Este texto é um guia sobre o que fazer em Gonçalves, Minas Gerais. Perdida no meio da Serra da Mantiqueira e mais próxima de São Paulo que de BH, Gonçalves é o melhor pedaço de Minas que um paulistano pode conhecer em poucas horas de estrada.
Aqui você vai descobrir as principais trilhas, cachoeiras e os passeios de natureza em Gonçalves. Também, a história da cidade e suas igrejas, com destaque para o agroturismo. Por fim, falarei de quantos dias ficar, como chegar, quando ir, o que fazer à noite e de roteiros para 1, 2 e 3 dias no vilarejo.
Dica importante: Há um centro de atendimento ao turista em Gonçalves. Funciona num chalé, próximo ao Mirante do Cruzeiro e na saída da cidade para São Bento do Sapucaí. Não deixe de passar lá – as orientações que recebi ajudaram e muito em nossa viagem.
Gonçalves é um paradoxo. Essa vila de Minas Gerais passou a maior parte de sua história se dedicando à agricultura. A vida por ali corre lenta, com cada morador sendo um herdeiro das paisagens da Serra da Mantiqueira. Quando o turismo enfrentou as estradas de terra e desembarcou por lá, Gonçalves percebeu que tinha vocação para isso.
Além dos muitos atrativos naturais e das paisagens deslumbrantes, a cidade tem a conveniência de estar a três horas de carro de São Paulo (de BH são seis). Perto o suficiente para uma viagem de final de semana a partir da maior cidade do continente; escondida o bastante para não perder sua essência.
É o clima bucólico que torna Gonçalves e seus vilarejos especiais. Por ali, não espere encontrar um turismo de montanha à moda de Campos do Jordão ou Monte Verde; nada de parque temático no estilo Gramado. Gonçalves é roça e como roça atrai pequenas multidões.
A divisa entre Minas e São Paulo carrega marcas do começo do século 20. Um bom exemplo são os nomes de alguns dos municípios: Wenceslau Braz, Silvianópolis, Delfim Moreira, Delfinópolis, Bueno Brandão homenageiam políticos mineiros da República Café com Leite. As tensões após 1930 e a guerra civil de 1932 contribuíram para que a região permanecesse parada no tempo.
Em Gonçalves, os nomes também homenageiam pessoas do passado, mas de forma bem mais singela. É que muitos distritos e atrativos ainda são batizados com os nomes de antigas famílias moradoras dali, como Antunes, Henriques e Venâncios, e até a cidade foi batizada com o nome de três habitantes de sobrenome Gonçalves que moravam perto de onde está a igreja Matriz.
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Os principais passeios de Gonçalves envolvem natureza. São trilhas, mirantes e cachoeiras.
Estacionamos ao lado da praça e seguimos a pé até a porteira de madeira que marca o começo da trilha da Pedra do Cruzeiro. O nome daquela vila não poderia ser mais peculiar: Atrás da Pedra. São duas dezenas de casas que se acumulam ao redor da praça e, claro, da igreja.
Ao seguirmos pela trilha, não demorou para surgir a capelinha branca. Com cinquenta centímetros de altura, uma minúscula cruz no topo e quase sumindo na vegetação, era a primeira das quatorze que formam a Via Crucis da Pedra do Cruzeiro. Cada uma delas representa o trajeto de Jesus até a morte e deixam claro que aquele morro é também um local de peregrinação religiosa, em especial na Páscoa.
Sem uma cruz para carregar, mas cheios de sedentarismo, subimos o morro devagarinho. Até porque o visual não permite pressa: o verde das montanhas de Minas toma conta de tudo. Araucárias e casinhas isoladas nas serras também fazem parte da paisagem, que tem vacas pastando morro acima.
Depois de cinquenta minutos, avisamos a capela de número quatorze – sinal de que o topo está chegando. A vista do alto da Pedra do Cruzeiro é um espetáculo. Lá fica uma capela, essa em tamanho real. A porta está fechada com uma corda e um aviso: tranque ao sair. Logo suspeito a razão – há vacas no meio da Pedra do Cruzeiro. Todos os dias, elas sobem a mesma trilha por onde passam os turistas, alcançam o topo e pastam calmamente ao redor da igrejinha.
Após a trilha, não retorne pelo mesmo caminho. Pegue o carro e siga por alguns minutos até outro vilarejo: Lambari, que também tem uma igrejinha para chamar de sua. De lá, bastará retornar pela rodovia principal até o centro e Gonçalves.
A trilha leva ao topo do Pico do Selado, uma das formações rochosas mais altas da região. Do topo, a vista é espetacular. O nível de dificuldade é de moderado a difícil e a trilha tem cerca de cinco quilômetros (ida e volta).
Uma das trilhas mais famosas de Gonçalves. Começa ao lado do Restaurante Pé da Pedra, que é uma boa alternativa para o almoço pós trilha. A dificuldade é moderada e o percurso tem cerca de três quilômetros (ida e volta).
Essa trilha começa ao lado do Restaurante Zé do Ovídeo. A vista é deslumbrante e a caminhada é moderada, com cerca de quatro quilômetros.
Uma das cachoeiras mais populares de Gonçalves, conhecida por suas águas cristalinas, várias quedas d’água e ambiente tranquilo. A trilha para chegar à cachoeira é moderada e cercada pela natureza. Fica na estrada para o vilarejo dos Henriques.
Localizada em meio à mata atlântica, essa pequena cachoeira é de fácil acesso e bem no caminho entre o centro de Gonçalves e a vila de São Sebastião das Três Orelhas – e a cervejaria de mesmo nome. Há estacionamento no local e a entrada é gratuita.
Queda d’água grande e de fácil acesso. Mas, pelo volume, essa cachoeira é boa mesmo para fotografar e relaxar, não para banho. Fica dentro de uma propriedade privada.
Também em uma propriedade privada. Fica a cerca de dois quilômetros do centro, perto da Pousada Encontro das Águas.
O nome já deixa claro: são várias quedas, muitas delas formando poços ótimos para banho. Fica em propridade privada e há taxa de entrada.
Nos últimos anos, o centrinho de Gonçalves passou a ser ocupado por restaurantes, bares, cafés, docerias, empórios e bistrôs, muitos deles comandados por ex-turistas que resolveram ficar. O último Censo revelou esse movimento: a população de Gonçalves aumentou 12,2%, três vezes acima do registrado em Minas Gerais.
É o caso da mulher que nos recebe para um jantar em sua casa, na vila de São Sebastião das Três Orelhas. Após uma vida inteira em São Paulo, ela enxergou em Gonçalves uma aposentadoria diferente. Alugou uma casa na vila de poucas casas e abriu sua varanda para os turistas: todos os dias, sem exceção, ela serve o que o senso comum diz ser a melhor massa de Gonçalves: basta buscar pela Gastrô Massas.
Poucos metros abaixo, a cervejaria Três Orelhas atrai quase todo turista que passa pela região, que conta ainda com experiências imersivas sobre como cultivar cogumelos, produtores de azeite e até algumas vinícolas, que se espalham pelas cidades vizinhas da Serra da Mantiqueira.
Na mesma estrada que leva para São Sebastião das Três Orelhas e para as Terras Altas, bem no começo dela, fica a Feirinha de Orgânicos, que ocupa um galpão. Aos sábados, ali você encontra legumes, verduras e frutas que são produzidos em Gonçalves. Imperdível é o Café na Roça, que fica em frente ao galpão e tem comida boa ao som das águas de um riacho.
Outro ponto de parada quase que obrigatório é o Alambique Três Barras, que produz a principal cachaça da região. É possível visitar o engenho e conhecer sobre a produção da bebida. Fica na estrada para São Bento do Sapucaí.
No centro da vila, um templo com vitrais azuis e um relógio na torre domina as poucas ruas e praças que formam a cidade. É a Igreja de Nossa Senhora das Dores.
Há igrejas em quase todos os vilarejos. Destaque para as de Lambari, Atrás da Pedra, São Sebastião das Três Orelhas e para a capelinha no todo da Pedra do Cruzeiro.
Jante em restaurantes locais e caminhe pelo centro. No mais, Gonçalves não é uma cidade para quem busca agito: o grande programa noturno é mesmo comer bem e depois relaxar nas pousadas ou chalés com vista para as montanhas.
Você pode ir no ano inteiro, mas tenha em mente que a cidade funciona mesmo nos finais de semana. Em dias úteis, sobretudo no meio da semana, você vai encontrar alguns restaurantes e atrações fechados. Nada que impeça a viagem, claro, mas atrapalha.
Quando ao clima, o verão é chuvoso e quente, enquanto o inverno traz o frio do sul de Minas – e permite ligar as lareiras dos chalés e deixar tudo ainda mais charmoso.
Nós fomos na primavera, em outubro, e encontramos temperaturas agradáveis e paisagens verdes, com direito a banho de cachoeira.
A rede hoteleira de Gonçalves conta com 1200 quartos – capacidade para cerca de três mil visitantes. Isso sem considerar os muitos chalés de montanha e casas de temporada que se espalham pelos distritos de Gonçalves.
Foi num desses que ficamos. Isolados de tudo, amanhecemos com o canto dos pássaros e começamos as noites com o coaxar dos sapos. O chalé até tem televisão, mas o programa ali é se sentar nas cadeiras que ficam no deck e contemplar as montanhas.
Gonçalves funciona bem como destino de final de semana, sobretudo a partir de São Paulo. Mas se quiser conhecer a região com calma, reserve sua hospedagem para três ou quatro dias.
Também fique esse período caso você vá de Belo Horizonte, que é mais distante.
Gonçalves está a 3h20 de São Paulo. Há duas rotas possíveis: pela Fernão Dias a distância é menor, de 180 km. Os primeiros 140 km são na rodovia federal, com pista duplicada. Depois, é preciso enfrentar o restante em estradas de terra ou pedra.
Outro caminho possível a partir da capital paulista é pela Rodovia Governador Carvalho Pinto. São 220 km, passando perto de Campos do Jordão.
Não há ônibus diretos entre São Paulo e Gonçalves – é preciso ir até Paraisópolis e lá trocar de veículo.
Já de Belo Horizonte o melhor caminho é mesmo pela Fernão Dias. São 460 km (6h20 de estrada).
De ônibus, a viagem entre Gonçalves e BH envolve uma troca de viação em Pouso Alegre.
Eu moro em Belo Horizonte, mas visitei Gonçalves voltando de uma viagem para São Paulo. Essa também é uma boa estratégia.
Como ficou claro nos tópicos anteriores, é difícil chegar em Gonçalves sem carro – você terá que trocar de ônibus várias vezes ou optar por contratar um motorista/táxi em alguma cidade próxima, como Monte Verde. Por isso, o ideal é mesmo ir de carro.
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Há pedágios a partir de BH e também de São Paulo.
O Mirante do Cruzeiro fica perto da cidade e tem fácil acesso, inclusive para você descer caminhando após o pôr do sol. Atenção: não confundir com a Pedra do Cruzeiro, que fica a sete quilômetros dali e envolve uma trilha de uma hora.
Você pode combinar Gonçalves com Campos do Jordão, em São Paulo, ou Monte Verde, em Minas. Maria da Fé, Extrema e São Bento do Sapucaí também são opções próximas.
Algumas trilhas populares incluem a Trilha do Pico do Selado, Trilha da Pedra Chanfrada, Trilha da Pedra do Cruzeiro e Trilha da Cachoeira dos Henriques.
Sim, há diversas fazendas e haras na região que oferecem passeios a cavalo.
Sim, Gonçalves oferece uma variedade de atividades que podem ser apreciadas por todas as idades, incluindo crianças.
Há vários empórios e lojas no centro, como o Armazém São Bento e a Pérola da Mantiqueira.
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