O que fazer em Tirana, Albânia, em um dia

Minha história com Tirana é um pouco complicada. Depois de ler em vários blogs e guias que a cidade era moderna, interessante e que surpreendia as pessoas que não sabiam que encontrariam uma capital com avenidas arborizadas e noite animada, decidi ficar lá por dois dias.

Porém, por conta da dificuldade de transporte entre cidades balcânicas, o plano deu errado. Os dois dias ficaram divididos entre duas visitas: cheguei por volta de 9h da manhã. Teria o dia todo para conhecer e, no dia seguinte, seguiríamos para Ksamil. Na volta da praia, chegaríamos às 14h e teríamos mais uma tarde para explorar a região.

Não era o tempo ideal, mas ainda assim daria para caminhar bastante e conhecer o essencial, não fosse outro problema gigante com o qual eu não contei no momento de fazer o roteiro: 40ºC. O mês de agosto, alto verão, não foi nem um pouco legal com a gente. Pegamos uma onda de calor forte. Impossível passear nessas condições. E olha que tentamos, viu? Saímos para turistar por volta das 10h, mas lá pelas 14h30 o calor estava tão insuportável que o jeito foi voltar pro apartamento e esperar até às 19h para sair novamente. Na viagem de retorno, o calor não tinha abrandado muito e o jeito foi também deixar para sair à noite, quando o sol dava uma trégua.

Ou seja, conheci Tirana em poucas horas e certamente quero voltar lá com mais calma. Este post é um compilado entre as coisas que eu conheci e outras que gostaria de ter conhecido, um pouco de história sobre o país e sua capital. Além das dicas de o que fazer em Tirana, também vou compartilhar minhas sugestões de onde ficar em Tirana, porque o hotel que fiquei foi muito bom.

Dicas práticas para aproveitar Tirana e a Albânia em geral

Muita gente me perguntou se a Albânia é segura para mulheres sozinhas e, apesar desse não ter sido meu caso, minha resposta é sim. Eu voltaria sozinha para Albânia. Conheci apenas a região central, mas andei por lá dia e noite e não me senti desconfortável em momento algum, até porque as ruas ficam muito movimentadas, vi várias mulheres saindo à noite, sozinhas ou em grupo. Achei tranquilo. Sem contar que minha experiência com a simpatia dos albaneses foi muito boa. Sério, que pessoal prestativo e gente fina!

Não é tão tranquilo, porém, o sistema de táxis. Se você precisar de um, evite pegar na rua, a não ser que for um ponto de táxi. Ou peça para seu hotel agendar táxis combinando o ponto de chegada e exija que a corrida seja no taxímetro. Na saída da rodoviária, por exemplo, vão tentar te cobrar um rim. Nesse caso, o ideal é pegar transporte público. Essa foi a minha experiência: como não sabíamos que ônibus pegar, perguntei ao motorista. Ele não falava inglês, mas parou o ônibus e pediu ajuda para os passageiros. Duas meninas desceram no ponto com a gente e nos mostraram o caminho. Como disse, simpatia albanesa.

É bom ficar atento também porque em Tirana existem várias rodoviárias e elas não são exatamente organizadas. Para piorar, são temporárias. A rodoviária internacional é chamada de Tirana Central Bus Station (Pallati i Sportit Asllan Rusi, Rruga Dritan Hoxha). Já a rodoviária que leva para o sul da Albânia, como Berat, Ksamil e demais praias, fica próxima à rotatória que tem aquela água símbolo da Albânia, bem longe do centro (Sheshi Shqiponja, Rruga 29 Nentori).

Gastei menos de 30 euros por dia em Tirana, incluindo alimentação, transporte, hospedagem e cerveja. É um país muito barato e uma das capitais mais baratas que já visitei.

O que fazer em Tirana, Albânia

Para entender um pouco melhor Tirana, é preciso uma breve explicação sobre a sua história. A Albânia foi dominada pelo Império Otomano por séculos. Tirana foi fundada em 1614, por um paxá, apesar dessa região já ter sido habitada desde o neolítico e ser possível encontrar ruínas antigas, como um mosaico do século três na Fonte de Shengjin ou um castelo do Imperador Bizantino Justiniano, construído em 520.

Em 1912, a Albânia tornou-se um país independente e, poucos anos depois, Tirana tornou-se a capital. Nesse período, um plano de construção da cidade foi feito por arquitetos austríacos e italianos, com o arranjo que vemos de algumas construções no centro, como o Bulevard Deshmoret e Kombit (Avenida dos Mártires da Nação) e os prédios do governo no seu entorno.

Em 1944, após conseguir se libertar da dominação nazista, o líder comunista Enver Hoxha subiu ao poder e iniciou uma ditadura que durou até 1991 (o líder morreu em 1985). A ditadura de Hoxha foi bastante isolacionista, visto que desde o início romperam ligações com a vizinha Iugoslávia, aliando-se a URSS. Porém, nos anos 1960, cortaram relações com a Rússia e aliaram-se à China e assim foi até a morte de Mao Tsé-Tung, quando o país se isolou completamente. Nos anos de 1990, vivendo uma crise terrível e revolta da população, a ditadura chegou ao fim. E em 1992 as eleições tiraram, pela primeira vez em 47 anos, o partido comunista do poder.

É importante saber que, nos anos de Hoxha, Tirana mudou bastante: vários prédios em estilo socialista foram construídos, a principal praça da cidade, praça Skanderbeg, foi redesenhada e um número grande de construções foi demolido, como, por exemplo, o histórico Old Bazaar e vários prédios religiosos. Os governos seguintes tentaram dar uma mascarada nas construções mais decrépitas, pintando de cores coloridas as fachadas. Porém, é bastante comum ver que o fundo de vários prédios e casas não tem reboco algum, isso sem contar a quantidade de fios expostos, buracos nas ruas e outros problemas típicos de países não muito desenvolvidos.

A praça Skanderbeg é o ponto ideal para começar um passeio por Tirana. É inconfundível porque é uma grande área aberta, com várias construções importantes ao redor. Entre elas a Mesquita de Et’hem Bey e a Torre do Relógio, construídas no século 18 e poupadas das demolições do governo comunista anti-religião por conta de sua importância artística e cultural. É possível visitar a mesquita e subir no alto da torre.

O inconfundível Museu da História Nacional é um prédio branco enorme com um mosaico nacionalista na fachada. O museu conta toda a história do país desde a antiguidade até o fim do período comunista, mas nem todo o acervo é sinalizado em inglês. Também na praça ficam o prédio do Palácio da Cultura, que abriga a Ópera e Biblioteca Nacional. Mais ou menos no centro está uma fonte d’água no chão e a estátua do homem que dá nome à praça, Skanderbeg, um herói nacional que ajudou na liberação contra os otomanos. No centro da praça costumava ficar uma enorme estátua de Enver Hoxha, que foi derrubada ao fim do regime.

Nos arredores dali você encontra diversas atrações. As tais amigas que fizemos no ônibus indicaram a Bunk Art, uma instalação dentro de um bunker enorme construído durante a ditadura. No final dos anos 1960, a paranoia do governo de Hoxha chegou a níveis altíssimos e ele mandou construir vários bunkers Albânia afora, que nunca nem foram utilizados.

Há duas instalações do projeto: o BUNK’ART 2 foi inaugurado recentemente, é o que fica no centro e conta a história do Ministérios das Relações Interiores, de 1912 a 1991, os segredos da polícia política Sigurimi e histórias das vítimas do regime. Já o BUNK’ART 1 fica nos arredores da cidade e foca mais na história do exército e na vida cotidiana dos albaneses durante a ditadura.

Nessa região também fica a Galeria de Arte Nacional e a rua pedonal Murat Toptani: se você segui-lá, chegará às ruínas da fortaleza de Justiniano e a antiga ponte de pedra dos Tanoeiros, do século 19.

Seguindo para o outro lado da praça você encontra o agradável parque Rinia (onde tirei aquela foto com o “I <3 Tirana”). Basta cruzar o canal do rio Lana para chega à famosa Pirâmide, que hoje é um elefante branco sem função. A poucos quarteirões dali fica a Praça da Madre Teresa, com várias prédios de arquitetura típica comunista, incluindo o do Congresso Nacional, também planejado pela filha do ditador.

Nos quarteirões entre essas construções fica o bairro mais popular da cidade, o Blloku. A história do Blloku é complexa: durante o regime de Hoxha, era uma área reservada à elite do Partido Comunista e fechada para a população em geral. Inclusive, é ali que você encontra até hoje a antiga residência de Hoxha. Porém, hoje o Blloku é o bairro da moda: restaurantes, bares, cafés e lojas chiques ficam ali, nessa espécie de Leblon albanês.

Quem quiser sair do centro da cidade pode explorar os vários parques que ficam nos arredores. O passeio mais recomendado, e que eu não fiz, é pegar um teleférico até o topo do Monte Dajti.

Se quiser ter um gostinho de como é viajar pelo país, veja o vídeo que a Natália Becattini, outra autora aqui do blog, gravou em sua passagem pela Albânia.

Onde ficar em Tirana: dica de hotéis

Algo extremamente comum nos Bálcãs são pessoas transformando seus próprios apartamentos em hospedagens, mas num estilo menos organizado que o Airbnb – nem por isso ruim, devo acrescentar.

Foi nesse esquema que eu fiquei em Tirana, no Tirana Rooms, um apartamento de três quartos, cuja a dona, a queridíssima Brunilda, organiza tudo pessoalmente. Como dormi lá em duas noites diferentes, acabei experimentando dois de seus quartos. O banheiro é dividido entre os três e cada noite custou 14 euros (ou seja, 7 euros por pessoa, na alta temporada, uma pechincha). A cozinha também fica a disposição dos hóspedes e tem uma varanda enorme. Isso sem contar a boa localização: do lado da rua de compras, Myslym Shyri, e a 800 metros do bairro Blocku.

Se você quiser explorar outras opções de hospedagem em Tirana, ainda assim recomendo que busque nessa região, que é a mais bonita e central da cidade, o que facilita muito a locomoção. Veja aqui várias opções.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

Ver Comentários

  • Olá, gostei muito das suas dicas, pretendo ir o ano que vem da Sérvia até Eslovênia, passando pela Albânia via Macedônia, você saberia se é complicado ir de Tirana para Dubrovnik na Croácia

  • Adorei. Muito legal suas informações. Vou em maio para Bari e pensei em dar uma esticada até Tirana. Obrigada

    • Oi Carolina,

      Eu vi sim casas de câmbio em Tirana. Não passei pelo aeroporto por lá, então não sei dizer como era a cotação por lá.

  • Nice article! Albania is definitely a wonderful place. My favorite part was this "mas andei por lá dia e noite e não me senti desconfortável em momento algum", it always remains the safest place I have ever visited reguardless of the news that paint a tragic scene. Thank you for your post.

    Erion

  • Adorei o post a Albânia é incrível!
    Não sei se complementa mas vale dizer:
    -Tenham dinheiro vivo em mãos.
    Em minha experiência era raaaaro demais um estabelecimento que aceitasse cartão, não sei se é herança comunista ou costume.
    Indico também as praias ao sul: cenário da Grécia, precinho de Albânia!!

    • Oi Kari,

      Obrigada pelo comentário. Olha, como eu estava viajando com dinheiro, nem parei para lembrar de que alguém poderia ter problema com cartão.

      As praias são incríveis mesmo, daqui a pouco entram os posts =D

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Luiza Antunes

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