Os palácios de São Petersburgo

Eu já bati cartão em São Petersburgo, como eu disse num post anterior. O motivo disso não está somente relacionado a seus cafés, bares e cultura alternativa (que sempre me atraem), mas também em função da interessante história do lugar, sua arquitetura maravilhosa e museus incríveis. Antes da construção da cidade e mesmo da Rússia ter se tornado um dos maiores impérios europeus, a capital era Moscou. Até que Pedro I, o Grande, em função da Guerra do Norte contra a Suécia, moveu as tropas russas para a região do Rio Neva, fato que resultou na construção de uma nova capital.

Após dominar a região do delta do Rio Neva, Pedro I ordenou que uma grande fortaleza fosse construída para proteger as novas conquistas: a Fortaleza de Pedro e Paulo (um lugar que vale muito a pena visitar) foi fundada em 16 de maio de 1703, também a data de nascimento da cidade. A partir daí, várias construções foram erguidas em São Petersburgo, que passou a ser símbolo do Império. Chega a ser inacreditável a quantidade de palácios que existem lá: em torno de 100. Para nossa felicidade,  hoje em dia muitos deles são museus.

Palácio de Catarina (Sadovaya ulitsa 7, Pushkin, St Petersburg)

O palácio de estilo rococó está localizado no sul da região metropolitana de São Petersburgo, na cidade de Tsarskoye Selo, que significa “vila real” em russo.  O lugar foi rebatizado de Pushkin no período soviético, mas se você usar qualquer um dos dois nomes, os russos entenderão. O Palácio Catarina diz muito da história do país: antes de ter sua construção iniciada, no local havia uma humilde residência de verão, construída em 1717, para a amante de Pedro I e futura Imperatriz, Catarina I.

Em 1743, começaram as reformas e construções do suntuoso palácio que vemos hoje. Tal grandiosidade se deve principalmente às vontades da Imperatriz Isabel. Ela escolheu a cidade suburbana para ser sua residência principal de verão, mas achava que a casa simples, que já havia sido renovada pela Imperatriz Anna, era fora de moda e ordenou reformá-la completamente, em uma escala suficiente para rivalizar com Versailles.

A construção do palácio foi concluída em 1756. O lugar tem quase um quilômetro de circunferência e mais de 100 kg de ouro foram utilizados nas decorações exteriores. Vários arquitetos e artistas contribuíram para a finalização, como o arquiteto da corte russa Bartolomeo Rastrelli, que desenvolveu um estilo extravagante e suntuoso do Barroco, além de ser responsável pelo projeto do Palácio de Inverno.

O interior do palácio sofreu modificações ao longo dos anos, como a construção da famosa sala feita por Rastrelli chamada Amber Room, que havia sido decorada originalmente com ouro, pedras preciosas do Cáucaso, espelhos e porcelana chinesa. Infelizmente, até hoje não se sabe a localização desses objetos decorativos, que foram retirados pelos alemães durante a Segunda Guerra. A reconstrução teve início em 1982 e durou mais de 20 anos. Foi inaugurada por Putin em 2003.

A forma mais em conta de se chegar ao palácio é utilizando o sistema de transporte público, e foi o que fiz. Primeiro, peguei o metrô e desci na estação Kupchino (linha 2 azul clara) e de lá peguei o ônibus 186, bem em frente à estação.

O parque do palácio abre todos os dias, das 7h às 21. Entre 9 e 18 horas, há cobrança de entrada (120 rublos). Já o palácio abre em horários alternados conforme o dia: de quarta a domingo das 12h às 19h e segundas das 12h às 20h. O palácio não abre nas terças. O ingresso custa 400 rublos e é válido para entrar até uma hora após a compra, por isso o ideal é comprá-lo após a visita ao parque ou visitar o palácio primeiro e depois o resto. Quando fui, optei somente por visitar o parque, que é lindo e bem grande, mas conheci pessoas no hostel que entraram no palácio e disseram que vale a pena, principalmente para ver o Amber Room.

Há também guias de áudio em inglês, francês, alemão ou chinês por 150 rublos. Além do valor do guia, é necessário fazer um depósito (que será devolvido) de 1000 rublos ou entregar o passaporte. Para grupos a partir de 15 pessoas, é possível conseguir um guia em inglês gratuitamente, dependendo da disponibilidade. Veja mais informações no site oficial. 

Palácio de Inverno (Museu Hermitage, Palace Square 2 St Petersburg)

Primeiro palácio europeu que entrei na vida, o Palácio de Inverno é atualmente o principal prédio do Museu Hermitage, mas antes de se tornar parte desse – que é atualmente o maior museu do mundo – teve uma história conturbada. Foi construído onde, em 1708, havia uma casa de madeira no estilo holandês. Posteriormente essa casa foi substituída por uma construção de pedras que hoje é a base do Teatro do Hermitage. Esse segundo prédio foi erguido a mando da Imperatriz Anna. Ela selecionou o arquiteto da corte Rastrelli, em 1731, para desenhar o projeto de um palácio, o qual foi completamente reconstruído a mando da Imperatriz Isabel (Yelisavet ou Elizabeth) pelo mesmo arquiteto, sendo seu novo projeto aprovado em 1754.

Rastrelli foi removido do projeto em 1762, a mando da nova Imperatriz – Catarina, a Grande -, mas mesmo assim o que hoje se vê é praticamente igual ao que ele planejou. Em um formato quadrado, o palácio tem um jardim central e 22 metros de altura. Ao longo dos anos, vários incrementos foram feitos por outros arquitetos, como a Galeria da Guerra de 1812 (conhecida por nós como a invasão napoleônica à Rússia), criada pelo arquiteto Carlo Rossi para dispor quadros que retratassem a vitória do Imperador Alexandre I contra Napoleão.

O Palácio era um símbolo da ostentação do império, que já não era mais tão bem visto pela sociedade nas últimas décadas do século 19, além de também ser grande demais para que fosse possível garantir a segurança dos imperadores. Isso ficou claro após o assassinato, em 1881, de Alexandre II,  o último imperador a utilizar o palácio como residência principal. Seus sucessores deram preferência a residências nas regiões ao redor da cidade, mas mesmo assim ele era utilizado pela família imperial para alguns eventos oficiais.

No início do século 20, em função da Primeira Guerra Mundial, o palácio foi transformado em um hospital temporário para soldados feridos. Após a abdicação de de Nicolau II e a Revolução de Fevereiro, em 1917, passou a ser a sede do Governo Provisório e, poucos anos mais tarde, parte do Museu Hermitage. Este funciona de terça a domingo, das 10:30 às 18:00, exceto nas quartas, quando fica aberto até as 21h. A entrada custa 400 rublos (em torno de 34 reais) e para estudantes de qualquer nacionalidade é gratuita, basta apresentar algum comprovante. Confirma mais informações no site oficial do Museu. 

O Hermitage é o tipo de museu que tem arte de todos os períodos e artigos sobre a cultura russa, o que torna a visita muito longa (no meu caso, duas visitas de 6 horas cada). Por isso, vale a pena chegar um pouco antes do horário de abertura para comprar ou pegar o ingresso, pois as filas são grandes. A localização é super central: está a dois minutos a pé da rua principal da cidade – Nevsky Prospect – e a aproximadamente 10 minutos a pé da estação de metrô que tem o mesmo nome da rua.

Peterhof (Razvodnaya 2, St Petersburg)

É o palácio mais bonito que já visitei na vida e está localizado na periferia de São Petersburgo, em uma cidade também chamada de Peterhof – que significa corte de Pedro em alemão. Após sucessivas vitórias sobre o Império Sueco no início do século 18, Pedro I fez uma viagem diplomática à França, onde ele viu as propriedades reais de verão – como o palácio de Versailles, suas fontes e o Trianon. As construções lhe chamaram muita atenção. Tanto que foram inspiração para a criação de Peterholf.

O próprio imperador é considerado o primeiro arquiteto do projeto, pois ele mesmo desenhou a sua primeira residência: um pequeno palácio de verão, chamado Monplasir, localizado à margem do mar báltico. Essa residência, completada em 1723, se tornou o retiro favorito de Pedro I e era onde este recebia seus amigos mais íntimos.

Ao longo dos anos, várias partes da propriedade foram construídas, ainda durante o regime de Pedro I, tais como as fontes, o grande palácio, os jardins, as escavações para a construção do Canal do Mar, o Palácio de Marly e a maior parte do Hermitage. No entanto, após sua morte, em 1725, Peterhof foi praticamente abandonado.

A residência voltou a receber atenção (e assim, grandes investimentos) do Império quando a filha de Pedro I, Isabel, subiu ao trono, em 1740. Assim, a Imperatriz escolheu Rastrelli (aquele mesmo dos outros palácios) para construir um grande palácio digno de seu Império, sendo que o arquiteto da corte decidiu por preservar o elegante estilo arquitetônico neoclássico do palácio original, alterando principalmente seus interiores. Das modificações feitas nesse período, são notáveis os dois pavilhões nos extremos do palácio e a expansão feita no parque e no sistema de fontes, incluindo a construção da espetacular Grande Cascata.

No período de Catarina II – a Grande – a corte foi mudada para Pushkin. Por isso, no reino de seu filho – Paulo I – a residência já encontrava-se em mau estado e precisava urgentemente de reformas, principalmente nas fontes, sendo que essas obras foram finalizadas somente quando seu neto Alexandre I já estava no poder. Peterhof voltou a ser a Residência Imperial no reino de Nicolau I, sucessor de Alexandre, e quem ordenou a construção de uma modesta casa de campo.

Existem várias formas de chegar ao palácio. A provavelmente mais cara, rica, elegante e bucólica é de barco (hydrofoil), serviço fornecido por uma empresa chamada Peterhof-express, em que há um café e audio-guide que contam a história do palácio. A viagem de ida e volta custa 1100 rublos (em torno de 94 reais) e o barco sai do centro da cidade (ao lado da ponde Dvortsoviy, no embarcadouro com estátuas de leões), de trinta em trinta minutos. Já a forma mais barata, e obviamente a que eu escolhi, é usando o transporte público: deve-se descer na estação de metrô Avtovo (linha vermelha, Автово em cirílico) e pegar o ônibus 200 ou 210, ou os micro-ônibus 224, 300, 424, 424-A.

Os preços e horários de funcionamento dependem da época do ano. Quando fui, paguei somente a entrada do parque e fontes, que custa entre 300 e 500 rublos para estrangeiros e funcionam das 9h às 20h (todos os dias, mas nos fins de semana e feriados funciona das 10h às 19h e a Grande Cascata só começa a funcionar a partir das 11h). Veja mais informações no site oficial do museu. 

Se você quiser entrar em todas as propriedades, prepare o bolso e organize seu tempo, pois só na visita ao parque e as fontes fiquei umas boas três horas caminhando (isso sem contar o tempo de transporte).

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Gabriela Dilly

Analista internacional mais interessada em experienciar outras culturas que em analisá-las. Escreve também no blog Dupla Trip.

Ver Comentários

  • Gostei muito do texto. Muito claro e interssante com abordagem historica, arquitetonica e orientacao de chegada e horarios dos locais. Aumentou a vontade de ir!
    So tenho agradecimento!

  • Bom dia,

    Vou em Abril a São Petersburgo, porém em Abril as fontes do Peterhof não estão em funcionamento, embora tenha sido o Palácio que escolhemos visitar em detrimento do Palácio Catarina. Acham que vale a pena na mesma ir sem as fontes ou sendo assim mais vale ir ao de Catarina ?

    Obrigado

    Tiago Morais

    • Olá Tiago,

      Peterhof é muito bonito, mas acho que são as fontes que fazem a diferença. Tentaria ir no verão para vê-las funcionando, mas se não tiver jeito, iria em outro e deixaria para outra oportunidade. O Hermitage é a melhor opção, mas se tiver com tempo para ir para fora da cidade, vale a pena sim ir no Palácio Catarina. É bem diferente de um palácio no meio da cidade, tem parque e um ar mais bucólico.

      Espero que tenha ajudado!

  • Olá.
    Vocês podem me informar se é necessário comprar o ingresso antecipadamente para o Peterhof e para o Palácio da Catarina?
    Muito obrigada!

    • Olá Luciana,

      Quando fui, mesmo sendo alta temporada, comprei os ingressos na hora mesmo. Mas sempre vale a pena conferir nos sites dos palácios\museus :)

  • Olá!

    Quando fui (há três anos atrás) comprei as entradas nos palácios mesmo. Fui no verão (alta temporada) e não tinha fila :)

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Publicado por
Gabriela Dilly

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