Eu fui parar em Varsóvia por acidente. Ou melhor, por obra da aleatoriedade dos mecanismos de busca de passagens aéreas e, talvez, do destino. Foi saindo de lá que eu encontrei a passagem mais barata voltando para Barcelona entre os países que estavam a uma distância não muito grande de Berlim, onde eu trabalhei por dez dias para o meu projeto final da pós. Mais ou menos como acontece com todas as minhas viagens, eu deixei as circunstâncias decidirem. Porém, ao conversar com alguns amigos, logo me fizeram incluir Cracóvia no roteiro também. “Varsóvia não é tão legal”, eles diziam.
Meses depois de ter passado por lá, eu diria que Varsóvia é, na verdade, uma cidade castigada. Ao contrário da irmã, a capital da Polônia foi completamente destruída durante a Segunda Guerra. Ficou em frangalhos. E se reergueu em poucas décadas. Isso quer dizer que a cidade não tem apenas prédios mais novos e modernos e um centro histórico muito menor, ela também tem aquela coisa… aquela carga impalpável na atmosfera de um lugar que já sofreu muito. Isso a gente vê nas pessoas e na pouca vida que há nas ruas. Em muitos momentos, Varsóvia me passava vazio.
Ainda assim, é uma cidade que se reergueu. Segue tentando cobrir as rachaduras da guerra, sem jamais esquecê-las. E o faz com beleza e agilidade. Os palácios do governo dispostos ao longo da Rota Real, os museus históricos, o contraste entre a arquitetura antiga e moderna, tudo isso me leva a dizer que Varsóvia, de uma forma mais séria e formal, é sim um destino interessante, em especial para os apaixonados por História do século 20. Porque estar ali, no lugar onde tudo aconteceu, meus amigos, é um privilégio.
Se você está apenas de passagem pela cidade, sugiro dar prioridade para a parte mais bonita de Varsóvia, que é Cidade Velha. Você pode começar pela Rota Real, um caminho de quase 4 km que liga o Castelo Real e o Palácio de Wilanów. Era esse caminho que os reis poloneses gostavam de fazer para ir de um ponto ao outro e ostentar toda sua majestade por ali.
A rua, uma das mais importantes e bonitas da cidade, está repleta de lojas, restaurantes, prédios do governo e jardins. Na parte mais próxima do Palácio, que se chama Nowy Swiat, mas logo muda de nome para Krakowskie Przedmiescie, quando se aproxima do castelo. Você pode passear por toda a extensão, ou, se não tiver tanta disposição em caminhar, escolher só o trechinho mais perto do castelo, que é onde está a Cidade Velha. Eu fiz o trajeto dessa forma pois meu hostel ficava próximo à essa rua, na parte perto do Palácio. Se for mais conveniente para você, também funciona fazer ao contrário: visitar a Cidade Velha primeiro e terminar com um passeio pela Rota Real.
Essa é a parte mais antiga da cidade e a que guarda as construções mais charmosas de Varsóvia. Se você veio pela Rota Real, ao chegar vai dar de cara com o Castelo Real (site oficial), um grande prédio de cor meio alaranjada. No passado, serviu de residência oficial dos reis da Polônia e também foi usado como sede do Parlamento. É possível visitar o interior do castelo (PLN 30,00, veja todas as informações para visita) ou apenas passar por suas áreas externas de graça. Foi o que fiz.
Ali, bem em frente ao castelo, fica a Coluna do Rei Zygmunt, um monumento erguido em homenagem ao tal rei que teve a brilhante ideia de mudar a capital de Cracóvia para Varsóvia. Se você prestou atenção, viu no pátio externo do Castelo uma coisa cinza escorada. Isso é o que restou do original da coluna depois dos bombardeios da Segunda Guerra. Não é muita coisa, não é mesmo? A que está hoje de pé, no meio da praça, é um réplica.
Depois disso, você pode se embrenhar um pouco mais pela região e passear pelas velhas casinhas coloridas que formam o centro histórico. Dando as costas para o Castelo e seguindo em frente, entre uma ruazinha e outra você vai acabar topando com a Praça do Mercado, que é um espaço retangular cercado por restaurantes e lojas de souvenir. Esse é um ponto de encontro famoso na cidade.
Ali se reúnem grupos de amigos que querem bater um papo, vendedores, turistas, pombos e toda a fauna local. Bem no meio da Praça está uma estátua de uma sereia que remete ao mito fundador da cidade: um pescador chamado Wars teria capturado uma sereia em suas redes e acabou se apaixonando por ela. Ai você já sabe o resto: A sereia foi capturada por um mercador rico e mau, o pescador a salvou então, ela se tornou humana e adotou o nome de Sawa. Os dois viveram felizes para sempre naquela região e deram origem à cidade WarsSawa – Warsaw – Varsóvia.
Por último, não deixe de dar uma volta pela Barbican, a antiga muralha que protegia a cidade de invasores. Essa é uma parte muito bonita e bem preservada da Cidade Velha, repleta de bares e restaurantes e caminhos charmosos. Quem é de igreja também pode passar pela Igreja de St. John, perto da Praça do Mercado, onde eram enterrados os membros da realeza local.
Com um dia, você pode decidir passar todo o seu tempo perdido pelos becos, bares e restaurantes da Cidade Velha ou tirar uma horinha para visitar a segunda atração mais legal de Varsóvia.
A Polônia foi o país que mais sofreu com a Segunda Guerra. O acordo entre Alemanha e União Soviética para dividir o país terminou em 6 milhões de poloneses mortos. Acuada entre dois inimigos poderosos, a Polônia fez o que podia: resistiu. A história desse massacre e da brava resistência polonesa é contada no Museu do Levante de Varsóvia (PNL 14 / site oficial), um museu interativo que tem fotos, vídeos, depoimentos de sobreviventes, arquivos de áudio, réplicas de armas e objetos para reconstruir esse período sombrio da história. Como o museu fica um pouco afastado da Cidade Velha, sugiro usar transporte público para chegar lá. Você encontra todas as informações da visita no nosso post sobre o museu.
Com um dia a mais no roteiro, você pode tirar a manhã para dar um volta no Parque Lazienki, que é grande e muito bonito, cheio de caminhos verdes, lagos e estátuas, entre elas uma famosa de Chopin, onde às vezes a galera se reúne para assistir a apresentações musicais. Lá dentro também fica o Palácio Łazienkowski, a velha casa de verão do último rei da Polônia.
Saindo de lá, caminhe até o Palácio da Cultura e da Ciência. O prédio mais alto de Varsóvia, com mais de 230 metros de altura, foi construído pelos soviéticos durante a ocupação e é um marco da imposição da URSS no país. E, convenhamos, ninguém quer ter um monstro gigante desses plantado no centro da cidade nos lembrando o tempo inteiro de um pequeno massacre que aconteceu logo ali na esquina dessa grande rua chamada História.
Por isso, a construção não é muito amada por ali, principalmente pela população mais velha que tem uma relação mais emocional com as memórias da guerra. O edifício não é nada modesto. O exterior é revestido de estátuas de gente como Marie Currie e Nicolau Copérnico, e, entre eles, operários que carregam displicentes um livro com os nomes de Marx, Engels e Lenin. Antes, o nome de Stalin também aparecia ali, mas já foi apagado por motivos óbvios.
Hoje, o prédio é um centro cultural com inúmeras opções de museus, exibições e entretenimento para os visitantes, um cinema, salas de conferências e palestras, universidades e teatros. Entre os lugares legais de visitar estão o Museu da Tecnologia e da Indústria (site oficial, fechado às segundas) e o 30o andar. Ali há um mirante que oferece uma boa vista da cidade.
Maior gueto judaico da Polônia durante o Holocausto. Chegou a ser cercado com um muro durante três anos. O objetivo era impedir que seus moradores saíssem dali e forçá-los a viver em condições extremamente degradantes, sem acesso à comida, saneamento básico, coleta de lixo e remédios. O local chegou a abrigar 30% da população de Varsóvia, ao passo que só ocupava 2.4% do território da cidade. Foi ali também que nasceu a Revolta do Gueto de Varsóvia contra a ocupação Nazista, em 1943. A história desse levante é contada no Museu Polin, que traça um panorama da história dos judeus no país (dica da leitora Wanda Radomska). Quem se interessar pela história pode visitar o local por conta própria ou fazer um free walking tour pelo bairro.
Para quem tem interesse nessa parte da História da Polônia, esse museu fala da ocupação soviética no país e como era a vida cotidiana no regime comunista. Site oficial.
Tem a maior coleção do mundo de objetos relacionados a Chopin. Um prato cheio para fãs de música clássica. Está localizado dentro do Castelo dos Ostrogski (Zamek Ostrogskich). Funciona de terça a domingo, das 11h às 22h. A entrada custa PLN 22. Site oficial.
Procurando hotéis para sua estadia? Temos um post bem completinho sobre os melhores bairros e regiões para ficar em Varsóvia.
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Boas e valiosas informações..