara Municipal de Tiradentes, um dos prédios mais icônicos da cidade – adoro o pórtico e a varanda desse casarão. Além da função política, a Casa da Câmara frequentemente recebe shows e apresentações culturais.
Casa da Câmara Municipal de Tiradentes (varanda na parte direita da foto)
E lá, pairando no alto da Rua da Câmara, está a Matriz de Santo Antônio, uma das igrejas mais bonitas que você vai encontrar em Minas Gerais. Iniciada em 1710, a construção entrou no século 19 e a fachada recebeu uma intervenção de ninguém mais, ninguém menos que Aleijadinho.
Por fim, a igreja foi decorada com o item favorito da época: ouro. Muito ouro. Um órgão, trazido de Portugal em 1788, também merece destaque – ocorrem celebrações com uso do órgão nas noites de sexta-feira.
Ladeira para a Matriz de Santo Antônio
Um relógio de sol, colocado no adro no final do século 18, é uma das marcas externas do templo. Nos fundos da Matriz fica um poço, que era usado para abastecer a cidade antes da construção do Chafariz de São José. Como é comum, ao redor da Matriz foram enterradas pessoas importantes, num pequeno cemitério.
Cemitério da Matriz de Santo Antônio
A partir da Matriz, basta seguir até o final da Rua de Padre Toledo para chegar ao museu de mesmo nome. A casa pertenceu ao Padre Carlos Correia de Toledo e Melo, um dos inconfidentes e que tinha sido designado para ser vigário na cidade.
Padre Toledo foi preso e enviado para Portugal, onde morreu. O museu funciona de terça a domingo, entre 10h e 18h. Vale visitá-lo para conhecer um pouco mais da história da Inconfidência Mineira. Ao lado da Casa de Padre Toledo fica a Capela de São João Evangelista (de quarta a segunda, de 8h às 17h), templo simples erguido a partir de 1760.
Capela de São João Evangelista, ao lado da Casa de Padre Toledo
A ladeira em frente ao museu leva até até a Rua Direita, uma das mais importantes da cidade. Ali está a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (de quarta a segunda, das 9h às 16h), a mais antiga de Tiradentes e que foi construída e frequentada por escravos. Ao lado fica outra das capelinhas da Paixão, enquanto na frente está o Museu de Sant’Ana (de quarta a segunda, das 10h às 19h), que funciona no casarão da antiga Cadeia de Tiradentes.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. E, no fundo, a Matriz de Santo Antônio
Tiradentes ainda tem mais igrejas, como a Capela de Santo Antônio da Canjica e o Santuário da Santíssima Trindade. Mas não encha seu roteiro só com templos. Reserve espaço para curtir com calma os restaurantes e bares da cidade, que são a melhor parte da viagem, pelo menos para mim. Perambule pelas ruelas e veja os casarões coloniais. Você também pode ir até São João del-Rei de trem.
A Maria Fumaça percorre o trecho de 12 quilômetros entre as duas cidades em 50 minutos. Tudo é histórico, da locomotiva que era usada na Estrada de Ferro Oeste de Minas até a Estação de Trem, que foi construída no século 19.
A parte mais legal do passeio é fora do trem – é a rotunda, usada para girar a locomotiva e permitir que ela volte no sentido contrário, em direção a São João del-Rei. O passeio é bonito, mas eu acho caro (R$ 70, ida e volta), mesma opinião que tenho sobre o passeio de trem entre Ouro Preto e Mariana, que tem o agravante de nem ser mais feito numa Maria Fumaça.
Por fim, um passeio que parece bem legal, mas que nunca fiz, é conhecer a Serra de São José. Agências de turismo da cidade oferecem tours pela região, incluindo a travessia da serra. A trilha mais longa dura cinco horas e passa por uma cachoeira. Também dá para fazer um passeio noturno e cavalgando, para ver as estrelas e admirar o visual do alto da serra.
E já que estamos falando dos arredores de Tiradentes, se tiver tempo não deixe de conhecer Bichinho, um povoado de 700 habitantes que fica a oito quilômetros do centro histórico. Bichinho é famoso por conta do artesanato e também é uma ótima parada para almoçar.
Por ali, o restaurante mais conhecido é o Tempero da Angela, que funciona no esquema coma o quanto puder e pague pouco. Coma o quanto puder de comida mineira feita no fogão a lenha, veja bem.
Depende. Se for só por Tiradentes, não. A resposta também tende a ser negativa se você estiver viajando sozinho – o custo/benefício não compensa e é melhor ir de ônibus. Por outro lado, quem viaja acompanhado pode usar o carro como um facilitador não para o centrinho de Tiradentes, onde o veículo é inútil, mas para conhecer os arredores, como Bichinho, Prados e São João, ou até para montar um roteiro abrangente que envolva outras cidades históricas, como Ouro Preto, Mariana, Sabará e Congonhas.
Nesse texto aqui ensinamos como juntar todas essas cidades e Inhotim na mesma viagem. Já nesse aqui a dica é de como alugar um carro com o melhor custo/benefício.
Eu já fiquei na Pousada do Laurito, que é simples, fica num casarão colonial, mas tem uma localização perfeita, em plena Rua Direita. A Pousada Mãe D’Água e o Hotel Ponta do Morro são outras alternativas.
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Ver Comentários
Muito bacana a matéria! Sou de Tiradentes e pelos detalhes digo que foi bem proveitosa a visita! Gostaria de deixar uma dica se me permite: Um passeio de quadriciclo com o pessoal da empresa Dakar Loc que fica logo na entrada da cidade, ao lado do museu da moto, vale a pena, um passeio muito bonito e com muita aventura. Se retornar não deixe de fazer. Vou deixar o site caso tenham intenção de conhecer: http://www.dakarloc.com.br Grande abraço.
Legal, Filipe! Obrigado pela indicação e comentário.
Abraço.
Oi, Rafael!
Primeiramente, muito obrigada por citar os Mineiros! ☺
Concordo com você: a gente vem embora de Tiradentes já com vontade de voltar. Acho que já fiz tudo o que você falou aí no post, com exceção da Serra de São José.
Tô ensaiando um retorno à cidade para visitar a Fazenda do Pombal. E também é um pretexto para parar em Lagoa Dourada para comprar rocambole na volta para BH. ?
Um abraço!
Gosto bastante do blog de vocês, Gê. :)
Tem anos que não como o rocambole de Lagoa Dourada. Nas duas últimas vezes que estive em Tiradentes não parei lá.
Abraço.
Oi Rafa!
Obrigada por ter citado o Mala de Aventuras aqui.
O post está ótimo e fico feliz em contribuir para seus leitores.
Bjs
Prazer em citar vocês, Gaia. :)
Abraço.